Eu me lembro do dia em que morri. É difícil esquecer os gritos, a dor e o riso insano que ecoava pelas paredes do armazém abandonado. O Coringa, com seu sorriso distorcido e olhos cheios de loucura, transformou aquele lugar no cenário do meu pior pesadelo.
— Você sabe, garoto — ele disse, enquanto balançava aquele pé-de-cabra ensanguentado. — Batman nunca chega a tempo. Não para você. Eu estava amarrado, ensanguentado, impotente. Cada golpe era uma sinfonia de dor que reverberava pelo meu corpo. Eu podia sentir meus ossos se quebrando, cada respiração se tornando um esforço monumental. Minha visão turvava, mas a imagem do Coringa, com seu rosto branco e cabelo verde, estava gravada na minha mente. — Por quê? — consegui murmurar, cuspindo sangue. — Por quê... eu? Ele riu, um som que fez meu estômago revirar. — Porque você era o mais divertido, meu querido Robin. Sempre tão sério, tão determinado. É trágico, realmente. Foi naquele momento que eu percebi que não havia esperança. Batman não chegaria a tempo. E mesmo se chegasse, eu não sabia se queria que ele visse o que restava de mim. Meus pensamentos vagaram até Bruce, e uma parte de mim desejou que ele não encontrasse meu corpo. Que ele não visse a falha que eu me tornara. Então veio a explosão. O Coringa desapareceu, deixando-me sozinho para morrer. Eu ouvi o som distante de passos correndo, mas estava escuro demais, frio demais. A dor começou a se desvanecer, substituída por uma estranha sensação de paz. Morri naquele dia, mas não foi o fim da minha história. De alguma forma, fui trazido de volta. Não foi mágica, não foi um milagre. Foi uma combinação de ódio, desejo de vingança e a intervenção dos Poços de Lázaro. Eu ressurgi, não como o Robin que todos conheciam, mas como algo mais sombrio, mais perigoso. Eu me tornei o Capuz Vermelho. Quando meus olhos se abriram, o mundo ao meu redor era uma confusão de cores e sons. Meus pensamentos estavam embaralhados, minha mente um turbilhão de confusão e raiva. O primeiro rosto que vi foi de Talia al Ghul, que me observava com uma mistura de preocupação e triunfo. Ela falava algo, mas suas palavras pareciam distantes, distorcidas. — Jason, você está bem? — ela perguntou, sua voz reverberando na minha cabeça. Tentei me levantar, mas meus músculos estavam fracos, meus movimentos descoordenados. A dor era insuportável, mas não era só física. Havia algo mais profundo, uma sensação de perda e deslocamento que não conseguia entender. — Onde... onde estou? — minha voz saiu rouca, quase um sussurro. — Você está seguro agora — Talia respondeu, ajudando-me a sentar. — Nós te trouxemos de volta. As palavras dela penetraram na minha mente, mas o significado demorou a se registrar. Trouxeram-me de volta? Eu deveria estar morto. Lembrei-me do Coringa, do pé-de-cabra, do riso insano. A lembrança trouxe uma onda de raiva que queimou dentro de mim, uma fúria que não conseguia controlar. Levantei-me abruptamente, tropeçando, e agarrei Talia pelos ombros. — Por quê? — gritei. — Por que me trouxeram de volta? Ela não resistiu, seus olhos mantendo-se firmes nos meus. — Porque você tem uma missão, Jason. Há muito mais que você pode fazer. A raiva continuava fervendo dentro de mim, mas havia também uma dor profunda, uma sensação de estar perdido. Olhei ao redor, percebendo os detalhes do lugar onde estava – uma câmara antiga, as paredes decoradas com símbolos que não reconhecia. A caverna dos Poços de Lázaro. De repente, tudo pareceu se encaixar. Os Poços de Lázaro, conhecidos por suas propriedades de ressurreição, mas também pelos efeitos colaterais – insanidade temporária, perda de identidade. Comecei a entender o porquê da minha confusão, da raiva incessante que sentia. — Eu... eu não sei quem sou — admiti, soltando Talia. — Tudo está tão... errado. Ela assentiu, seu olhar suavizando. — É normal, Jason. O Poço tem seus efeitos. Mas você vai se lembrar. Você vai se encontrar novamente. Os dias seguintes foram um borrão de treinamento e torturas. Cada sessão era uma batalha interna, tentando recuperar fragmentos da minha memória, tentando reconciliar quem