Sabe aqueles dias em que a gente acorda com um pressentimento ruim? Apesar dessa sensação não ser mais uma novidade pra mim, algo me dizia que hoje as coisas seriam piores. Não estou exagerando se é isso o que vocês estão pensando. Mas acreditem, Sebastian me dá motivos suficientes pra desconfiar de tudo e todos a minha volta.
Quem é Sebastian? Bom, ele é meu primo de consideração. Devido a nos conhecermos desde que usávamos fraldas, crescemos fazendo parte da família um do outro (querendo ou não) e, por nos amarmos tanto (sarcasticamente falando), também somos vizinhos. Agora, imaginem ver um idiota como ele o dia todo, todo dia. Pois é, além de sermos primos e vizinhos, também cursamos a mesma faculdade. Temos até algumas aulas juntos.
Por que nos odiamos? Boa pergunta! Acho que é coisa de nascença, pois já fomos parar várias vezes na cadeia (não, não é exagero). Tenho certeza de que dois jovens normais e honestos não teriam esse problema. Honestos nós somos, ou pelo menos eu, mas normais, já não tenho tanta certeza. Se não estou enganada, nossa briga/rivalidade/rixa/ódio ou como preferir chamar, começou no prezinho porque eu dedurei pra professora que ele tava comendo cola.
Mas não pense que crianças não tem uma mente maligna. Eu aprendi isso no mesmo dia em que entreguei meu primo pra tia Márcia, nossa professora de quando internet ainda era pra ricos e pessoas de classe média alta. Na hora do recreio, como vingança pelo que eu tinha feito, Sebastian manchou minha blusa com um suco de uva fajuto que a escola costumava distribuir. Desde então jurei que me vingaria, e o fiz! Só que aí ele se vingava da minha vingança e eu da vingança dele e a coisa foi ficando meio louca e cá estamos: passando trote, fazendo pegadinha, submetendo o outro passar vergonha e por aí vai.
Fazemos medicina, mas como estamos no segundo período, ainda não temos aulas específicas sobre a área que preferimos. No momento nos ensinam o geral, o que todo bom médico precisa saber. Tenho certeza de que serei uma ótima médica, mas não posso dizer o mesmo de Sebastian. Duvido que ele não mate mais do que salve.
Estava imersa em meus pensamentos de ódio e rancor. Pensava na vida, naquele pressentimento ruim que me levou a uma nostalgia e na matéria da prova que teria naquele dia. Nesse momento estranhei o fato do despertador não ter tocado. Eu nunca acordava antes dele, na maioria das vezes ele sempre voava pelos ares por causa do meu mau humor. Foi então que meu pressentimento e esse fato se uniram.
– Desgraçado! – foi só o que eu consegui falar enquanto era sufocada pelos lençóis ao tentar levantar da cama. Nem preciso comentar que tomei um tombo feio.
Olhei para o despertador pra saber quanto tempo ainda me restava antes que minha prova começasse. Eram 6:15 da manhã e o horário da faculdade era 7:00. Achei que ainda dava tempo. Não importava, mesmo que não desse faria o possível e o impossível pra fazer aquela prova. Sebastian não se daria bem! Não se dependesse de mim!
Me arrumei correndo e fazia várias coisas simultaneamente. Enquanto colocava a roupa, escovava os dentes; enquanto penteava os cabelos, calçava a sapatilha e pegava minha bolsa. Foi uma coisa muito louca. Assim que estava pronta fui para o ponto de ônibus como bala.
Fiquei esperando o ônibus uns 10 minutos. As pessoas que também aguardavam seus transportes me olhavam com uma cara de medo. Por acaso eu tinha cara de traficante e não sabia ou tinha virado uma mulher bomba e esqueceram de me avisar? Mas acho que isso tudo se devia ao meu estado. Provavelmente estaria toda descabelada por causa da corrida e pela falta de tempo, com uma cara de bisonha.
Assim que entrei no ônibus tive que rir pra não chorar. Sério, devia ser lei as pessoas só poderem entrar no ônibus depois que comprassem um fone de ouvido e passassem desodorante. Imaginem minha situação, ou melhor, não imaginem, porque só de pensar já causa arrepio. Enfim, continuando, sentado no banco que estava na minha frente, tinha um pivete sem noção, ouvindo um funk ridículo que ofenderia a memória de qualquer músico que se preze. Não duvido muito que naquele momento eles não estariam se contorcendo dentro do caixão.
