O som insistente de um bip de um aparelho médico desperta Ava, que se esforça para abrir os olhos, no entanto, está excessivamente debilitada para fazê-lo.
Com dificuldade, ela tenta entender o que está acontecendo, mas não reconhece o lugar onde está.
Com um esforço extra, tenta mais uma vez abrir os olhos por completo e, após algum tempo, consegue.
— Como você está se sentindo? — uma voz masculina ecoa pelo ambiente.
Virando o rosto em direção ao lugar de onde vem a voz, Ava avista um homem sentado numa poltrona ao lado da cama.
— Onde eu estou? — murmura, com a voz fraca.
— Eu te perguntei como está se sentindo — O homem insiste, um pouco mais firme.
Reunindo a pouca força que lhe resta, Ava abre os olhos completamente e encara o homem ao seu lado. Ele está vestido em um elegante terno preto e a observa com um olhar intenso e sério, aguardando ansiosamente por uma resposta.
— Estou sentindo muita dor, em todo o meu corpo — responde. — Mas a minha cabeça é a que mais dói — acrescenta, tocando a testa.
— Vou pedir que o médico venha examinar você — diz o homem, se levantando e aproximando-se dela com passos lentos.
Sentindo mais um forte latejar, enquanto move ligeiramente a cabeça, Ava olha e nota um soro pendurado ao lado da cama, com um tubo fino que desce até seu braço. Embora esteja sendo cuidada com o auxílio de aparelhos médicos, o quarto onde se encontra não se parece com o de um hospital.
Desesperada por não saber o que aconteceu, ela continua:
— Por favor, me diga onde estou. — Insiste.
— Você está na minha casa — responde o homem. — Te trouxe para cá, após o acidente.
— Acidente? Que acidente? — pergunta, começando a ficar inquieta.
— Não se lembra do que aconteceu?
Ava se esforça para vasculhar sua mente em busca de alguma lembrança, mas se depara com um vazio total. Não consegue se recordar de absolutamente nada.
— Não, eu não me lembro — revela.
— Ao menos se lembra do seu nome? — o homem continua.
— Meu nome é... — subitamente, ela para de falar, tentando se recordar de seu nome, mas não consegue. — Eu não me lembro — confessa, ficando tensa.
Embora não consiga perceber, um sorriso discreto se forma nos lábios do homem que a observa com curiosidade. Ava não faz ideia, mas o homem que está ao seu lado se trata de Hector Moreau, seu maior adversário empresarial.
— O que aconteceu comigo? — ela insiste, alarmada.
— Você perdeu o controle do veículo que estava dirigindo e despencou do desfiladeiro. Seu corpo foi lançado para fora do veículo e, por sorte, eu estava passando por perto e te resgatei.
A revelação a pega de surpresa. Mesmo tentando se esforçar para lembrar do ocorrido, ela não consegue.
— Quando isso aconteceu? — pergunta, intrigada.
— Há dois dias — ele responde naturalmente.
— Dois dias? — repete, pensativa.
— Devido à gravidade dos ferimentos, o médico optou por induzi-la a um coma para facilitar sua recuperação. Você sofreu um trauma significativo na cabeça, que provavelmente pode ser o resultado dessa sua perda de memória. Vou pedir que façam uma série de exames adicionais para entender melhor a extensão dos danos e planejar o melhor tratamento para você.
Notando a atenção que ele lhe dá, Ava o questiona:
— Quem é você? — ela pergunta, apertando firmemente o lençol que cobre seu corpo.
Com um sorriso tranquilizador no rosto, Hector percebe que pode conseguir mais coisas do que pretende com a perda de memória de Ava Smith, por isso, sendo bastante astuto, decide respondê-la com uma ideia que vem à sua mente:
— Não se lembra de mim, querida? Sou Hector Moreau, seu noivo.
Ao ouvir aquele estranho apresentar-se como seu noivo, uma onda de choque percorre o corpo de Ava. Seus olhos se arregalam momentaneamente e depois se estreitam em confusão, enquanto ela tenta digerir a informação. Lentamente, seu olhar percorre o corpo de Hector, buscando algum sinal familiar que possa ancorar suas memórias estilhaçadas.
Hector é um homem alto com um corpo atlético, embora não exatamente musculoso. Seus cabelos são de um castanho escuro e sua barba é bem aparada, o que lhe confere um ar de elegância. Apesar de aparentar não ter mais de 35 anos, sua aparência é marcantemente atraente. No entanto, há algo em seu olhar que instiga uma leve inquietação em Ava. Seus olhos, embora belos, não parecem carregar amor, ou paixão. Ao invés disso, Hector parece esconder algo que, naquele momento, ela não consegue compreender.
