Ivy Hunter -
Já havia se passado um mês desde que comecei a trabalhar na Müller & Co e minha rotina se resumia em papéis, agendas, contratos e pequenas tarefas administrativas. Embora os trabalhos não sejam muito relacionados ao design, estou muita satisfeita por receber um salário tão alto e ainda estar na empresa dos meus sonhos!Mesmo sendo a assistente pessoal, meu contato com o senhor Müller não era muito. A maioria tempo nos víamos quando eu tinha que o levar algum contrato para assinar.
Como era o caso agora. Segui até o escritório com as pastas na mão e a cada passo que eu dava, sentia meu coração acelerar; não que eu estivesse nervosa, mas havia algo naquele Homem todo poderoso que me deixava inquieta. Respirei fundo e dei algumas batidas na porta, ouvindo a voz encorpada e forte de Christian me responder em imediato. —Entre! Empurrei a porta de vagar e entrei o avistando em sua cadeira, com sua postura impecável e emanando uma áurea poderosa. O terno escuro e perfeitamente ajustado realçava sua presença imponente. Os primeiros botões da camisa estavam abertos, dando-lhe um ar despreocupado, mas perigosamente sedutor e os óculos quase não visíveis o deixava ainda mais elegante. Parei um pouco longe, vendo Christian erguer os olhos por um instante, apenas para me responder. —Precisa de algo? —Senhor Müller, aqui estão alguns documentos para assinar. - Pedi o vendo voltar para a atenção em seu computador. —É importante? - Perguntou ele de forma curta e séria. —Sim, senhor! - Respondi o vendo se alinhar na cadeira e tirar os óculos, respirando fundo. —Me dê! - Disse ele pegando as pastas e olhando-as rapidamente. Ele parecia as analisar em tempo recorde os assinando. Enquanto isso, eu não conseguia deixar de o olhar atentamente. Seus traços eram marcantes. O maxilar bem definido, os olhos profundos e sombrios, o jeito que franzia a testa enquanto lia... Havia algo familiar nele. Mordi o lábio inferior, tentando puxar da memória de onde eu o conhecia, mas nada surgia em minha mente com clareza. Meus olhos permaneceram sobre ele por tempo demais e de repente, Christian interrompeu a assinatura e ergueu o olhar diretamente para mim. — Precisa de mais alguma coisa? -Perguntou ele me deixando sem graça. Meu coração disparou e eu não sabia explicar o motivo de tal reação. — N-Não senhor! - Respondi rapidamente. — Estou apenas esperando os contratos. Assim que respondi, Christian terminou sua última rubrica e estendeu as pastas para mim. Me aproximei para pegá-las e de repente nossos dedos se tocaram. Foi um contato breve e simples, mas ao receber o olhar dele sobre os meus, senti como se meu corpo tivesse congelado no lugar. Foi difícil fingir que um simples toque não me afetou; apenas coloquei um sorriso simples nos lábios e o agradeci. — Obrigada senhor Müller! - Falei me retirando rapidamente da sala e ao passar pela porta. —O que foi isso? - Me questionei como um pensamento alto, voltando para a minha mesa e assim que me sentei, meu celular tocou. Era uma mensagem de Amanda me chamando para almoçar. Eu havia a prometido que assim que eu me estabelecesse na empresa, a pagaria uma refeição como agradecimento. Sorri ao ver a mensagem e confirmei minha presença, terminando rapidamente meus afazeres para a encontrar. O restaurante estava movimentado, era hora do almoço. O som de talheres se chocando contra pratos, vozes misturadas e o cheiro irresistível de comida fresca preenchiam o ambiente. Amanda e eu conseguimos uma mesa perto da janela, e assim que nos sentamos, pedi o primeiro prato que me