3: Nas garras do inimigo

A pergunta de Ava pega Hector tão de surpresa, que ele fica inquieto por alguns milésimos de segundo.

Mesmo com a falta de memória, ele nota que Ava continua inteligente e perspicaz. O que lhe atrai a atenção. No entanto, Hector também é um homem astuto, por isso, formula rapidamente uma desculpa que possa convencê-la.

— Meu amor, você está sob cuidados médicos. O médico recomendou que evitássemos usar qualquer coisa que pudesse transmitir bactérias, inclusive alianças — explica. — Se notar a sua mão direita, verá que também está sem o anel.

A resposta parece convencê-la por um momento. Contudo, para Ava, já não bastava estar atordoada por não conseguir se lembrar de nada da sua vida, agora estava diante de um homem totalmente estranho, que diz ser seu noivo. Aquilo soa mais assustador do que imagina.

— O doutor supôs que você poderia não se recordar do que aconteceu — comenta Hector, tocando levemente a mão dela, aproveitando-se da situação vulnerável que ela enfrentava. — Então vim até aqui para ver se ao menos conseguiria se lembrar de mim — explica.

Sentindo-se incomodada com aquela proximidade, Ava tenta se afastar do toque, mas Hector a impede, segurando sua mão firmemente.

— O que foi Ava? Por acaso, não quer me sentir?

Constrangida com aquela situação, ela tenta se recompor.

— Me desculpe, mas eu não consigo me lembrar do senhor.

— Senhor? — indaga ele, fingindo-se ofendido. — Ava, estamos noivos e você me chama de senhor?

— Me desculpe, mas eu não me lembro de nada.

Por dentro, Hector Moreau se diverte com a confusão estampada no rosto de Ava, que era conhecida por ser uma mulher altiva. Claro que ela não o reconhecia — eles nunca foram próximos, que dirá noivos. Embora seus caminhos tenham se cruzado ocasionalmente em eventos corporativos, a relação entre eles era marcada por uma rivalidade intensa. Como CEOs de empresas concorrentes, estavam sempre em uma batalha acirrada por clientes e projetos milionários.

Ava mantinha uma grande vantagem sobre ele, pois era beneficiada pela empresa consolidada que herdou do pai. Contudo, Hector nunca se deu por vencido. Movido por uma incontrolável sede de poder e riqueza, planejava derrubar meticulosamente a empresa dela para se estabelecer como o líder indiscutível no setor imobiliário.

Vê-la tão vulnerável daquele jeito, o faz perceber a oportunidade perfeita de levar seus planos adiante.

— Do jeito que me olha como se eu fosse um estranho, acaba me ofendendo, Ava — continua Hector, fingindo-se magoado por ela não se lembrar dele.

— Sinto muito mesmo, mas não consigo me lembrar de nada — ela diz, claramente angustiada pela situação.

— Tudo bem — responde, num tom compreensivo. — Sei que para você deve estar sendo bem difícil, mas precisa entender que não é a única que está sofrendo aqui. O seu desprezo me entristece, querida — revela Hector, num tom manipulador.

Ao notar a expressão triste no rosto dele, Ava morde os lábios, confusa consigo mesmo. Sem entender como agir, corresponde ao aperto da mão dele e o olha nos olhos.

Estando tão próximo de Ava, ele nota que, — mesmo com os ferimentos e arranhões — Ava continua linda e atraente.

— Escuta, Hector — Ava começa, com uma voz suave e afetuosa. — Eu realmente não sei como lidar com você, ou até mesmo comigo mesma, para ser honesta. Mas… preciso te pedir paciência. Acabei de acordar para tudo isso e estou me sentindo muito confusa e assustada. Não quero te magoar, e apesar de você dizer que somos noivos, para mim, agora, você é um estranho.

— De acordo. Entendo seu ponto, contudo, mesmo sendo um estranho, deveria ser grata pelo que te fiz, afinal, se não fosse por mim, você estaria morta.

— Obrigada pelo que fez — diz ela, rapidamente. — Queria muito me lembrar do que aconteceu para ser grata o suficiente.

— Não importa — rebate Hector. — Só espero que se lembre disso, quando a sua memória retornar.

— Não me esquecerei — ela assegura.

Percebendo que ele está com um semblante bem sério, Ava começa a observar o quarto onde está.

— Por que não me levou para o hospital?

— Porque sou rico o suficiente para cuidar de você aqui.

A resposta dele soa um tanto arrogante, mas ela decide não questionar. Se tudo o que Hector diz é verdade, o fato de estar viva é um milagre e o cuidado que ele está tendo naquele momento demonstra o quanto a ama de verdade, mesmo que seus olham não demonstrem aquele sentimento.

— Obrigada pelo que está fazendo por mim. Quando minha memória voltar, não vou me esquecer de agradecê-lo corretamente.

— Perfeito — ele diz, concordando. — No momento, terei paciência com a sua amnésia e irei com calma.

Hector tenta retirar a sua mão para sair dali, mas Ava o segura com força.

— Quero muito me lembrar de você — ela murmura, transmitindo esperança.

O toque suave de Ava faz Hector sorrir. Tê-la ali, sob o seu domínio, abre grandes oportunidades para explorar diversos modos de como pode manipulá-la. Com um movimento rápido e firme, ele se inclina diante da cama, fazendo com que seu corpo se aproxime do dela, inesperadamente.

A sua reação deixa Ava paralisada, e quando ela tenta afastá-lo, Hector a puxa gentilmente pela cintura, trazendo-a para mais perto. Com os lábios próximos a seu ouvido, ele sussurra suavemente:

— Quem sabe um pouco de proximidade te ajude a trazer suas lembranças de volta…

O coração de Ava dispara e uma mistura de medo e confusão a envolve, fazendo com que suas pernas tremam sutilmente pela intensidade da proximidade.

— Talvez o calor dos nossos corpos desperte suas lembranças, querida — Hector prossegue, deixando o leve toque de seus lábios no pescoço dela.

Sua insinuação provoca um arrepio involuntário em Ava, que, apesar de sua amnésia, sente uma sensação totalmente nova e desconhecida, algo que ela tem certeza de nunca ter experimentado antes.

Surpresa com suas próprias reações e também um pouco desconfortável com o momento, ela tenta afastá-lo.

— Hector, você disse que iria com calma — ela declara, mas a sua voz falha miseravelmente.

— Sim, eu disse, mas quero te dar uma pequena amostra do que à espera, quando se recuperar.

Antes que Hector possa continuar com a sua provocação, a porta do quarto se abre bruscamente.

— Estou atrapalhando alguma coisa?

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