A ENCHENTE
Quando ainda menino ouvia muitas histórias, era uma diversidade de contadores, cada um queria em suas misteriosas versões dar veracidade a sua narrativa e prender o ouvinte atento.
Neste início de noite me ajuntei aos viajantes debaixo da grande braúna só para ouvir uma destas estórias ou história dependendo de quem conte.
Nesta noite em especial fomos contemplados com uma das histórias do Velho. Quando ele contava suas histórias usando sua voz grave para dar mais vida a narrativa, gesticulava para dar braços e pernas para seus personagens, sempre nos prendiam deixando nossos pensamentos encucados. O Velho sempre sorrindo narrava sua história que convencia qualquer um.
- Me
JOÃO DOIDO E O FIM DO MUNDO O calor forte da tarde do sertão castigado pela seca já perdia sua força, o sol se aproximava do cume mais alto da serra da velha chica, a sombra da grande braúna já abrandava a alta temperatura em sua volta, alguns pássaros já voltavam para ocupar seu lugar cativo nos grandes galhos, tudo parecia caminhar para um fim do dia dos mais comuns naquela mesorregião sertaneja. Os viajantes de saída começavam a arrumar suas sacolas e malas para seguir seus caminhos incertos, os que decidiam ficar começavam a se arrumar em volta da grande braúna na beira da estrada em frente à casa da fazenda, casa esta que todos aguardavam a vinda de alguns alimentos para matar a fome de viajantes de todas as espécies
O BEATO TIAGO, FILHO DE ZÉ BEDEU. Era sempre de tardezinha que os viajantes chegavam a grande braúna, parecia que era combinado, mas não era. A distância da cidade e da próxima fazenda deixava a fazenda do meio e a grande braúna no lugar ideal para um grande descanso ou uma noite para dormir, descasar e seguir no dia seguinte para suas missões e destinos. Era como se a grande braúna fosse o fim de uma história e o começo de outra. As duas pontas da estrada terminavam em curvas, o lado direito da estrada a curva era para a esquerda e o lado esquerdo a curva era para a direita. A curva do lado esquerdo da estrada havia uma baixada que sempre que era anunciada a chegada de algum viajante seu corpo demorava a aparecer por inteiro muitas vezes causando medo os viajant
O JEEP ASSOMBRADO A cidadezinha ainda era pequena, tinha apenas duas ruas com casas umas de frente para a outra, de um lado você entrava e dou outro você saia, ou vice-versa. Todo mundo se conhecia, todos se cumprimentavam. Seu Antônio velho fazendeiro juntou muito dinheiro, tinha vontade de comprar um jeep, veículo de importância e poder na época. Não demorou muito e seu Antônio vendeu uns bois e comprou o jeep que tanto sonhava, andava para todo lado, acenava para um e para outro, era só alegria. O que seu Antônio não sabia era que o jipe também podia estragar e só o Zezinho da oficina poderia dar um jeito. Zezinho era o único q
O MATADOR Como acontecia sempre à boca da noite os viajantes chegavam a grande braúna, parecia tudo combinado. Todos faziam sua parada para o descanso e contar seus causos e estórias. A distância da cidade e da próxima fazenda deixava a fazenda do meio onde estava a grande braúna o lugar ideal para uma grande trégua ou uma noite de sono pesado, descasar e seguir no dia seguinte para suas missões e destinos. Era como se a grande braúna fosse o fim de uma história e o começo de outra. Um rapaz de chapéu de couro, bem alinhado, chega meio afoito entre a tarde e à noite, não dar boa tarde nem boa noite, começa a se ajeitar no tronco da braúna como se tivesse presa para dormir sair no dia seguinte.&nb
OS POMBOS E OS PARDAIS “Tudo aconteceu há muitos anos atrás, em toda terra, todo canto, no tempo em que alguns bichos começavam a sair das florestas e ir para as cidades... Os pombos, aves por razões de pureza, símbolo da paz, diversas cores, elegantes no andar, mas sem dotes para o canto, apenas serviam como antigos carteiros, o chamado pombo-correio, decidiram que, mesmo contra a natureza eles haveriam de se tornar grandes corretores e donos de imobiliárias. E para isto fundaram condomínios, prédios exclusivos nos grandes centros, onde ficavam nas praças e jardins usando de seu perfil elegante e peito estufado, fazendo promessas para dominar todos os pássaros que vinham à cidade.
O SUBVERSIVO Eu estava em cima da cancela olhando o belo sol da tarde e as poucas nuvens que apareciam no céu, tinha apenas nove anos, mas já conhecia muitas histórias do sertão. Debaixo da grande braúna já tinha alguns viajantes que conversavam entre si, não sabia se era sobre o jogo do Brasil que era o comentário nos últimos dias ou se era outra coisa, só sabia que o assunto era quase um segredo por que só ficava entre os homens adultos. Meu pai saiu da casa grande acompanhado de dois homens, um era Seu Rodrigo dono de sítio como meu pai, mas o outro era bem alinhado com roupas boas e diferentes das que o povo usa na região. A conversa era séria, pararam no meio do terreiro para acab
O VAQUEIRO E O CAVALO ALAZÃO O dia findara trazendo a mansidão da noite, no fim da estrada a poeira se levantava sendo revelada pelos últimos raios do sol escaldante do sertão. Quem podia ser que vinha velozmente aparentando aquela imagem de um grande Vaqueiro montando em seu cavalo vestindo sua calça de couro em seu gibão. Todos pararam seus afazeres para observar aquela miragem, até os pássaros cessaram seus cantos com se um encanto os tivesse dominado. O tempo de espera parecia estar preso à imagem do Vaqueiro que em sua demora os últimos raios do sol se foram em instantes revelando a grande sobra da braúna. O
PEDRO LULA A tarde chegava ao fim, o vento começava a refrescar o dia quente, os pássaros começavam a chegar pousando ainda timidamente nos galhos da braúna. Ao longe se ouvia um barulho peculiar para quem era andarilho na região. Era de uma sanfona, mas a música ninguém podia identificar. O som indefinido se aproximava convidando curiosos e ouvintes que já sabiam quem era o tocador, quem não conhecia Pedro Lula, andarilho, considerado louco por andar esmolambado, despenteado e com apregatas desatadas batendo nos calcanhares tirando a poeira da terra seca do sertão. De longe dava para perceber a alegria