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Capítulo 2 - O maluco psicopata e a canibal

Luiza's Pov

Ah, Sebastian me pagaria. Essa era a única coisa que eu sabia até o momento. O problema era definir como ele me pagaria. Não conseguia imaginar nada que fosse à altura do que ele merecia.

Os dias se passaram rápido até demais. Já era sábado e eu não tinha conseguido pensar em uma forma de me vingar. Sábado era um dos poucos dias que eu conseguia descansar. Não tinha trabalho voluntário  e muito menos faculdade.

Geralmente em fins de semana, fazia as coisas para meus avós. Eu devia muito a eles. Minha mãe morreu de um tumor no cérebro, o que me motivou a ser médica, na esperança de salvar vidas. E ultimamente estava tendo um forte interesse em me tornar paramédica.

Meu pai e o amigo dele, que por coincidência vem a ser o pai de Sebastian, foram para a Europa tentar a vida e acabaram se tornando empresários, donos de uma rede de boates muito famosa por lá, que as poucos estava se expandindo pelo continente.

Porém, meu pai não permitiu que eu fosse junto e me deixou nos cuidados de meus avós. Márcio, o amigo e sócio do meu pai, também deixou Sebastian e sua esposa, Cristina pra trás. Acho que Sebastian nunca lidou muito bem com isso. Eu até entendo ele. Esse era um assunto complicado, sempre que tocávamos nele meu primo procurava se retirar do ambiente ou apenas não se pronunciava. Bom, mas nem tudo na vida são flores, então a gente precisa tocar pra frente o que tem.

Tomei um banho super gelado pra poder despertar dessa reflexão e conseguir acordar de vez. Desci e meus avós estavam na sala vendo televisão.

– Bom dia, família! Bom dia, vovô, bom dia, vovó. – Dei um beijo na testa de cada um. Ao me virar pra ir à cozinha, me deparei com Sebastian e não pude deixar de alfinetar. – Bom dia, motivo da minha desgraça. – falei no mesmo tom de antes.

– Bom dia pra você também, Luiza. Vejo que acordou de bom humor.

– E espero continuar com ele. – Retruquei. – Mas o que faz aqui tão cedo? Está se mudando aos poucos ou fugindo de casa? Se estiver fugindo, te aconselho a procurar um lugar mais distante e menos óbvio. – disse sarcástica.

– Acha mesmo que se eu estivesse fugindo eu iria me mudar para a casa da única pessoa que eu quero distância? – perguntou.

– Não sei... tem maluco pra tudo nessa vida. E sua capacidade mental me faz duvidar de suas atitudes. – falei indiferente.

– Nerd.

– Melhor ser nerd do que um idiota que não faz ao menos ideia do que é a vida.

– E você faz? – disse irônico.

– Faço. – falei firme. – Quando se toma várias surras seguidas da vida, a gente aprende a dançar conforme a música. Você é um idiota! Às vezes custo a acreditar que temos a mesma idade.

– Idiota? A culpa não é minha se eu tenho uma vida social. – Sebastian quase gritava.

– E eu não tenho? – falei mais alto. – Faça-me o favor! Você acha que essa mentira que você construiu vai durar pra sempre? Se você morresse hoje, aposto que conseguiria contar nos dedos a quantidade de amigos que iriam chorar no seu túmulo.

– Ta vendo, vó? – falou, apontando pra mim. – Depois você briga comigo quando eu digo que a Luiza é mal amada. Isso é falta de homem!

– Ta, vendo vó? – fiz os mesmos gestos. – Depois você briga comigo quando eu pego uma faca emprestada pra passar na garganta dele! – dona Helena apenas respirou fundo, massageando as têmporas.

– Marcelo, cuida disso. – falou ao meu avô.

– Ok. Querem se matar? Estejam à vontade, só peço que não sujem a casa com o sangue de vocês.

Que amor, não?

– Que seja. Não vou ficar aqui pra ser morto por essa canibal. – disse Sabastian, enquanto pegava uma mochila que estava em cima da mesa.

– Canibal? Relaxa querido, ainda não cheguei nesse ponto. Mas faço questão de que você seja a pessoa que fará jus a essa afirmação.

Ele apenas me ignorou e saiu de casa, batendo a porta o mais forte que pôde.

