Capítulo 13: Mentiras e Manipulação O cheiro de café fresco preenchia a cozinha enquanto Eduardo terminava seu café da manhã calmamente, revisando algumas mensagens no celular. Clarissa, sentada à sua frente, mexia distraidamente na xícara com a colher, seus olhos fixos em algum ponto distante.— Amor… — começou ela, com a voz doce, mas carregada de falsa preocupação. — Acho que Ariadne não está bem. Ela estava pálida hoje cedo, parecia desconfortável. Acho que está com cólica ou talvez vai menstruar pela primeira vez.Eduardo levantou os olhos, franzindo a testa com preocupação.— Sério, Clarissa? Coitada da menina… Quer que eu vá falar com ela? Talvez eu possa perguntar se ela precisa de algo.— Não, não! — interrompeu Clarissa apressadamente, colocando a mão sobre a de Eduardo. — Isso é coisa de mulher, amor. Deixa que eu cuido dela. Só… faz um favor para mim? Pode ir até a farmácia comprar absorventes e remédio para cólica? Por favor?Eduardo assentiu rapidamente.— Claro, amor.
Capítulo 14: O Dia Mais Triste da Minha VidaA noite estava calma na casa de Eduardo e Clarissa. O relógio marcava 11 horas no Brasil, algo em torno das 21 horas nos Estados Unidos. O telefone tocou, ecoando pelo silêncio. Eduardo atendeu ao ver o nome de Antônio na tela.— Boa noite, Antônio! Tudo bem por aí? — perguntou Eduardo, tentando soar animado.— Boa noite, Eduardo! Como estão as coisas? E nossa querida Ariadne, como está se saindo?Eduardo hesitou por um momento. Ele sabia que Ariadne não estava bem, que não conhecia nada da cidade e que sua rotina estava longe de ser feliz. Mas ele não queria preocupar Antônio nem a família dela.— Ela está bem, Antônio. Está se adaptando, já conhece algumas partes da cidade e começou a aprender inglês. Ela é uma menina esforçada.Antônio sorriu do outro lado da linha.— Fico muito feliz em ouvir isso. Joaquim e Rosa vão ficar mais tranquilos quando souberem. E, aliás, liguei por outro motivo: amanhã é o aniversário de Ariadne. Nós queríam
Capítulo 15: Sobrevivendo às SombrasAs luzes brilhantes de Orlando nunca pareceram tão frias quanto nas últimas oito semanas para Ariadne. Aos 16 anos, a jovem caminhava pelas ruas, arrastando os pés descalços e carregando apenas uma pequena sacola com algumas roupas desgastadas. Seus cabelos brancos, que já chamavam atenção antes, agora estavam sujos e embaraçados, destacando ainda mais sua figura frágil e abatida.Os primeiros dias foram os mais difíceis. Ariadne procurava restos de comida em lixeiras atrás de restaurantes, enfrentando o olhar de desprezo das pessoas que cruzavam seu caminho. Quando a fome apertava demais, ela tentava pedir esmolas, mas poucos paravam para ouvi-la. O frio das madrugadas castigava seu corpo fraco, obrigando-a a se encolher sob caixas de papelão ou procurar abrigo em becos sujos e úmidos.— Por favor… só um pedaço de pão… — murmurava ela, com a voz quase sumindo, enquanto estendia a mão para desconhecidos que passavam apressados.A noite era o pior
Prólogo: Os ecos de uma promessa esquecidaO som de risos e música preenchia o ar, mas havia algo errado. Calysta sentia o calor das chamas da fogueira próxima, mas o brilho vibrante parecia mais sombrio, como se a luz lutasse contra sombras que rastejavam pelas margens do acampamento. As saias coloridas das mulheres ciganas dançavam ao vento, mas seus rostos estavam indistintos, como se a alegria fosse apenas um reflexo vazio.Ela estava lá, com apenas 10 anos, observando tudo com olhos curiosos, mas uma sensação de desconforto a dominava. Algo estava prestes a acontecer. Ao seu lado, sua mãe, Rosa, ajustava o lenço em seu cabelo com mãos trêmulas. A voz da mãe parecia ecoar, distorcida:— Você está linda, minha filha. Lembre-se de quem você é. Nunca esqueça. Nunca esqueça.As palavras repetiam-se como um mantra, ficando cada vez mais rápidas e inaudíveis. Calysta olhou ao redor, mas a visão parecia turva, como um vidro coberto de névoa. Ela viu Mihai no centro da roda, um garoto de
