Apressada, Doris tira os lençóis da cama de Ava e os troca por lençóis limpos, depois sai do quarto, na intenção de procurar por Hector e contar sobre o novo problema que tinha.
Se dirigindo ao escritório, ela b**e levemente na porta e, após ouvir a permissão de Hector, entra cautelosamente. Lá dentro, nota que Hector não está sozinho; ao seu lado está Mark Harrison, médico responsável pelo cuidado de Ava e melhor amigo de Hector. Confortada pela presença de Mark, Doris sabe que pode falar livremente.
Notando a expressão ansiosa de Doris, Hector apoia os cotovelos sobre a mesa, entrelaça as mãos e a encara, esperando que ela fale.
— O que aconteceu, Doris? Não me diga que cometeu mais uma indiscrição? — Hector indaga com uma severidade controlada na voz. Deixando visivelmente claro que não aceitará mais nenhum erro.
— Não, Hector, eu não fiz nada — ela responde rapidamente, demonstrando estar ansiosa. — Só que estamos com um problema.
— Que tipo de problema? — ele questiona, alterando mais a voz.
— A Ava começou a perguntar sobre o relacionamento de vocês e sobre o suposto noivado. Eu disse a ela que perguntasse diretamente para você, porque não passo de uma empregada na casa que não sabe de muita coisa.
— Você fez certo — ele responde, adotando um vislumbre de alívio em sua expressão.
— Mas tem mais uma coisa — Doris acrescenta, hesitante.
— Fale de uma vez — ordena, impaciente com aquele suspense todo.
— Ela pediu que eu levasse fotos de vocês dois juntos, para tentar se lembrar de algo.
Hector lança um olhar preocupado para Doris, e depois olha para o amigo Mark, que o encara de volta, consciente do potencial problema que isso representa.
— Tudo bem, diga para ela que levarei o álbum à noite e que veremos as fotos juntos — declara Hector, já com um plano em mente.
Confusa com a resposta, Doris franze o cenho.
— Como fará isso? — indaga, preocupada.
— Não se preocupe, Doris — responde confiante. — Conheço um profissional especializado em inteligência Artificial que pode resolver isso para nós. Ele pegará as fotos de Ava com o verdadeiro noivo e fará a edição para eu aparecer nelas. Assim, Ava não suspeitará de nada.
Surpresa com a sagacidade de Hector, Doris assente e sai do escritório, aliviada por resolver aquela questão.
Enquanto ela sai, Mark olha para Hector com as sobrancelhas erguidas.
— Você é mais astuto do que pensei. — comenta Mark.
— Sou apenas um homem precavido — rebate.
— Até onde você vai com isso, Hector? — Mark pergunta preocupado.
— Até eu conseguir comprar as ações da empresa dela — diz ele, soando frio e calculista.
— Não acha que está indo longe demais? Você está cometendo um crime escondendo a Ava aqui, enquanto a família dela a considera como morta.
— Crime? Salvei a vida dela, se não fosse por mim, a Ava estaria morta!
— Sim, eu sei disso, mas o que adianta ter salvado-a se você a mantém aqui, como se fosse uma prisioneira?
— Não farei isso para o resto da vida — zomba. — Quando a memória dela retornar, decidirei o que farei com ela.
— Já que está falando sobre isso, se quisermos ter uma ideia clara do impacto do trauma na mente de Ava, precisamos realizar exames neurológicos específicos — Mark insere, trazendo à tona uma preocupação profissional.
— Então faça esses exames — Hector responde, prático e direto.
— Não é tão simples — Mark começa, hesitante, sentindo a necessidade de explicar melhor. — Os exames que Ava precisa são complexos e exigem equipamentos especializados que só encontramos em hospitais.
— Ava não vai a nenhum hospital — Hector declara firmemente, cortando qualquer possibilidade de argumentação.
— Mas Hector, é para o bem dela — insiste Mark.
— Então traga os aparelhos para cá. Não importa quanto isso custe — declara.
— Tudo bem… — Mark concorda, sabendo ser impossível argumentar com Hector Moreau. — Posso visitá-la agora?
— Vá lá.
Mark assente e sai dali, para fazer a consulta de rotina com Ava.
Enquanto isso, Hector pega o telefone e liga para o profissional em IA, explicando o que deseja com urgência.
[…]
É noite, e Ava está na varanda de seu quarto, acomodada numa poltrona. Ao longe, ela observa o extenso quintal coberto por palmeiras que se estendem pelo vasto jardim da mansão de Hector. Isolada, a residência fica afastada de qualquer vizinhança próxima, intensificando a sensação de solidão. Enquanto olha para o horizonte, sua mente vagueia sem conseguir se fixar em nada específico; há um vazio que parece ecoar com o silêncio ao redor.
O desconforto físico dela havia sido suavizado pelos medicamentos que o médico lhe administrou mais cedo, durante uma visita cheia de promessas de novos exames, mas sem garantias de sua recuperação de memória. Neste momento de quietude, a melancolia se instala suavemente ao lado dela, enquanto a brisa noturna sussurra através das palmeiras, trazendo consigo o salgado do mar distante. Ava sente a solidão da paisagem e naquele momento a sua mente se volta para Hector Moreau.