– Aonde ele foi? – perguntei, enquanto pegava uma jarra de suco de laranja na geladeira.

– Pra natação. – respondeu meu avô.

– Natação, é? – de repente me veio uma ideia genial. Era como se uma lâmpada tivesse sido acesa em cima da minha cabeça, igual aos desenhos animados. – Hã... será que vocês podem me dar licença? – pedi, já me retirando para meu quarto com o copo de suco na mão.

Assim que fechei a porta, minha primeira reação foi: ligar para Estela.

– Alô, amiga? – falei ao celular.

– Oi Lu, o que houve? – perguntou.

– Já sei como me vingar do Sebastian. – disse empolgada.

– Ah, não brinca. É sério? – Estela assim como eu, não acreditava.

– Aham.

– E o que pretende fazer?

– Me espere na esquina da sua rua e verás. – E falando isso, desliguei o telefone.

(...)

Sebastian’s Pov

Garota irritante, sinônimo de Luiza. Ela é justamente o tipo de pessoa que eu detesto. Ironia, não? Pode-se dizer que ela é uma espécie rara de pessoa bipolar. Pelo menos ainda conseguia ter alguns momentos de paz, coisa meio difícil quando se mora ao lado do seu inferno e estuda na mesma escola que o capeta.

Apesar de tudo, era engraçado lembrar das confusões e brigas que já arrumamos. A cada dia nos superávamos mais. As visitas à delegacia estavam se tornando cada vez mais frequentes. Já passamos horas lá pelos motivos mais insanos. Nossa vida era quase épica.

Já levei garrafada na cabeça, caí no estrume, quebrei a perna, fui acusado de roubar um carro, pichar um muro, dar bebidas alcoólicas a menores, coisas que me fizeram ficar horas com vários policiais. Mas também não deixei barato. Sempre que eu era acusado, colocava Luiza no meio ou então me vingava, como a alguns dias atrás. Já raspei o cabelo dela enquanto dormia, colei seus dedos com super bonder (como saiu, não me pergunte), coloquei corante nos sais de banho. Ah, bons tempos.

– Sebastian? – Ian me chamava.

– Oi. – falei, ainda meio inerte em meus pensamentos.

– Cara, vamos logo. O professor vai brigar com a gente. Não to afim de ficar pagando flexão.

E lá fomos nós, ficar horas e horas nadando. Quando a aula finalmente acabou, eu não conseguia mexer qualquer parte do meu corpo. Tudo doía. Saímos da piscina e fomos para o vestiário tomar um banho. Depois que saíssemos dali, Ian e eu tínhamos combinado de sair. Ele me apresentaria uma amiga, que estava interessada em mim. E quem sou eu pra desprezar uma amiga?

– Cara, sua amiga é bonita pelo menos? – perguntei.

– Claro! Acha que eu iria te apresentar garota feia?

– Aham... sei... – falei irônico.

– Ah, qual é, tio! Já vi aquele garoto pelado várias vezes! Já dei muito banho nele! E posso te dizer que não tem nada de interessante pra se ver! – ouvi uma voz conhecida.

– Hã... cara, essa não é a voz da Luiza? – perguntou.

– Infelizmente, sim. – Enrolamos nossas toalhas na cintura e fomos ver o que estava acontecendo.

– Luiza, o que foi dessa vez? – a irritação era aparente em minha voz.

– Quero falar com você. – Dizia firme.

– Tudo bem. Vem cá. – O professor me olhava com uma cara de desaprovação. – Não se preocupe, ficaremos bem.

– Não estou preocupado com você. Estou preocupado com ela. – falou sério.

– Ah, que fofo. Não se preocupe. Qualquer coisa eu corto fora a parte do corpo que ele mais se orgulha. – falou Luiza.

Peguei-a pelo braço e a levei para um canto.

– O que você quer garota? – disse de forma rude.

– Sua mãe pediu pra te avisar pra não chegar tarde, porque vamos jantar todos juntos. – Esboçava um sorriso cético ao falar.

– Você fez esse alvoroço todo só pra me falar isso? – Ela estava me provocando.

– Só isso? – falou incrédula.

– É, só isso.

– Se é assim, então eu vou indo. Com licença.

Depois disso tudo aconteceu muito rápido: numa hora eu estava distraído e na outra Luiza corria com minha toalha pelo clube. Resumindo: eu estava nu e qualquer um podia ver.

