Mesmo que não quisesse admitir, as provocações de Hector traziam um efeito hipnotizante em seu corpo. Se ele era o seu noivo, não teria problema algum em deixá-lo tocá-la, não era mesmo? Mas… Por que, em seu subconsciente, sentia que aquilo não era certo? Algo dentro dela dizia que havia algo em Hector que não o tornava cem por cento confiável. Contudo… enquanto os lábios dele tocam a sua pele, ela fecha os olhos e não consegue resistir àquela sensação tão confortável.
— Me deixe ficar mais perto de você, Ava — ele pede, deslizando suas mãos pela cintura dela.
Ao perceber que está se deixando levar pela atração física, Ava abre os olhos e percebe no que está se metendo.
Rapidamente, o empurra e se levanta.
O movimento brusco faz o seu corpo sentir um leve desconforto, mas ela disfarça bem.
— Acho que devemos ir com mais calma — ela diz. — Ainda estou fraca e o médico me disse que o meu corpo está muito debilitado.
— Sei disso, Ava, mas isso não impede que eu fique mais perto de você.
— É que o que você faz — ela confessa, sentindo as bochechas queimarem.
— Do que está falando?
— Você sabe… suas provocações. Elas são demais para mim, ainda mais no estado vulnerável em que me encontro.
Um sorriso surge nos lábios de Hector, que se levanta e se aproxima novamente dela.
— Quer dizer que a minha presença te afeta? — pergunta, visivelmente satisfeito.
— Não é a sua presença, são as suas invertidas — revela. — Sei que disse ser o meu noivo, mas eu não me lembro de você e nem de nada. Para mim, você não passa de um homem estranho do qual eu não conheço nada.
— Está dizendo que não acredita em mim? — ele pergunta, fingindo-se ofendido.
— Não é isso — ela rebate. — Só estou falando que não me lembro de nada. Quero me lembrar, juro para você, mas não consigo.
— Mas quero te ajudar — Hector declara. — É por isso que quero ficar assim… bem perto de você.
— Entendo que queira me ajudar, mas preciso de algo mais concreto — menciona. — Hector, onde estão as nossas fotos? — Ava decide perguntar, já que o viu entrando no quarto com as mãos vazias.
— Esqueci de trazê-las — diz ele, passando a mão pela cabeça. — Estava no escritório conversando com o Mark e acabei esquecendo de pegá-las — explica.
— Como assim? A Doris me disse que você iria trazê-las para vermos juntos.
— Sim, eu havia mencionado isso, mas acabei esquecendo, você não ouviu? O Mark recebeu uma ligação de um paciente e eu saí para deixá-lo mais à vontade. Na pressa, acabei não pegando o álbum.
Mesmo que a desculpa dele pareça convincente, algo nela a faz duvidar das palavras de Hector, por isso, Ava decide confrontá-lo.
— Você realmente se esqueceu, ou essas fotos não existem? — Ava questiona, com um tom de desconfiança crescente.
Franzindo a sobrancelha diante da acusação, Hector a encara com um olhar sério, percebendo que Ava ainda não havia comprado a história do noivado. Isso o incomoda de maneira surpreendente, mas ele se esforça para não demonstrar. Em vez disso, decide adotar uma abordagem diferente: abaixando a cabeça, assume uma expressão ofendida, tentando apelar para a empatia dela sem revelar sua verdadeira frustração.
— Você realmente não acredita em mim, não é mesmo? — pergunta, num tom decepcionado.
— Não é isso… só preciso de algo que confirme o que você diz.
— As minhas palavras já deveriam bastar, não acha? Afinal, você está aqui na minha casa, sendo cuidado com toda a atenção — seu tom de voz se eleva um pouco. — Me diz, por qual motivo eu faria isso, se você não significasse algo para mim?
Apesar de perceber que suas palavras podem ter magoado Hector, Ava não recua. Ela sente a necessidade de provas concretas que confirmem todas as histórias que ele lhe contou. A ausência das fotos naquele momento crítico apenas alimenta suas suspeitas e faz com que sua desconfiança cresça ainda mais. Ela se mantém firme, decidida a buscar a verdade, independentemente do desconforto emocional que isso possa causar.
— O que você pensa a meu respeito, Ava? — ele pergunta, ainda com a cabeça baixa.
— Eu não tenho uma ideia formada sobre você… — confessa. — Mas eu também não tenho ideia formada sobre nada. Tudo está tão confuso — acrescenta.
— Ava, olhe para mim — ele pede, com a voz serena. — Acha que eu teria coragem de mentir sobre algo tão sério?
A expressão decepcionada que Hector transmite mostra o quanto ele pode ser considerado um ótimo ator.
Ainda com a expressão desconfiada, Ava o encara.
Os olhos de Hector são de um verde-escuro incrível, profundos e muito bonitos. Mas é só isso mesmo. Não dá para ler o que ele sente, pois não enxerga aquele brilho de quem mostra afeto ou qualquer emoção. Os olhos dele parecem blindados. Não dá para adivinhar o que está por trás. Seus olhos são totalmente indecifráveis.
