Capítulo 10: Um Novo Mundo, Um Novo DestinoA manhã estava coberta por uma fina neblina quando Ariadne terminou de arrumar sua pequena mala. Dentro dela, cabiam poucas roupas simples, uma fotografia da família e um lenço bordado à mão por Rosa. Seus cabelos brancos, sempre um reflexo de sua fragilidade física, estavam presos em uma trança delicada que sua mãe havia feito naquela madrugada.Do lado de fora da casa, Joaquim e Rosa estavam parados, com os olhos marejados, segurando as mãos um do outro. Helena e João, seus irmãos, abraçavam Ariadne com força, como se o gesto pudesse impedir sua partida.— Minha filha, — disse Rosa, com a voz trêmula. — Cuide-se. Seja forte. E nunca, nunca se esqueça de quem você é.— Vou deixar vocês orgulhosos, mãe. Prometo. — respondeu Ariadne, com lágrimas nos olhos, mas com um sorriso suave nos lábios.Joaquim aproximou-se e colocou uma pequena correntinha de prata no pescoço da filha.— Essa corrente era da minha mãe. Ela sempre dizia que trazia pr
Capítulo 11: As Sombras da Casa GrandeO relógio marcava 4h45 da manhã quando Eduardo levantou-se suavemente da cama, para não acordar Clarissa. Vestiu-se com cuidado, ajeitou a gravata diante do espelho e saiu do quarto com passos leves. A rotina era sempre a mesma: antes de sair para o trabalho, ele passava no quarto de Ariadne.A porta rangeu baixinho quando ele entrou no pequeno cômodo onde a jovem dormia profundamente. Seus cabelos brancos estavam espalhados sobre o travesseiro, iluminados pela luz tímida do abajur. Eduardo aproximou-se devagar, tocou suavemente sua testa com os lábios e sussurrou:— Tenha um bom dia, minha filha. Fique com Deus.Ariadne abriu os olhos por um instante, sorrindo suavemente antes de voltar a fechar.Eduardo saiu, fechando a porta com cuidado, e deixou a casa. Assim que o som da porta da frente batendo ecoou pela casa, o silêncio foi cortado bruscamente pelo barulho de outro quarto se abrindo. Clarissa surgiu no corredor, vestida com um robe de sed
Capítulo 12: O Fim da IlusãoO sol de sábado de manhã entrava pelas cortinas brancas do quarto do casal. O relógio marcava 8h, e Eduardo se espreguiçou com calma, aproveitando o raro privilégio de dormir até mais tarde. Ao seu lado, Clarissa ainda parecia dormir, mas seu rosto estava virado para o outro lado, os olhos fechados com força.Eduardo inclinou-se para beijar o rosto da esposa, sorrindo suavemente.— Bom dia, amor. Vamos levantar? Hoje é sábado.Clarissa abriu os olhos lentamente, esticando os braços com um sorriso forçado.— Hum... adoro quando você me acorda assim. O que nós vamos fazer hoje, meu bem? — perguntou ela, com a voz doce e olhar brilhante.Eduardo levantou-se e começou a vestir uma roupa mais leve, visivelmente animado.— Pensei em algo diferente hoje. Vamos sair todos juntos! Primeiro, um piquenique no parque. Depois, podemos ir ao cinema. E, mais tarde, podemos dar uma volta na roda-gigante. O que acha?O sorriso de Clarissa congelou no rosto. Sua expressão
Capítulo 13: Mentiras e Manipulação O cheiro de café fresco preenchia a cozinha enquanto Eduardo terminava seu café da manhã calmamente, revisando algumas mensagens no celular. Clarissa, sentada à sua frente, mexia distraidamente na xícara com a colher, seus olhos fixos em algum ponto distante.— Amor… — começou ela, com a voz doce, mas carregada de falsa preocupação. — Acho que Ariadne não está bem. Ela estava pálida hoje cedo, parecia desconfortável. Acho que está com cólica ou talvez vai menstruar pela primeira vez.Eduardo levantou os olhos, franzindo a testa com preocupação.— Sério, Clarissa? Coitada da menina… Quer que eu vá falar com ela? Talvez eu possa perguntar se ela precisa de algo.— Não, não! — interrompeu Clarissa apressadamente, colocando a mão sobre a de Eduardo. — Isso é coisa de mulher, amor. Deixa que eu cuido dela. Só… faz um favor para mim? Pode ir até a farmácia comprar absorventes e remédio para cólica? Por favor?Eduardo assentiu rapidamente.— Claro, amor.
