Sky pub, Flórida.
Ivy Hunter –
“Estou atrasada mais uma vez!” - Exclamei encarando o relógio em meu pulso.
Já se passavam das dez da noite, quando empurrei as portas da lateral do bar, entrando apressada.
O bar que por sua vez, recebia o Happy hour de costume, para grandes executivos, parecia mais movimentado que o habitual.
Dei um passo sabendo que seria repreendida e logo dei de frente com o gerente, que me encarava com os olhos escurecidos.
—Ivy, você sabe que não toleramos atrasos. - Disse ele com seu rosto avermelhado de raiva, me empurrando uma bandeja. —Vista-se e leve isso para a sala privada. É a garrafa mais cara que temos. Mais um erro esta noite e será demitida!
—Sim senhor! - Respondi me movendo apressadamente até o vestiário.
Troquei minhas roupas pelas que o trabalho exigia: Uma fantasia vulgar de coelha; com sua saia curta e um corpete tão justo, que me deixava desconfortável. Ainda tinha a tiara de orelhas peludas para complementar o figurino.
Naquele instante, o espelho refletia uma mulher que eu mal conhecia, mas ajustei minhas roupas enquanto forçava um sorriso.
“Você precisa do dinheiro Ivy. É temporário. Apenas aguente.” - Pensei comigo e sai em seguida para levar a bebida.
Aquele era o meu segundo trabalho do dia e eu precisava muito dele para continuar a mandar dinheiro para a minha avó que mora no campo. Eu cuido desde a morte da minha mãe.
E também, tinha a festa surpresa de Henri, meu namorado. - Eu estava a meses preparando.
E por isso, eu estava disposta a dar o meu melhor para conseguir o que eu precisava e para isso, eu não poderia cometer erros.
Respirei fundo e coloquei um sorriso nos lábios, seguindo pelo corredor até a área VIP.
A cada passo que eu dava, eu tentava ser mais cautelosa possível; quela garrafa provavelmente custava mais do que eu podia ganhar em minha vida toda.
Continuei a andar, seguindo o corredor, mas antes de chegar na sala, ouvi uma risada.
Era exagerada. Irreconhecível. Era Linda, minha meia-irmã.
Me movi lentamente até a porta para ter a certeza de que era ela mesmo, mas de repente ouvi outra voz. Essa que fez meu estômago se revirar.
Eu a reconheceria em qualquer lugar. Era ele. Henri, meu namorado.
Naquele instante, senti um aperto no peito. Minhas mãos começaram a suar e meu corpo tremia o suficiente para me desestabilizar.
E ao abri lentamente a porta, meu mundo desabou. Eles estavam lá e tão perto, que todo ar de meu peito se findou com a cena.
Linda, estava sentada no colo do homem que eu tanto amava, segurando uma taça de champanhe, enquanto a mão dele tocava sua coxa com intimidade.
Minhas vistas se turvaram por um momento, mas o que realmente me destruiu foi o que eu ouvi ecoar pelo lugar.
—Me casar com Ivy é uma ilusão da cabeça dela- Disse Henri, se inclinando para Linda, mantendo-se a milímetros de distância. —Eu nunca te trocaria por alguém como ela.
Linda sorriu com satisfação ao ouvi-lo.
—Então, por que ainda está com ela? - Perguntou ela com sarcasmo.
—Porque é mais fácil. Ela é muito burra e faz tudo por mim. - Respondeu ele se inclinando mais para ela. —Mas eu ainda prefiro você!
Naquele instante, a raiva queimou no meu peito como brasa quente. Eu não consegui mais me conter e então, empurrei a porta com força, batendo-a na parede os assustando.
Linda se virou para me olhar, fingindo uma expressão de surpresa, enquanto Henri me olhava com espanto.
—O que faz aqui, Ivy? - Perguntou ele se levantando e me encarando de baixo a cima.
—Vocês dois... - Minha voz saiu trêmula, mas cheia de raiva. —Como puderam fazer isso comigo?
Assim que falei, Linda sorriu como se a minha indignação fosse ridícula.
—Ah Ivy, sempre tão dramática. Achou mesmo que ele estava com você por amor?
Assim que ela falou, Henri sorriu e veio em minha direção, me olhando de baixo a cima. Ao observar minhas vestes, ele riu de forma zombeteira, apontando para mim com desdém.
— Olhe só para você, Ivy. Trabalhando duro em tantos empregos para sustentar uma velha que mal consegue sobreviver. Sempre se humilhando para outros homens para se sustentar. Acha mesmo que alguém casaria com uma mulher assim? Eu jamais me casaria com alguém como você.
Ao ouvir aquilo, minha respiração oscilou.
Minhas lágrimas estavam prestes a cair, mas eu recusei em deixá-las escorrer. Jamais daria o gosto para que eles presenciassem tal cena.
