KESIA MUNIZ — Chegamos. Pode descansar no hotel se quiser. Olhei para meu filho que estava em seu colo, acordado. Ele tinha um sorriso tão lindo no rosto. — Mamãe! O papai prometeu que quando chegar em casa, vou ganhar um cavalinho! — cantarolou alegre. Levantei e encarei o Fellipo séria. — Para de prometer coisas ao MEU filho. — Murmurei entre dentes. — Para de ser estraga prazer. Eu gosto do garoto, e vou dar tudo que me pedir. — Rebateu. Mordo a língua tentando não dar corda. — Depois conversamos. — Tomei o Angelo, saindo com ele. Uma fila de seguranças com roupas pretas estava perfeitamente alinhada ao lado da saída do avião. Engoli em seco e continuei. Fellipo passou na minha frente e abriu novamente a porta para entrarmos e nos acomodei. — Por que você e sua casa são mais vigiados que o BBB? — Sem conseguir conter minha curiosidade questionei. O ouvi se agitar desconfortável no banco traseiro do carro luxuoso. — Tenho inimigos. — Respondeu curto.
KESIA MUNIZ — Shi, você não quer que o menino acorde, não é? — Alegou. Olhei para meu pequeno que dormia cansado da viagem. Respirei fundo e me aconcheguei na cama, tendo certeza de estar afastada o máximo dele, o fato de a cama ser grande facilitava. Estava sendo impossível dormir. As ideias de como tentar tirar algo dele fluíam como rio na mente. — Precisamos conversar. Sobre algumas coisas... — Comecei insegura. Ele permaneceu em silêncio esperando eu prosseguir. Vamos lá Kesia seja esperta. — Primeiro, não se preocupe quanto a coisa que o Angelo inventou de chama-lo de pai. Vou conversar com ele amanhã mesmo. — Silêncio de novo. Será que dormiu mesmo? — Não. O garoto pode me chamar de pai. Foi a minha vez de ficar calada, achei que ele tivessepermitido só por pena, Angelo estava chorando ao fazer tal pedido. — E então. Era só isso? — Ele continuou, a voz rouca e baixa. Sexy de mais. — Quero propor uma trégua. Já que vou ter que ficar com você até meu proble
KESIA MUNIZ — Bruta. — Choramingou. — Está aqui as sapatilhas. Pedi para trazê-las com urgência. — Entregou uma caixa dourada e retangular. Sem cerimonia, abri a caixa e uma sapatilha delicada apareceu, tamanho 38. Que foi? Eu não sou uma Cinderela, no máximo uma Grizelda. A sapatilha era tão princesinha que quase desisto de usar, mas trato é trato, procuro sempre honrar minha palavra. Ele me ajudou a calçar. — Pronto. Você está linda. Simples como uma pombinha. — Sorriu largamente. Ouvimos a porta abrir. De repente, me senti tão nervosa, meu cérebro em branco e o coração a mil. Devagar, virei para vê-lo, vestido de smoking todo preto, sapatos de couro brilhante. — Você... — minha voz se perdeu, a raiva se esvaiu água a baixo. Ele está tão lindo. O cabelo molhado e penteado pra trás, barba aparada e bem feita. — Mamãe! — Angelo gritou correndo na minha direção — Ah que Deus grego. — Léo sussurrou no meu ouvido. Aliviada, peguei meu filho no colo. — Ai que
KESIA MUNIZ Contra minhas palavras, um nada me fez parar, puxando meu corpo de cima da mulher desacordada. Foi aí que percebi meu exagero. Mas ela chamou meu filho de mini mendingo, e eu não tenho sangue de barata. — Se recomponha Kesia! — Fellipo murmurou ameaçador no meu ouvido enquanto me puxava para fora do salão. Todos olhavam com espanto, e os homens da mesa que antes estávamos sentados, com reprovação. Mostrei o dedo do meio para eles, fazendo piorar as expressões. Foda-se esses malditos velhos. — Me solta. Cadê o Angelo? — perguntei me contorcendo para ele me soltar. Eu não o via em lugar nenhum. — Ele está seguro. — Respondeu apenas. — Onde? — apertou mais os braços em volta de mim, aproximou o rosto como se fosse me beijar. — Kesia, é bom você se comportar. Em casa vamos conversar. Não quero dar um show aqui, você já fez o bastante. — Fiquei calada por hora, o segundo round vai ser em casa. Chegando no quarto do hotel, Angelo dormia. Frances o trouxe em outro ca