Capítulo 14: O Dia Mais Triste da Minha VidaA noite estava calma na casa de Eduardo e Clarissa. O relógio marcava 11 horas no Brasil, algo em torno das 21 horas nos Estados Unidos. O telefone tocou, ecoando pelo silêncio. Eduardo atendeu ao ver o nome de Antônio na tela.— Boa noite, Antônio! Tudo bem por aí? — perguntou Eduardo, tentando soar animado.— Boa noite, Eduardo! Como estão as coisas? E nossa querida Ariadne, como está se saindo?Eduardo hesitou por um momento. Ele sabia que Ariadne não estava bem, que não conhecia nada da cidade e que sua rotina estava longe de ser feliz. Mas ele não queria preocupar Antônio nem a família dela.— Ela está bem, Antônio. Está se adaptando, já conhece algumas partes da cidade e começou a aprender inglês. Ela é uma menina esforçada.Antônio sorriu do outro lado da linha.— Fico muito feliz em ouvir isso. Joaquim e Rosa vão ficar mais tranquilos quando souberem. E, aliás, liguei por outro motivo: amanhã é o aniversário de Ariadne. Nós queríam
Capítulo 15: Sobrevivendo às SombrasAs luzes brilhantes de Orlando nunca pareceram tão frias quanto nas últimas oito semanas para Ariadne. Aos 16 anos, a jovem caminhava pelas ruas, arrastando os pés descalços e carregando apenas uma pequena sacola com algumas roupas desgastadas. Seus cabelos brancos, que já chamavam atenção antes, agora estavam sujos e embaraçados, destacando ainda mais sua figura frágil e abatida.Os primeiros dias foram os mais difíceis. Ariadne procurava restos de comida em lixeiras atrás de restaurantes, enfrentando o olhar de desprezo das pessoas que cruzavam seu caminho. Quando a fome apertava demais, ela tentava pedir esmolas, mas poucos paravam para ouvi-la. O frio das madrugadas castigava seu corpo fraco, obrigando-a a se encolher sob caixas de papelão ou procurar abrigo em becos sujos e úmidos.— Por favor… só um pedaço de pão… — murmurava ela, com a voz quase sumindo, enquanto estendia a mão para desconhecidos que passavam apressados.A noite era o pior
Prólogo: Os ecos de uma promessa esquecidaO som de risos e música preenchia o ar, mas havia algo errado. Calysta sentia o calor das chamas da fogueira próxima, mas o brilho vibrante parecia mais sombrio, como se a luz lutasse contra sombras que rastejavam pelas margens do acampamento. As saias coloridas das mulheres ciganas dançavam ao vento, mas seus rostos estavam indistintos, como se a alegria fosse apenas um reflexo vazio.Ela estava lá, com apenas 10 anos, observando tudo com olhos curiosos, mas uma sensação de desconforto a dominava. Algo estava prestes a acontecer. Ao seu lado, sua mãe, Rosa, ajustava o lenço em seu cabelo com mãos trêmulas. A voz da mãe parecia ecoar, distorcida:— Você está linda, minha filha. Lembre-se de quem você é. Nunca esqueça. Nunca esqueça.As palavras repetiam-se como um mantra, ficando cada vez mais rápidas e inaudíveis. Calysta olhou ao redor, mas a visão parecia turva, como um vidro coberto de névoa. Ela viu Mihai no centro da roda, um garoto de
CAPÍTULO 1O Nascimento de uma EstrelaA noite estava silenciosa na pequena aldeia cigana, com o luar iluminando as tendas espalhadas pelo campo. Dentro da maior tenda, o som de gemidos e respirações ofegantes rompia o silêncio. A anciã Diana, a parteira da aldeia, trabalhava com habilidade e paciência. Do lado de fora, Joaquim andava de um lado para o outro, ansioso e cheio de nervosismo, tentando ouvir qualquer palavra que indicasse o desfecho do parto de sua esposa, Rosa.— Calma, Joaquim! — chamou um dos amigos da aldeia, tentando tranquilizá-lo. — A anciã está lá dentro. Ela nunca erra.— Mas e se algo acontecer? — Joaquim respondeu, inquieto, passando a mão pelos cabelos desgrenhados. — Eu não posso perder Rosa. E a criança… e se ela não resistir?Dentro da tenda, Rosa gritava de dor. A cada contração, ela agarrava os lençóis finos que cobriam o chão.— Respire, menina, respire! — orientava Diana, com a voz firme, mas acolhedora. — Está quase. Seu corpo sabe o que fazer. Confie