Pela manhã, Hector acorda e se senta na mesa do café, refletindo sobre o que pode fazer em relação à Ava, já que seus pensamentos o perturbaram a noite toda.— Bom dia, Hector — Doris diz, se aproximando para servir o café.— Bom dia — ele responde sem muita animação.— Você dormiu bem? Parece estar cansado.— A minha cabeça doeu a noite toda — revela.— Se quiser, posso trazer um remédio para você — sugere Doris.— Não precisa — protesta rapidamente, servindo-se de uma xícara de café puro. — Não acho que o que sinto passe com remédio.Estranhando a declaração dele, Doris fica parada, esperando que ele continue falando, mas Hector fica em silêncio.— O doutor Mark vai demorar para chegar? — ela pergunta, notando que, se dependesse de Hector, aquela conversa já estaria encerrada.— Acredito que ele já esteja a caminho. Por quê?— Tenho uma dúvida em relação aos medicamentos que ele prescreveu para a Ava.— Que dúvidas?— Há alguns medicamentos que são injetáveis, e eu fico meio receosa
Confusa com a reação tão intensa da mulher que acaba de conhecer, Ava franze a testa.— Perdão, mas nós nos conhecemos? — ela pergunta, curiosa e um pouco cautelosa.Percebendo que suas emoções estão à flor da pele, Charlotte faz um esforço para se controlar, especialmente ao notar o olhar preocupado de Mark diante de sua reação inesperada.— Me desculpe — diz ela, engolindo em seco e tentando disfarçar seu nervosismo. — Você não me conhece. É que… quando vi você pela última vez, você ainda era um bebê.A confusão de Ava só aumenta, e ela olha para Hector, buscando alguma explicação.— Essa é Charlotte Harrison, a enfermeira que vai cuidar de você — Hector intervem, apresentando formalmente.Ainda abalada com a surpresa de ver Ava Smith ali, Charlotte intercala o olhar entre Mark e Hector, demonstrando estar perplexa.— Está me dizendo que a sua noiva… é a Ava? — pergunta Charlotte.— Sim, é ela — Hector confirma prontamente, mantendo a calma. — Algum problema com isso? — ele pergunta
No momento em que Ava pergunta sobre os familiares, Hector se lembra dos rumores que conhecia.Mesmo tendo um irmão mais novo, — que não se interessava pelo ramo imobiliário — Ava se tornou a herdeira da empresa do pai. Por conta disso, ela acabou chamando a atenção de vários homens, inclusive de Hector na época.No entanto, o homem que conseguiu roubar o seu coração foi James Clivan, um estagiário simples, que não tinha nem onde cair morto. Perdidamente apaixonada, Ava começou a auxiliar o noivo a ascender na área profissional, mas seus pais não estavam gostando nada da ideia, por sentir que James não correspondia aos sentimentos da filha na mesma altura. Por conta disso, Ava acabou brigando com os pais, crendo que eles estavam implicando com James por ele ser de origem humilde.— Você cortou laços com a sua família — revela.— O quê? — ela questiona, surpresa.— É o que você acaba de ouvir. Não me pergunte sobre isso agora, Ava.— Como não? — ela rebate. — Por que fiz isso? — pergun
Charlotte engole em seco, notando que seu vínculo com Ava Smith parece ter ficado muito à mostra.— Já expliquei que a conheci quando ela ainda era um bebê — responde rapidamente.— Por acaso, é amiga da família dela?— Não.— Tem certeza?A insistência de Hector a deixa nervosa. O olhar desconfiado que ele lhe lança enquanto faz aquelas perguntas lhe deixa desconfortável.— Conheci o pai dela há muitos anos e já trocamos algumas palavras — decide dizer, para as suas palavras não ficarem vagas.— Só isso? — Hector insiste.Se dependesse dele, Charlotte só sairia daquela sala quando revelasse toda a verdade, coisa que ela não faria nunca.Há muito tempo que ela já havia deixado o passado para trás e queria que ele continuasse por lá para sempre.— Sim, senhor, somente isso — conclui. — Se já terminamos por aqui, podemos falar sobre o meu salário?— Claro — Hector responde, mas seu tom de voz demonstra que ele não deixaria aquela conversa se encerrar ali.Pegando uma caneta e um pedaço
