Capuz Vermelho
Capuz Vermelho
Por: ana_mor
Capítulo 1

Eu me lembro do dia em que morri. É difícil esquecer os gritos, a dor e o riso insano que ecoava pelas paredes do armazém abandonado. O Coringa, com seu sorriso distorcido e olhos cheios de loucura, transformou aquele lugar no cenário do meu pior pesadelo.

— Você sabe, garoto — ele disse, enquanto balançava aquele pé-de-cabra ensanguentado. — Batman nunca chega a tempo. Não para você.

Eu estava amarrado, ensanguentado, impotente. Cada golpe era uma sinfonia de dor que reverberava pelo meu corpo. Eu podia sentir meus ossos se quebrando, cada respiração se tornando um esforço monumental. Minha visão turvava, mas a imagem do Coringa, com seu rosto branco e cabelo verde, estava gravada na minha mente.

— Por quê? — consegui murmurar, cuspindo sangue. — Por quê... eu?

Ele riu, um som que fez meu estômago revirar.

— Porque você era o mais divertido, meu querido Robin. Sempre tão sério, tão determinado. É trágico, realmente.

Foi naquele momento que eu percebi que não havia esperança. Batman não chegaria a tempo. E mesmo se chegasse, eu não sabia se queria que ele visse o que restava de mim. Meus pensamentos vagaram até Bruce, e uma parte de mim desejou que ele não encontrasse meu corpo. Que ele não visse a falha que eu me tornara.

Então veio a explosão. O Coringa desapareceu, deixando-me sozinho para morrer. Eu ouvi o som distante de passos correndo, mas estava escuro demais, frio demais. A dor começou a se desvanecer, substituída por uma estranha sensação de paz.

Morri naquele dia, mas não foi o fim da minha história. De alguma forma, fui trazido de volta. Não foi mágica, não foi um milagre. Foi uma combinação de ódio, desejo de vingança e a intervenção dos Poços de Lázaro. Eu ressurgi, não como o Robin que todos conheciam, mas como algo mais sombrio, mais perigoso. Eu me tornei o Capuz Vermelho.

Quando meus olhos se abriram, o mundo ao meu redor era uma confusão de cores e sons. Meus pensamentos estavam embaralhados, minha mente um turbilhão de confusão e raiva. O primeiro rosto que vi foi de Talia al Ghul, que me observava com uma mistura de preocupação e triunfo. Ela falava algo, mas suas palavras pareciam distantes, distorcidas.

— Jason, você está bem? — ela perguntou, sua voz reverberando na minha cabeça.

Tentei me levantar, mas meus músculos estavam fracos, meus movimentos descoordenados. A dor era insuportável, mas não era só física. Havia algo mais profundo, uma sensação de perda e deslocamento que não conseguia entender.

— Onde... onde estou? — minha voz saiu rouca, quase um sussurro.

— Você está seguro agora — Talia respondeu, ajudando-me a sentar. — Nós te trouxemos de volta.

As palavras dela penetraram na minha mente, mas o significado demorou a se registrar. Trouxeram-me de volta? Eu deveria estar morto. Lembrei-me do Coringa, do pé-de-cabra, do riso insano. A lembrança trouxe uma onda de raiva que queimou dentro de mim, uma fúria que não conseguia controlar.

Levantei-me abruptamente, tropeçando, e agarrei Talia pelos ombros.

— Por quê? — gritei. — Por que me trouxeram de volta?

Ela não resistiu, seus olhos mantendo-se firmes nos meus.

— Porque você tem uma missão, Jason. Há muito mais que você pode fazer.

A raiva continuava fervendo dentro de mim, mas havia também uma dor profunda, uma sensação de estar perdido. Olhei ao redor, percebendo os detalhes do lugar onde estava – uma câmara antiga, as paredes decoradas com símbolos que não reconhecia. A caverna dos Poços de Lázaro.

De repente, tudo pareceu se encaixar. Os Poços de Lázaro, conhecidos por suas propriedades de ressurreição, mas também pelos efeitos colaterais – insanidade temporária, perda de identidade. Comecei a entender o porquê da minha confusão, da raiva incessante que sentia.

— Eu... eu não sei quem sou — admiti, soltando Talia. — Tudo está tão... errado.

Ela assentiu, seu olhar suavizando.

— É normal, Jason. O Poço tem seus efeitos. Mas você vai se lembrar. Você vai se encontrar novamente.

Os dias seguintes foram um borrão de treinamento e torturas. Cada sessão era uma batalha interna, tentando recuperar fragmentos da minha memória, tentando reconciliar quem eu era com quem havia me tornado. Mas a raiva, a sede de vingança, nunca desaparecia.

