A pergunta de Ava pega Hector tão de surpresa, que ele fica inquieto por alguns milésimos de segundo.
Mesmo com a falta de memória, ele nota que Ava continua inteligente e perspicaz. O que lhe atrai a atenção. No entanto, Hector também é um homem astuto, por isso, formula rapidamente uma desculpa que possa convencê-la.
— Meu amor, você está sob cuidados médicos. O médico recomendou que evitássemos usar qualquer coisa que pudesse transmitir bactérias, inclusive alianças — explica. — Se notar a sua mão direita, verá que também está sem o anel.
A resposta parece convencê-la por um momento. Contudo, para Ava, já não bastava estar atordoada por não conseguir se lembrar de nada da sua vida, agora estava diante de um homem totalmente estranho, que diz ser seu noivo. Aquilo soa mais assustador do que imagina.
— O doutor supôs que você poderia não se recordar do que aconteceu — comenta Hector, tocando levemente a mão dela, aproveitando-se da situação vulnerável que ela enfrentava. — Então vim até aqui para ver se ao menos conseguiria se lembrar de mim — explica.
Sentindo-se incomodada com aquela proximidade, Ava tenta se afastar do toque, mas Hector a impede, segurando sua mão firmemente.
— O que foi Ava? Por acaso, não quer me sentir?
Constrangida com aquela situação, ela tenta se recompor.
— Me desculpe, mas eu não consigo me lembrar do senhor.
— Senhor? — indaga ele, fingindo-se ofendido. — Ava, estamos noivos e você me chama de senhor?
— Me desculpe, mas eu não me lembro de nada.
Por dentro, Hector Moreau se diverte com a confusão estampada no rosto de Ava, que era conhecida por ser uma mulher altiva. Claro que ela não o reconhecia — eles nunca foram próximos, que dirá noivos. Embora seus caminhos tenham se cruzado ocasionalmente em eventos corporativos, a relação entre eles era marcada por uma rivalidade intensa. Como CEOs de empresas concorrentes, estavam sempre em uma batalha acirrada por clientes e projetos milionários.
Ava mantinha uma grande vantagem sobre ele, pois era beneficiada pela empresa consolidada que herdou do pai. Contudo, Hector nunca se deu por vencido. Movido por uma incontrolável sede de poder e riqueza, planejava derrubar meticulosamente a empresa dela para se estabelecer como o líder indiscutível no setor imobiliário.
Vê-la tão vulnerável daquele jeito, o faz perceber a oportunidade perfeita de levar seus planos adiante.
— Do jeito que me olha como se eu fosse um estranho, acaba me ofendendo, Ava — continua Hector, fingindo-se magoado por ela não se lembrar dele.
— Sinto muito mesmo, mas não consigo me lembrar de nada — ela diz, claramente angustiada pela situação.
— Tudo bem — responde, num tom compreensivo. — Sei que para você deve estar sendo bem difícil, mas precisa entender que não é a única que está sofrendo aqui. O seu desprezo me entristece, querida — revela Hector, num tom manipulador.
Ao notar a expressão triste no rosto dele, Ava morde os lábios, confusa consigo mesmo. Sem entender como agir, corresponde ao aperto da mão dele e o olha nos olhos.
Estando tão próximo de Ava, ele nota que, — mesmo com os ferimentos e arranhões — Ava continua linda e atraente.
— Escuta, Hector — Ava começa, com uma voz suave e afetuosa. — Eu realmente não sei como lidar com você, ou até mesmo comigo mesma, para ser honesta. Mas… preciso te pedir paciência. Acabei de acordar para tudo isso e estou me sentindo muito confusa e assustada. Não quero te magoar, e apesar de você dizer que somos noivos, para mim, agora, você é um estranho.
— De acordo. Entendo seu ponto, contudo, mesmo sendo um estranho, deveria ser grata pelo que te fiz, afinal, se não fosse por mim, você estaria morta.
— Obrigada pelo que fez — diz ela, rapidamente. — Queria muito me lembrar do que aconteceu para ser grata o suficiente.
— Não importa — rebate Hector. — Só espero que se lembre disso, quando a sua memória retornar.
— Não me esquecerei — ela assegura.
Percebendo que ele está com um semblante bem sério, Ava começa a observar o quarto onde está.
— Por que não me levou para o hospital?
— Porque sou rico o suficiente para cuidar de você aqui.
A resposta dele soa um tanto arrogante, mas ela decide não questionar. Se tudo o que Hector diz é verdade, o fato de estar viva é um milagre e o cuidado que ele está tendo naquele momento demonstra o quanto a ama de verdade, mesmo que seus olham não demonstrem aquele sentimento.
— Obrigada pelo que está fazendo por mim. Quando minha memória voltar, não vou me esquecer de agradecê-lo corretamente.
— Perfeito — ele diz, concordando. — No momento, terei paciência com a sua amnésia e irei com calma.
Hector tenta retirar a sua mão para sair dali, mas Ava o segura com força.
— Quero muito me lembrar de você — ela murmura, transmitindo esperança.
