São contos ouvidos e vividos por um menino que ia sempre para debaixo de uma braúna conhecer os viajantes, vaqueiros, beatos, loucos e errantes do sertão pernambucano. Contos que mesclam desde de a fábula ao suspense, ao surreal à imaginação.
Ler maisO CÃO DE OLHOS DE FOGOOs raios cortavam o céu seguindo de um estrondo do trovão que ensurdecia. Uma tempestade se aproximava e trazendo com ela o escuro, a estrada parecia que encurtava, ficava estreita, perdia sua forma e os vagalumes iam sumindo prevendo a chuva que não tardaria em cair. Após algum tempo percorrendo a estrada os dois andantes observaram que adiante a estrada ficava mais estreita na parte mais alta por que uma carreira de avelóz fazia uma cerca viva de um lado e do outro, tornando o caminho mais escuro e silencioso. Não tinha outro jeito, era o único caminho, não dava mais para voltar por que o caminho de volta era maior e a chuva chegava rápido. Sentindo o cheiro da chuva e o vento forte, Antônio Gomes e o filho Lula seguiram em frente. Quando
O FORMIGUEIRO DOS ENTERRADOSA tarde anunciava seu termino, mas os dois caçadores ainda não tinham desistido de suas caças, parecia que as presas estavam para serem abatidas para fazerem parte de um almoço entre família, seriam fritas para fazer uma mistura com farinha matar a fome, como se faz com preá quando estes estão em abundância no sertão.Um perseguia uma juriti e o outro estava quase para abater uma rolinha azul. Cada um, certo de sua façanha pensavam em contar um para outro como foi esperto, mas contar com a vitória antes de concretizar o fato não era um modo de se vangloriar.Enquanto o pensamento tomava conta de suas mentes à juriti adejou e ganhou o céu, enquanto a rolinha azul fez o mesmo indo para outro lugar, pousando em um pé de mamona, como se ali fizessem morada, pois este lugar cheio de mis
O Vaqueiro e as Sombras do MedoEm seu primeiro dia de trabalho o vaqueiro Zé do Boi faz um esforço, usando de sua experiência, habilidade e agilidade para trazer toda a boiada para o curral em tempo, pois já começava a entardecer e seguindo as recomendações do capataz este seria o momento certo do gado está no curral para conferência.Após colocar todo gado no curral o vaqueiro Zé do Boi foi ao encontro do capataz e informou:- Senhor capataz o gado já se encontra no curral para o senhor conferir!O capataz sentado numa cadeira de balanço na área da casa ergue a aba de seu chapéu e fala:- Muito bem vaqueiro Zé, vamos lá!Os dois seguem para o curral e logo que chega o capataz começa a conferir se o gado está todo ou falta alguma rês. O capataz l
PEDRO LULA A tarde chegava ao fim, o vento começava a refrescar o dia quente, os pássaros começavam a chegar pousando ainda timidamente nos galhos da braúna. Ao longe se ouvia um barulho peculiar para quem era andarilho na região. Era de uma sanfona, mas a música ninguém podia identificar. O som indefinido se aproximava convidando curiosos e ouvintes que já sabiam quem era o tocador, quem não conhecia Pedro Lula, andarilho, considerado louco por andar esmolambado, despenteado e com apregatas desatadas batendo nos calcanhares tirando a poeira da terra seca do sertão. De longe dava para perceber a alegria
O VAQUEIRO E O CAVALO ALAZÃO O dia findara trazendo a mansidão da noite, no fim da estrada a poeira se levantava sendo revelada pelos últimos raios do sol escaldante do sertão. Quem podia ser que vinha velozmente aparentando aquela imagem de um grande Vaqueiro montando em seu cavalo vestindo sua calça de couro em seu gibão. Todos pararam seus afazeres para observar aquela miragem, até os pássaros cessaram seus cantos com se um encanto os tivesse dominado. O tempo de espera parecia estar preso à imagem do Vaqueiro que em sua demora os últimos raios do sol se foram em instantes revelando a grande sobra da braúna. O
O SUBVERSIVO Eu estava em cima da cancela olhando o belo sol da tarde e as poucas nuvens que apareciam no céu, tinha apenas nove anos, mas já conhecia muitas histórias do sertão. Debaixo da grande braúna já tinha alguns viajantes que conversavam entre si, não sabia se era sobre o jogo do Brasil que era o comentário nos últimos dias ou se era outra coisa, só sabia que o assunto era quase um segredo por que só ficava entre os homens adultos. Meu pai saiu da casa grande acompanhado de dois homens, um era Seu Rodrigo dono de sítio como meu pai, mas o outro era bem alinhado com roupas boas e diferentes das que o povo usa na região. A conversa era séria, pararam no meio do terreiro para acab
OS POMBOS E OS PARDAIS “Tudo aconteceu há muitos anos atrás, em toda terra, todo canto, no tempo em que alguns bichos começavam a sair das florestas e ir para as cidades... Os pombos, aves por razões de pureza, símbolo da paz, diversas cores, elegantes no andar, mas sem dotes para o canto, apenas serviam como antigos carteiros, o chamado pombo-correio, decidiram que, mesmo contra a natureza eles haveriam de se tornar grandes corretores e donos de imobiliárias. E para isto fundaram condomínios, prédios exclusivos nos grandes centros, onde ficavam nas praças e jardins usando de seu perfil elegante e peito estufado, fazendo promessas para dominar todos os pássaros que vinham à cidade.
O MATADOR Como acontecia sempre à boca da noite os viajantes chegavam a grande braúna, parecia tudo combinado. Todos faziam sua parada para o descanso e contar seus causos e estórias. A distância da cidade e da próxima fazenda deixava a fazenda do meio onde estava a grande braúna o lugar ideal para uma grande trégua ou uma noite de sono pesado, descasar e seguir no dia seguinte para suas missões e destinos. Era como se a grande braúna fosse o fim de uma história e o começo de outra. Um rapaz de chapéu de couro, bem alinhado, chega meio afoito entre a tarde e à noite, não dar boa tarde nem boa noite, começa a se ajeitar no tronco da braúna como se tivesse presa para dormir sair no dia seguinte.&nb
O JEEP ASSOMBRADO A cidadezinha ainda era pequena, tinha apenas duas ruas com casas umas de frente para a outra, de um lado você entrava e dou outro você saia, ou vice-versa. Todo mundo se conhecia, todos se cumprimentavam. Seu Antônio velho fazendeiro juntou muito dinheiro, tinha vontade de comprar um jeep, veículo de importância e poder na época. Não demorou muito e seu Antônio vendeu uns bois e comprou o jeep que tanto sonhava, andava para todo lado, acenava para um e para outro, era só alegria. O que seu Antônio não sabia era que o jipe também podia estragar e só o Zezinho da oficina poderia dar um jeito. Zezinho era o único q