veio à cabeça. — Quero um bife com salada. Estou morrendo de fome! - Falei vendo Amanda sorrir, entregando o cardápio para o garçom. — O mesmo para mim, por favor! Apoiei os cotovelos sobre a mesa e suspirei, sentindo um leve cansaço do dia agitado no escritório. Amanda me observou atentamente antes de perguntar: — E aí, como está indo o trabalho? — Cansativo. Mas estou aprendendo bastante. - Respondi a vendo soltar um riso. —Não reclame. Sabe quantas mulheres dariam tudo para estar no seu lugar? - Perguntou ela me fazendo vincar as sobrancelhas. — Como assim? Ela ergueu as sobrancelhas, como se fosse óbvio. — Christian. Você trabalha diretamente com ele! Você tem ideia de quantas mulheres se jogariam para ele todos os dias? Balancei a cabeça, rindo sem graça. — Isso não tem nada a ver comigo. Ele é meu chefe. — Ah, claro. Como se isso impedisse alguém de tentar algo. — Amanda riu, divertida. — E, para piorar, ele ainda está solteiro. Você sabe o que isso significa? Você nesse momento é a mulher mais invejada. Soltei um riso com o comentário dela e então, os pratos chegaram. Assim que o garçom colocou minha comida na minha frente, senti um cheiro forte e, de repente, algo virou dentro do meu estômago. Meu apetite desapareceu. Engoli seco e empurrei o prato levemente para longe. — Você está bem? — Amanda perguntou, mostrando preocupação. — Sim… Só estou meio cansada ultimamente. — Ivy, você tem certeza de que é só isso? — O que mais poderia ser? — Não sei… e sua menstruação? Está em dia? - Assim que ela perguntou, senti meu coração bater forte uma vez. Peguei o celular e fui direto para o calendário. Comecei a contar os dias mentalmente, mas a resposta veio antes mesmo de terminar. Atrasada. Eu então soltei um riso fraco. — Deve ser só o estresse. As coisas têm sido complicadas ultimamente. Amanda continuou com seu olhar suspeito. Tentei ignorar e finquei o garfo na salada e no mesmo instante meu estômago revirou. — Merda — murmurei, me levantando e saí correndo para o banheiro. — Vamos comprar um teste de farmácia. — O quê?! — Arregalei os olhos encarando-a assustada. — Ivy, faz pouco tempo que terminou com Henri. Você precisa fazer um teste e tirar essa dúvida. Naquele instante minha mente foi para a noite no bar. O calor, os toques, a forma como me entreguei sem pensar... Para alguém que não me lembrava muito bem da fisionomia. Apenas traços, vozes e o cheiro. Senti um arrepio subir pela minha espinha e então, Amanda segurou meu braço me puxando com ela. — Tem uma farmácia do outro lado da rua, vamos! Saímos do restaurante e fomos até lá. Amanda me forçou a comprar três caixas para não ficar dúvidas. Ela parecia mais ansiosa do que eu. — Vamos, faça-os logo! - Disse ela tentando me animar. Mas eu estava receosa. — Amanda, preciso voltar para o trab... - Ela me interrompeu. —Pare de fugir. Vamos, faça-os logo! - Disse ela, tocando meus ombros me guiando para o banheiro. Respirei fundo e fiz todos os procedimentos. Assim que terminei, sai de lá, vendo Amanda me olhar com ansiedade. —E aí? - Perguntou ela, me vendo os estender para ela. Um sorriso surgiu em seus lábios. —Parabéns, você será mamãe!Christian Müller - Aproveitei o horário do almoço que os corredores estavam mais vazios e fiz uma reunião através de um vídeo conferência. A reunião foi mais longa do que eu esperava. O conselho tinha o costume irritante de se alongar em detalhes irrelevantes, enquanto eu apenas queria que as decisões fossem tomadas com eficiência. soltei um suspiro discreto, massageando minhas têmporas e assim que