— Eu só estou pedindo uma coisa e nem é tão difícil assim — Ava continua.
Hector balança a cabeça, em afirmação, mas a sua expressão é tensa.
— Eu disse que traria e vou trazer! — assegura. — Mas o que eu queria mesmo era que você acreditasse em mim — confessa.
— Não é isso… — Ava rebate. — Só estava esperando por algo que você prometeu. Não estou fazendo isso apenas por mim, estou fazendo por nós. Quero essas fotos para tentar me lembrar de você.
As palavras saem duras e firmes da boca de Ava, mas ela se arrepende no mesmo instante quando vê a expressão triste formada no rosto dele.
Quando percebe que suas palavras podem estar magoando-o profundamente, Ava decide que precisa adotar uma abordagem mais suave. No entanto, antes que ela possa suavizar seu tom e expressar seus pensamentos, uma leve batida na porta interrompe o momento.
— Com licença — Mark interrompe ao entrar no quarto, segurando um álbum de fotos na mão. — Hector, você deixou isso aqui quando saiu do escritório — diz ele, estendendo o álbum para o amigo.
O olhar de Hector rapidamente se desvia para Ava, que olha para o álbum com uma expressão de confusão.
— Eu havia mencionado que havia me esquecido dele, não é mesmo? — Hector comenta, pegando o álbum das mãos de Mark e passando para Ava. — Toma, dá uma olhada e me diz se estava mentindo sobre o que te contei — sugere ele, com um tom desafiador.
Constrangida por aquela situação, Ava pega o álbum, mas não o abre de imediato.Ela sente que deve um pedido de desculpas por sua desconfiança, mas não sabe como fazer.— Obrigado por trazer, amigo, eu estava justamente indo buscar — Hector diz com um leve sorriso de gratidão.Antes de sair do quarto, Mark sente a tensão no ar e decide sondar um pouco mais.— Aconteceu alguma coisa aqui? — ele pergunta, notando o clima pesado.— Nada além do esperado — Hector responde rapidamente, visivelmente irritado. — Ava não se lembra de mim, e ela desconfia de tudo que digo.— Não é exatamente isso — Ava interrompe, querendo esclarecer sua posição. — Eu só disse a ele que estou confusa sobre tudo isso.— Entendo ambos os lados — Mark intervém, tentando mediar a situação com sua voz calma. — Como médico, vou pedir que vocês tenham paciência. A amnésia da Ava não afeta só ela, mas todos ao redor. É crucial que aprendam a conversar de forma mais tranquila. Digamos que digerir essas informações já é
Sem entender por que Hector resolveu falar sobre aquele assunto, Ava levanta a cabeça e encara os olhos dele. De repente, nota uma mudança sútil; o olhar dele não está mais tão frio como estava mais cedo. Tem algo lá, uma profundidade meio sentimental que não havia notado antes.Suavemente, ela se afasta e o segura pela mão, conduzindo-o até o lugar onde havia deixado o álbum.— Vi as fotos que tiramos juntos, e mesmo não lembrando de nada, sinto que tudo o que vivemos foi muito lindo e sincero — ela diz, enquanto um sorriso tímido ilumina seu rosto.Hector permanece em silêncio, engolindo em seco. A sinceridade de Ava e o peso de suas próprias ações fazem com que a mentira que ele mesmo sustentou se torne cada vez mais difícil de manter.— Me conte mais sobre essas fotos — ela pede, abrindo o álbum com entusiasmo.Enquanto Ava folheia o álbum, Hector observa as imagens editadas pelo especialista em IA. O trabalho é impecável, cada foto foi perfeitamente manipulada para mostrar uma re
Na cama, Ava se revira, incapaz de pegar no sono. A cena de Hector saindo apressado do quarto, como se estivesse escapando de algo, continua a ecoar em sua mente, perturbando-a. Ela realmente não queria que ele fosse embora, não após ter visto nas fotos o quanto eles pareciam felizes juntos.Ela desejava poder passar a noite inteira conversando com ele, descobrindo como se conheceram, como foi a primeira conversa, o primeiro beijo. Quem havia tomado a iniciativa primeiro? Tudo ainda parecia tão novo e, ao mesmo tempo, provocava uma agitação interna que ela não conseguia acalmar.Doris havia passado no quarto mais cedo para ajustar sua medicação e depois mencionou que estaria na cozinha caso ela precisasse de algo.Frustrada pela insônia e impulsionada por uma curiosidade crescente, Ava decide se levantar e explorar a casa. Desde que despertou do coma induzido, ela se limitou a ficar somente no quarto e sentia que conhecer outros espaços poderia, quem sabe, ajudar a desencadear alguma
