CAPÍTULO 3
Reunião dos Anciãos. A Decisão pela União O vento noturno soprava suavemente entre as árvores ao redor da clareira onde os anciãos das tribos Sinti e Romani Calon estavam reunidos. A atmosfera era solene, carregada pelo peso da responsabilidade que traziam consigo. Sentados em um círculo em torno de uma fogueira central, os líderes e anciãos discutiam o futuro dos seus povos. Dragomir, o Barô dos Sinti, levantou-se primeiro. Sua presença era imponente, e sua voz grave reverberava entre os presentes. — Nossas tribos enfrentaram tempos de escuridão. As invasões, as perdas, a separação de nossas famílias... Muitos de nós ainda carregam as cicatrizes desses dias. Mas hoje, temos uma chance de mudar isso. A união de Mihai, meu filho, com Calysta, a estrela dos Romani Calon, pode marcar o início de uma nova era para todos nós. Diana, a anciã dos Romani Calon, respondeu com um tom sereno, mas firme: — Concordo, Dragomir. Calysta é especial. Desde seu nascimento, os sinais mostraram que ela está destinada a algo maior. Seus dons já começaram a se manifestar. Mas ela ainda é uma criança. Esta decisão não deve ser tomada de forma leviana. Rosa, a mãe de Calysta, grávida e visivelmente preocupada, interrompeu com um tom de angústia: — Minha filha carrega uma responsabilidade enorme para alguém tão jovem. Ela não entende o peso disso. Como podemos forçá-la a esse destino? Livia, a esposa de Dragomir e mãe de Mihai, respondeu com uma expressão serena: — Nenhum de nós escolheu nossos destinos, Rosa. Eu também fui prometida a Dragomir quando era jovem. No início, parecia injusto, mas, ao longo dos anos, percebi que essa união foi uma bênção, não apenas para nós, mas para toda a nossa tribo. Nossos filhos compreenderão isso com o tempo. Joaquim, pai de Calysta, olhou para Dragomir, os olhos carregados de preocupação. — Você fala de força e sobrevivência, Dragomir. Mas estamos falando de crianças. Como podemos garantir que essa união será uma bênção e não um fardo? Dragomir respirou fundo antes de responder. — Porque é mais do que eles, Joaquim. É sobre o futuro das nossas tribos. Mihai carrega o legado dos Sinti. Seu dom de persuasão e sua habilidade de conectar-se aos elementos são únicos, mas ele precisa de alguém que equilibre sua força. Calysta é essa pessoa. Seu dom de clarividência e sua conexão espiritual são essenciais para formar uma nova linhagem, mais forte e sábia. Diana apoiou as palavras de Dragomir. — A aliança entre Sinti e Romani Calon é necessária para nossa sobrevivência. Esta união trará filhos que herdarão os melhores dons de ambas as linhagens. Eles serão líderes que poderão proteger nossas tradições e nos guiar em tempos difíceis. Rosa, ainda inquieta, olhou para Joaquim em busca de apoio. Ele segurou sua mão e disse: — Eu também temo pelo futuro de nossa filha. Mas, Rosa, se esta é a vontade dos nossos ancestrais, se esta união realmente pode fortalecer nossas tribos e proteger nossos descendentes, talvez devamos confiar. Livia se aproximou de Rosa, colocando uma mão reconfortante sobre seu ombro. — Eu entendo seu medo, Rosa. Mas pense nisso como uma forma de garantir que nossas crianças não precisem passar pelas mesmas lutas que enfrentamos. Com o tempo, elas aprenderão a amar e respeitar essa união. Rosa, com lágrimas nos olhos, assentiu. — Por Calysta... eu aceito. Mas prometo que farei tudo o que puder para que ela entenda e aceite isso com o coração. Dragomir olhou ao redor, esperando por alguma objeção final. Quando ninguém se pronunciou, ele declarou com firmeza: — Então está decidido. A união de Mihai e Calysta será formalizada em um noivado dentro de três dias. Que nossos ancestrais abençoem este compromisso e fortaleçam nossas tribos. Diana, com um sorriso sereno, completou: — Que a luz das estrelas e a força da terra guiem vossos filhos neste caminho. A fogueira crepitava mais intensamente, como se confirmando a decisão. As tribos agora estavam comprometidas, e os pais de Mihai e Calysta, embora ainda preocupados, começaram a aceitar o peso e a importância dessa união para o futuro de seus povos. A Conversa com Mihai No acampamento Sinti, Dragomir chamou Mihai para dentro da tenda principal, onde Livia aguardava com uma expressão serena, mas séria. O garoto de 12 anos, já acostumado com o peso de sua linhagem, entrou desconfiado, sentindo a gravidade da situação no ar. — Pai, o que está acontecendo? — perguntou Mihai, cruzando os braços, olhando de um para o outro. Dragomir suspirou, colocando a mão no ombro do