Enquanto Ava o examina minuciosamente, ela nota que o rosto dele mantém uma expressão inabalável, quase como se ele usasse uma máscara, cuidadosamente construída para esconder suas verdadeiras emoções.
Quando está quase concluindo seu exame detalhado sobre ele, um detalhe específico em Hector capta sua atenção e intensifica uma desconfiança. O dedo anelar de sua mão direita, que deveria ostentar uma aliança de noivado, está notavelmente desprovido de qualquer joia. A ausência do anel gera uma onda de dúvida e questionamento sobre a veracidade das suas palavras.
Uma ruga de confusão surge na testa dela, que, com um pouco de esforço, inclina a cabeça levemente, lançando um olhar ainda mais intenso e desconfiado para ele.
— Me diz uma coisa, Hector Moreau — começa Ava, num tom cuidadoso, medindo as suas palavras. — Se realmente somos noivos como você diz, por que não há uma aliança em seu dedo? — pergunta, erguendo uma sobrancelha.
A pergunta de Ava pega Hector tão de surpresa, que ele fica inquieto por alguns milésimos de segundo.Mesmo com a falta de memória, ele nota que Ava continua inteligente e perspicaz. O que lhe atrai a atenção. No entanto, Hector também é um homem astuto, por isso, formula rapidamente uma desculpa que possa convencê-la.— Meu amor, você está sob cuidados médicos. O médico recomendou que evitássemos usar qualquer coisa que pudesse transmitir bactérias, inclusive alianças — explica. — Se notar a sua mão direita, verá que também está sem o anel.A resposta parece convencê-la por um momento. Contudo, para Ava, já não bastava estar atordoada por não conseguir se lembrar de nada da sua vida, agora estava diante de um homem totalmente estranho, que diz ser seu noivo. Aquilo soa mais assustador do que imagina.— O doutor supôs que você poderia não se recordar do que aconteceu — comenta Hector, tocando levemente a mão dela, aproveitando-se da situação vulnerável que ela enfrentava. — Então vim
Parada na porta, está Doris, empregada designada para cuidar de Ava.— Não, claro que não. Você chegou no momento perfeito, Doris. Minha noiva acabou de acordar e precisa de ajuda para tomar banho.Ao ouvir a palavra “noiva”, vindo da boca de Hector, Doris franze a testa, mas permanece em silêncio. Ela o conhecia muito bem e sabia que o confrontar naquele momento traria complicações para ela mesma.— Claro, senhor, farei tudo que precisar — diz Doris, lançando um olhar furtivo para Ava na cama, que parece ligeiramente confusa e desorientada. — Olá, senhora. Me chamo Doris e estou cuidando de você desde que chegou — revela, se direcionando à Ava.Ava somente assente, sem responder nada.Sentindo que já havia feito um pouco do seu trabalho ali, Hector decide sair, mas antes, olha para sua empregada e comenta:— Podemos conversar um pouco a sós? — propõe, lançando um olhar mais sério para a empregada, que entende rapidamente.— Claro, senhor.Antes de sair do quarto, Hector se vira para
Ver Ava de pé, em frente à porta do quarto, faz Doris ficar estática, sem saber o que fazer.Doris não sabe desde quando ela estava ali e o tanto que escutou daquela conversa.Já não bastava aquela preocupação, Doris olha para o rosto de Hector e vê o olhar sombrio que ele lhe lança, demonstrando que não está nada satisfeito com o que acaba de acontecer.Na intenção de contornar aquilo, Doris caminha até onde Ava está e toca o ombro dela.— Senhorita! Não pode se levantar da cama sem ajuda — diz ela, com a voz trêmula. — Seus ferimentos ainda estão cicatrizando.Ignorando a fala de Doris, Ava caminha com dificuldade em direção a Hector, que a encara com o olhar indecifrável.— O que ela disse é verdade, Hector? — insiste Ava, se aproximando dele. — Eu perdi um bebê nesse acidente?— Fique calma — ele pede. — Não acho que seja uma boa hora para conversarmos sobre isso.— Como não? — Ava indaga, com a voz mais firme. — Mesmo que eu não me lembre de nada, tenho o direito de saber tudo o
No quarto, Doris se aproxima da cama onde Ava está deitada, com os olhos fixos no teto, absorta em seus pensamentos.— Como está se sentindo, Ava? — pergunta, tentando iniciar uma conversa.— Perdida — responde, sem tirar os olhos do teto.— Não se preocupe com isso, logo você estará melhor — a tranquiliza. — Que tal tomar um banho para relaxar um pouco? No banheiro, há uma banheira enorme — revela, com um sorriso tímido. — Vai ser bom para você.Ava reflete sobre aquela sugestão. Seu corpo doía bastante e pensava que a água quente podia ajudá-la a relaxar um pouco.— Você tem razão — concorda, tentando se levantar.Rapidamente, Doris se aproxima e ajuda-a.— Não tente se levantar sozinha novamente — comenta. — Seu corpo está fraco, ainda mais após a curetagem — explica. — Vou pegar a cadeira de rodas.Ao ouvir o que a mulher acaba de dizer, Ava para e a encara com os olhos curiosos.— De quantos meses eu estava grávida? — pergunta.— Eram poucas semanas — revela Doris.Instintivament
