Laura Stevens –Já era noite quando comecei a despertar.A escuridão suave do quarto me envolvia como um cobertor morno e o único som era o das respirações calmas — a minha, a dele, e… a de outra pessoa. Soltei um riso ao ouvir uma vozinha sussurrada, doce, que parecia estar em conversa com o silêncio.Abri os olhos devagar, ainda meio entre o sonho e a realidade, e vi Nathan. Sentadinho ao meu lado, com seu ursinho favorito nas mãos, ele olhava fixamente para a minha barriga, como se esperasse que ela respondesse de volta.— Quando você sair, vou te mostrar os meus brinquedos — ele dizia baixinho, com aquela voz pura, cheia de carinho. — A mamãe sempre fala que os pequenos não pode levar coisa na boca, senão engole… então, eu te trouxe esse ursinho. Ele é fofinho e você não vai conseguir colocar na sua boca.Meu coração se encheu de um calor estranho e bom.Um nó se formou na garganta, e eu me vi sorrindo sem nem perceber. Levei a mão até os cabelos dele e acariciei com ternura, aqu
Laura Stevens –O céu estava cinza, pesado. Uma névoa fina cobria o cemitério como se até a natureza se curvasse ao luto. Eu permaneci imóvel, os olhos fixos no sepulcro recém-fechado.Não havia muito o que dizer. Nem lágrimas sobraram — talvez por já terem caído todas, talvez por ele, de alguma forma, ter me deixado em paz.Eu estava de pé, sozinha por um instante, quando vi uma figura se aproximar.Linda.Seus passos eram lentos, mas firmes. O vestido preto simples, o cabelo preso com cuidado.Na mão, ela carregava uma rosa vermelha.Ela parou diante da lápide, se ajoelhou, e por um momento, apenas fechou os olhos.Um gesto silencioso, mas carregado de tudo o que nunca foi dito.Depois disso, ela se levantou e veio até mim, mas dessa vez sua feição não carregava o caos e sim serenidade.— Podemos conversar? — sua voz saiu baixa, quase hesitante.Olhei para Christian, que segurava Nathan no colo. Ele me lançou um olhar calmo e terno, assentindo com a cabeça. Deu um beijo leve na minh
Acompanhei Linda saindo do café respirando fundo, como se estivesse tentando absorver o ar de um novo começo. Quando passou pela porta, vi algo mudar em seu rosto — um susto contido, um breve espanto que se dissolveu num sorriso. Virei o rosto e entendi o motivo.Christian estava ali.Encostado em um dos pilares de madeira da varanda, braços cruzados, aquele meio sorriso no rosto que sempre parecia saber mais do que dizia.O olhar dele estava em mim. Sempre em mim.Por um segundo, tudo parou.O barulho da rua, a chuva leve no chão, o som das xícaras sendo lavadas dentro do café. Só havia aquele instante entre nós dois.Ele riu. Um riso baixo, familiar.Aquele tipo de riso que sempre me fazia lembrar que eu ainda era eu, mesmo depois de tudo.Senti meu coração se aquecer.Ele abriu os braços e fui até ele, sem pensar. O mundo podia estar desabando, mas ali, naquele abraço, tudo parecia suportável.Encostei minha cabeça em seu peito e fechei os olhos, sentindo a batida do coração dele —
Christian Müller -Chegamos em casa ainda com o gosto amargo da última ligação.O silêncio da sala me abraçou como um aviso.Nathan dormia no sofá com um dos brinquedos ainda nas mãos e Laura estava sentada na poltrona, com os olhos fixos em mim como se pudesse ler minha alma de longe.Fui até ela em silêncio.Inclinei o rosto e depositei um beijo demorado em sua testa, sentindo o calor da pele dela contra os meus lábios. Fiz menção de me afastar, mas ela segurou minha mão.— Aonde você vai? — A voz dela veio baixa, quase em um sussurro, mas cheia de tudo o que ela não estava dizendo.Voltei, olhei nos olhos dela e mais uma vez deixei um beijo em sua testa.— Preciso que confie em mim. Eu voltarei para você.Ela assentiu devagar, mas seus olhos diziam o contrário.Havia tristeza, medo, e algo que me cortou por dentro: a angústia de quem já perdeu demais.Eu a soltei com cuidado, e mesmo sem palavras, sabia que ela estava implorando pra que eu não fosse. Mas eu tinha que ir. Por ela. P
Christian Müller –Os lençóis tinham cheiro de perfume e loucura. Me deixei cair como se o veneno já estivesse fazendo efeito.Como se o meu corpo tivesse rendido.Mas eu estava ali.Cada célula minha estava em estado de alerta. Fingindo estar inconsciente, mas vendo, ouvindo, sentindo tudo.Maria não disse nada de imediato. O silêncio dela foi o mais perturbador.Ouvi o farfalhar do tecido. Seus passos descalços no carpete.E então senti.Seus dedos tocaram meu peito, vagarosamente, com a ponta das unhas traçando linhas invisíveis por dentro da minha camisa. O botão foi desfeito com calma. Depois o segundo. O terceiro...Ela abriu minha camisa como quem desembrulha um presente roubado.— Sempre assim... tão bonito. Tão forte. Meu. — Murmurou ela.Eu sentia o toque dela como uma faca sem corte. Ela acariciava meu peito com lentidão, como se quisesse memorizar cada linha da minha pele. Como se minha pele fosse dela.E então veio o beijo.Seus lábios tocaram os meus.Secos. Frios. Vãos.