dispersei o olhar por um instante, eu o vi. Meu avô estava do outro lado do vidro da sala, segurando sua bengala e mantendo sua postura firme e impecável de sempre. Eu então, voltei a atenção para a tela do notebook. —Certo, o que resolverem discutiremos na próxima vez. - Falei encerrando a chamada, fechando a tela do eletrônico em seguida. Me levantei e respirei fundo, caminhando até a porta para o receber, mas antes de tocar na maçaneta ele já estava abrindo a porta. —Vovô. - Falei o vendo passar por ela com seu semblante emburrado de sempre. — Christian. Precisamos conversar. - D
Ivy Hunter- O cheiro forte de álcool e os sons de monitores preenchiam o ambiente do hospital, tornando tudo ainda mais sufocante. Assim que cheguei ao quarto, encontrei minha avó deitada na cama, com um semblante pálido. Os tubos conectados a ela pareciam me lembrar cruelmente de que eu estava sem tempo. — Vovó... - Chamei, mas minha voz falhou. Ela então, abriu os olhos lentamente e soltou um sorriso fraco. Assim que ela ameaçou falar, o médico chegou me exibindo um olhar sério, mas não frio. — Senhorita Hunter, podemos conversar em particular lá fora? - Ele perguntou e eu logo assenti. Dei uma olhada para minha avó e toquei a mão dela antes de sair para acompanhar o Homem de jaleco, até a saída do quarto. Assim que passamos pela porta, ele me olhou e soltou um suspiro. — O estado da sua avó é grave. Precisamos iniciar um tratamento intensivo imediatamente. Mas, Ivy... — Ele hesitou, olhando para os papéis em suas mãos. — O custo é muito alto e todo dinheiro que nos deu aind
Ivy Hunter - O dia amanheceu nublado, e o vento frio parecia combinar com a inquietação que se instalara em meu peito. Me forcei a afastar tais pensamentos enquanto chegava à empresa mais cedo do que o habitual. Havia trabalho a fazer e eu precisava manter minha mente ocupada, para não pensar em Christian. Entrei na minha sala e já comecei a trabalhar. Organizei os contratos e marquei uma reunião com um dos investidores para o projeto de lançamento dos novos móveis, tentando manter a mente focada, mas de repente a voz encorpada tirou minha concentração, soando bem atrás de mim. — Vamos nos encontrar no Sky Pub, hoje à tarde — Christian anunciou, fazendo o meu corpo congelar. Sky Pub. A lembrança daquela noite voltou com força total. O uniforme de coelha, a traição, o tapa que quase recebi, os olhares cheios de desprezo. O frio na barriga foi instantâneo, mas respirei fundo e assenti exibindo um sorriso fraco. —Sim, senhor! - Respondi o vendo vincar as sobrancelhas e se afasta
Ivy Hunter - Assim que passei pelas portas do lugar segurando a certidão, senti o vento gélido da tarde tocar meu rosto e junto dele, a sensação de que eu estava fazendo a coisa certa. — Tire o dia de folga. Eu vou voltar para a empresa. - A voz de Christian soou firme ao meu lado. Ele ajeitou o relógio em seu pulso e desceu um degrau ficando de frente para o seu carro. —Nos vemos amanhã no escritório. Eu então me virei para o olhar, assentindo. — Obrigada! - Falei descendo os degraus, acenando para um taxi que passava por ali perto. Entrei no carro e assim que fechei a porta, não consegui evitar olhá-lo. Christian era o sinônimo de elegância e poder. E só de pensar que eu havia acabado de me casar com esse homem, já sentia um frio percorrer minha espinha. Tentei afastar meus pensamentos, a final, não era um casamento de verdade. Eu não poderia criar expectativas, a final, ele era o meu chefe. Tentei afastar meus pensamentos e paguei o motorista, descendo do carro em seguida.