CAPÍTULO 1O Nascimento de uma EstrelaA noite estava silenciosa na pequena aldeia cigana, com o luar iluminando as tendas espalhadas pelo campo. Dentro da maior tenda, o som de gemidos e respirações ofegantes rompia o silêncio. A anciã Diana, a parteira da aldeia, trabalhava com habilidade e paciência. Do lado de fora, Joaquim andava de um lado para o outro, ansioso e cheio de nervosismo, tentando ouvir qualquer palavra que indicasse o desfecho do parto de sua esposa, Rosa.— Calma, Joaquim! — chamou um dos amigos da aldeia, tentando tranquilizá-lo. — A anciã está lá dentro. Ela nunca erra.— Mas e se algo acontecer? — Joaquim respondeu, inquieto, passando a mão pelos cabelos desgrenhados. — Eu não posso perder Rosa. E a criança… e se ela não resistir?Dentro da tenda, Rosa gritava de dor. A cada contração, ela agarrava os lençóis finos que cobriam o chão.— Respire, menina, respire! — orientava Diana, com a voz firme, mas acolhedora. — Está quase. Seu corpo sabe o que fazer. Confie
Capítulo 2 O Despertar de CalystaA noite caiu sobre a aldeia com a serenidade típica das terras ciganas. O ar estava fresco, perfumado pelas ervas que cresciam ao redor das tendas. Na maior delas, Calysta dançava ao som de uma melodia tocada por seu pai, Joaquim. Seus pés deslizavam suavemente sobre o chão de terra batida, enquanto sua saia colorida rodopiava ao seu redor. Seus movimentos eram precisos, como se o ritmo fluísse naturalmente em suas veias.— Ela nasceu para dançar, Rosa, — disse Joaquim, orgulhoso, observando a filha de longe. — Veja como ela se conecta com a música. É como se a alma dela estivesse no ar junto com o som.Rosa, sentada ao lado dele, sorria, mas seu olhar estava atento. Ela sabia que Calysta era especial, que havia algo além de sua beleza e talento natural.Do lado de fora, a anciã Diana observava em silêncio. Seu olhar era penetrante, quase como se pudesse enxergar dentro da alma da jovem. Nos últimos dias, Calysta vinha lhe contando sobre sonhos estra
CAPÍTULO 3 Reunião dos Anciãos. A Decisão pela UniãoO vento noturno soprava suavemente entre as árvores ao redor da clareira onde os anciãos das tribos Sinti e Romani Calon estavam reunidos. A atmosfera era solene, carregada pelo peso da responsabilidade que traziam consigo. Sentados em um círculo em torno de uma fogueira central, os líderes e anciãos discutiam o futuro dos seus povos.Dragomir, o Barô dos Sinti, levantou-se primeiro. Sua presença era imponente, e sua voz grave reverberava entre os presentes.— Nossas tribos enfrentaram tempos de escuridão. As invasões, as perdas, a separação de nossas famílias... Muitos de nós ainda carregam as cicatrizes desses dias. Mas hoje, temos uma chance de mudar isso. A união de Mihai, meu filho, com Calysta, a estrela dos Romani Calon, pode marcar o início de uma nova era para todos nós.Diana, a anciã dos Romani Calon, respondeu com um tom sereno, mas firme:— Concordo, Dragomir. Calysta é especial. Desde seu nascimento, os sinais mostrar
CAPÍTULO 4Os Preparativos para o Noivado e o Início da FugaA Conversa com CalystaNa tenda dos Romani Calon, Rosa e Joaquim sentaram-se ao lado de Calysta, que brincava com bonecos de madeira ao lado de Helena. Rosa acariciou os cabelos negros da filha e suspirou antes de falar.— Calysta, precisamos conversar.A menina largou os bonecos e olhou para os pais com curiosidade.— O que foi, mãe? Você parece preocupada.Joaquim pegou as pequenas mãos de Calysta.— Minha estrela, você sabe que é especial, não sabe? Que nasceu com dons únicos. Esta noite, os anciãos decidiram que você será prometida a Mihai, da tribo Sinti. Em três dias, haverá uma cerimônia para selar essa aliança.Os olhos de Calysta se encheram de confusão.— Prometida? Mas eu nem conheço ele direito! Ele não é aquele menino que fica sério o tempo todo?Rosa sorriu, tentando aliviar a tensão.— Sim, ele é sério. Mas é porque ele também carrega muitas responsabilidades, como você. Calysta, essa união não é apenas sobre