Christian Müller –Sai daquele lugar, me sentindo mais leve por um lado, mas por outro, meu coração pesou.Já era outro dia e eu havia perdido a noção do tempo. Eu só pensava nela, em como ela iria reagir a isso.Conseguia imaginar o desespero em seus olhos. O medo de que, provavelmente eu tivesse a causado, depois desse tempo todo sem dar notícias.—Christian... – A voz de Mark tomou meus pensamentos. Me virei para o olhar, vendo-o parado perto do carro. —Irmão...—Eu vou para casa. Ela deve estar desesperada. – Falei o vendo assentir e então, entrei no carro e o liguei, acelerando mais do que tudo. Como se a minha vida dependesse daquilo.Depois de um tempo, assim que me aproximei dos imensos portões de entrada, senti meu coração pulsar no pescoço.A culpa, o medo de a encarar e dizer que meus lábios foram tocados por outra, mas que foi necessário. Eu sei que, mesmo que eu explicasse e tentasse mostrar que minha cabeça estava o tempo todo nela, ainda não seria capaz de me fazer sent
Christian Müller –A vozinha de Nathan ecoou pela sala como um raio de sol depois de uma tempestade.Me virei no mesmo instante e lá estava ele. Meu pequeno, corria em minha direção com os bracinhos estendidos, exibindo os olhos brilhando de emoção e alívio.Me abaixei e o envolvi nos braços com toda a força que um coração em pedaços podia reunir. O segurei contra o peito, sentindo aquele cheirinho de shampoo infantil e o calor do corpinho dele. Fechei os olhos por um instante, como se quisesse guardar aquela cena para sempre.— Você tá bem, papai? A ferida na barriga sarou?Afastei um pouco para olhar nos olhos dele, sorrindo, e levantei a camisa.— Estou bem, filhão. Olha só, está quase sumindo. E sabe por quê?— Por quê? — ele perguntou, com os olhos curiosos.— Porque eu comi muita verdura! Se você comer também, vai ficar forte que nem o papai.Ele fez uma careta de dúvida, mas logo riu. Eu ri junto. Era isso.Era tudo que eu precisava: aquele riso.Laura se aproximou devagar, com
Sky pub, Flórida. Ivy Hunter – “Estou atrasada mais uma vez!” - Exclamei encarando o relógio em meu pulso. Já se passavam das dez da noite, quando empurrei as portas da lateral do bar, entrando apressada.O bar que por sua vez, recebia o Happy hour de costume, para grandes executivos, parecia mais movimentado que o habitual. Dei um passo sabendo que seria repreendida e logo dei de frente com o gerente, que me encarava com os olhos escurecidos. —Ivy, você sabe que não toleramos atrasos. - Disse ele com seu rosto avermelhado de raiva, me empurrando uma bandeja. —Vista-se e leve isso para a sala privada. É a garrafa mais cara que temos. Mais um erro esta noite e será demitida! —Sim senhor! - Respondi me movendo apressadamente até o vestiário. Troquei minhas roupas pelas que o trabalho exigia: Uma fantasia vulgar de coelha; com sua saia curta e um corpete tão justo, que me deixava desconfortável. Ainda tinha a tiara de orelhas peludas para complementar o figurino. Naquele instan