Christian Müller - Assim que falei, os olhos de Ivy me encararam como se eu tivesse atingido algo inalcançável. Era como se eu tivesse dito o que ela realmente precisava ouvir. Eu sabia exatamente o que estava fazendo. Cada movimento, cada palavra dita tinha um propósito. Ivy estava começando a se tornar uma peça chave não apenas na empresa, mas também para o meu plano. —S-Senhor Müller...- Chamou ela com um timbre de voz fraco, tentando se recuperar e então, eu logo me expliquei. —Ah, não, eu preciso que me acompanhe em algumas reuniões agora e também, não podemos esquecer do nosso compromisso mais tarde. O jantar. —Pode deixar, não deixarei falhas. - Disse ela me tirando um sorriso fraco. —Eu sei. Eu confio em você! - Falei voltando para a minha cadeira, colocando uma ao lado. Eu a olhei e bati de leve no acento, vendo Ivy vir até mim. —Vou iniciar uma chamada em vídeo para resolvermos sobre o novo projeto. Quero que participe. —Sim senhor! - Respondeu ela, sentando-se ao meu
Ivy Hunter -O dia de trabalho havia sido cansativo. Não sei se pelo dia ou pelo fato da gravidez, mas estava usando muito da minha energia. Assim que cheguei em casa e abri a porta do pequeno apartamento onde eu vivia, coloquei minha bolsa no chão ao lado da porta e tirei meus sapatos, soltando um respiro de alívio. Fechei a porta atrás de mim e fui até a cozinha beber um copo de água, ouvindo a campainha tocar. —Quem é? - Perguntei indo até lá atender. Pensei que talvez fosse Amanda, mas na hora que vi um entregador segurando algumas sacolas, olhei para ele mostrando-me confusa. —Posso ajudar? — Senhorita Ivy Hunter? — Perguntou ele me estendendo as sacolas. —Sou eu, mas, eu não pedi isso. - Falei o vendo olhar para um papel em sua mão, conferindo o número do apartamento na porta. — A entrega é para a senhorita, e eu não posso levar de volta. Tenha uma boa tarde! - Disse ele, saindo em seguida. Fechei a porta, sentindo meu coração acelerar com um pressentimento estranho. Colo
Christian Müller - Pontualidade para mim é uma questão de honra. As dezenove horas eu já estava em frente ao apartamento onde Ivy morava, assim como eu havia a dito antes que faria. Assim que Ivy entrou no carro, senti minha respiração travar por um segundo, mas logo me recuperei, para não parecer um bobo na frente dela. O vestido vermelho que escolhi para ela vestia como uma segunda pele, delineando cada curva do seu corpo com perfeição. A corrente dourada repousava sobre suas costas nuas, e a maquiagem sutil apenas realçava sua beleza natural. Eu já a achava linda, mas naquele momento… Ela estava estonteante. —Ivy! Boa noite! - Falei simplista, esperando que ela se ajeitasse ao meu lado. Eu queria dizer que ela estava e que ficaria ainda melhor se ela sorrisse, mas me calei e resolvi partir para os negócios da noite. Eu a entreguei o papel para que estudasse sobre cada um que estaria naquela noite na festa; ela tinha uma memória fotográfica perfeita e eu já notava isso nela,
Ivy Hunter - Aquela festa era uma cena tirada diretamente de um filme. O som suave do violino misturava-se ao burburinho discreto dos convidados, todos elegantemente vestidos, com sorrisos impecáveis no rosto. Cada detalhe brilhava em perfeição, desde as luzes penduradas no teto até o tilintar delicado das taças de champanhe. Para mim, aquilo era quase surreal. Um mundo ao qual eu não pertencia. Meus dedos deslizaram até a borda de uma travessa cheia de doces sofisticados. Quando estendi a mão para pegar um, uma voz masculina soou atrás de mim, carregada de humor: — Tenho que admitir, você fica muito mais elegante com essa roupa do que com a de coelha. Meu corpo travou no mesmo instante. Engoli em seco e virei lentamente o rosto para encarar o homem ao meu lado. Ele me olhava com um sorriso presunçoso nos lábios, como se estivesse se divertindo com minha reação. O calor subiu pelo meu rosto, queimando minhas bochechas. No mesmo instante, senti as náuseas me tomarem. Eu não