KESIA MUNIZ — Bruta. — Choramingou. — Está aqui as sapatilhas. Pedi para trazê-las com urgência. — Entregou uma caixa dourada e retangular. Sem cerimonia, abri a caixa e uma sapatilha delicada apareceu, tamanho 38. Que foi? Eu não sou uma Cinderela, no máximo uma Grizelda. A sapatilha era tão princesinha que quase desisto de usar, mas trato é trato, procuro sempre honrar minha palavra. Ele me ajudou a calçar. — Pronto. Você está linda. Simples como uma pombinha. — Sorriu largamente. Ouvimos a porta abrir. De repente, me senti tão nervosa, meu cérebro em branco e o coração a mil. Devagar, virei para vê-lo, vestido de smoking todo preto, sapatos de couro brilhante. — Você... — minha voz se perdeu, a raiva se esvaiu água a baixo. Ele está tão lindo. O cabelo molhado e penteado pra trás, barba aparada e bem feita. — Mamãe! — Angelo gritou correndo na minha direção — Ah que Deus grego. — Léo sussurrou no meu ouvido. Aliviada, peguei meu filho no colo. — Ai que
KESIA MUNIZ Contra minhas palavras, um nada me fez parar, puxando meu corpo de cima da mulher desacordada. Foi aí que percebi meu exagero. Mas ela chamou meu filho de mini mendingo, e eu não tenho sangue de barata. — Se recomponha Kesia! — Fellipo murmurou ameaçador no meu ouvido enquanto me puxava para fora do salão. Todos olhavam com espanto, e os homens da mesa que antes estávamos sentados, com reprovação. Mostrei o dedo do meio para eles, fazendo piorar as expressões. Foda-se esses malditos velhos. — Me solta. Cadê o Angelo? — perguntei me contorcendo para ele me soltar. Eu não o via em lugar nenhum. — Ele está seguro. — Respondeu apenas. — Onde? — apertou mais os braços em volta de mim, aproximou o rosto como se fosse me beijar. — Kesia, é bom você se comportar. Em casa vamos conversar. Não quero dar um show aqui, você já fez o bastante. — Fiquei calada por hora, o segundo round vai ser em casa. Chegando no quarto do hotel, Angelo dormia. Frances o trouxe em outro ca
FELLIPO MESSINA Nada do que planejei para essa viagem, deu certo. De início, quis mesmo matar o filho da puta do Olavo. Aquele pirralho me afrontou, sabia das ordens para não encostar nela. Ninguém pode mexer no que é do chefe. Lolita apareceu no pior momento, tive um caso com ela há alguns meses, não sou burro, sei que pode está me enganando, mais provável. Logo vou descobrir, e se for mentira, mandarei os dois pro buraco, nem minha mãe vai impedir. A LaPerolas ainda não sabe da existência da gravidez da minha prima, se souberem, ficaram loucos com a possibilidade de um herdeiro. Se o filho realmente for meu, o Concelho vai me obrigar a casar com a Lolita. Não queria, mas se acontecer, depois que a criança nascer, rapidamente ficarei viúvo e livre para casar com quem realmente quero. Assim que trouxe Kesia para Veneza comigo, fui no dia seguinte na sede e comuniquei ao Concelho, minha escolha para ocupar o cargo de Dama da Máfia assim como foi minha mãe. Na festa de
KESIA MUNIZ Me afastei sem dar as costas, para tê-lo em vista o tempo todo, algo que aprendi nos filmes: Nunca dê as costas ao seu inimigo. — Vamos lá filho. — Girei a chave na ignição. — Eba! Vamos. — Comemorou com pequenos gritinhos. Apertei o botão que fez o portão abrir. Enquanto o portão abria lentamente, Frances batia no vidro fechado do carro de forma desesperada. Gesticulando e gritando palavras que não pude ouvir. — Não estou ouvindo nada. Desculpe. — Gritei mesmo sabendo que ele não ouviria. Gargalhei e o Angelo sorriu comigo. Arranquei com o carro saindo da propriedade. Apertei o botão fazendo com que o portão se fechasse. Se não tiverem outro controle reserva, sinto muito. Liguei o GPS do carro e segui com responsabilidade para o shopping da cidade. Não foi tão difícil, já conhecia um pouco das ruas pelas vezes que saímos com Fellipo. O lugar era lindo e enorme. Entramos no estabelecimento indo primeiro na área de alimentação. Tomamos milkshake e
