Ariadne e os CEOs, O Beijo do Destino
Ariadne e os CEOs, O Beijo do Destino
Por: LynneFigueiredo
Sombras do Passado.

Prólogo:

Os ecos de uma promessa esquecida

O som de risos e música preenchia o ar, mas havia algo errado. Calysta sentia o calor das chamas da fogueira próxima, mas o brilho vibrante parecia mais sombrio, como se a luz lutasse contra sombras que rastejavam pelas margens do acampamento. As saias coloridas das mulheres ciganas dançavam ao vento, mas seus rostos estavam indistintos, como se a alegria fosse apenas um reflexo vazio.

Ela estava lá, com apenas 10 anos, observando tudo com olhos curiosos, mas uma sensação de desconforto a dominava. Algo estava prestes a acontecer. Ao seu lado, sua mãe, Rosa, ajustava o lenço em seu cabelo com mãos trêmulas. A voz da mãe parecia ecoar, distorcida:

— Você está linda, minha filha. Lembre-se de quem você é. Nunca esqueça. Nunca esqueça.

As palavras repetiam-se como um mantra, ficando cada vez mais rápidas e inaudíveis. Calysta olhou ao redor, mas a visão parecia turva, como um vidro coberto de névoa. Ela viu Mihai no centro da roda, um garoto de olhos intensos e profundos, segurando um pequeno anel prateado em suas mãos. Ele parecia sorrir, mas o sorriso estava errado, partido.

— Prometo protegê-la, sempre, — disse Mihai, mas sua voz era um sussurro carregado de dor. Ao colocar o anel no dedo de Calysta, ela sentiu um calor subir por seu braço, transformando-se em um ardor quase insuportável.

Subitamente, o som da música parou. Tudo congelou.

As sombras ao redor começaram a se mover. Homens saíram da escuridão com olhos vermelhos e rostos indistintos, portando armas que brilhavam à luz fraca. A fogueira aumentou repentinamente, iluminando os rostos aterrorizados das mulheres. Gritos perfuraram o silêncio, mas eles não pareciam vir de um lugar real, mais como ecos de um sonho fragmentado.

Tiros rasgaram o ar. Calysta tentou correr, mas seus pés estavam colados ao chão. Ela viu seu pai cair, um filete de sangue descendo por sua testa.

— Mihai! — gritou, sua voz saindo sufocada, como se um peso esmagasse seu peito.

Mihai estendeu a mão para ela, mas uma sombra gigantesca se ergueu entre os dois, separando-os. Calysta sentiu-se puxada para trás, e o mundo ao seu redor se desintegrou em escuridão.

No último momento, ela viu o rosto de Mihai transformando-se em algo monstruoso, um par de olhos negros como a noite a fitando, e então tudo ficou em silêncio.

O Despertar em Orlando

Ariadne acordou com um sobressalto, o corpo tremendo e o coração disparado. O quarto parecia pequeno e opressor, e o som de sua respiração ofegante preenchia o silêncio. Ela passou as mãos pelo rosto suado, tentando afastar a sensação de que algo a seguia, algo que ela não conseguia nomear.

O som do pesadelo ainda ecoava em sua cabeça: os gritos, os tiros, o olhar vazio de Mihai. Ela segurou o anel prateado que sempre usava pendurado em seu pescoço, o metal frio oferecendo um mínimo de conforto.

— Foi só um sonho. Foi só um sonho, — murmurou para si mesma, tentando controlar o tremor em sua voz.

Mas algo parecia diferente. As imagens estavam vívidas demais, reais demais. O cheiro de fumaça, o calor do fogo, o peso do anel em seu dedo no sonho... Tudo parecia tangível.

— Quem é você, Mihai? Por que eu sinto que já te conheço? — perguntou baixinho, olhando para o anel.

Antes que pudesse processar, a voz rude de dona Rute, a mulher que a acolhera, cortou o silêncio:

— Ariadne! Quantas vezes vou ter que te chamar? Vai ficar dormindo o dia todo ou vai trabalhar de verdade?

Ariadne engoliu em seco, sentindo a raiva e a humilhação subirem como uma onda, mas abafou-as antes que transbordassem. Ela se levantou rapidamente, pegou o pente na penteadeira, prendeu os cabelos em um rabo de cavalo e saiu do quarto, deixando para trás o pouco de si que ainda queria respostas.

Na cozinha, dona Rute a esperava com os braços cruzados, um olhar de desgosto estampado em seu rosto.

— Você está aqui porque sua mãe me implorou. Não vou tolerar preguiça. Mexa-se, menina, e lave essa louça!

Ariadne não respondeu, apenas abaixou a cabeça e foi até a pia. Enquanto lavava os pratos, flashes do sonho continuavam a atormentá-la. O rosto de Mihai, o toque do anel, os tiros, o fogo. Ela esfregava os pratos com força, tentando afastar as memórias, mas elas vinham como ondas, cada vez mais fortes.

Mais tarde, sozinha no quarto, ela segurou o anel prateado com firmeza, sentindo um calor inexplicável em sua palma.

— O que está acontecendo comigo? — sussurrou para o vazio.

Seus olhos se encheram de lágrimas, mas ela as segurou. Não tinha tempo para fraquezas. Não ali. Não naquela casa onde tudo parecia hostil.

Lá fora, a noite avançava. O vento soprava contra a janela, e Ariadne fechou os olhos, tentando encontrar algum consolo no silêncio que desde muito tempo se tornara seu único aliado. Mas, mesmo com o mundo quieto, o pesadelo continuava a viver dentro dela, como um eco de algo maior, algo que ela ainda não entendia, mas que sabia ser impossível de evitar.

Entre o sonho de rever seus pais e irmãos, ajudar sua família e libertar-se da dor que carregava, havia a certeza de que o passado nunca a deixaria em paz. O silêncio era cruel, mas necessário.

Horas depois, quando tudo parecia finalmente calmo, Ariadne sentiu algo estranho. Uma brisa fria passou pelo quarto, como se uma janela tivesse sido aberta. Ela olhou ao redor, mas tudo parecia no lugar. Exceto pelo anel. Ele parecia brilhar levemente na penumbra, como se contivesse uma vida própria.

— Não é possível... — sussurrou, assustada.

Um impulso a fez tentar colocá-lo no dedo, mas o anel, pequeno demais, não passou da ponta. Com um suspiro, ela segurou-o firmemente na palma da mão. No instante em que o metal tocou sua pele, uma sensação de calor percorreu seu corpo, como no sonho. O rosto de Mihai surgiu em sua mente com clareza perturbadora, junto com uma frase que ecoava como um chamado distante:

— Prometo protegê-la, sempre.

Ariadne guardou o anel rapidamente, mas a sensação persistia. Seus pensamentos giravam, e a inquietação crescia. Algo estava mudando. E, embora ela não soubesse ao certo o que era, sabia que não estava sozinha.

Do lado de fora, a lua cheia iluminava o céu, e um par de olhos negros a observava da escuridão.

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