Apesar dele afirmar ser seu noivo, ela se sente perturbada pela falta de qualquer emoção ou sentimento por ele. Embora ele afirme que são próximos, percebe uma frieza nele; os olhos de Hector não refletem sentimentos, criando uma sensação evidente de distância. Essa desconexão a deixa inquieta, aumentando suas dúvidas e a sensação de que algo não está certo.
O suave ruído de uma porta se abrindo desvia a atenção que ela estava no horizonte para o interior do quarto, onde vê Hector entrar.
Percebendo-a na varanda, ele caminha até onde ela está e se senta ao seu lado.
— Boa noite — ele a saúda com a voz baixa.
— Boa noite, Hector — responde Ava, abaixando a cabeça por sentir-se constrangida por ele aparecer no mesmo instante em que estava pensando nele.
— Como está se sentindo?
— Melhor — ela responde, com um leve alívio na voz. — O remédio que o médico receitou realmente ajudou. Não estou sentindo dor no corpo ou na cabeça agora.
— Que bom — ele diz, demonstrando preocupação. — Espero que em breve você se recupere completamente.
Com uma delicadeza profunda, Hector estende a mão e toca o rosto dela com suavidade, desenhando uma linha carinhosa com o polegar. Ele se inclina para beijá-la, mas Ava se esquiva, abaixando a cabeça, ainda hesitante.
Sem demonstrar nenhum desconforto ou irritação com a atitude, Hector deposita um beijo leve na testa dela e gentilmente toca seu queixo, erguendo seu rosto para que seus olhos se encontrem.
— Não precisa ter medo de mim, querida. Minhas intenções são as melhores — ele sussurra, depositando também um beijo suave no pescoço dela.
Mesmo que não quisesse admitir, as provocações de Hector traziam um efeito hipnotizante em seu corpo. Se ele era o seu noivo, não teria problema algum em deixá-lo tocá-la, não era mesmo? Mas… Por que, em seu subconsciente, sentia que aquilo não era certo? Algo dentro dela dizia que havia algo em Hector que não o tornava cem por cento confiável. Contudo… enquanto os lábios dele tocam a sua pele, ela fecha os olhos e não consegue resistir àquela sensação tão confortável.— Me deixe ficar mais perto de você, Ava — ele pede, deslizando suas mãos pela cintura dela.Ao perceber que está se deixando levar pela atração física, Ava abre os olhos e percebe no que está se metendo.Rapidamente, o empurra e se levanta.O movimento brusco faz o seu corpo sentir um leve desconforto, mas ela disfarça bem.— Acho que devemos ir com mais calma — ela diz. — Ainda estou fraca e o médico me disse que o meu corpo está muito debilitado.— Sei disso, Ava, mas isso não impede que eu fique mais perto de você.
Constrangida por aquela situação, Ava pega o álbum, mas não o abre de imediato.Ela sente que deve um pedido de desculpas por sua desconfiança, mas não sabe como fazer.— Obrigado por trazer, amigo, eu estava justamente indo buscar — Hector diz com um leve sorriso de gratidão.Antes de sair do quarto, Mark sente a tensão no ar e decide sondar um pouco mais.— Aconteceu alguma coisa aqui? — ele pergunta, notando o clima pesado.— Nada além do esperado — Hector responde rapidamente, visivelmente irritado. — Ava não se lembra de mim, e ela desconfia de tudo que digo.— Não é exatamente isso — Ava interrompe, querendo esclarecer sua posição. — Eu só disse a ele que estou confusa sobre tudo isso.— Entendo ambos os lados — Mark intervém, tentando mediar a situação com sua voz calma. — Como médico, vou pedir que vocês tenham paciência. A amnésia da Ava não afeta só ela, mas todos ao redor. É crucial que aprendam a conversar de forma mais tranquila. Digamos que digerir essas informações já é
Sem entender por que Hector resolveu falar sobre aquele assunto, Ava levanta a cabeça e encara os olhos dele. De repente, nota uma mudança sútil; o olhar dele não está mais tão frio como estava mais cedo. Tem algo lá, uma profundidade meio sentimental que não havia notado antes.Suavemente, ela se afasta e o segura pela mão, conduzindo-o até o lugar onde havia deixado o álbum.— Vi as fotos que tiramos juntos, e mesmo não lembrando de nada, sinto que tudo o que vivemos foi muito lindo e sincero — ela diz, enquanto um sorriso tímido ilumina seu rosto.Hector permanece em silêncio, engolindo em seco. A sinceridade de Ava e o peso de suas próprias ações fazem com que a mentira que ele mesmo sustentou se torne cada vez mais difícil de manter.— Me conte mais sobre essas fotos — ela pede, abrindo o álbum com entusiasmo.Enquanto Ava folheia o álbum, Hector observa as imagens editadas pelo especialista em IA. O trabalho é impecável, cada foto foi perfeitamente manipulada para mostrar uma re