HUGO MUNIZ Depois que levei Tati, amiga da minha irmã, na casa dela quando o aniversário do meu sobrinho acabou, conversamos um pouco no caminho. A mulher era bem tímida e calada. Não aparentava ser tão tímida quando estava dançando de forma engraçada e eufórica com as crianças da festa. Mas mesmo assim, trocamos números e a deixei em casa. No dia seguinte chamei ela para sair, a mesma aceitou. Não sou o tipo de cara que é romântico. Não dou flores, nem bombons de chocolate e muito menos levo pro cinema. Mas, no primeiro encontro ela insistiu que fosse no cinema, foi exatamente isso que fizemos. “Você nunca verá homem mais gentil do que aquele que quer te comer.” Confesso que no início tudo que queria era uma foda. Ou duas, nada mais que isso. Prefiro pegar e não me apegar, mas é óbvio que eu sabia que algum dia haveria a mulher que iria me amarrar. Só não achei que fosse tão cedo. E que fosse ela. A gente não combinava em muita coisa, enquanto ela vivia sorrindo com
HUGO MUNIZ "Roger opinou. Não discordamos, e nem concordamos. Foi muito difícil convencer ela a fazer o teste, levou dias. Mas enfim, aceitou. — Vou fazer isso. Mas sei, que não é verdade. Eu só estou morrendo. — Esclareceu antes de entrar no banheiro batendo a porta na nossa cara. Os quatro ficamos grudados na parede, esperando agoniados pelo resultado. Demorou vários minutoas. Nem um som era ouvido. — Será que ela desmaiou? — Valentim perguntou. — Kesia! — Roger gritou impaciente. — Cala a boca caralho. — Meu pai o repreendeu. E pudemos ouvir um choro baixo. Era a resposta. Minha irmãzinha de estava grávida, de um estuprador. Quando saiu, estava seria e com o rosto limpo de qualquer choro. — Eu não vou tirar o bebê. Eu sei o que é ser machucada. Quando nascer, vou dar para alguém que queira. — Com certeza tinha ouvido nossa conversa e a sugestão de aborto vinda do Roger. As palavras dela afetaram a todos. — Filha. Você é uma criança. Não vai suportar levar outra na barriga. —
FELLIPO MESSINA Há um mês e meio ela está aqui. Tão perto de mim, mas ao mesmo tempo tão longe. Me aproximar é mais difícil do que pensei, ela vive me ignorando como se eu fosse um nada. Talvez eu seja realmente um nada para ela, isso tem que mudar, ela deve me amar! Nem que seja a força. Segunda, sai cedo de casa, mas antes passei no quarto dos dois que ainda dormiam. Sem fazer barulho algum, me aproximei. Kesia estava descoberta com as pernas de fora do edredom, minha camisa que sempre usava para dormir levantada mostrando metade da sua bunda alva em um contraste delicioso com a calcinha preta. Senti meu membro endurecer na hora. Minha vontade era de enfiar o pau no meio das suas coxas tão fartas e gostosas! Faze-la gozar enquanto gritava meu nome. Nada disso era possível, ainda, não passando de sonhos eróticos. E na noite seguinte tinha que sair de casa para buscar satisfação com outras pensando nela. As mãos coçaram pra lhe dar um tapa na região macia. Porém, apen
KESIA MUNIZ Abri os olhos devagar. Minha respiração saia com dificuldade. Me sentia fraca e incapaz de mover um dedo se quer. Tentei levantar, mas minha cabeça girou me obrigando a deitar na cama macia novamente. O que aconteceu? — Que bom que acordou. Fellipo. Olhei para o canto do quarto e ele estava sentado, pernas cruzadas e um cigarro pendendo dos lábios grossos. Fazia um tempo que não o via de perto, que nossos olhares se encontravam. Ficamos em silêncio, um estudando o outro. Podia sentir sua fúria daqui, os olhos cinzas escuros, com a pupila tão dilatada que quase tomava conta da íris inteira. — Veja no que sua teimosia resultou. Ao ouvir suas palavras duras, um lampejo de memória se acendeu na minha cabeça. Meu filho. O tiro. Um nó se formou na garganta. Meu coração afundou no peito. Meu filho. Levaram meu filho. Puxei com força os fios conectados ao meu pulso, ignorando a dor, afastei os lençóis que cobria minhas pernas. Estava vestida com aquelas camisola