Apressada, Doris tira os lençóis da cama de Ava e os troca por lençóis limpos, depois sai do quarto, na intenção de procurar por Hector e contar sobre o novo problema que tinha.Se dirigindo ao escritório, ela bate levemente na porta e, após ouvir a permissão de Hector, entra cautelosamente. Lá dentro, nota que Hector não está sozinho; ao seu lado está Mark Harrison, médico responsável pelo cuidado de Ava e melhor amigo de Hector. Confortada pela presença de Mark, Doris sabe que pode falar livremente.Notando a expressão ansiosa de Doris, Hector apoia os cotovelos sobre a mesa, entrelaça as mãos e a encara, esperando que ela fale.— O que aconteceu, Doris? Não me diga que cometeu mais uma indiscrição? — Hector indaga com uma severidade controlada na voz. Deixando visivelmente claro que não aceitará mais nenhum erro.— Não, Hector, eu não fiz nada — ela responde rapidamente, demonstrando estar ansiosa. — Só que estamos com um problema.— Que tipo de problema? — ele questiona, alterando
Mesmo que não quisesse admitir, as provocações de Hector traziam um efeito hipnotizante em seu corpo. Se ele era o seu noivo, não teria problema algum em deixá-lo tocá-la, não era mesmo? Mas… Por que, em seu subconsciente, sentia que aquilo não era certo? Algo dentro dela dizia que havia algo em Hector que não o tornava cem por cento confiável. Contudo… enquanto os lábios dele tocam a sua pele, ela fecha os olhos e não consegue resistir àquela sensação tão confortável.— Me deixe ficar mais perto de você, Ava — ele pede, deslizando suas mãos pela cintura dela.Ao perceber que está se deixando levar pela atração física, Ava abre os olhos e percebe no que está se metendo.Rapidamente, o empurra e se levanta.O movimento brusco faz o seu corpo sentir um leve desconforto, mas ela disfarça bem.— Acho que devemos ir com mais calma — ela diz. — Ainda estou fraca e o médico me disse que o meu corpo está muito debilitado.— Sei disso, Ava, mas isso não impede que eu fique mais perto de você.
Constrangida por aquela situação, Ava pega o álbum, mas não o abre de imediato.Ela sente que deve um pedido de desculpas por sua desconfiança, mas não sabe como fazer.— Obrigado por trazer, amigo, eu estava justamente indo buscar — Hector diz com um leve sorriso de gratidão.Antes de sair do quarto, Mark sente a tensão no ar e decide sondar um pouco mais.— Aconteceu alguma coisa aqui? — ele pergunta, notando o clima pesado.— Nada além do esperado — Hector responde rapidamente, visivelmente irritado. — Ava não se lembra de mim, e ela desconfia de tudo que digo.— Não é exatamente isso — Ava interrompe, querendo esclarecer sua posição. — Eu só disse a ele que estou confusa sobre tudo isso.— Entendo ambos os lados — Mark intervém, tentando mediar a situação com sua voz calma. — Como médico, vou pedir que vocês tenham paciência. A amnésia da Ava não afeta só ela, mas todos ao redor. É crucial que aprendam a conversar de forma mais tranquila. Digamos que digerir essas informações já é
Sem entender por que Hector resolveu falar sobre aquele assunto, Ava levanta a cabeça e encara os olhos dele. De repente, nota uma mudança sútil; o olhar dele não está mais tão frio como estava mais cedo. Tem algo lá, uma profundidade meio sentimental que não havia notado antes.Suavemente, ela se afasta e o segura pela mão, conduzindo-o até o lugar onde havia deixado o álbum.— Vi as fotos que tiramos juntos, e mesmo não lembrando de nada, sinto que tudo o que vivemos foi muito lindo e sincero — ela diz, enquanto um sorriso tímido ilumina seu rosto.Hector permanece em silêncio, engolindo em seco. A sinceridade de Ava e o peso de suas próprias ações fazem com que a mentira que ele mesmo sustentou se torne cada vez mais difícil de manter.— Me conte mais sobre essas fotos — ela pede, abrindo o álbum com entusiasmo.Enquanto Ava folheia o álbum, Hector observa as imagens editadas pelo especialista em IA. O trabalho é impecável, cada foto foi perfeitamente manipulada para mostrar uma re