Charlotte engole em seco, notando que seu vínculo com Ava Smith parece ter ficado muito à mostra.— Já expliquei que a conheci quando ela ainda era um bebê — responde rapidamente.— Por acaso, é amiga da família dela?— Não.— Tem certeza?A insistência de Hector a deixa nervosa. O olhar desconfiado que ele lhe lança enquanto faz aquelas perguntas lhe deixa desconfortável.— Conheci o pai dela há muitos anos e já trocamos algumas palavras — decide dizer, para as suas palavras não ficarem vagas.— Só isso? — Hector insiste.Se dependesse dele, Charlotte só sairia daquela sala quando revelasse toda a verdade, coisa que ela não faria nunca.Há muito tempo que ela já havia deixado o passado para trás e queria que ele continuasse por lá para sempre.— Sim, senhor, somente isso — conclui. — Se já terminamos por aqui, podemos falar sobre o meu salário?— Claro — Hector responde, mas seu tom de voz demonstra que ele não deixaria aquela conversa se encerrar ali.Pegando uma caneta e um pedaço
Ava sente uma agitação interna crescente, e esse sentimento se intensifica a cada minuto na presença de Charlotte. As perguntas se acumulam dentro dela, que queria muito alguém que a ajudasse naqueles questionamentos.— Eu não vejo a sua família há muito tempo, Ava. — Charlotte tenta manter a voz neutra enquanto responde.— Mas você tem ao menos o contato deles? — insiste, esperançosa.— Não, eu nunca fui próxima de sua família. — A mentira escorrega fácil de sua boca, mas o peso dela parece ficar no ar.— Então, como você me conhece? — A curiosidade de Ava não encontra limites.Hesitando, Charlotte busca uma desculpa razoável.— Eu trabalhei como faxineira na faculdade onde seu pai estudou. Com a convivência, acabei me tornando uma conhecida. Alguns anos depois, eu vi o seu pai com você no colo e, por educação, ele me apresentou você.Processando a resposta, Ava fica claramente frustrada. Esperava mais, algo que a conectasse ao passado ou lhe causasse um fluxo de memória. Sem mais pe
— Não acredito, eu vou ser mãe!Ava mal podia acreditar no que estava vendo. Em frente ao espelho do banheiro de seu escritório, lá estava ela, segurando um teste de gravidez com o resultado positivo que tanto sonhou.Desde que perdeu seu primeiro bebê num aborto espontâneo, o médico disse que seria bem difícil engravidar de novo. Mas agora, olhando para o resultado positivo nas suas mãos, tinha certeza de que estava vivendo um milagre.As lágrimas começaram a cair sem controle. Era um misto de alegria e alívio depois de tanto tempo tentando.— Não posso guardar essa notícia só para mim — ela murmura, já imaginando a cara de surpresa do seu noivo.Ajeitando a maquiagem borrada e a roupa elegante que usava, ela sai do escritório com a postura altiva, que sempre teve diante de seus funcionários.Quem não a conhecia pensava que ela não passava de uma herdeira poderosa que tinha o mundo inteiro em suas mãos, E, bom, ela meio que tinha.Mas… a sua vida pessoal era bem diferente do que apar
O som insistente de um bip de um aparelho médico desperta Ava, que se esforça para abrir os olhos, no entanto, está excessivamente debilitada para fazê-lo.Com dificuldade, ela tenta entender o que está acontecendo, mas não reconhece o lugar onde está. Com um esforço extra, tenta mais uma vez abrir os olhos por completo e, após algum tempo, consegue.— Como você está se sentindo? — uma voz masculina ecoa pelo ambiente. Virando o rosto em direção ao lugar de onde vem a voz, Ava avista um homem sentado numa poltrona ao lado da cama.— Onde eu estou? — murmura, com a voz fraca.— Eu te perguntei como está se sentindo — O homem insiste, um pouco mais firme. Reunindo a pouca força que lhe resta, Ava abre os olhos completamente e encara o homem ao seu lado. Ele está vestido em um elegante terno preto e a observa com um olhar intenso e sério, aguardando ansiosamente por uma resposta. — Estou sentindo muita dor, em todo o meu corpo — responde. — Mas a minha cabeça é a que mais dói — acres
