Sem entender por que Hector resolveu falar sobre aquele assunto, Ava levanta a cabeça e encara os olhos dele. De repente, nota uma mudança sútil; o olhar dele não está mais tão frio como estava mais cedo. Tem algo lá, uma profundidade meio sentimental que não havia notado antes.Suavemente, ela se afasta e o segura pela mão, conduzindo-o até o lugar onde havia deixado o álbum.— Vi as fotos que tiramos juntos, e mesmo não lembrando de nada, sinto que tudo o que vivemos foi muito lindo e sincero — ela diz, enquanto um sorriso tímido ilumina seu rosto.Hector permanece em silêncio, engolindo em seco. A sinceridade de Ava e o peso de suas próprias ações fazem com que a mentira que ele mesmo sustentou se torne cada vez mais difícil de manter.— Me conte mais sobre essas fotos — ela pede, abrindo o álbum com entusiasmo.Enquanto Ava folheia o álbum, Hector observa as imagens editadas pelo especialista em IA. O trabalho é impecável, cada foto foi perfeitamente manipulada para mostrar uma re
Na cama, Ava se revira, incapaz de pegar no sono. A cena de Hector saindo apressado do quarto, como se estivesse escapando de algo, continua a ecoar em sua mente, perturbando-a. Ela realmente não queria que ele fosse embora, não após ter visto nas fotos o quanto eles pareciam felizes juntos.Ela desejava poder passar a noite inteira conversando com ele, descobrindo como se conheceram, como foi a primeira conversa, o primeiro beijo. Quem havia tomado a iniciativa primeiro? Tudo ainda parecia tão novo e, ao mesmo tempo, provocava uma agitação interna que ela não conseguia acalmar.Doris havia passado no quarto mais cedo para ajustar sua medicação e depois mencionou que estaria na cozinha caso ela precisasse de algo.Frustrada pela insônia e impulsionada por uma curiosidade crescente, Ava decide se levantar e explorar a casa. Desde que despertou do coma induzido, ela se limitou a ficar somente no quarto e sentia que conhecer outros espaços poderia, quem sabe, ajudar a desencadear alguma
— Ava, me responde! O que você está fazendo aqui? — Hector pergunta com uma voz grave que ecoa pelo cômodo um pouco mais alto do que deveria.Sua surpresa é óbvia e Ava nota um traço de pânico em seus olhos.— Por que você desligou a TV assim que me viu? — Ela indaga, cruzando os braços, sentindo que algo não está certo.— Ah, eu desliguei porque te vi entrando… — Hector começa, claramente lutando para encontrar uma desculpa plausível.— Então liga de novo, por favor? — Ela pede, movendo um passo em direção a ele, demonstrando estar curiosa. — Quero ver o que estava passando, e especialmente, também quero saber sobre aquele homem que estava chorando na tela.— Não, eu não posso fazer isso — Hector responde rapidamente, enquanto a expressão no seu rosto se endurece.— Por que não? — Ava desafia, sentindo sua frustração nascer. — Por que você não quer que eu veja?— Porque isso não é bom para você — ele solta, tentando mascarar a verdadeira preocupação.Antes de continuar, ele faz uma p
Pela manhã, Hector acorda e se senta na mesa do café, refletindo sobre o que pode fazer em relação à Ava, já que seus pensamentos o perturbaram a noite toda.— Bom dia, Hector — Doris diz, se aproximando para servir o café.— Bom dia — ele responde sem muita animação.— Você dormiu bem? Parece estar cansado.— A minha cabeça doeu a noite toda — revela.— Se quiser, posso trazer um remédio para você — sugere Doris.— Não precisa — protesta rapidamente, servindo-se de uma xícara de café puro. — Não acho que o que sinto passe com remédio.Estranhando a declaração dele, Doris fica parada, esperando que ele continue falando, mas Hector fica em silêncio.— O doutor Mark vai demorar para chegar? — ela pergunta, notando que, se dependesse de Hector, aquela conversa já estaria encerrada.— Acredito que ele já esteja a caminho. Por quê?— Tenho uma dúvida em relação aos medicamentos que ele prescreveu para a Ava.— Que dúvidas?— Há alguns medicamentos que são injetáveis, e eu fico meio receosa