De cada lado meu tinha dois homens: um com cheiro de cigarro, outro com cheiro de bebida. E de costas pra mim um com cheiro de cigarro e bebida! Sabe, na minha opinião, não é qualquer um que deveria poder pegar ônibus não! Deveriam ser somente os escolhidos, porque eu vou te contar, viu.
No final eu já não sabia o que era pior: o povo sem noção que achava que merecia todo o espaço, que queria se enfiar num lugar que nem oxigênio tinha mais; o povo sem educação, aqueles que pisavam no pé, esmagavam, arranhavam, agrediam, não pediam desculpa e ainda acham que você é que está errado; o povo tarado, que aproveitava o pouco espaço como desculpa pra ficar sarrando nas mulheres; ou o povo barraqueiro, aqueles que já chegavam discutindo com o motorista e reclamando da vida num tom de voz que todo mundo conseguia ouvir.
– Sebastian me paga! – falei pra mim mesma. Ele teria o que merecia. Ah, se teria.
Quando cheguei na faculdade o relógio já marcava 7:10. Corri igual uma desesperada até chegar no auditório onde haveria a primeira aula. Antes de passar pela porta, parei, respirei fundo, dei uma ajeitada no cabelo e nas roupas, arrumei minhas coisas e entrei de fininho. O infeliz estava sentado justamente na última cadeira do auditório, no caso, a mais próxima da porta. Cheguei perto o suficiente dele sem que ninguém percebesse e falei:
– Pensou que ia conseguir o que queria, priminho? – Sebastian tomou um susto ao ouvir minha voz.
– Na verdade não. Se eu quisesse mesmo te prejudicar acha que você teria conseguido chegar até aqui? Provavelmente ainda estaria na cama tentando tirar a mordaça da boca e gritar para que alguém te desamarrasse da cama. - Voltou a olhar pra frente, onde o professor escrevia algo no quadro.
– Isso não vai ficar assim! – ameacei.
– Não mesmo. – Ele completou com um sorriso malicioso.
Não dei muita importância pelo fato de estar atrasada. Se o professor me visse daquele jeito, e ainda por cima não estando sentada em alguma carteira da vida, provavelmente seria posta pra fora do auditório. Procurei um lugar rapidamente, olhando por todo o lugar e vi que a carteira vazia mais próxima estava a duas fileiras de onde Sebastian se encontrava sentado. Bom, não tinha jeito. Peguei minha bolsa e as pastas e segui em direção à carteira. Ou pelo menos foi o que eu tentei fazer, já que aquele babaca que eu chamo de primo colocou o pé na minha frente e acabei rolando escada a baixo.
Não sei o que foi pior: os alunos olhando pra mim, a cara furiosa do professor ou Sebastian tentando esconder o riso.
– Pode me explicar o que aconteceu aqui, senhorita Victorino? – ele adorava meu sobrenome, só pode. Era senhorita Victorino pra cima e pra baixo. Já tive pesadelos com esse homem devido a ele falar tanto meu nome.
– Hã... – olhei as coisas à minha volta em busca de uma desculpa e vi que alguns objetos da minha bolsa estavam espalhados no chão. Dentre eles, um lápis. – Vim apontar um lápis? – disse, pegando-o e fazendo a cara mais esfarrapada do mundo. Sei que a desculpa foi horrível, mas ele iria me pressionar até que eu falasse algo.
– Que seja! Agora sente-se. Se a senhorita se esqueceu, tenho uma prova para aplicar agora. – Já ia começar a ignorância. Coisa que eu não suportava. Juntei minhas coisas e falei com a cara mais lavada do mundo:
– Senhor Paulo Braga de Oliveira, acha mesmo que se eu não soubesse que haveria prova eu estaria aqui? Poupe sua ignorância para um aluno que as aceite. – Fui até a carteira que já planejava sentar com pisadas fortes. Sentei e parecia que havia uma melancia na minha cabeça, pois todos olhavam pra mim. Sebastian parecia sério, pensativo, mas assim como os outros, espantado com a minha atitude.