Cada vez que fechava os olhos, via o rosto do Coringa, ouvia seu riso. A imagem de Bruce também assombrava meus pensamentos, um símbolo de tudo que eu havia perdido, de todas as falhas. Eu não era mais o Robin que ele conhecia. Eu não podia ser.

— Você precisa canalizar essa raiva, Jason — dizia Talia, enquanto eu esmurrava sacos de areia até minhas mãos sangrarem. — Use-a como uma arma. Deixe-a ser sua força.

E eu fiz. Mas à medida que me fortalecia, percebia que estava me afastando cada vez mais da minha antiga vida. Minha identidade como Jason Todd, como Robin, estava desmoronando. Em seu lugar, uma nova persona estava emergindo – alguém mais sombrio, mais letal.

A transformação foi completa quando decidi adotar o manto do Capuz Vermelho. Não era mais uma homenagem ao antigo rival de Bruce, mas uma declaração de minha nova identidade. Um lembrete constante de que eu havia renascido das cinzas, moldado pelo ódio e pela vingança.

O Capuz Vermelho não era um herói. Ele era um executor, um agente de justiça brutal em uma cidade que conhecia pouca compaixão. Eu não podia mais ser o Robin. Robin havia morrido naquele armazém, e o Capuz Vermelho havia surgido de suas cinzas, um símbolo de tudo que Gotham havia me ensinado sobre dor, perda e vingança.

Cada vez que patrulhava as ruas, sentia a raiva borbulhando dentro de mim, uma força que me guiava. Enfrentava os criminosos com uma ferocidade que não tinha antes, e cada vitória era uma pequena vingança contra o mundo que me havia traído. Mas, mesmo assim, havia momentos de lucidez, onde a dor da minha antiga vida surgia, onde as memórias de Bruce e do que eu havia sido vinham à tona.

— Jason — Talia me chamou certa noite, enquanto eu limpava minhas armas. — Lembre-se, a fúria é uma ferramenta poderosa, mas também é uma lâmina de dois gumes. Não deixe que ela te consuma.

Olhei para ela, seus olhos refletindo uma sabedoria que eu ainda lutava para entender.

— Não se preocupe — respondi, meu tom mais frio do que pretendia. — Eu sei exatamente o que estou fazendo.

Ela não insistiu, mas eu sabia que suas palavras tinham um fundo de verdade. A raiva era minha companheira constante, mas também era um lembrete do que eu havia perdido e do que me tornei. E, por mais que tentasse, não podia apagar completamente a sombra de quem eu era antes de morrer.

Certa noite, enquanto patrulhava um dos bairros mais perigosos de Gotham, deparei-me com uma cena que refletia meu próprio pesadelo. Um jovem, vestindo uma capa que lembrava a de Robin, estava cercado por criminosos, suas risadas ecoando pelos becos.

— Ei! — gritei, minha voz carregando uma autoridade inquestionável. — Soltem ele.

Os homens se viraram, surpresos ao me ver. Um deles, um brutamontes tatuado, avançou com um sorriso desdenhoso.

— E quem é você para nos dar ordens?

Eu não hesitei. Em um movimento rápido, saquei minhas pistolas e disparei contra suas pernas, derrubando-o. Os outros, vendo a seriedade em meus olhos, recuaram.

— Estou avisando pela última vez — rosnei. — Sumam daqui.

Eles fugiram, deixando o jovem estendido no chão, machucado, mas vivo. Aproximei-me dele, ajudando-o a se levantar. Seus olhos estavam cheios de medo e gratidão.

— Obrigado — ele murmurou, tremendo. — Eu... eu pensei que ia morrer.

Olhei para ele, vendo uma sombra do que eu era antes. A raiva dentro de mim se acalmou um pouco, substituída por uma dor familiar.

— Fique fora das ruas — aconselhei, meu tom mais suave. — Não cometa os mesmos erros que eu cometi.

Ele assentiu, desaparecendo na noite. Fiquei ali por um momento, sozinho com meus pensamentos, refletindo sobre o caminho que havia escolhido. A cidade de Gotham era um lugar de sombras e monstros, mas enquanto eu estivesse lá, enquanto o Capuz Vermelho existisse, eu garantiria que ninguém mais tivesse que enfrentar o mesmo destino que eu.

Mas a raiva, essa nunca me deixaria. Ela era a chama que me mantinha em movimento, a força que me guiava através da escuridão. E enquanto eu respirasse, enquanto houvesse injustiça nas ruas de Gotham, eu continuaria lutando, lembrando a todos que, mesmo na morte, eu havia encontrado uma nova vida. Uma vida nascida da vingança, forjada pelo ódio.

Eu era Jason Todd e agora Capuz Vermelho.

E minha história estava apenas começando.

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