CAPÍTULO 4

Os Preparativos para o Noivado e o Início da Fuga

A Conversa com Calysta

Na tenda dos Romani Calon, Rosa e Joaquim sentaram-se ao lado de Calysta, que brincava com bonecos de madeira ao lado de Helena. Rosa acariciou os cabelos negros da filha e suspirou antes de falar.

— Calysta, precisamos conversar.

A menina largou os bonecos e olhou para os pais com curiosidade.

— O que foi, mãe? Você parece preocupada.

Joaquim pegou as pequenas mãos de Calysta.

— Minha estrela, você sabe que é especial, não sabe? Que nasceu com dons únicos. Esta noite, os anciãos decidiram que você será prometida a Mihai, da tribo Sinti. Em três dias, haverá uma cerimônia para selar essa aliança.

Os olhos de Calysta se encheram de confusão.

— Prometida? Mas eu nem conheço ele direito! Ele não é aquele menino que fica sério o tempo todo?

Rosa sorriu, tentando aliviar a tensão.

— Sim, ele é sério. Mas é porque ele também carrega muitas responsabilidades, como você. Calysta, essa união não é apenas sobre vocês dois. É sobre proteger nossas tribos, manter nossas tradições vivas e construir um futuro mais forte.

Calysta baixou os olhos, tentando processar a informação.

— E se eu não quiser, mãe? Eu sou só uma criança...

Rosa a abraçou com força.

— Eu sei, minha estrela. Mas você tem uma luz que o mundo precisa. E, com o tempo, você entenderá que esse caminho pode trazer coisas boas, mesmo que agora pareça difícil. Mihai também tem uma alma forte, e juntos vocês podem ser algo grandioso.

Calysta suspirou e assentiu lentamente, ainda confusa, mas sentindo o apoio de seus pais.

O sol ainda brilhava alto no céu quando o acampamento cigano começou a ganhar vida. Tendas eram decoradas com tecidos coloridos, guirlandas de flores eram penduradas nas entradas, e mesas longas eram cobertas com pratos típicos, frutas e jarros de vinho artesanal. As mulheres da tribo Romani Calon trabalhavam lado a lado com as mulheres Sinti, em um raro momento de colaboração que simbolizava a importância daquela união.

Calysta, com um vestido branco bordado com fios dourados, observava a movimentação com um sorriso tímido. Ao lado dela, Rosa supervisionava as preparações, acariciando de vez em quando o ventre que abrigava seu terceiro filho.

— Minha estrela, hoje é um dia importante, — disse Rosa, enquanto ajustava o lenço que adornava os cabelos negros de Calysta. — Você vai brilhar como nunca.

Calysta olhou para a mãe com curiosidade.

— Mãe, por que todo mundo está tão animado? Parece que é mais do que uma festa.

Rosa parou por um momento, segurando o rosto da filha entre as mãos.

— Porque é mais do que uma festa, Calysta. É o início de um novo caminho, não só para você, mas para todos nós. A união entre você e Mihai vai proteger nossas tribos, fortalecer nossas famílias.

Do outro lado do acampamento, Mihai estava sentado em uma pedra, observando Dragomir e Livia conversarem com os anciãos. Ele já vestia um colete de couro preto, ornamentado com símbolos de sua tribo, e sua expressão séria contrastava com a excitação ao redor. Quando seu pai se aproximou, Mihai levantou-se imediatamente.

— Mihai, hoje você dá o primeiro passo para se tornar um líder, — disse Dragomir, colocando uma mão no ombro do filho. — Esta aliança não é apenas sobre você e Calysta. É sobre a sobrevivência de nossa linhagem. Vocês dois têm dons que, juntos, podem mudar o destino de nossas tribos.

Mihai assentiu, sem questionar. Embora jovem, ele entendia a gravidade do momento.

— Eu prometo que não vou decepcioná-lo, pai.

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*O Início da Celebração*

Quando o sol começou a se pôr, o acampamento se encheu de vida. Músicos tocaram canções tradicionais, e o som de violinos e pandeiros ecoava pelas colinas. As crianças corriam entre as tendas, rindo e brincando, enquanto as mulheres colocavam os últimos toques nas decorações.

A fogueira principal foi acesa, suas chamas crepitando alto, iluminando a noite que começava a cair. As roupas vibrantes dos ciganos refletiam o brilho das chamas, criando uma atmosfera mágica.

Calysta e Mihai foram levados ao centro do círculo formado pelos convidados. Ela segurava um pequeno buquê de flores silvestres, enquanto ele carregava o anel prateado que simbolizaria sua promessa.

Diana, a anciã dos Romani Calon, ergueu as mãos para silenciar a multidão.

— Esta noite, celebramos não apenas a união de duas almas, mas também de duas linhagens que foram separadas pelo destino e agora se encontram novamente. Que Calysta e Mihai sejam o símbolo de força e esperança para todos nós.

A multidão aplaudiu, enquanto Mihai se aproximava de Calysta com uma postura confiante. Ele segurou sua mão delicadamente, seus olhos escuros fixos nos dela.

— Calysta, eu prometo estar ao seu lado, protegê-la e honrar este compromisso. Hoje, damos início a um novo caminho juntos.

Ele deslizou o anel no dedo dela, enquanto Calysta, ainda tímida, sorriu e balançou a cabeça, sem saber ao certo o que dizer.

— Eu prometo... fazer o meu melhor, — respondeu, arrancando risos suaves da multidão.

A música recomeçou, e o círculo ao redor deles se abriu para a dança. Calysta foi levada por Rosa para se juntar às mulheres que giravam suas saias ao som do violino, enquanto Mihai era conduzido por Dragomir para uma roda masculina, onde os homens cantavam e batiam palmas.

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*A Importância da União*

Enquanto a celebração continuava, Diana e Dragomir observavam à distância.

— Você acredita que eles estão prontos para isso? — perguntou Diana, com a voz baixa.

Dragomir assentiu lentamente.

— Eles ainda não entendem o que significa. Mas essa união é o que precisamos. Os dons de Mihai e Calysta não podem ser subestimados. Juntos, eles formarão uma linhagem que carregará a força de nossos ancestrais e o poder que nossas tribos precisam para sobreviver.

Livia, ao lado deles, acrescentou:

— Eles são jovens, mas têm almas antigas. Encontrarão seu caminho, assim como nós encontramos o nosso.

A fogueira ardia cada vez mais alto, iluminando os sorrisos, as danças e a magia daquela noite. A união de Calysta e Mihai estava apenas começando, selada pelo fogo, pela música e pela promessa de um futuro melhor para seus povos.