– Esperando que não haja mais interrupções, darei início à prova. As questões devem ser feitas à caneta azul ou preta. Evitem rasuras. E, por favor, mostrem que vocês têm o nível mental que aparentam ter, então, não colem. Não admitirei qualquer ato que insinue cola. Entregarei as folhas aos primeiros de cada fileira e conforme forem retirando as suas, passem o resto para o colega que estiver atrás.
Assim que recebi minha prova, passei o resto em diante e me pus a resolver as questões. Fiz as cinco primeiras em dez minutos, até que uma bolinha de papel me acertou. O professor estava desatento lendo o jornal, olhei pra trás e vi Sebastian me mandando abrir o papel. Fiz o que ele pediu e lá dentro havia um recado:
Me passa a cola da dois até a dez?
Era um idiota mesmo. Fiquei me perguntando como ele tinha conseguido responder a primeira questão. Apesar de que acho que qualquer um sabe como agir diante de uma pessoa que esteja sofrendo convulsão. Respondi que não e joguei a bolinha de papel novamente para ele, tendo o cuidado de não ser pega por aquele professor metido a Einstein. Segundos depois senti novamente algo bater na minha cabeça e novamente vi a bolinha. Abri e em baixo da minha resposta estava escrito:
Por que não?
Essa eu não precisei pensar duas vezes pra responder:
Por que você é um babaca. Acha mesmo que eu daria cola pra você? Desculpa, mas mesmo que você merecesse, não gostaria de ser a culpada pela morte de seus pacientes.
Principalmente ele que queria ser cirurgião.
Terminei as outras questões e enquanto passava as respostas à caneta, mais uma vez, recebi uma bolinha de papel.
É assim? Tudo bem, então. Espero que esteja pronta para as consequências.
Finalizei a cópia à caneta, entreguei a prova ao professor, arrumei minhas coisas e antes de sair do auditório, parei ao lado de Sebastian e falei:
– Isso é uma ameaça? Pois saiba que não tenho medo. Há 19 anos eu as ouço e vejo suas vinganças se cumprirem. Não tenho mais medo disso desde os 11 anos. No máximo a gente vai parar na delegacia de novo. – Sorri. – Boa prova pra você. – Então saí do auditório.
(...)
Estava andando pela faculdade pensando na prova e num plano para me vingar daquele maldito, quando senti alguém me puxar pelo braço e me levar até o banco mais próximo.
– Vai, me conta tudo. Quais foram as perguntas que caíram na prova do Paulo. – Estela me perguntava. Ela era minha melhor amiga. E de vez em quando se enfiava em umas brigas minhas com Sebastian.
– Desculpa amiga, mas não lembro. Sebastian não deixou que eu me concentrasse o suficiente pra lembrar as perguntas. Fora que ainda cheguei atrasada. Ele desligou meu despertador. – expliquei.
– Ótimo. Por causa daquele desgraçado eu vou me ferrar! – falou.
– Hum... é mesmo? Que interessante... e qual é o nome desse desgraçado para que eu possa parabenizá-lo pelo ótimo trabalho? – Sebastian falou. Ele estava atrás de nós encostado numa árvore ouvindo a conversa.
– Falando no diabo... – comentei. – Tenho uma boa e uma má notícia. – falei para ele.
– Então diga. – Fez cara de interessado.
– A boa, pra você, é que dificultou a vida da Estela, e a má, pra mim, é que você não morre tão cedo. – Estela começou a rir.
– Que seja. Vim te dar os parabéns, nerdzinha. Você gabaritou a prova do Paulo. – falou indiferente.
– Nada mais justo depois daquela forma arrogante como ele me tratou. Querendo ou não, eu sou a melhor aluna dele. Mas por que você se daria ao trabalho de vir me falar isso? O que você tá aprontando? – desconfiei.
– Eu? Nada. Se eu estivesse armando algo, diria que você tinha ganhado na mega sena. – falou.
– Mas isso seria uma grande mentira, porque até hoje não conheço ninguém mais azarado que a Luiza. Duvido que ela acreditasse. – Estela falava em meio aos risos.
– Amiga, olha pra minha cara. Vê se eu tô rindo. – falei séria, apontando pro meu rosto. – Você está do lado de quem? Meu ou dele? – fiz cara de nojo ao me referir à Sebastian.
– Não se preocupe Estela, eu achei graça. Acho que essa foi a coisa mais sábia que você já disse em toda a sua vida! – Sebastian ria enquanto falava.