eu era com quem havia me tornado. Mas a raiva, a sede de vingança, nunca desaparecia. Cada vez que fechava os olhos, via o rosto do Coringa, ouvia seu riso. A imagem de Bruce também assombrava meus pensamentos, um símbolo de tudo que eu havia perdido, de todas as falhas. Eu não era mais o Robin que ele conhecia. Eu não podia ser. — Você precisa canalizar essa raiva, Jason — dizia Talia, enquanto eu esmurrava sacos de areia até minhas mãos sangrarem. — Use-a como uma arma. Deixe-a ser sua força. E eu fiz. Mas à medida que me fortalecia, percebia que estava me afastando cada vez mais da minha antiga vida. Minha identidade como Jason Todd, como Robin, estava desmoronando. Em seu lugar, uma nova persona estava emergindo – alguém mais sombrio, mais letal. A transformação foi completa quando decidi adotar o manto do Capuz Vermelho. Não era mais uma homenagem ao antigo rival de Bruce, mas uma declaração de minha nova identidade. Um lembrete constante de que eu havia renascido das cinzas, moldado pelo ódio e pela vingança. O Capuz Vermelho não era um herói. Ele era um executor, um agente de justiça brutal em uma cidade que conhecia pouca compaixão. Eu não podia mais ser o Robin. Robin havia morrido naquele armazém, e o Capuz Vermelho havia surgido de suas cinzas, um símbolo de tudo que Gotham havia me ensinado sobre dor, perda e vingança. Cada vez que patrulhava as ruas, sentia a raiva borbulhando dentro de mim, uma força que me guiava. Enfrentava os criminosos com uma ferocidade que não tinha antes, e cada vitória era uma pequena vingança contra o mundo que me havia traído. Mas, mesmo assim, havia momentos de lucidez, onde a dor da minha antiga vida surgia, onde as memórias de Bruce e do que eu havia sido vinham à tona. — Jason — Talia me chamou certa noite, enquanto eu limpava minhas armas. — Lembre-se, a fúria é uma ferramenta poderosa, mas também é uma lâmina de dois gumes. Não deixe que ela te consuma. Olhei para ela, seus olhos refletindo uma sabedoria que eu ainda lutava para entender. — Não se preocupe — respondi, meu tom mais frio do que pretendia. — Eu sei exatamente o que estou fazendo. Ela não insistiu, mas eu sabia que suas palavras tinham um fundo de verdade. A raiva era minha companheira constante, mas também era um lembrete do que eu havia perdido e do que me tornei. E, por mais que tentasse, não podia apagar completamente a sombra de quem eu era antes de morrer. Certa noite, enquanto patrulhava um dos bairros mais perigosos de Gotham, deparei-me com uma cena que refletia meu próprio pesadelo. Um jovem, vestindo uma capa que lembrava a de Robin, estava cercado por criminosos, suas risadas ecoando pelos becos. — Ei! — gritei, minha voz carregando uma autoridade inquestionável. — Soltem ele. Os homens se viraram, surpresos ao me ver. Um deles, um brutamontes tatuado, avançou com um sorriso desdenhoso. — E quem é você para nos dar ordens? Eu não hesitei. Em um movimento rápido, saquei minhas pistolas e disparei contra suas pernas, derrubando-o. Os outros, vendo a seriedade em meus olhos, recuaram. — Estou avisando pela última vez — rosnei. — Sumam daqui. Eles fugiram, deixando o jovem estendido no chão, machucado, mas vivo. Aproximei-me dele, ajudando-o a se levantar. Seus olhos estavam cheios de medo e gratidão. — Obrigado — ele murmurou, tremendo. — Eu... eu pensei que ia morrer. Olhei para ele, vendo uma sombra do que eu era antes. A raiva dentro de mim se acalmou um pouco, substituída por uma dor familiar. — Fique fora das ruas — aconselhei, meu tom mais suave. — Não cometa os mesmos erros que eu cometi. Ele assentiu, desaparecendo na noite. Fiquei ali por um momento, sozinho com meus pensamentos, refletindo sobre o caminho que havia escolhido. A cidade de Gotham era um lugar de sombras e monstros, mas enquanto eu estivesse lá, enquanto o Capuz Vermelho existisse, eu garantiria que ninguém mais tivesse que enfrentar o mesmo destino que eu. Mas a raiva, essa nunca me deixaria. Ela era a chama que me mantinha em movimento, a força que me guiava através da escuridão. E enquanto eu respirasse, enquanto houvesse injustiça