– Filha da...

– Olha a boca! – alguém gritou.

Voltei para o vestiário, numa esperança vã de encontrar minhas roupas lá, mas como eu conhecia minha prima sabia que ela não fazia nada pela metade.

– Não fala nada, ok? – foi tudo o que eu disse à Ian antes que ele se pronunciasse.

Procurei por alguma peça de roupa, mas não achei. Nem minha sunga. Acho que foi por isso que ela quis falar comigo. Algo me dizia que Estela também estava metida nessa. Mas não daria vitória a elas assim tão fácil. Peguei minha mochila e saí do vestiário de cabeça erguida.

– Sebastian? Tá maluco, cara? Vai sair assim?

– Tenho escolha? Luiza pegou todas as minhas roupas.

Todos olhavam pra mim. Dessa vez ela pagaria caro! Me deixar nu, tudo bem, mas me fazer perder a oportunidade de pegar uma garota, que provavelmente seria gostosa, era demais. Na rua a coisa foi pior do que eu imaginava. Vários olhares em cima de mim, alguns tapavam os olhos dos filhos, outros olhavam chocados e alguns, ou melhor, algumas, até com desejo.

Mas se as coisas não podiam ficar pior, acabaram ficando. Ouvi uma sirene de um carro policial. Pronto. Agora meu dia estava perfeito. Pude ver de rabo de olho que a viatura da polícia encostava cada vez mais na calçada.

– Sebastian... o que... como... por que... – Chico não sabia o que dizer. Também pudera, nem eu saberia.

– É uma longa história, Chico... – suspirei.

– Então entra no carro e no caminho você me conta. – Bom, o cara era policial, então não podia desobedecer. Entrei no carro e fomos para a delegacia.

– Você sabe que é proibido andar nu pela rua, não sabe? – falou, enquanto eu me sentava.

– Sei. Chico, acha que eu andaria nu pela rua por livre e espontânea vontade? – perguntei. – Só estou assim porque Luiza pegou minhas roupas.

– Luiza, sempre Luiza. Não é por nada não, mas acho que um dia vocês ainda casam!

– Isola. – Dei três batidas na mesa de madeira.

– Sebastian, eu já não aguento mais te ver por aqui! Sabe quantas vezes você vem parar na delegacia por mês? Várias! Você e a Luiza já tem um canto especial aqui!

– Own, Chico, eu sei que você me ama. Da próxima vez eu trago um porta retrato com a nossa foto pra você colocar no nosso cantinho. – falei.

– Sebastian, eu falo sério. Não é sempre que eu vou te deixar livre. Vocês dois estão sem limites! Olha o seu estado! – Chico quase gritava.

– Tudo bem. Eu vou tentar te visitar menos. É que sua presença me faz tão bem... – falei irônico. – Mas já que você insiste, só há um modo de me fazer parar de vir aqui.

– E qual é?

– Prender a Luiza.

– E por que eu faria isso? – perguntou.

– Chico, há meses eu não durmo direito com medo de acordar e ver uma faca enfiada no meu estômago ou em qualquer outra parte do corpo. Isso se eu acordar!

– Não seja dramático, Sebastian! Agora falo sério, ou você muda e não aparece mais aqui, ou então eu te prendo, entendido?

– Hm... – resmunguei.

– Ótimo. Agora vamos. Vou te levar pra casa. – E assim voltei pra casa num silêncio perturbador, com o jubileu desprotegido e no mesmo carro que um policial.

Paramos em frente à minha casa. Agora que seria a parte mais difícil. Não matar Luiza seria complicado.

– Chico, não vá embora logo. Acho que voltarei pra delegacia com você.

– Por que diz isso, menino? – perguntou.

– Acho que vou matar alguém. – Sorri, pensando na cena.

Saí da viatura e fui direto para a casa de meus avós. Assim que abri a porta, pude ver Luiza sentada no sofá comendo pipoca, bebendo refrigerante e vendo um filme. Bati a porta com força na esperança de que ela me visse, e deu certo. Assim que seus olhos bateram em mim, ela engasgou com o refrigerante.

– O que foi, priminha? Assustada com o que vê? – falei irônico.

