Capítulo 3

Gotham nunca dorme. É uma cidade que pulsa com vida a qualquer hora do dia ou da noite, um organismo vivo de caos e corrupção. Eu já conhecia seus ritmos, seus suspiros e gemidos. E naquela noite, enquanto me esgueirava pelas sombras, eu senti algo diferente. Uma inquietação no ar, como se Gotham estivesse se preparando para algo grande.

Voltei para meu esconderijo, uma base improvisada escondida no subsolo de um prédio abandonado. Era um lugar escuro e úmido, mas servia ao seu propósito. As paredes eram revestidas de telas que monitoravam os pontos críticos da cidade, conectadas aos meus drones de vigilância. Eu me sentei diante de uma das telas, observando a movimentação nos becos e ruas.

Enquanto revisava as imagens, meu telefone tocou. Um número desconhecido. Eu atendi, mas ninguém falou do outro lado. Apenas respirei fundo e desliguei, me preparando para sair novamente. Algo me dizia que essa noite seria longa.

Eu estava certo.

Pulei de telhado em telhado, minhas botas fazendo pouco barulho ao tocar as superfícies. Estava seguindo um rastro deixado por um dos mais notórios traficantes de armas de Gotham, Bruno "Bulldog" Miller. Bulldog era conhecido por sua brutalidade e por nunca deixar testemunhas. Mas naquela noite, ele se tornaria a exceção.

O rastreei até um armazém abandonado no Distrito Industrial. A porta estava entreaberta, a luz piscante de dentro lançando sombras sinistras. Entrei sem fazer barulho, meu capuz vermelho ocultando meu rosto enquanto eu me movia como um espectro.

Dentro, Bulldog estava cercado por seus homens, todos rindo e contando o dinheiro de uma recente transação de armas. Sem perder tempo, lancei uma granada de fumaça, e o caos se instalou. Me movi rapidamente entre as sombras, derrubando os capangas um por um, sem dar-lhes tempo de reagir.

Quando a fumaça se dissipou, restava apenas eu e Bulldog. Ele era um homem enorme, músculos saltando por baixo da camiseta suada, uma cicatriz atravessando seu rosto brutal. Ele tentou me acertar com um soco, mas eu desviei facilmente, acertando-o com um chute no joelho que o fez cair de joelhos.

— Capuz Vermelho — ele rosnou, sangue escorrendo de sua boca. — Você vai pagar por isso!

— Sempre a mesma conversa — murmurei antes de começar a socá-lo, cada golpe carregado com a raiva e a frustração que eu sentia. Eu bati sem piedade, sem dar-lhe uma chance de se levantar. Cada soco era um lembrete do caos que homens como ele causavam em Gotham.

Foi então que ouvi um som familiar. Um assobio baixo, seguido por um impacto pesado. Olhei para cima e vi Batman e Robin – Damian Wayne, o mais recente Robin – entrando no armazém.

— Capuz Vermelho — Batman disse, sua voz baixa e ameaçadora. — Pare com isso.

Eu ignorei, continuando a socar Bulldog. Mas Batman se aproximou rapidamente, agarrando meu braço e me afastando com força.

— Eu disse, pare!

Eu me soltei com um puxão brusco.

— E quem vai me parar? Você?

Robin, com seus olhos verdes ardendo de determinação, se posicionou ao lado de Batman.

— Você não pode fazer isso. Bom é o que você quer ser?

— Você não sabe de nada, garoto — respondi, minha voz gotejando desdém. — Vocês dois não sabem o que é realmente necessário para limpar essa cidade.

— Isso não é justiça — Batman disse, sua voz firme. — Isso é vingança.

— Talvez seja — eu retruquei, olhando diretamente nos olhos dele. — Mas funciona. Algo que você não consegue entender com suas regras e códigos.

Robin deu um passo à frente, sua expressão séria.

— Batman, talvez Capuz tenha razão — ele disse. — Cresci com a Liga dos Assassinos. Sei o que é ser impiedoso. Às vezes, métodos mais duros são necessários.

Batman olhou para Robin incrédulo.

— Robin, você não pode estar falando sério. Isso vai contra tudo o que ensinamos a você.

— Eu entendo por que você faz isso, Capuz — continuou Damian, ignorando a objeção de Batman. — Algumas pessoas não mudam, não importa quantas chances lhes damos. Às vezes, a única maneira de lidar com a escória é eliminando-a.

Olhei para Robin, surpreso pela compreensão em seus olhos.

— Você cresceu na Liga, garoto. Você deveria entender melhor do que ninguém que às vezes a única maneira de lidar com a escória é eliminando-a.

— Sim — ele assentiu — e eu ainda acredito que podemos ser melhores, mas também reconheço que há momentos em que medidas extremas são necessárias.

— Escolher — murmurei — isso é uma luxúria que muitos de nós não têm.

Bulldog estava no chão, gemendo de dor, mas ainda vivo.

— Ele merece morrer — eu disse, dando um passo à frente. — Todos eles merecem.

— Isso não é sua decisão para tomar — Batman disse, bloqueando meu caminho. — Gotham não precisa de mais morte. Precisa de esperança.

— Esperança? — eu ri, um som amargo e vazio. — Esperança não impede homens como ele. Apenas medo e dor fazem isso.

Damian deu um passo à frente novamente.

— Batman, Capuz está certo.

Batman olhou para Damian, dividido entre a raiva e a decepção.

— Não posso acreditar que você está concordando com ele.

— Estou sendo pragmático — Damian respondeu. — Podemos lutar sem nos tornar monstros, mas também precisamos ser realistas sobre as ameaças que enfrentamos.

Eu olhei para Robin, sentindo uma estranha mistura de orgulho e aprovação. Ele era feroz, determinado, e começava a entender completamente o mundo sombrio em que vivíamos.

— Você pode tentar, Bats — murmurei, virando-me para sair. — Mas lembre-se, às vezes a linha entre herói e vilão é mais tênue do que você pensa.

Saí do armazém, deixando Batman e Robin com Bulldog. Minha missão ainda não tinha acabado. Havia mais criminosos lá fora, mais injustiça para enfrentar. E enquanto Batman e seu protegido lutavam para manter sua moral elevada, eu faria o que fosse necessário para limpar as ruas de Gotham.

Enquanto voltava para as sombras, um pensamento me assaltou. Talvez Gotham nunca mudasse. Talvez eu estivesse condenado a ser essa figura sombria para sempre. Mas, enquanto houvesse criminosos para caçar, enquanto houvesse injustiça, eu estaria lá, nas sombras, lutando para trazer um pouco de ordem ao caos.

— Você sabe — murmurei para a escuridão — a redenção pode não ser para todos. Mas a vingança... a vingança é uma chama eterna.

E com isso, desapareci nas sombras, um guardião sombrio em uma cidade que nunca conheceu a luz. Minha busca por justiça não tinha fim, e eu estava disposto a pagar o preço, não importando o custo.

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