Ava sente uma agitação interna crescente, e esse sentimento se intensifica a cada minuto na presença de Charlotte. As perguntas se acumulam dentro dela, que queria muito alguém que a ajudasse naqueles questionamentos.— Eu não vejo a sua família há muito tempo, Ava. — Charlotte tenta manter a voz neutra enquanto responde.— Mas você tem ao menos o contato deles? — insiste, esperançosa.— Não, eu nunca fui próxima de sua família. — A mentira escorrega fácil de sua boca, mas o peso dela parece ficar no ar.— Então, como você me conhece? — A curiosidade de Ava não encontra limites.Hesitando, Charlotte busca uma desculpa razoável.— Eu trabalhei como faxineira na faculdade onde seu pai estudou. Com a convivência, acabei me tornando uma conhecida. Alguns anos depois, eu vi o seu pai com você no colo e, por educação, ele me apresentou você.Processando a resposta, Ava fica claramente frustrada. Esperava mais, algo que a conectasse ao passado ou lhe causasse um fluxo de memória. Sem mais pe
— Não acredito, eu vou ser mãe!Ava mal podia acreditar no que estava vendo. Em frente ao espelho do banheiro de seu escritório, lá estava ela, segurando um teste de gravidez com o resultado positivo que tanto sonhou.Desde que perdeu seu primeiro bebê num aborto espontâneo, o médico disse que seria bem difícil engravidar de novo. Mas agora, olhando para o resultado positivo nas suas mãos, tinha certeza de que estava vivendo um milagre.As lágrimas começaram a cair sem controle. Era um misto de alegria e alívio depois de tanto tempo tentando.— Não posso guardar essa notícia só para mim — ela murmura, já imaginando a cara de surpresa do seu noivo.Ajeitando a maquiagem borrada e a roupa elegante que usava, ela sai do escritório com a postura altiva, que sempre teve diante de seus funcionários.Quem não a conhecia pensava que ela não passava de uma herdeira poderosa que tinha o mundo inteiro em suas mãos, E, bom, ela meio que tinha.Mas… a sua vida pessoal era bem diferente do que apar
O som insistente de um bip de um aparelho médico desperta Ava, que se esforça para abrir os olhos, no entanto, está excessivamente debilitada para fazê-lo.Com dificuldade, ela tenta entender o que está acontecendo, mas não reconhece o lugar onde está. Com um esforço extra, tenta mais uma vez abrir os olhos por completo e, após algum tempo, consegue.— Como você está se sentindo? — uma voz masculina ecoa pelo ambiente. Virando o rosto em direção ao lugar de onde vem a voz, Ava avista um homem sentado numa poltrona ao lado da cama.— Onde eu estou? — murmura, com a voz fraca.— Eu te perguntei como está se sentindo — O homem insiste, um pouco mais firme. Reunindo a pouca força que lhe resta, Ava abre os olhos completamente e encara o homem ao seu lado. Ele está vestido em um elegante terno preto e a observa com um olhar intenso e sério, aguardando ansiosamente por uma resposta. — Estou sentindo muita dor, em todo o meu corpo — responde. — Mas a minha cabeça é a que mais dói — acres
A pergunta de Ava pega Hector tão de surpresa, que ele fica inquieto por alguns milésimos de segundo.Mesmo com a falta de memória, ele nota que Ava continua inteligente e perspicaz. O que lhe atrai a atenção. No entanto, Hector também é um homem astuto, por isso, formula rapidamente uma desculpa que possa convencê-la.— Meu amor, você está sob cuidados médicos. O médico recomendou que evitássemos usar qualquer coisa que pudesse transmitir bactérias, inclusive alianças — explica. — Se notar a sua mão direita, verá que também está sem o anel.A resposta parece convencê-la por um momento. Contudo, para Ava, já não bastava estar atordoada por não conseguir se lembrar de nada da sua vida, agora estava diante de um homem totalmente estranho, que diz ser seu noivo. Aquilo soa mais assustador do que imagina.— O doutor supôs que você poderia não se recordar do que aconteceu — comenta Hector, tocando levemente a mão dela, aproveitando-se da situação vulnerável que ela enfrentava. — Então vim