nas ruas de Gotham, eu continuaria lutando, lembrando a todos que, mesmo na morte, eu havia encontrado uma nova vida. Uma vida nascida da vingança, forjada pelo ódio. Eu era Jason Todd e agora Capuz Vermelho. E minha história estava apenas começando.Anos depois, as ruas de Gotham ainda estavam imersas em sombras. Eu era uma sombra entre sombras, um fantasma que caçava os criminosos com a mesma brutalidade que me foi imposta. Gotham era um lugar de caos, e eu era a ordem imposta pelo medo. Numa noite particularmente fria, enquanto patrulhava os becos fétidos do Narrows, deparei-me com uma cena que despertou lembranças antigas. Um grupo de bandidos estava cercando uma jovem mulher, suas intenções claras e malignas. Meus punhos se apertaram, a raiva borbulhando dentro de mim. — Ei! — gritei, minha voz ecoando pelas paredes de tijolo. — A festa acabou, escória. Os homens se viraram, confusos por um momento, antes de verem a figura encapuzada diante deles. Um deles, um brutamontes com uma cicatriz no rosto, deu um passo à frente. — Quem diabos você pensa que é? — ele rosnou. Um sorriso frio se formou sob o meu capuz. — Sou a pior coisa que já vai te acontecer esta noite. O combate foi rápido e brutal. Eles eram numerosos,
Gotham nunca dorme. É uma cidade que pulsa com vida a qualquer hora do dia ou da noite, um organismo vivo de caos e corrupção. Eu já conhecia seus ritmos, seus suspiros e gemidos. E naquela noite, enquanto me esgueirava pelas sombras, eu senti algo diferente. Uma inquietação no ar, como se Gotham estivesse se preparando para algo grande. Voltei para meu esconderijo, uma base improvisada escondida no subsolo de um prédio abandonado. Era um lugar escuro e úmido, mas servia ao seu propósito. As paredes eram revestidas de telas que monitoravam os pontos críticos da cidade, conectadas aos meus drones de vigilância. Eu me sentei diante de uma das telas, observando a movimentação nos becos e ruas. Enquanto revisava as imagens, meu telefone tocou. Um número desconhecido. Eu atendi, mas ninguém falou do outro lado. Apenas respirei fundo e desliguei, me preparando para sair novamente. Algo me dizia que essa noite seria longa. Eu estava certo. Pulei de telhado em telhado, minhas botas faz
Gotham, apesar de todos os seus horrores, tinha uma beleza melancólica sob o manto da noite. As luzes tremeluzentes, as sombras profundas e a brisa fria que soprava dos becos davam à cidade uma atmosfera única, quase romântica, mas eu sabia que era um romance trágico. Minha vida tinha se entrelaçado com essa tragédia, e eu não podia simplesmente me afastar. Depois do encontro com Batman e Robin no armazém, minha mente estava um turbilhão de emoções e pensamentos conflitantes. Damian havia plantado uma semente de dúvida que eu não conseguia ignorar. Ele cresceu no seio da Liga dos Assassinos, um mundo de escuridão e morte, e ainda assim, ele estava tentando ser algo mais. Ele estava tentando ser melhor. Seria possível para mim fazer o mesmo? Voltei para meu esconderijo, uma base improvisada escondida no subsolo de um prédio abandonado. Era um lugar escuro e úmido, mas servia ao seu propósito. As paredes eram revestidas de telas que monitoravam os pontos críticos da cidade, conectadas
— O que você fez?! — Batman rosnou, avançando na minha direção com uma intensidade palpável. Seus olhos brilhavam com uma mistura de raiva e frustração. — Relaxe, Bats — respondi com um sorriso cínico. — Desta vez, parece que não desci para o subsolo. O olhar de Batman se endureceu ainda mais, suas mãos cerradas em punhos apertados ao lado do corpo. — Isso não é hora para piadas, Capuz Vermelho. Você colocou vidas em perigo. — Eu sei o que fiz — retruquei, minha voz carregada de tensão. — Mas tinha minhas razões. Robin permanecia em silêncio ao lado de Batman, seus olhos verdes fixos em mim, tentando decifrar minhas intenções. — Não estamos aqui para discutir suas razões, Capuz Vermelho — Batman disse, sua voz um grunhido baixo. — Estamos aqui para garantir a segurança de Gotham. — Como se você fosse o guardião da moralidade, Batman — respondi, minha própria raiva borbulhando à superfície. — Você pode ser cego para a realidade, mas eu não sou. Robin deu um passo à frente, sua e