A pergunta de Ava pega Hector tão de surpresa, que ele fica inquieto por alguns milésimos de segundo.Mesmo com a falta de memória, ele nota que Ava continua inteligente e perspicaz. O que lhe atrai a atenção. No entanto, Hector também é um homem astuto, por isso, formula rapidamente uma desculpa que possa convencê-la.— Meu amor, você está sob cuidados médicos. O médico recomendou que evitássemos usar qualquer coisa que pudesse transmitir bactérias, inclusive alianças — explica. — Se notar a sua mão direita, verá que também está sem o anel.A resposta parece convencê-la por um momento. Contudo, para Ava, já não bastava estar atordoada por não conseguir se lembrar de nada da sua vida, agora estava diante de um homem totalmente estranho, que diz ser seu noivo. Aquilo soa mais assustador do que imagina.— O doutor supôs que você poderia não se recordar do que aconteceu — comenta Hector, tocando levemente a mão dela, aproveitando-se da situação vulnerável que ela enfrentava. — Então vim
Parada na porta, está Doris, empregada designada para cuidar de Ava.— Não, claro que não. Você chegou no momento perfeito, Doris. Minha noiva acabou de acordar e precisa de ajuda para tomar banho.Ao ouvir a palavra “noiva”, vindo da boca de Hector, Doris franze a testa, mas permanece em silêncio. Ela o conhecia muito bem e sabia que o confrontar naquele momento traria complicações para ela mesma.— Claro, senhor, farei tudo que precisar — diz Doris, lançando um olhar furtivo para Ava na cama, que parece ligeiramente confusa e desorientada. — Olá, senhora. Me chamo Doris e estou cuidando de você desde que chegou — revela, se direcionando à Ava.Ava somente assente, sem responder nada.Sentindo que já havia feito um pouco do seu trabalho ali, Hector decide sair, mas antes, olha para sua empregada e comenta:— Podemos conversar um pouco a sós? — propõe, lançando um olhar mais sério para a empregada, que entende rapidamente.— Claro, senhor.Antes de sair do quarto, Hector se vira para
Ver Ava de pé, em frente à porta do quarto, faz Doris ficar estática, sem saber o que fazer.Doris não sabe desde quando ela estava ali e o tanto que escutou daquela conversa.Já não bastava aquela preocupação, Doris olha para o rosto de Hector e vê o olhar sombrio que ele lhe lança, demonstrando que não está nada satisfeito com o que acaba de acontecer.Na intenção de contornar aquilo, Doris caminha até onde Ava está e toca o ombro dela.— Senhorita! Não pode se levantar da cama sem ajuda — diz ela, com a voz trêmula. — Seus ferimentos ainda estão cicatrizando.Ignorando a fala de Doris, Ava caminha com dificuldade em direção a Hector, que a encara com o olhar indecifrável.— O que ela disse é verdade, Hector? — insiste Ava, se aproximando dele. — Eu perdi um bebê nesse acidente?— Fique calma — ele pede. — Não acho que seja uma boa hora para conversarmos sobre isso.— Como não? — Ava indaga, com a voz mais firme. — Mesmo que eu não me lembre de nada, tenho o direito de saber tudo o
No quarto, Doris se aproxima da cama onde Ava está deitada, com os olhos fixos no teto, absorta em seus pensamentos.— Como está se sentindo, Ava? — pergunta, tentando iniciar uma conversa.— Perdida — responde, sem tirar os olhos do teto.— Não se preocupe com isso, logo você estará melhor — a tranquiliza. — Que tal tomar um banho para relaxar um pouco? No banheiro, há uma banheira enorme — revela, com um sorriso tímido. — Vai ser bom para você.Ava reflete sobre aquela sugestão. Seu corpo doía bastante e pensava que a água quente podia ajudá-la a relaxar um pouco.— Você tem razão — concorda, tentando se levantar.Rapidamente, Doris se aproxima e ajuda-a.— Não tente se levantar sozinha novamente — comenta. — Seu corpo está fraco, ainda mais após a curetagem — explica. — Vou pegar a cadeira de rodas.Ao ouvir o que a mulher acaba de dizer, Ava para e a encara com os olhos curiosos.— De quantos meses eu estava grávida? — pergunta.— Eram poucas semanas — revela Doris.Instintivament