Na cama, Ava se revira, incapaz de pegar no sono. A cena de Hector saindo apressado do quarto, como se estivesse escapando de algo, continua a ecoar em sua mente, perturbando-a. Ela realmente não queria que ele fosse embora, não após ter visto nas fotos o quanto eles pareciam felizes juntos.Ela desejava poder passar a noite inteira conversando com ele, descobrindo como se conheceram, como foi a primeira conversa, o primeiro beijo. Quem havia tomado a iniciativa primeiro? Tudo ainda parecia tão novo e, ao mesmo tempo, provocava uma agitação interna que ela não conseguia acalmar.Doris havia passado no quarto mais cedo para ajustar sua medicação e depois mencionou que estaria na cozinha caso ela precisasse de algo.Frustrada pela insônia e impulsionada por uma curiosidade crescente, Ava decide se levantar e explorar a casa. Desde que despertou do coma induzido, ela se limitou a ficar somente no quarto e sentia que conhecer outros espaços poderia, quem sabe, ajudar a desencadear alguma
— Ava, me responde! O que você está fazendo aqui? — Hector pergunta com uma voz grave que ecoa pelo cômodo um pouco mais alto do que deveria.Sua surpresa é óbvia e Ava nota um traço de pânico em seus olhos.— Por que você desligou a TV assim que me viu? — Ela indaga, cruzando os braços, sentindo que algo não está certo.— Ah, eu desliguei porque te vi entrando… — Hector começa, claramente lutando para encontrar uma desculpa plausível.— Então liga de novo, por favor? — Ela pede, movendo um passo em direção a ele, demonstrando estar curiosa. — Quero ver o que estava passando, e especialmente, também quero saber sobre aquele homem que estava chorando na tela.— Não, eu não posso fazer isso — Hector responde rapidamente, enquanto a expressão no seu rosto se endurece.— Por que não? — Ava desafia, sentindo sua frustração nascer. — Por que você não quer que eu veja?— Porque isso não é bom para você — ele solta, tentando mascarar a verdadeira preocupação.Antes de continuar, ele faz uma p
Pela manhã, Hector acorda e se senta na mesa do café, refletindo sobre o que pode fazer em relação à Ava, já que seus pensamentos o perturbaram a noite toda.— Bom dia, Hector — Doris diz, se aproximando para servir o café.— Bom dia — ele responde sem muita animação.— Você dormiu bem? Parece estar cansado.— A minha cabeça doeu a noite toda — revela.— Se quiser, posso trazer um remédio para você — sugere Doris.— Não precisa — protesta rapidamente, servindo-se de uma xícara de café puro. — Não acho que o que sinto passe com remédio.Estranhando a declaração dele, Doris fica parada, esperando que ele continue falando, mas Hector fica em silêncio.— O doutor Mark vai demorar para chegar? — ela pergunta, notando que, se dependesse de Hector, aquela conversa já estaria encerrada.— Acredito que ele já esteja a caminho. Por quê?— Tenho uma dúvida em relação aos medicamentos que ele prescreveu para a Ava.— Que dúvidas?— Há alguns medicamentos que são injetáveis, e eu fico meio receosa
Confusa com a reação tão intensa da mulher que acaba de conhecer, Ava franze a testa.— Perdão, mas nós nos conhecemos? — ela pergunta, curiosa e um pouco cautelosa.Percebendo que suas emoções estão à flor da pele, Charlotte faz um esforço para se controlar, especialmente ao notar o olhar preocupado de Mark diante de sua reação inesperada.— Me desculpe — diz ela, engolindo em seco e tentando disfarçar seu nervosismo. — Você não me conhece. É que… quando vi você pela última vez, você ainda era um bebê.A confusão de Ava só aumenta, e ela olha para Hector, buscando alguma explicação.— Essa é Charlotte Harrison, a enfermeira que vai cuidar de você — Hector intervem, apresentando formalmente.Ainda abalada com a surpresa de ver Ava Smith ali, Charlotte intercala o olhar entre Mark e Hector, demonstrando estar perplexa.— Está me dizendo que a sua noiva… é a Ava? — pergunta Charlotte.— Sim, é ela — Hector confirma prontamente, mantendo a calma. — Algum problema com isso? — ele pergunta
No momento em que Ava pergunta sobre os familiares, Hector se lembra dos rumores que conhecia.Mesmo tendo um irmão mais novo, — que não se interessava pelo ramo imobiliário — Ava se tornou a herdeira da empresa do pai. Por conta disso, ela acabou chamando a atenção de vários homens, inclusive de Hector na época.No entanto, o homem que conseguiu roubar o seu coração foi James Clivan, um estagiário simples, que não tinha nem onde cair morto. Perdidamente apaixonada, Ava começou a auxiliar o noivo a ascender na área profissional, mas seus pais não estavam gostando nada da ideia, por sentir que James não correspondia aos sentimentos da filha na mesma altura. Por conta disso, Ava acabou brigando com os pais, crendo que eles estavam implicando com James por ele ser de origem humilde.— Você cortou laços com a sua família — revela.— O quê? — ela questiona, surpresa.— É o que você acaba de ouvir. Não me pergunte sobre isso agora, Ava.— Como não? — ela rebate. — Por que fiz isso? — pergun