Minha raiva explodiu antes que eu pensasse nas consequências. Sem hesitar, arremessei a garrafa de bebida na direção deles, vendo todo o liquido dourado espalhar-se no ar, antes de atingir o ombro de Henri e escorrer pelo caro vestido que Linda usava.
A garrafa então caiu no chão, quebrando-se em pedaços.
—Você enlouqueceu? - Gritou Henri me encarando com seus olhos escurecidos. De repente, um grito partiu de Linda, ecoando por todo lugar.
—Ai! Ela me atingiu! - Gritou Linda com um tom de acusação, segurando seu braço ensanguentado. A encenação dela foi perfeita!
—Eu não fiz isso!
“Pah!”
No instante seguinte, senti o mundo girar, e meu rosto arder como se estivesse em chamas. Ele me deu um tapa? O homem que eu mais amo, por causa da minha irmã, me bateu?
—Você enlouqueceu, Ivy? Vou te ensinar a nunca mais machucar a mulher que eu amo. - Disse Henri, com suas palavras afiadas como lâminas.
Ele levantou a mão de novo, fechei os olhos instintivamente, encolhendo o meu corpo, mas o tapa não veio.
—Quem é você? Não se intrometa. - Disse ele para a pessoa que segurava firmemente seu braço e sem mostrar esforços.
E então, uma voz forte e grave soou ecoando pelo lugar, como um trovão.
—Se tocar um dedo nela, vai desejar nunca ter nascido!
Sky pub. Flórida.Christian Müller -A noite estava agradável. Fazia um tempo desde que estive na Flórida. Se passaram poucas horas desde que retornei à cidade e para relaxar um pouco, acabei aceitando um convite para beber, vindo de Mark, meu amigo de infância. Havíamos acabado a primeira garrafa, mas fiz questão de pedir mais uma; só assim eu poderia aguentar os questionamentos dele. —E então? Quanto tempo ficará dessa vez? - Perguntou Mark com a voz calma e curiosa. Eu o olhei brevemente, voltando a focar no copo com a bebida. —Por enquanto não tenho data para ir embora. Preciso resolver alguns assuntos inacabados. - Falei sem explicar muito o vendo soltar um sorriso. —Fiquei sabendo que seu avô está procurando um novo sucessor. Vai mesmo se juntar a empresa com os requisitos dele? - Perguntou Mark com humor. —Casamento nunca foi seu estilo, você só vive para trabalho! Ao ouvir aquilo, soltei um riso simplista. —Você sabe, não posso mais adiar isso! - Falei com um leve h
Hotel Plaza, Califórnia. Ivy Hunter –Despertei e esfreguei os olhos tentando me acostumar com a claridade do lugar. O sol entrava suavemente ultrapassando a fina cortina branca do quarto, iluminando todo o lugar. Toquei minha têmpora sentindo o desconforto como reação da noite anterior e ao me mover na cama, percebi que eu estava completamente nua embaixo de um fino lençol. —O que aconteceu? Por que estou... - Fragmentos de memória perfuram minha mente: primeiro, a traição do meu ex-namorado, depois, a ajuda de um cara bonito, e então, bebemos juntos e parece que até nos beijamos, no final... estou aqui. E... eu dormi com um estranho?!Meu Deus, será que dá pra ficar pior que isso?Me levantei, um papel na mesa chamou minha atenção. É um cheque, com um valor inestimável. - Eu nunca tinha visto tantos zeros na minha vida. Que generoso.Tentei recordar do rosto do homem, mas quanto mais eu tentava, mais a minha cabeça doía. Tanto faz! Afinal, acho que a gente nunca mais vai se ve
Müller & Co. Ivy Hunter - A sala de espera estava cheia de mulheres que estavam dispostas a lugar pela vaga de trabalho. Todas aparentavam ter passado a noite em claro decorando as respostas certas. Elas estavam felizes exibindo um sorriso nos lábios, enquanto suas aparências eram impecáveis. Me sentei no fundo das cadeiras aguardando humildemente a minha vez. Não sei onde que eu estava com a cabeça quando levei para mim as falas daquele homem como uma competição pessoal. “Deixe-a mostrar se realmente merece a vaga!” - Aquelas palavras ressoavam na minha cabeça fazendo-me arrepender amargamente por estar ali. - Eu definitivamente era a menos preparada de todas. Respirei fundo, enquanto chamavam uma por uma. As que iam ficando, olhavam para mim como se eu fosse uma pedinte, só porque eu estava segurando a minha mala e usava roupas casuais. E naquele momento, comecei a acreditar que eu realmente estava fazendo a escolha errada. Eu então, respirei fundo desistente e se
