Christian Müller –A vozinha de Nathan ecoou pela sala como um raio de sol depois de uma tempestade.Me virei no mesmo instante e lá estava ele. Meu pequeno, corria em minha direção com os bracinhos estendidos, exibindo os olhos brilhando de emoção e alívio.Me abaixei e o envolvi nos braços com toda a força que um coração em pedaços podia reunir. O segurei contra o peito, sentindo aquele cheirinho de shampoo infantil e o calor do corpinho dele. Fechei os olhos por um instante, como se quisesse guardar aquela cena para sempre.— Você tá bem, papai? A ferida na barriga sarou?Afastei um pouco para olhar nos olhos dele, sorrindo, e levantei a camisa.— Estou bem, filhão. Olha só, está quase sumindo. E sabe por quê?— Por quê? — ele perguntou, com os olhos curiosos.— Porque eu comi muita verdura! Se você comer também, vai ficar forte que nem o papai.Ele fez uma careta de dúvida, mas logo riu. Eu ri junto. Era isso.Era tudo que eu precisava: aquele riso.Laura se aproximou devagar, com
Christian Müller –O carro mal parou e eu já saltei de dentro dele com o coração espancando minhas costelas como se quisesse fugir de dentro de mim.A antiga sede da empresa estava irreconhecível. Tapumes, poeira, máquinas roncando.Uma equipe inteira de engenheiros e operários já começava a cravar as últimas ordens de demolição.Corri por entre os caminhões, empurrei um dos engenheiros que bloqueava o caminho e ergui o papel que Mark tinha conseguido. A tinta ainda fresca da assinatura do juiz tremia na minha mão suada.— Ordem judicial! — gritei, com a voz rouca de urgência. — Parem TUDO agora!Um homem com capacete branco se virou para mim. Devia ser o chefe da equipe. Ele pegou o papel da minha mão com desconfiança e leu, franzindo a testa.— Isso é uma bagunça completa — Murmurou ele sem humor. — Já destruíram quase metade da estrutura. Eu nem deveria deixar você entrar. É perigoso. Um movimento errado e esse prédio vira um túmulo.— Então me enterra com ele — Falei sem pensar, j
Laura Stevens –O controle remoto escorregava da minha mão sem que eu percebesse.A televisão estava ligada há horas, mas só agora as imagens começaram a se fixar como navalhas nos meus olhos. A antiga sede da Müller Group aparecia em chamas de poeira, coberta por ruídos de demolição e sirenes. Máquinas rasgavam concreto como se aquilo fosse só mais uma obra, como se aquele prédio não fosse um marco — Como se não fosse um pedaço do que estávamos vivendo.O mundo ao meu redor pareceu perder o som. Eu só ouvia meu coração batendo forte.A câmera tremia. No meio da confusão, um vulto familiar atravessava os destroços. Eu o reconheceria mesmo no fim do mundo.Christian.Levei uma das mãos à boca e a outra apertou a barriga, como se isso pudesse proteger o bebê da avalanche de pânico que crescia dentro de mim.Amanda apareceu atrás de mim, com uma xícara de café que tremia levemente na mão. Ela olhou pra TV, franziu o cenho e ficou em silêncio por um segundo. Um segundo que pareceu uma vid
Sky pub, Flórida. Ivy Hunter – “Estou atrasada mais uma vez!” - Exclamei encarando o relógio em meu pulso. Já se passavam das dez da noite, quando empurrei as portas da lateral do bar, entrando apressada.O bar que por sua vez, recebia o Happy hour de costume, para grandes executivos, parecia mais movimentado que o habitual. Dei um passo sabendo que seria repreendida e logo dei de frente com o gerente, que me encarava com os olhos escurecidos. —Ivy, você sabe que não toleramos atrasos. - Disse ele com seu rosto avermelhado de raiva, me empurrando uma bandeja. —Vista-se e leve isso para a sala privada. É a garrafa mais cara que temos. Mais um erro esta noite e será demitida! —Sim senhor! - Respondi me movendo apressadamente até o vestiário. Troquei minhas roupas pelas que o trabalho exigia: Uma fantasia vulgar de coelha; com sua saia curta e um corpete tão justo, que me deixava desconfortável. Ainda tinha a tiara de orelhas peludas para complementar o figurino. Naquele instan