– Bom, preciso ir. Não tenho tempo para desperdiçar com coisas insignificantes. Aliás, nem sei porque falo com você se te odeio. – disse, me levantando e levando Estela junto comigo.
– Talvez seja porque no fundo você tem um desejo insaciável por mim. Não te culpo, afinal, você não é a única a se perder nesse pecado. – Passou as mãos pelo corpo.
– Idiota. – falei empurrando-o para que saísse da minha frente.
Assisti às aulas seguintes normalmente. Em algumas, encontrava Sebastian, que me perturbava de todas as formas possíveis. Desde cantar “Papi, o camelo”, até ficar me cutucando. Quantos anos aquele garoto tinha? 19 ou 5? Depois que as aulas acabaram, fui direto pra casa. Almocei o mais rápido que pude e fui para a maternidade, onde fazia trabalho voluntário.
– Desculpem-me pelo atraso. – disse ofegante ao chegar. – O último professor me prendeu um pouco mais na sala.
– Tudo bem Luiza, sem problemas. – disse Denise, a secretária da maternidade.
Passei o tempo todo trocando o soro das mães, colocando antibióticos e tudo o que tivesse direito.
– Luiza, seu primo está aí. – Duda, minha colega, avisou.
O que ele fazia aqui? Não é do feitio dele ir aos lugares onde faço trabalho voluntário. Cheguei à recepção e lá estava ele todo despreocupado.
– O que você quer, Sebastian? – disse, me aproximando.
– Vovô mandou eu vir te buscar. – respondeu emburrado.
– Não é necessário. Eu sei ir pra casa sozinha. – Afirmei.
– Não com o temporal que tá lá fora. – Retrucou.
– Tudo bem, então. – Suspirei derrotada. Vou pegar minhas coisas e a gente vai.
Troquei de roupa, peguei minha bolsa e fomos para o carro de Sebastian. Pois é, como as coisas são, ele tinha um carro e eu nem bicicleta de boneca tinha! Ê, vida injusta!
Passamos alguns minutos em silêncio, até que ele se pronunciou.
– Sua amiga é gostosinha. – falou.
– Nem pense que vai conseguir algo com ela. A Duda é muita areia pro seu caminhãozinho. – falei indignada. Como ele falava daquele jeito sobre minha colega?
– Não importa. Lu, você poderia ir naquela barraquinha comprar uns tomates que a vó pediu? Eu paro e te espero.
– Com que guarda chuva? – perguntei.
– Toma. – Ele me entregou um.
Saí com a bolsa, o guarda-chuva e o dinheiro que ele havia me entregado. Assim que fechei a porta do carro e andei uns dez metros, Sebastian foi embora. Me senti uma idiota. Xinguei ele de todos os nomes possíveis em todas as línguas que eu sabia. Andei uns 500 metros até o ponto de ônibus mais próximo. Depois de uma hora e meia no ponto esperando, o ônibus que eu devia pegar passou. Demorei uns 50 minutos pra chegar em casa por causa da chuva.
Ao passar por aquela porta, eu estava destruída, destroçada, acabada, em forma zumbi e tudo o que tivesse direito. Só pensava em uma coisa: Sebastian.
Meus avós estavam na cozinha, provavelmente fazendo algo que era minha obrigação e o dito cujo deitado no meu sofá, vendo filme na minha televisão.
– Nossa Luiza, você tá péssima. Não sabia que as pessoas deixavam gente com essa cara trabalhar na maternidade. Isso não assusta as crianças? – disse cínico.
– Você me paga! – falei revoltada. Comecei a correr atrás dele que prontamente tentou fugir, mas antes que ele pudesse fazer algo dei uma rasteira nele, que acabou caindo. Prendi-o no chão, sentando em cima dele, com as pernas uma de cada lado, e então comecei a estrangulá-lo. Ele gritava por socorro, mas eu não me importava, agora era minha vingança, ou pelo menos deveria ser, já que meus avós chegaram a tempo de impedir a morte de um ente nada querido.
– Ficou maluca garota? – dizia colocando a mão no local onde meus dedos haviam apertado com força.
– Fiquei a partir do momento em que você me deixou a pé na chuva! Sabe o perigo que eu corri? Tem ao menos noção? Tive que esperar algum meio de transporte num ponto de ônibus escuro, em que só tinha um bêbado perto de mim! – falei, me controlando.