O toque suave de Ava faz Hector sorrir. Tê-la ali, sob o seu domínio, abre grandes oportunidades para explorar diversos modos de como pode manipulá-la. Com um movimento rápido e firme, ele se inclina diante da cama, fazendo com que seu corpo se aproxime do dela, inesperadamente.
A sua reação deixa Ava paralisada, e quando ela tenta afastá-lo, Hector a puxa gentilmente pela cintura, trazendo-a para mais perto. Com os lábios próximos a seu ouvido, ele sussurra suavemente:
— Quem sabe um pouco de proximidade te ajude a trazer suas lembranças de volta…
O coração de Ava dispara e uma mistura de medo e confusão a envolve, fazendo com que suas pernas tremam sutilmente pela intensidade da proximidade.
— Talvez o calor dos nossos corpos desperte suas lembranças, querida — Hector prossegue, deixando o leve toque de seus lábios no pescoço dela.
Sua insinuação provoca um arrepio involuntário em Ava, que, apesar de sua amnésia, sente uma sensação totalmente nova e desconhecida, algo que ela tem certeza de nunca ter experimentado antes.
Surpresa com suas próprias reações e também um pouco desconfortável com o momento, ela tenta afastá-lo.
— Hector, você disse que iria com calma — ela declara, mas a sua voz falha miseravelmente.
— Sim, eu disse, mas quero te dar uma pequena amostra do que à espera, quando se recuperar.
Antes que Hector possa continuar com a sua provocação, a porta do quarto se abre bruscamente.
— Estou atrapalhando alguma coisa?
Parada na porta, está Doris, empregada designada para cuidar de Ava.— Não, claro que não. Você chegou no momento perfeito, Doris. Minha noiva acabou de acordar e precisa de ajuda para tomar banho.Ao ouvir a palavra “noiva”, vindo da boca de Hector, Doris franze a testa, mas permanece em silêncio. Ela o conhecia muito bem e sabia que o confrontar naquele momento traria complicações para ela mesma.— Claro, senhor, farei tudo que precisar — diz Doris, lançando um olhar furtivo para Ava na cama, que parece ligeiramente confusa e desorientada. — Olá, senhora. Me chamo Doris e estou cuidando de você desde que chegou — revela, se direcionando à Ava.Ava somente assente, sem responder nada.Sentindo que já havia feito um pouco do seu trabalho ali, Hector decide sair, mas antes, olha para sua empregada e comenta:— Podemos conversar um pouco a sós? — propõe, lançando um olhar mais sério para a empregada, que entende rapidamente.— Claro, senhor.Antes de sair do quarto, Hector se vira para
Ver Ava de pé, em frente à porta do quarto, faz Doris ficar estática, sem saber o que fazer.Doris não sabe desde quando ela estava ali e o tanto que escutou daquela conversa.Já não bastava aquela preocupação, Doris olha para o rosto de Hector e vê o olhar sombrio que ele lhe lança, demonstrando que não está nada satisfeito com o que acaba de acontecer.Na intenção de contornar aquilo, Doris caminha até onde Ava está e toca o ombro dela.— Senhorita! Não pode se levantar da cama sem ajuda — diz ela, com a voz trêmula. — Seus ferimentos ainda estão cicatrizando.Ignorando a fala de Doris, Ava caminha com dificuldade em direção a Hector, que a encara com o olhar indecifrável.— O que ela disse é verdade, Hector? — insiste Ava, se aproximando dele. — Eu perdi um bebê nesse acidente?— Fique calma — ele pede. — Não acho que seja uma boa hora para conversarmos sobre isso.— Como não? — Ava indaga, com a voz mais firme. — Mesmo que eu não me lembre de nada, tenho o direito de saber tudo o
No quarto, Doris se aproxima da cama onde Ava está deitada, com os olhos fixos no teto, absorta em seus pensamentos.— Como está se sentindo, Ava? — pergunta, tentando iniciar uma conversa.— Perdida — responde, sem tirar os olhos do teto.— Não se preocupe com isso, logo você estará melhor — a tranquiliza. — Que tal tomar um banho para relaxar um pouco? No banheiro, há uma banheira enorme — revela, com um sorriso tímido. — Vai ser bom para você.Ava reflete sobre aquela sugestão. Seu corpo doía bastante e pensava que a água quente podia ajudá-la a relaxar um pouco.— Você tem razão — concorda, tentando se levantar.Rapidamente, Doris se aproxima e ajuda-a.— Não tente se levantar sozinha novamente — comenta. — Seu corpo está fraco, ainda mais após a curetagem — explica. — Vou pegar a cadeira de rodas.Ao ouvir o que a mulher acaba de dizer, Ava para e a encara com os olhos curiosos.— De quantos meses eu estava grávida? — pergunta.— Eram poucas semanas — revela Doris.Instintivament