Ivy Hunter - Já havia se passado um mês desde que comecei a trabalhar na Müller & Co e minha rotina se resumia em papéis, agendas, contratos e pequenas tarefas administrativas. Embora os trabalhos não sejam muito relacionados ao design, estou muita satisfeita por receber um salário tão alto e ainda estar na empresa dos meus sonhos! Mesmo sendo a assistente pessoal, meu contato com o senhor Müller não era muito. A maioria tempo nos víamos quando eu tinha que o levar algum contrato para assinar. Como era o caso agora. Segui até o escritório com as pastas na mão e a cada passo que eu dava, sentia meu coração acelerar; não que eu estivesse nervosa, mas havia algo naquele Homem todo poderoso que me deixava inquieta. Respirei fundo e dei algumas batidas na porta, ouvindo a voz encorpada e forte de Christian me responder em imediato. —Entre! Empurrei a porta de vagar e entrei o avistando em sua cadeira, com sua postura impecável e emanando uma áurea poderosa. O terno es
Christian Müller - Aproveitei o horário do almoço que os corredores estavam mais vazios e fiz uma reunião através de um vídeo conferência. A reunião foi mais longa do que eu esperava. O conselho tinha o costume irritante de se alongar em detalhes irrelevantes, enquanto eu apenas queria que as decisões fossem tomadas com eficiência. soltei um suspiro discreto, massageando minhas têmporas e assim que dispersei o olhar por um instante, eu o vi. Meu avô estava do outro lado do vidro da sala, segurando sua bengala e mantendo sua postura firme e impecável de sempre. Eu então, voltei a atenção para a tela do notebook. —Certo, o que resolverem discutiremos na próxima vez. - Falei encerrando a chamada, fechando a tela do eletrônico em seguida. Me levantei e respirei fundo, caminhando até a porta para o receber, mas antes de tocar na maçaneta ele já estava abrindo a porta. —Vovô. - Falei o vendo passar por ela com seu semblante emburrado de sempre. — Christian. Precisamos conversar. - D
Ivy Hunter- O cheiro forte de álcool e os sons de monitores preenchiam o ambiente do hospital, tornando tudo ainda mais sufocante. Assim que cheguei ao quarto, encontrei minha avó deitada na cama, com um semblante pálido. Os tubos conectados a ela pareciam me lembrar cruelmente de que eu estava sem tempo. — Vovó... - Chamei, mas minha voz falhou. Ela então, abriu os olhos lentamente e soltou um sorriso fraco. Assim que ela ameaçou falar, o médico chegou me exibindo um olhar sério, mas não frio. — Senhorita Hunter, podemos conversar em particular lá fora? - Ele perguntou e eu logo assenti. Dei uma olhada para minha avó e toquei a mão dela antes de sair para acompanhar o Homem de jaleco, até a saída do quarto. Assim que passamos pela porta, ele me olhou e soltou um suspiro. — O estado da sua avó é grave. Precisamos iniciar um tratamento intensivo imediatamente. Mas, Ivy... — Ele hesitou, olhando para os papéis em suas mãos. — O custo é muito alto e todo dinheiro que nos deu aind
Ivy Hunter - O dia amanheceu nublado, e o vento frio parecia combinar com a inquietação que se instalara em meu peito. Me forcei a afastar tais pensamentos enquanto chegava à empresa mais cedo do que o habitual. Havia trabalho a fazer e eu precisava manter minha mente ocupada, para não pensar em Christian. Entrei na minha sala e já comecei a trabalhar. Organizei os contratos e marquei uma reunião com um dos investidores para o projeto de lançamento dos novos móveis, tentando manter a mente focada, mas de repente a voz encorpada tirou minha concentração, soando bem atrás de mim. — Vamos nos encontrar no Sky Pub, hoje à tarde — Christian anunciou, fazendo o meu corpo congelar. Sky Pub. A lembrança daquela noite voltou com força total. O uniforme de coelha, a traição, o tapa que quase recebi, os olhares cheios de desprezo. O frio na barriga foi instantâneo, mas respirei fundo e assenti exibindo um sorriso fraco. —Sim, senhor! - Respondi o vendo vincar as sobrancelhas e se afasta
Ivy Hunter - Assim que passei pelas portas do lugar segurando a certidão, senti o vento gélido da tarde tocar meu rosto e junto dele, a sensação de que eu estava fazendo a coisa certa. — Tire o dia de folga. Eu vou voltar para a empresa. - A voz de Christian soou firme ao meu lado. Ele ajeitou o relógio em seu pulso e desceu um degrau ficando de frente para o seu carro. —Nos vemos amanhã no escritório. Eu então me virei para o olhar, assentindo. — Obrigada! - Falei descendo os degraus, acenando para um taxi que passava por ali perto. Entrei no carro e assim que fechei a porta, não consegui evitar olhá-lo. Christian era o sinônimo de elegância e poder. E só de pensar que eu havia acabado de me casar com esse homem, já sentia um frio percorrer minha espinha. Tentei afastar meus pensamentos, a final, não era um casamento de verdade. Eu não poderia criar expectativas, a final, ele era o meu chefe. Tentei afastar meus pensamentos e paguei o motorista, descendo do carro em seguida.