– Olha pelo lado bom, pelo menos o bêbado te fez companhia. – Sorriu.
– Eu vou matar esse garoto! – disse avançando pra cima dele novamente, sendo segurada pelo vovô.
– Luiza, acalme-se! – disse minha avó. - Vá tomar um banho, descanse um pouco e depois nós conversamos, certo?
– Tudo bem. – Concordei um pouco mais calma.
Tomei um banho pra tirar toda aquela lama do corpo, coloquei uma roupa e decidi estudar um pouco, porém estava tão cansada que acabei pegando no sono.
Era isso que Sebastian fazia comigo. Me tirava do sério, impedia que eu cumprisse meus afazeres completamente e evitava que eu tivesse um dia feliz. Como eu odiava aquele garoto! Mas ele ainda me pagava por aquele dia! Ah, se me pagava! Não adiantava, por mais que eu quisesse que nos déssemos bem. Éramos como gato e rato, água e óleo, sempre nos odiaríamos, nunca nos daríamos bem, sempre estaríamos em pé de guerra. Ou não...
Luiza's Pov Ah, Sebastian me pagaria. Essa era a única coisa que eu sabia até o momento. O problema era definir como ele me pagaria. Não conseguia imaginar nada que fosse à altura do que ele merecia. Os dias se passaram rápido até demais. Já era sábado e eu não tinha conseguido pensar em uma forma de me vingar. Sábado era um dos poucos dias que eu conseguia descansar. Não tinha trabalho voluntário e muito menos faculdade. Geralmente em fins de semana, fazia as coisas para meus avós. Eu devia muito a eles. Minha mãe morreu de um tumor no cérebro, o que me motivou a ser médica, na esperança de salvar vidas. E ultimamente estava tendo um forte interesse em me tornar paramédica. Meu pai e o amigo dele, que por coincidência vem a ser o pai de Sebastian, foram para a Europa tentar a vida e acabaram se tornando empresários, donos de uma rede de boates muito famosa por lá, que as poucos estava se expandindo pelo continente. Poré
Sebastian’s PovAcordei ainda sentindo dor pela noite passada. Parecia que eu estava cagado, andando com as pernas afastadas pra não piorar a situação. Levantei com cuidado, fiz tudo o que tinha que fazer e fui pra casa dos meus avós.– Bom dia. – falei.– Bom dia, filho. O que aconteceu pra você estar andando assim? – vovó perguntou.– Longa história... – nessa hora vovô entrou na sala chamando minha avó.– O que foi, Marcelo? – perguntou.– Preciso contar uma novidade pra vocês. Acorde Luiza e fale pra ela vir logo. Quando estiverem todos aqui, eu conto.– Pode deixar que eu faço questão de acordá-la. – Não perderia essa oportunidade por nada no mundo.– Tem certeza disso, Sebastian? – vovó perguntou.– Absoluta,
Luiza’s Pov – Achei o remédio. – falei entrando na sala. Estava tudo bagunçado e Sebastian lia o jornal, sentado na poltrona. – Cadê o pirralho? – Fugiu. – Ele falou na maior tranquilidade possível. Entrei em pânico. – Ele o quê??? – Fugiu. Tá surda? – senti uma vertigem me inundar. – COMO ASSIM VOCÊ DEIXOU UMA CRIANÇA DE 6 ANOS FUGIR? – gritei. – Eu tentei correr atrás dele. Mas o bichinho era rápido. – Bichinho? Sebastian, eu não quero saber como, mas você vai me trazer aquela criança de volta. – Ordenei. – Por que eu? – Porque foi você quem deixou ele fugir! – Tudo bem, eu vou. – Se levantou. – Mas você vai comigo. – Me puxou pelo braço para a rua. Rodamos a cidade toda procurando Gabriel. E a cada minuto que não o achávamos, meu desespero aumentava. Meu Deus, onde aquela criança poderia estar? Eliza me mataria caso algo acontecesse com ele. E se eu morresse, Sebastian iria ju
