Renascimento no Exílio.

CAPÍTULO 6

Uma Nova Vida para Esconder a Velha História

A família Santouro, de Mihai, chegou aos Estados Unidos em uma madrugada silenciosa, depois de semanas de fuga, medo e dor. A pequena cidade de Pine Valley, cercada por colinas e florestas densas, parecia o refúgio perfeito para recomeçar. Era um lugar longe do passado, onde ninguém fazia perguntas e as pessoas viviam suas vidas em tranquilidade, sem imaginar o peso que aquela família trazia nos ombros.

Dragomir, Livia e os três filhos estavam exaustos, mas sabiam que não podiam se permitir fraquejar. Mihai, com seus 12 anos, olhava para as irmãs mais novas, Amara, de 10 anos, e Liliana, de 8 anos, enquanto elas dormiam encostadas uma na outra na pequena cabana que haviam conseguido alugar.

— Eles não nos encontrarão aqui, Dragomir? — sussurrou Livia, sentada ao lado do filho, com os olhos fixos na janela. — Mas precisamos mudar. Nossa vida cigana precisa ficar no passado, pelo menos por agora.

Mihai olhou para a mãe, sentindo a gravidade das palavras. Ele sabia que esconder quem eram seria como enterrar uma parte de suas almas, mas também entendia que a sobrevivência vinha em primeiro lugar.

— E o que faremos, mãe? Como vamos nos adaptar?

Dragomir entrou no pequeno quarto, interrompendo a conversa. Seu rosto estava cansado, mas determinado.

— Primeiro, precisamos de nomes novos, — disse ele. — Aqui não somos Dragomir, Livia, Mihai, Amara e Liliana. Somos Michael, Lisa, Marco, Amy e Lily. Precisamos esquecer o que éramos e fingir que somos apenas mais uma família comum.

Nos dias que se seguiram, a família começou a se estabelecer. Dragomir, agora "Michael", conseguiu trabalho em uma serraria local, um trabalho exaustivo, mas que garantia o sustento. Livia, ou "Lisa", dedicava-se a criar as crianças e a ensinar-lhes como se misturar naquele novo mundo.

Amara e Liliana, agora Amy e Lily, rapidamente se adaptaram à nova realidade, fascinadas com as crianças locais e a escola onde foram matriculadas. Marco, porém, sentia o peso da responsabilidade como o mais velho. Ele entendia que precisava proteger as irmãs e ajudar os pais a manterem o segredo de suas origens.

— Marco, você precisa tomar cuidado, — alertava Michael sempre que o via observando o céu à noite, lembrando-se das tradições ciganas. — Não podemos ser descobertos. Se alguém souber quem somos, estaremos em perigo novamente.

Apesar das dificuldades, a família começou a construir uma rotina. Aos poucos, Marco começou a criar uma nova identidade para si mesmo, escondendo os traços de sua herança cigana. Mas, em seu coração, ele ainda sentia saudade do acampamento, das danças ao redor da fogueira, e principalmente de Calysta.

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Amara e Liliana: Laços de Irmandade

Amara, de 10 anos, era uma menina curiosa e determinada. Mesmo com o trauma da fuga, ela conseguia encontrar pequenos momentos de alegria no cotidiano.

— Marco, venha brincar comigo e Lily, — dizia ela, sempre tentando trazer leveza para os dias difíceis.

Liliana, por outro lado, era mais tímida e introspectiva. Com apenas 8 anos, ela tinha dificuldade em compreender completamente o que havia acontecido com sua tribo.

— Marco, por que não podemos voltar para casa? — perguntou Liliana certa noite, enquanto ele a ajudava com os deveres escolares.

Marco segurou a pequena mão da irmã e respondeu com suavidade:

— Porque essa é a nossa casa agora, Lily. Mas não se preocupe. Papai e mamãe estão aqui, e eu também. Vamos ficar bem.

As palavras eram ditas para tranquilizá-la, mas também para convencer a si mesmo. Ele sabia que precisaria lutar todos os dias para manter essa nova vida, mesmo que isso significasse esquecer partes de si mesmo.

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Escondendo as Raízes Ciganas

Livia, com sua sabedoria e força, começou a ensinar os filhos a adaptar suas tradições sem atrair atenção.

— Podemos dançar, mas só em casa. Podemos falar nossa língua, mas apenas entre nós. E os dons... nunca deixem que ninguém veja.

Os dons. Marco sabia exatamente do que ela falava. Sua habilidade de persuadir e manipular energias era algo que ele mal compreendia, mas sabia que o tornava diferente. Amara começava a mostrar sinais de sensibilidade espiritual, enquanto Liliana era capaz de sentir as intenções das pessoas com uma facilidade assustadora.

— E se alguém descobrir, mãe? — perguntou Amara, certa vez, após uma noite de brincadeiras.

— Então teremos que correr novamente, Amy, — respondeu Livia, com um olhar sério. — Por isso, não podemos falhar.

Apesar de todas as tentativas de seguir em frente, a dor do passado era um fantasma constante. Marco passava noites em silêncio, olhando para as estrelas, enquanto Livia segurava as lágrimas enquanto costurava roupas para os filhos.

Marco sentia o peso de proteger as irmãs e de se tornar o homem que seu pai esperava que ele fosse.

— Marco, você tem uma missão, — disse Michael certa noite, enquanto caminhavam pela floresta. — Um dia, voltaremos a ser quem somos. Você será um líder, como eu, e nossas tradições viverão através de você. Mas, até lá, precisamos sobreviver.

Marco assentiu, sentindo um misto de orgulho e responsabilidade. Ele sabia que aquela nova vida era temporária, mas não sabia quanto tempo duraria.

Enquanto isso, Amara e Liliana encontraram consolo nos pequenos momentos de alegria que ainda podiam compartilhar, e Livia e Michael continuavam a carregar o fardo de manter a família segura.

A cada dia, a família Santouro se adaptava mais à vida em Pine Valley, mas nunca esquecia quem realmente eram. As tradições ciganas estavam escondidas, mas vivas em seus corações, esperando o momento certo para renascer.

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