filho. — Mihai, você sabe que, como filho de um Barô, tem responsabilidades maiores do que outros meninos da sua idade. Esta noite, os anciãos decidiram que o momento chegou para uma aliança importante. Em três dias, você será formalmente prometido a Calysta, da tribo Romani Calon. Mihai arregalou os olhos, sua mente de garoto girando para entender o peso das palavras. — Prometido? Ela... é aquela garota com olhos azuis que dança com o vento? Livia sorriu suavemente. — Sim, Mihai. Ela é especial, assim como você. Juntos, vocês têm o potencial de criar uma nova linhagem que será mais forte e poderosa do que qualquer outra. Essa união não é apenas para vocês dois, mas para o futuro de nossos povos. Mihai hesitou, sentindo o peso da responsabilidade. — E se eu não for bom o suficiente? E se ela não gostar de mim? Dragomir ajoelhou-se para ficar à altura do filho. — Você é mais do que bom o suficiente, meu filho. Você nasceu para liderar. Essa união será o início de algo grandioso. Acredite em si mesmo. E lembre-se: esta aliança é um dever, mas também uma oportunidade de encontrar algo maior que nós dois.CAPÍTULO 4Os Preparativos para o Noivado e o Início da FugaA Conversa com CalystaNa tenda dos Romani Calon, Rosa e Joaquim sentaram-se ao lado de Calysta, que brincava com bonecos de madeira ao lado de Helena. Rosa acariciou os cabelos negros da filha e suspirou antes de falar.— Calysta, precisamos conversar.A menina largou os bonecos e olhou para os pais com curiosidade.— O que foi, mãe? Você parece preocupada.Joaquim pegou as pequenas mãos de Calysta.— Minha estrela, você sabe que é especial, não sabe? Que nasceu com dons únicos. Esta noite, os anciãos decidiram que você será prometida a Mihai, da tribo Sinti. Em três dias, haverá uma cerimônia para selar essa aliança.Os olhos de Calysta se encheram de confusão.— Prometida? Mas eu nem conheço ele direito! Ele não é aquele menino que fica sério o tempo todo?Rosa sorriu, tentando aliviar a tensão.— Sim, ele é sério. Mas é porque ele também carrega muitas responsabilidades, como você. Calysta, essa união não é apenas sobre
CAPÍTULO 5Nos vemos no futuro.Calysta e Mihai foram levados ao centro do círculo formado pelos convidados. Ela segurava um pequeno buquê de flores silvestres, enquanto ele carregava o anel prateado que simbolizaria sua promessa.Diana, a anciã dos Romani Calon, ergueu as mãos para silenciar a multidão.— Esta noite, celebramos não apenas a união de duas almas, mas também de duas linhagens que foram separadas pelo destino e agora se encontram novamente. Que Calysta e Mihai sejam o símbolo de força e esperança para todos nós.A multidão aplaudiu, enquanto Mihai se aproximava de Calysta com uma postura confiante. Ele segurou sua mão delicadamente, seus olhos escuros fixos nos dela.— Calysta, eu prometo estar ao seu lado, protegê-la e honrar este compromisso. Hoje, damos início a um novo caminho juntos.Ele deslizou o anel no dedo dela, enquanto Calysta, ainda tímida, sorriu e balançou a cabeça, sem saber ao certo o que dizer.— Eu prometo... fazer o meu melhor, — respondeu, arrancando
CAPÍTULO 6Uma Nova Vida para Esconder a Velha HistóriaA família Santouro, de Mihai, chegou aos Estados Unidos em uma madrugada silenciosa, depois de semanas de fuga, medo e dor. A pequena cidade de Pine Valley, cercada por colinas e florestas densas, parecia o refúgio perfeito para recomeçar. Era um lugar longe do passado, onde ninguém fazia perguntas e as pessoas viviam suas vidas em tranquilidade, sem imaginar o peso que aquela família trazia nos ombros.Dragomir, Livia e os três filhos estavam exaustos, mas sabiam que não podiam se permitir fraquejar. Mihai, com seus 12 anos, olhava para as irmãs mais novas, Amara, de 10 anos, e Liliana, de 8 anos, enquanto elas dormiam encostadas uma na outra na pequena cabana que haviam conseguido alugar.— Eles não nos encontrarão aqui, Dragomir? — sussurrou Livia, sentada ao lado do filho, com os olhos fixos na janela. — Mas precisamos mudar. Nossa vida cigana precisa ficar no passado, pelo menos por agora.Mihai olhou para a mãe, sentindo a