Confusa com a reação tão intensa da mulher que acaba de conhecer, Ava franze a testa.— Perdão, mas nós nos conhecemos? — ela pergunta, curiosa e um pouco cautelosa.Percebendo que suas emoções estão à flor da pele, Charlotte faz um esforço para se controlar, especialmente ao notar o olhar preocupado de Mark diante de sua reação inesperada.— Me desculpe — diz ela, engolindo em seco e tentando disfarçar seu nervosismo. — Você não me conhece. É que… quando vi você pela última vez, você ainda era um bebê.A confusão de Ava só aumenta, e ela olha para Hector, buscando alguma explicação.— Essa é Charlotte Harrison, a enfermeira que vai cuidar de você — Hector intervem, apresentando formalmente.Ainda abalada com a surpresa de ver Ava Smith ali, Charlotte intercala o olhar entre Mark e Hector, demonstrando estar perplexa.— Está me dizendo que a sua noiva… é a Ava? — pergunta Charlotte.— Sim, é ela — Hector confirma prontamente, mantendo a calma. — Algum problema com isso? — ele pergunta
No momento em que Ava pergunta sobre os familiares, Hector se lembra dos rumores que conhecia.Mesmo tendo um irmão mais novo, — que não se interessava pelo ramo imobiliário — Ava se tornou a herdeira da empresa do pai. Por conta disso, ela acabou chamando a atenção de vários homens, inclusive de Hector na época.No entanto, o homem que conseguiu roubar o seu coração foi James Clivan, um estagiário simples, que não tinha nem onde cair morto. Perdidamente apaixonada, Ava começou a auxiliar o noivo a ascender na área profissional, mas seus pais não estavam gostando nada da ideia, por sentir que James não correspondia aos sentimentos da filha na mesma altura. Por conta disso, Ava acabou brigando com os pais, crendo que eles estavam implicando com James por ele ser de origem humilde.— Você cortou laços com a sua família — revela.— O quê? — ela questiona, surpresa.— É o que você acaba de ouvir. Não me pergunte sobre isso agora, Ava.— Como não? — ela rebate. — Por que fiz isso? — pergun
Charlotte engole em seco, notando que seu vínculo com Ava Smith parece ter ficado muito à mostra.— Já expliquei que a conheci quando ela ainda era um bebê — responde rapidamente.— Por acaso, é amiga da família dela?— Não.— Tem certeza?A insistência de Hector a deixa nervosa. O olhar desconfiado que ele lhe lança enquanto faz aquelas perguntas lhe deixa desconfortável.— Conheci o pai dela há muitos anos e já trocamos algumas palavras — decide dizer, para as suas palavras não ficarem vagas.— Só isso? — Hector insiste.Se dependesse dele, Charlotte só sairia daquela sala quando revelasse toda a verdade, coisa que ela não faria nunca.Há muito tempo que ela já havia deixado o passado para trás e queria que ele continuasse por lá para sempre.— Sim, senhor, somente isso — conclui. — Se já terminamos por aqui, podemos falar sobre o meu salário?— Claro — Hector responde, mas seu tom de voz demonstra que ele não deixaria aquela conversa se encerrar ali.Pegando uma caneta e um pedaço
Ava sente uma agitação interna crescente, e esse sentimento se intensifica a cada minuto na presença de Charlotte. As perguntas se acumulam dentro dela, que queria muito alguém que a ajudasse naqueles questionamentos.— Eu não vejo a sua família há muito tempo, Ava. — Charlotte tenta manter a voz neutra enquanto responde.— Mas você tem ao menos o contato deles? — insiste, esperançosa.— Não, eu nunca fui próxima de sua família. — A mentira escorrega fácil de sua boca, mas o peso dela parece ficar no ar.— Então, como você me conhece? — A curiosidade de Ava não encontra limites.Hesitando, Charlotte busca uma desculpa razoável.— Eu trabalhei como faxineira na faculdade onde seu pai estudou. Com a convivência, acabei me tornando uma conhecida. Alguns anos depois, eu vi o seu pai com você no colo e, por educação, ele me apresentou você.Processando a resposta, Ava fica claramente frustrada. Esperava mais, algo que a conectasse ao passado ou lhe causasse um fluxo de memória. Sem mais pe