FELLIPO MESSINA Nada do que planejei para essa viagem, deu certo. De início, quis mesmo matar o filho da puta do Olavo. Aquele pirralho me afrontou, sabia das ordens para não encostar nela. Ninguém pode mexer no que é do chefe. Lolita apareceu no pior momento, tive um caso com ela há alguns meses, não sou burro, sei que pode está me enganando, mais provável. Logo vou descobrir, e se for mentira, mandarei os dois pro buraco, nem minha mãe vai impedir. A LaPerolas ainda não sabe da existência da gravidez da minha prima, se souberem, ficaram loucos com a possibilidade de um herdeiro. Se o filho realmente for meu, o Concelho vai me obrigar a casar com a Lolita. Não queria, mas se acontecer, depois que a criança nascer, rapidamente ficarei viúvo e livre para casar com quem realmente quero. Assim que trouxe Kesia para Veneza comigo, fui no dia seguinte na sede e comuniquei ao Concelho, minha escolha para ocupar o cargo de Dama da Máfia assim como foi minha mãe. Na festa de
KESIA MUNIZ Me afastei sem dar as costas, para tê-lo em vista o tempo todo, algo que aprendi nos filmes: Nunca dê as costas ao seu inimigo. — Vamos lá filho. — Girei a chave na ignição. — Eba! Vamos. — Comemorou com pequenos gritinhos. Apertei o botão que fez o portão abrir. Enquanto o portão abria lentamente, Frances batia no vidro fechado do carro de forma desesperada. Gesticulando e gritando palavras que não pude ouvir. — Não estou ouvindo nada. Desculpe. — Gritei mesmo sabendo que ele não ouviria. Gargalhei e o Angelo sorriu comigo. Arranquei com o carro saindo da propriedade. Apertei o botão fazendo com que o portão se fechasse. Se não tiverem outro controle reserva, sinto muito. Liguei o GPS do carro e segui com responsabilidade para o shopping da cidade. Não foi tão difícil, já conhecia um pouco das ruas pelas vezes que saímos com Fellipo. O lugar era lindo e enorme. Entramos no estabelecimento indo primeiro na área de alimentação. Tomamos milkshake e
HUGO MUNIZ Depois que levei Tati, amiga da minha irmã, na casa dela quando o aniversário do meu sobrinho acabou, conversamos um pouco no caminho. A mulher era bem tímida e calada. Não aparentava ser tão tímida quando estava dançando de forma engraçada e eufórica com as crianças da festa. Mas mesmo assim, trocamos números e a deixei em casa. No dia seguinte chamei ela para sair, a mesma aceitou. Não sou o tipo de cara que é romântico. Não dou flores, nem bombons de chocolate e muito menos levo pro cinema. Mas, no primeiro encontro ela insistiu que fosse no cinema, foi exatamente isso que fizemos. “Você nunca verá homem mais gentil do que aquele que quer te comer.” Confesso que no início tudo que queria era uma foda. Ou duas, nada mais que isso. Prefiro pegar e não me apegar, mas é óbvio que eu sabia que algum dia haveria a mulher que iria me amarrar. Só não achei que fosse tão cedo. E que fosse ela. A gente não combinava em muita coisa, enquanto ela vivia sorrindo com
HUGO MUNIZ "Roger opinou. Não discordamos, e nem concordamos. Foi muito difícil convencer ela a fazer o teste, levou dias. Mas enfim, aceitou. — Vou fazer isso. Mas sei, que não é verdade. Eu só estou morrendo. — Esclareceu antes de entrar no banheiro batendo a porta na nossa cara. Os quatro ficamos grudados na parede, esperando agoniados pelo resultado. Demorou vários minutoas. Nem um som era ouvido. — Será que ela desmaiou? — Valentim perguntou. — Kesia! — Roger gritou impaciente. — Cala a boca caralho. — Meu pai o repreendeu. E pudemos ouvir um choro baixo. Era a resposta. Minha irmãzinha de estava grávida, de um estuprador. Quando saiu, estava seria e com o rosto limpo de qualquer choro. — Eu não vou tirar o bebê. Eu sei o que é ser machucada. Quando nascer, vou dar para alguém que queira. — Com certeza tinha ouvido nossa conversa e a sugestão de aborto vinda do Roger. As palavras dela afetaram a todos. — Filha. Você é uma criança. Não vai suportar levar outra na barriga. —