Quinhentos reais apenas para falar a verdade. É por isso que sempre gostei de negociar com Sebastian. Assim que ele me soltou fui direto para a cozinha, um pouco mais feliz que o normal. Chegando lá, todos já estavam comendo o lanche que eu havia preparado. – Poxa... Nem me esperaram. – Fingi estar triste. – Ah, prima, fica triste não. Se você quiser me transformo em Chama e queimo o Sebastian. – Jogou um olhar assassino pro dito cujo que entrava na cozinha. - Você ficaria feliz? – A razão me manda mentir, mas a minha vontade me manda dizer a verdade... – Luiza! – Fui repreendida. – Desculpa, vó, mas é verdade. Se eu minto, você briga, se eu falo a verdade, você também briga! – Me defendi. – Luiza, por favor, não comece. – Revirei os olhos. – Ah, que isso vó. Deixe-a continuar. Como você pode impedi-la de concorrer ao Oscar como melodrama do ano? – E mais uma vez Sebastian colocando lenha no fogo. – Vou
– E aí, Lu, como foi na prova? – Pedro perguntava, enquanto descíamos as escadas do corredor da faculdade. – Sei lá. Não foi péssima, porque eu costumo estudar um pouco diariamente. Mas nossa, aquilo não foi prova. Acho que até em prova de concurso público eu ia melhor. – É, realmente a prova tava bem complicada. Por isso que eu não gosto desse professor. Continuamos falando sobre a prova enquanto íamos para a lanchonete, mas antes que eu pudesse entrar e comer alguma coisa, vejo meus avós vindo na minha direção com Biel entre eles. Eu sabia que alguma coisa ia acabar sobrando pra mim, sabia. Tentei dar meia volta e me esconder em algum lugar, mas acabei esbarrando em alguém, que logo percebi ser Sebastian. – Com licença? – Não. – ele respondeu. – Por que não? – Perguntei incrédula. – Porque não vou perder a oportunidade de te fazer tomar conta de um pirralho. – Revirei os olhos e tentei fugir, mas ele me agarr
Sexta-feira, 13.A alguns quilômetros do quinto dos infernos.Caro pai,Venho por meio desta carta dizer-lhe minhas últimas palavras mediante a situação que me foi imposta. Não tenho ideia de como agradecer-lhe por ter me mandado pra casa do caralho, localizada bem ao ladinho de onde você mora. Hoje posso dizer com orgulho que, em plenos 19 anos, caminhando para os 20, tive minha vida completamente arruinada, destruída, desgraçada, pela pessoa que um dia deveria ter agido como um pai. Como posso lhe agradecer por tudo o que fez por mim? Acho que minha gratidão não consegue expressar o que eu sinto, devido a sua fuga repentina, juntamente com sua responsabilidade paterna. Ainda fico maravilhada com a capacidade de um pai de mandar o filho maior de idade, que já responde por suas ações, pra porra de um lugar que eu
Estávamos sentados em cadeiras de madeira. Sebastian dando um jeito de soltar as algemas, enquanto eu apoiava a cabeça em meu braço livre, esperando o capitão voltar de sua saída inesperada.– Nos filmes parece bem mais fácil. – comentou.– Por isso são filmes. Seria bem mais fácil se você tivesse me apoiado quando eu disse que essa era uma ideia idiota.– E fazer mais barraco?– Falou o sábio agora. – falei irônica.– Como se alguma reclamação nossa fosse fazê-lo mudar de ideia. A gente precisa é arranjar um jeito de sair daqui.– É, vamos voando.– Boa ideia! Vamos buscar sua vassoura. – Ameaçou levantar. Então o capitão entrou na sala.– Agora vamos ao que interessa. – sentou em sua cadeira de couro e olhou fi
Sebastian’s Pov – Sebastian, o que tem a dizer? – o homem sentado na minha frente perguntava. – Eu te odeio. – Nossa, estou emocionado com a sua sinceridade. – disse irônico. – Disponha. – Sorri. – E você Luiza? – perguntou para a praga presa a mim, que se virou na minha direção e disse olhando nos meus olhos: – Eu te odeio. – Ora, ora, que interessante, vejo que temos algo em comum, querida. – comentou. – E o que seria? – perguntou. – Odiamos a mesma pessoa. – Eles começaram a rir. Pigarreei. – Então, me digam como tem sido a estadia de vocês aqui? – perguntou o terapeuta. – Uma merda. – Falamos juntos. – E por que dizem isso? – Você ainda pergunta? Passamos a noite toda presos a um tronco sem água e comida, não dormimos até agora e ainda por cima estamos algemados e cheio de pirralhos ao nosso redor. – Respondi. – Se vocês se tratassem como gente