— Ava, me responde! O que você está fazendo aqui? — Hector pergunta com uma voz grave que ecoa pelo cômodo um pouco mais alto do que deveria.Sua surpresa é óbvia e Ava nota um traço de pânico em seus olhos.— Por que você desligou a TV assim que me viu? — Ela indaga, cruzando os braços, sentindo que algo não está certo.— Ah, eu desliguei porque te vi entrando… — Hector começa, claramente lutando para encontrar uma desculpa plausível.— Então liga de novo, por favor? — Ela pede, movendo um passo em direção a ele, demonstrando estar curiosa. — Quero ver o que estava passando, e especialmente, também quero saber sobre aquele homem que estava chorando na tela.— Não, eu não posso fazer isso — Hector responde rapidamente, enquanto a expressão no seu rosto se endurece.— Por que não? — Ava desafia, sentindo sua frustração nascer. — Por que você não quer que eu veja?— Porque isso não é bom para você — ele solta, tentando mascarar a verdadeira preocupação.Antes de continuar, ele faz uma p
Pela manhã, Hector acorda e se senta na mesa do café, refletindo sobre o que pode fazer em relação à Ava, já que seus pensamentos o perturbaram a noite toda.— Bom dia, Hector — Doris diz, se aproximando para servir o café.— Bom dia — ele responde sem muita animação.— Você dormiu bem? Parece estar cansado.— A minha cabeça doeu a noite toda — revela.— Se quiser, posso trazer um remédio para você — sugere Doris.— Não precisa — protesta rapidamente, servindo-se de uma xícara de café puro. — Não acho que o que sinto passe com remédio.Estranhando a declaração dele, Doris fica parada, esperando que ele continue falando, mas Hector fica em silêncio.— O doutor Mark vai demorar para chegar? — ela pergunta, notando que, se dependesse de Hector, aquela conversa já estaria encerrada.— Acredito que ele já esteja a caminho. Por quê?— Tenho uma dúvida em relação aos medicamentos que ele prescreveu para a Ava.— Que dúvidas?— Há alguns medicamentos que são injetáveis, e eu fico meio receosa
Confusa com a reação tão intensa da mulher que acaba de conhecer, Ava franze a testa.— Perdão, mas nós nos conhecemos? — ela pergunta, curiosa e um pouco cautelosa.Percebendo que suas emoções estão à flor da pele, Charlotte faz um esforço para se controlar, especialmente ao notar o olhar preocupado de Mark diante de sua reação inesperada.— Me desculpe — diz ela, engolindo em seco e tentando disfarçar seu nervosismo. — Você não me conhece. É que… quando vi você pela última vez, você ainda era um bebê.A confusão de Ava só aumenta, e ela olha para Hector, buscando alguma explicação.— Essa é Charlotte Harrison, a enfermeira que vai cuidar de você — Hector intervem, apresentando formalmente.Ainda abalada com a surpresa de ver Ava Smith ali, Charlotte intercala o olhar entre Mark e Hector, demonstrando estar perplexa.— Está me dizendo que a sua noiva… é a Ava? — pergunta Charlotte.— Sim, é ela — Hector confirma prontamente, mantendo a calma. — Algum problema com isso? — ele pergunta
No momento em que Ava pergunta sobre os familiares, Hector se lembra dos rumores que conhecia.Mesmo tendo um irmão mais novo, — que não se interessava pelo ramo imobiliário — Ava se tornou a herdeira da empresa do pai. Por conta disso, ela acabou chamando a atenção de vários homens, inclusive de Hector na época.No entanto, o homem que conseguiu roubar o seu coração foi James Clivan, um estagiário simples, que não tinha nem onde cair morto. Perdidamente apaixonada, Ava começou a auxiliar o noivo a ascender na área profissional, mas seus pais não estavam gostando nada da ideia, por sentir que James não correspondia aos sentimentos da filha na mesma altura. Por conta disso, Ava acabou brigando com os pais, crendo que eles estavam implicando com James por ele ser de origem humilde.— Você cortou laços com a sua família — revela.— O quê? — ela questiona, surpresa.— É o que você acaba de ouvir. Não me pergunte sobre isso agora, Ava.— Como não? — ela rebate. — Por que fiz isso? — pergun
Charlotte engole em seco, notando que seu vínculo com Ava Smith parece ter ficado muito à mostra.— Já expliquei que a conheci quando ela ainda era um bebê — responde rapidamente.— Por acaso, é amiga da família dela?— Não.— Tem certeza?A insistência de Hector a deixa nervosa. O olhar desconfiado que ele lhe lança enquanto faz aquelas perguntas lhe deixa desconfortável.— Conheci o pai dela há muitos anos e já trocamos algumas palavras — decide dizer, para as suas palavras não ficarem vagas.— Só isso? — Hector insiste.Se dependesse dele, Charlotte só sairia daquela sala quando revelasse toda a verdade, coisa que ela não faria nunca.Há muito tempo que ela já havia deixado o passado para trás e queria que ele continuasse por lá para sempre.— Sim, senhor, somente isso — conclui. — Se já terminamos por aqui, podemos falar sobre o meu salário?— Claro — Hector responde, mas seu tom de voz demonstra que ele não deixaria aquela conversa se encerrar ali.Pegando uma caneta e um pedaço