CAPÍTULO 7.Um Refúgio na Estrada do Desespero.A poeira da estrada no Brasil, na cidade de Santa Clara, subia sob os passos cansados da família de Joaquim. Ele caminhava à frente, a expressão dura, mas determinada, enquanto segurava a mão de sua filha mais velha, Calysta, de 10 anos. Rosa, com o ventre pesado pela gravidez, caminhava lentamente ao lado deles, com Helena, de 8 anos, segurando sua mão. A pequena família havia deixado tudo para trás, fugindo de um massacre que ainda lhes assombrava os sonhos.O sol abrasador parecia zombar de sua fraqueza, e o único som era o farfalhar do vento e o choro contido de Helena, que mal compreendia o motivo de tanto sofrimento.— Papai, estamos chegando? — perguntou Calysta, tentando esconder o cansaço em sua voz.Joaquim olhou para a filha e sorriu com dificuldade.— Logo, minha estrela. Vamos encontrar um lugar. Prometo.Foi então que o som de rodas e cascos chamou a atenção da família. Um carroça carregada de feno se aproximava pela estrad
Capítulo: 8 Uma Proposta Inesperada A manhã em Santa Clara estava serena, com o sol dourado iluminando os vastos campos da fazenda de Antônio, um fazendeiro respeitado na região. O vento soprava suave entre as plantações, carregando consigo o cheiro de terra molhada e flores silvestres. No casarão principal, Antônio, um homem robusto de chapéu de palha e olhar severo, observava a chegada de uma charrete elegante. Dentro dela, estavam Sr. Eduardo e Dona Clarissa, um casal rico vindo de Orlando. Eles eram velhos amigos de Antônio, parceiros de negócios que sempre que podiam, visitavam Santa Clara. — Antônio! — chamou Eduardo, descendo com cuidado da charrete. — Como está, meu velho amigo? — Ora, ora, que boa surpresa! — respondeu Antônio, com um sorriso contido, apertando a mão de Eduardo. — Entrem, vamos conversar na varanda. Dona Clarissa, sempre elegante! A mulher sorriu, ajeitando o chapéu de abas largas enquanto descia da charrete. — Que lugar lindo, Antônio! É sempre um praz
Capítulo: 9 Uma Decisão DolorosaO pôr do sol tingia o céu de tons alaranjados quando Rosa e Joaquim finalmente puderam sentar-se no pequeno banco de madeira na varanda de casa. A brisa suave soprava entre as árvores, trazendo consigo o aroma da terra úmida e o som distante dos grilos.Rosa segurava um pano entre os dedos, torcendo-o de maneira nervosa. Joaquim, sentado ao seu lado, olhava para o horizonte, com os ombros caídos e o semblante carregado de preocupação.— Joaquim... — começou Rosa, com a voz baixa, quase um sussurro. — Eu não me sinto em paz com isso. Meu coração... ele está apertado, como se algo estivesse errado.Joaquim suspirou, passando a mão pelo rosto cansado.— Rosa, minha querida... Eu entendo você. A Ariadne é nossa menina, nosso bem mais precioso. Mas olha ao nosso redor. Essa terra mal tem nos dado o suficiente para comer, quem dirá para dar um futuro para Helena e João.Ele fez uma pausa, olhando diretamente nos olhos marejados da esposa.— Nós temos dois f
Capítulo 10: Um Novo Mundo, Um Novo DestinoA manhã estava coberta por uma fina neblina quando Ariadne terminou de arrumar sua pequena mala. Dentro dela, cabiam poucas roupas simples, uma fotografia da família e um lenço bordado à mão por Rosa. Seus cabelos brancos, sempre um reflexo de sua fragilidade física, estavam presos em uma trança delicada que sua mãe havia feito naquela madrugada.Do lado de fora da casa, Joaquim e Rosa estavam parados, com os olhos marejados, segurando as mãos um do outro. Helena e João, seus irmãos, abraçavam Ariadne com força, como se o gesto pudesse impedir sua partida.— Minha filha, — disse Rosa, com a voz trêmula. — Cuide-se. Seja forte. E nunca, nunca se esqueça de quem você é.— Vou deixar vocês orgulhosos, mãe. Prometo. — respondeu Ariadne, com lágrimas nos olhos, mas com um sorriso suave nos lábios.Joaquim aproximou-se e colocou uma pequena correntinha de prata no pescoço da filha.— Essa corrente era da minha mãe. Ela sempre dizia que trazia pr
Capítulo 11: As Sombras da Casa GrandeO relógio marcava 4h45 da manhã quando Eduardo levantou-se suavemente da cama, para não acordar Clarissa. Vestiu-se com cuidado, ajeitou a gravata diante do espelho e saiu do quarto com passos leves. A rotina era sempre a mesma: antes de sair para o trabalho, ele passava no quarto de Ariadne.A porta rangeu baixinho quando ele entrou no pequeno cômodo onde a jovem dormia profundamente. Seus cabelos brancos estavam espalhados sobre o travesseiro, iluminados pela luz tímida do abajur. Eduardo aproximou-se devagar, tocou suavemente sua testa com os lábios e sussurrou:— Tenha um bom dia, minha filha. Fique com Deus.Ariadne abriu os olhos por um instante, sorrindo suavemente antes de voltar a fechar.Eduardo saiu, fechando a porta com cuidado, e deixou a casa. Assim que o som da porta da frente batendo ecoou pela casa, o silêncio foi cortado bruscamente pelo barulho de outro quarto se abrindo. Clarissa surgiu no corredor, vestida com um robe de sed