Apressada, Doris tira os lençóis da cama de Ava e os troca por lençóis limpos, depois sai do quarto, na intenção de procurar por Hector e contar sobre o novo problema que tinha.Se dirigindo ao escritório, ela bate levemente na porta e, após ouvir a permissão de Hector, entra cautelosamente. Lá dentro, nota que Hector não está sozinho; ao seu lado está Mark Harrison, médico responsável pelo cuidado de Ava e melhor amigo de Hector. Confortada pela presença de Mark, Doris sabe que pode falar livremente.Notando a expressão ansiosa de Doris, Hector apoia os cotovelos sobre a mesa, entrelaça as mãos e a encara, esperando que ela fale.— O que aconteceu, Doris? Não me diga que cometeu mais uma indiscrição? — Hector indaga com uma severidade controlada na voz. Deixando visivelmente claro que não aceitará mais nenhum erro.— Não, Hector, eu não fiz nada — ela responde rapidamente, demonstrando estar ansiosa. — Só que estamos com um problema.— Que tipo de problema? — ele questiona, alterando
Mesmo que não quisesse admitir, as provocações de Hector traziam um efeito hipnotizante em seu corpo. Se ele era o seu noivo, não teria problema algum em deixá-lo tocá-la, não era mesmo? Mas… Por que, em seu subconsciente, sentia que aquilo não era certo? Algo dentro dela dizia que havia algo em Hector que não o tornava cem por cento confiável. Contudo… enquanto os lábios dele tocam a sua pele, ela fecha os olhos e não consegue resistir àquela sensação tão confortável.— Me deixe ficar mais perto de você, Ava — ele pede, deslizando suas mãos pela cintura dela.Ao perceber que está se deixando levar pela atração física, Ava abre os olhos e percebe no que está se metendo.Rapidamente, o empurra e se levanta.O movimento brusco faz o seu corpo sentir um leve desconforto, mas ela disfarça bem.— Acho que devemos ir com mais calma — ela diz. — Ainda estou fraca e o médico me disse que o meu corpo está muito debilitado.— Sei disso, Ava, mas isso não impede que eu fique mais perto de você.
Constrangida por aquela situação, Ava pega o álbum, mas não o abre de imediato.Ela sente que deve um pedido de desculpas por sua desconfiança, mas não sabe como fazer.— Obrigado por trazer, amigo, eu estava justamente indo buscar — Hector diz com um leve sorriso de gratidão.Antes de sair do quarto, Mark sente a tensão no ar e decide sondar um pouco mais.— Aconteceu alguma coisa aqui? — ele pergunta, notando o clima pesado.— Nada além do esperado — Hector responde rapidamente, visivelmente irritado. — Ava não se lembra de mim, e ela desconfia de tudo que digo.— Não é exatamente isso — Ava interrompe, querendo esclarecer sua posição. — Eu só disse a ele que estou confusa sobre tudo isso.— Entendo ambos os lados — Mark intervém, tentando mediar a situação com sua voz calma. — Como médico, vou pedir que vocês tenham paciência. A amnésia da Ava não afeta só ela, mas todos ao redor. É crucial que aprendam a conversar de forma mais tranquila. Digamos que digerir essas informações já é
Sem entender por que Hector resolveu falar sobre aquele assunto, Ava levanta a cabeça e encara os olhos dele. De repente, nota uma mudança sútil; o olhar dele não está mais tão frio como estava mais cedo. Tem algo lá, uma profundidade meio sentimental que não havia notado antes.Suavemente, ela se afasta e o segura pela mão, conduzindo-o até o lugar onde havia deixado o álbum.— Vi as fotos que tiramos juntos, e mesmo não lembrando de nada, sinto que tudo o que vivemos foi muito lindo e sincero — ela diz, enquanto um sorriso tímido ilumina seu rosto.Hector permanece em silêncio, engolindo em seco. A sinceridade de Ava e o peso de suas próprias ações fazem com que a mentira que ele mesmo sustentou se torne cada vez mais difícil de manter.— Me conte mais sobre essas fotos — ela pede, abrindo o álbum com entusiasmo.Enquanto Ava folheia o álbum, Hector observa as imagens editadas pelo especialista em IA. O trabalho é impecável, cada foto foi perfeitamente manipulada para mostrar uma re
Na cama, Ava se revira, incapaz de pegar no sono. A cena de Hector saindo apressado do quarto, como se estivesse escapando de algo, continua a ecoar em sua mente, perturbando-a. Ela realmente não queria que ele fosse embora, não após ter visto nas fotos o quanto eles pareciam felizes juntos.Ela desejava poder passar a noite inteira conversando com ele, descobrindo como se conheceram, como foi a primeira conversa, o primeiro beijo. Quem havia tomado a iniciativa primeiro? Tudo ainda parecia tão novo e, ao mesmo tempo, provocava uma agitação interna que ela não conseguia acalmar.Doris havia passado no quarto mais cedo para ajustar sua medicação e depois mencionou que estaria na cozinha caso ela precisasse de algo.Frustrada pela insônia e impulsionada por uma curiosidade crescente, Ava decide se levantar e explorar a casa. Desde que despertou do coma induzido, ela se limitou a ficar somente no quarto e sentia que conhecer outros espaços poderia, quem sabe, ajudar a desencadear alguma