– VÓ, SOCORRO! TEM UM TARADO AQUI NA SALA!!! – começou a gritar.

– Garota, você não sabe com que mexeu!

– Acho que posso dizer o mesmo. – Sorriu maliciosamente. – Vá botar uma roupa. E aproveita pra colocar papel higiênico dentro da calça pra ver se faz volume.

– Agora é de mais. – Avancei pra cima dela, assim como ela fez alguns dias atrás. Porém Luiza teve mais sorte e nossos avós, juntamente com minha mãe, apareceram no meio da sala.

– Vó, socorro. Ele quer tirar minha pureza!

– Pureza? De pura e inocente você não tem nada! – falei.

– Mas não sou eu que estava correndo pelado atrás de alguém.

– Os fins não justificam os meios.

– O que importa é o que eu vejo. E eu vejo um homem pelado, mais precisamente meu primo, correndo atrás de mim. - falou.

– Sebastian, vá se vestir primeiramente, depois você pensa em matar sua prima. – disse minha avó.

– O que eu faço com ele, hein, Helena? – perguntou minha mãe.

– Interna! É o único jeito! Antes que ele vá parar em um noticiário como estuprador ou serial killer. – disse Luiza.

– E você será a primeira vítima! – sussurrei.

– Viu? Não to falando? Ele é maluco! – dizia apontando pra mim.

– Melhor maluco do que canibal. – Retruquei.

– Ah, ótimo, agora temos um maluco psicopata e uma canibal na família. Quem vai ser o próximo? Um aprendiz de Freddy Krueger? – disse minha mãe.

– Mas eu não sou psicopata. – Reclamei.

– Com mãe não se discute! – Luiza interferiu.

– Fica na sua, valeu? - falei. – Bom, eu vou pro meu quarto, tenho mais o que fazer.

– Só uma coisa: sua boneca inflável cansou da monotonia e fugiu com o mendigo que passou por aqui. Ele era bem mais animado e dava conta do serviço.

– Agora eu te pego! – não me controlei e comecei a correr atrás de Luiza de novo.

– AHHHH, SOCORRO! – se escondeu atrás da minha mãe.

– SEBASTIAN! Controle-se. – falou ela. – Vá se vestir logo. – Tentei controlar a raiva. Respirei fundo algumas vezes, pensei em coisas felizes, e  fui para minha casa.

(...)

O banho foi relaxante. Consegui acalmar os nervos e pensar em algumas coisas pra minha vingança, mas nada que me levasse à delegacia novamente. Saí do banheiro e me deparei com Luiza na porta do meu quarto.

– Me saí bem? – perguntou.

– O que você acha?

Ela entrou e se deitou em minha cama, enquanto ouvia minha pergunta.

– Acho que me superei.

– Parabéns pra você, então. Agora, será que pode se retirar do meu quarto? – escancarei a porta fazendo menção para que ela saísse.

– Ah, mais já? Conseguiu recuperar a boneca inflável? – indagou.

– Não preciso de boneca inflável.

– Ah, então é por isso que você fica horas trancado no banheiro?

– Posso te mostrar se você quiser. – Provoquei. Ela merecia ser tentada depois do que fez. E se tinha uma coisa que deixava Luiza sem jeito era flerte. Comecei a ir em direção a ela, que já se preparava pra levantar.

– Não, obrigada. – Subi na cama e fui engatinhando até ficar por cima dela. – Não estou a fim de ser estuprada.

– Mas você não vai. – Cheguei bem perto e sussurrei a milímetros de seus lábios. – Eu tenho bom gosto.

– Bom gosto? – parecia inconformada. – Desculpa, mas pra mim, pegar essas garotinhas que se vendem por um real não é bom gosto. Agora pode se afastar?

– Mas é claro. – Levantei-me e logo após ficar de pé, Luiza fez o mesmo.

– Com licença. – falou, indo em direção a porta. – Hã... só pra não perder o costume... – voltou a se aproximar de mim, abraçou-me e falou em meu ouvido. – Não se esqueça de que não me vendo por tão pouco como essas garotinhas que você diz que pega. – E depois disso eu vi estrelas. Acho que tomei um chute num dos lugares que eu mais prezava. Não lembro ao certo porque a dor era muito grande.

Mas como dizem... a vingança é um prato que se como frio, no meu caso, ia ser congelado.

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