Sky pub. Flórida.Christian Müller -A noite estava agradável. Fazia um tempo desde que estive na Flórida. Se passaram poucas horas desde que retornei à cidade e para relaxar um pouco, acabei aceitando um convite para beber, vindo de Mark, meu amigo de infância. Havíamos acabado a primeira garrafa, mas fiz questão de pedir mais uma; só assim eu poderia aguentar os questionamentos dele. —E então? Quanto tempo ficará dessa vez? - Perguntou Mark com a voz calma e curiosa. Eu o olhei brevemente, voltando a focar no copo com a bebida. —Por enquanto não tenho data para ir embora. Preciso resolver alguns assuntos inacabados. - Falei sem explicar muito o vendo soltar um sorriso. —Fiquei sabendo que seu avô está procurando um novo sucessor. Vai mesmo se juntar a empresa com os requisitos dele? - Perguntou Mark com humor. —Casamento nunca foi seu estilo, você só vive para trabalho! Ao ouvir aquilo, soltei um riso simplista. —Você sabe, não posso mais adiar isso! - Falei com um leve h
Hotel Plaza, Califórnia. Ivy Hunter –Despertei e esfreguei os olhos tentando me acostumar com a claridade do lugar. O sol entrava suavemente ultrapassando a fina cortina branca do quarto, iluminando todo o lugar. Toquei minha têmpora sentindo o desconforto como reação da noite anterior e ao me mover na cama, percebi que eu estava completamente nua embaixo de um fino lençol. —O que aconteceu? Por que estou... - Fragmentos de memória perfuram minha mente: primeiro, a traição do meu ex-namorado, depois, a ajuda de um cara bonito, e então, bebemos juntos e parece que até nos beijamos, no final... estou aqui. E... eu dormi com um estranho?!Meu Deus, será que dá pra ficar pior que isso?Me levantei, um papel na mesa chamou minha atenção. É um cheque, com um valor inestimável. - Eu nunca tinha visto tantos zeros na minha vida. Que generoso.Tentei recordar do rosto do homem, mas quanto mais eu tentava, mais a minha cabeça doía. Tanto faz! Afinal, acho que a gente nunca mais vai se ve
Müller & Co. Ivy Hunter - A sala de espera estava cheia de mulheres que estavam dispostas a lugar pela vaga de trabalho. Todas aparentavam ter passado a noite em claro decorando as respostas certas. Elas estavam felizes exibindo um sorriso nos lábios, enquanto suas aparências eram impecáveis. Me sentei no fundo das cadeiras aguardando humildemente a minha vez. Não sei onde que eu estava com a cabeça quando levei para mim as falas daquele homem como uma competição pessoal. “Deixe-a mostrar se realmente merece a vaga!” - Aquelas palavras ressoavam na minha cabeça fazendo-me arrepender amargamente por estar ali. - Eu definitivamente era a menos preparada de todas. Respirei fundo, enquanto chamavam uma por uma. As que iam ficando, olhavam para mim como se eu fosse uma pedinte, só porque eu estava segurando a minha mala e usava roupas casuais. E naquele momento, comecei a acreditar que eu realmente estava fazendo a escolha errada. Eu então, respirei fundo desistente e se
Ivy Hunter - Já havia se passado um mês desde que comecei a trabalhar na Müller & Co e minha rotina se resumia em papéis, agendas, contratos e pequenas tarefas administrativas. Embora os trabalhos não sejam muito relacionados ao design, estou muita satisfeita por receber um salário tão alto e ainda estar na empresa dos meus sonhos! Mesmo sendo a assistente pessoal, meu contato com o senhor Müller não era muito. A maioria tempo nos víamos quando eu tinha que o levar algum contrato para assinar. Como era o caso agora. Segui até o escritório com as pastas na mão e a cada passo que eu dava, sentia meu coração acelerar; não que eu estivesse nervosa, mas havia algo naquele Homem todo poderoso que me deixava inquieta. Respirei fundo e dei algumas batidas na porta, ouvindo a voz encorpada e forte de Christian me responder em imediato. —Entre! Empurrei a porta de vagar e entrei o avistando em sua cadeira, com sua postura impecável e emanando uma áurea poderosa. O terno es