Ao amanhecer, saí do esconderijo, determinado a encontrar o Tigre Branco e desmantelar a Mão Negra. A cidade ainda estava envolta em sombras, mas eu sabia que cada passo me aproximava da verdade. E enquanto avançava pelas ruas de Gotham, sabia que a luta estava apenas começando. Cada movimento que fiz era uma dança entre luz e escuridão, uma luta constante pela justiça em uma cidade mergulhada no caos. E assim, com determinação renovada, continuei meu caminho, pronto para enfrentar o que quer que viesse a seguir. O nevoeiro se espalhava pelas ruas de Gotham, envolvendo a cidade em um manto de mistério e melancolia. Era uma noite como tantas outras, onde o mal se misturava às sombras e os heróis lutavam para manter a luz acesa. Eu estava no meu esconderijo, refletindo sobre os eventos recentes. A explosão no armazém havia desencadeado uma série de perguntas em minha mente, e eu sabia que precisava encontrar respostas. Decidi investigar mais a fundo o que Rottweiler estava planejan
O silêncio pesava no ar enquanto eu percorria as sombras das ruas de Gotham. Cada passo ecoava como um lembrete sombrio da escuridão que permeava a cidade. Havia algo sinistro se movendo nas entranhas de Gotham, algo que eu podia sentir no âmago do meu ser. Minha última batalha com Shadow havia me deixado com mais perguntas do que respostas. Quem era ele? E o que ele queria? As respostas pareciam escapar de mim, esquivando-se entre as sombras como fantasmas indescritíveis. Decidi recorrer ao único lugar onde poderia encontrar algumas respostas: o submundo de Gotham. Entrei no bar sombrio e enfumaçado conhecido como "O Covil", onde os criminosos se reuniam para compartilhar informações e fazer negócios obscuros. A atmosfera estava carregada de tensão enquanto eu me infiltrava no ambiente, meu capuz vermelho ocultando meu rosto dos olhares curiosos. Eu me movia com cautela, observando os rostos sombrios ao meu redor, cada um ocultando segredos tão escuros quanto a própria noite. Enco
Gotham à noite era como um campo de batalha, onde sombras dançavam ao ritmo de segredos obscuros e desespero. E naquela noite, eu não era uma exceção. Minha jornada me levou ao submundo da cidade, em um lugar conhecido apenas como "A Arena", onde os mais perigosos e implacáveis lutadores se enfrentavam em batalhas brutais até a morte. Após a revelação de informações cruciais sobre Shadow, o mestre das sombras, durante meu último encontro com Rottweiler, decidi que era hora de agir. Shadow era uma ameaça que não podia ser ignorada, e eu estava determinado a descobrir seus planos antes que causasse mais estragos em Gotham. A entrada na Arena foi acompanhada por uma mistura de expectativa e perigo iminente. O local estava impregnado com a energia elétrica da multidão, ansiosa por sangue e violência. Eu me misturei entre as sombras, observando atentamente os lutadores se prepararem para seus combates. Quando chegou a minha vez, entrei no ringue com uma determinação fria. Meu capuz verme
No momento em que saí do armazém, uma sensação de urgência me envolveu. A vitória sobre Shadow não significava o fim dos problemas em Gotham, apenas mais uma batalha vencida na guerra interminável contra o crime. A cidade estava repleta de desafios, cada esquina escondendo novas ameaças e segredos sombrios. Eu me movi pelas ruas escuras, minha mente trabalhando freneticamente enquanto tentava decifrar as pistas que Shadow havia deixado para trás. Seus últimos momentos tinham revelado algo significativo, algo que poderia me levar mais perto da verdade por trás da escuridão que envolvia Gotham. Minha jornada me levou a um beco estreito e sombrio, onde uma figura solitária se agachava sobre um corpo caído. Instintivamente, aproximei-me, observando com cautela enquanto a figura examinava o que parecia ser uma ferida de bala. — O que você está fazendo aqui? — minha voz cortou o silêncio, fazendo a figura pular de surpresa. Era uma mulher jovem, vestida com a roupa icônica da Mulher-Gato,