Ardente Amor
Ardente Amor
Por: NanaBOliver
Prólogo

Healdsburg (Califórnia)

Havia uma pilha de papéis amassados em forma de pequenas bolas jogadas pelo chão, um gemido de frustração e aborrecimento escapou de sua garganta, o que estava acontecendo era uma situação inédita em sua vida. Primeiro pela chateação, ela nunca foi uma mulher de se irritar e quando isso acontecia era porque a coisa tinha fugido do seu controle. Segundo porque não estava conseguindo ter uma ideia. E terceiro, por sua família não ter desistido daquela loucura.

O miado do seu gatinho lhe chamou toda a atenção, virou a cabeça para o lado e o viu brincando com a bagunça espalhada pelo chão. Pelo menos o seu bichano era o único que parecia se divertir. Voltando a sua concentração para o novo papel à sua frente, releu o que havia escrito, e logo soltou um muxoxo, amassou o papel com força e o jogou para trás.

Mais um para Loki brincar.

Colocou as mãos na cabeça e perdeu completamente a paciência, tudo estava um caos e ela não conseguia pensar em nada. No entanto, havia uma explicação lógica para tudo aquilo e para o turbilhão de sentimentos que sentia, pois aquela pilha de papéis amassados fazia parte da preparação do seu buffet de casamento, e ela não estava nem um pouco feliz por aquilo e logo a dor no estômago começou a aparecer. Com toda sinceridade do mundo a única coisa que aquele noivado havia lhe dado era uma baita dor de cabeça e uma gastrite nervosa.

Nora Bellini estava mais do que irritada naquele momento. M*****a hora que seus pais fizeram aquele acordo antecipado estúpido!

Dio Mio!

Nora levantou da cadeira olhando para o relógio e se espantou, já era de madrugada e ela permanecera ali desde às dezesseis horas da tarde, sem conseguir formular alguma coisa criativa. Logo ela, uma das chefes de cozinha mais requisitadas da cidade, não sabia o que preparar para o seu próprio casamento, tinha menos de três dias para conseguir resolver todos os preparativos. Mas aquilo era culpa dela, afinal, fez questão de dizer que iria organizar o buffet inteiro.

O caos já estava instalado e não havia mais o que fazer naquele momento, sua inspiração estava no mais baixo patamar de todos, então dormir seria uma ótima opção, amanhã o dia seria cheio e havia coisas demais para resolver, inclusive a última prova do vestido.

Só de pensar naquilo o seu estômago doeu um pouco mais, mandou uma mensagem para o seu “noivo” o lembrando da prova do terno. E por falar nele, Alev Demir até agora não havia ligado e nem aparecido em sua porta para conversarem. Nora o conhecia desde sempre, e cresceu ouvindo que ela e o herdeiro mais velho dos Demir eram prometidos um ao outro.

Conforme os anos foram passando, ela sempre achou que aquela situação era uma tremenda brincadeira de todos a sua volta, Afinal, que loucura era aquela de estar prometida a um homem desde antes mesmo de ter nascido.

Foi aí que descobriu tudo.

Devido a um problema sério com jogos clandestinos por parte de sua mãe, por causa desse vício, sua família havia ido à falência, o que restou ao seu pai pedir ajuda ao melhor amigo e sócio da empresa que construíram juntos. Por um longo tempo os Bellinis ficaram dependentes da família Demir, até voltarem a se erguer novamente, com algumas recaídas de Evangeline.

Tudo mudou quando sua mãe descobriu que estava grávida, Eva aceitou ir para reabilitação e o tratamento foi iniciado. Mesmo que os Demir estivessem os ajudando na época, eles não tinham como retribuir o favor e nunca poderiam, era uma dívida eterna que não havia dinheiro no mundo que pagaria.

Por conta disso, surgiu a ideia mais descabida e ultrapassada do seu pai com o amigo — quando seus filhos estivessem com idade suficiente iria unir suas famílias em matrimônio, seus filhos estavam prometidos um ao outro, e assim suas famílias iriam ser apenas uma.

Todos eles acharam a ideia brilhante, no entanto Zeki Demir estava com dois herdeiros, o mais velho com 10 anos de idade e o mais novo com 4 anos, foi uma enorme confusão e decisão difícil para eles escolherem qual dos dois rapazes iria se casar com a primogênita da família Bellini. Até que decidiram que o mais velho iria ocupar a vaga.

Desde a adolescência, quando entendeu tudo aquilo, Nora vinha tentando convencer os pais a desistir daquele noivado, mas o casal era irredutível e quando colocavam algo na cabeça não tiravam por nada. Falavam sempre aquela baboseira de que o amor iria ser construído com o tempo e com certeza ela iria se apaixonar.

Doce ilusão!

Não que Alev fosse feio, pelo contrário, o homem era muito bonito, mas não somente ele, todos daquela família eram realmente lindos. Na sua infância e adolescência, ela não tinha muito contato com o noivo por serem de idades diferentes. E quando se formou para outra faculdade, não teve muito contato, somente quando retornou a dois anos por insistência de Zeki. E nem com tantos anos de distância, fez as famílias desistirem, os dois não tiveram opção a não ser aceitar.

Nora fez um grande esforço e bem que tentou se apaixonar pelo seu prometido, ele fazia o estilo certinho, homem centrado, responsável, educado, parecia muito com ela. E mesmo assim, não sentia um pingo de atração por ele, diferente do irmão mais novo.

Erol Demir.

Esse aí o conhecia desde pequeno, chegava a ser mais bonito que o próprio Alev. Praticamente cresceu com ele. Quando crianças, os dois brincavam juntos e pelo que ela lembrava Erol sempre foi amável e atencioso, mas ao passar do tempo foi mudando, o rapaz se fechou de uma forma que ela nunca conseguiu quebrar a barreira, ele fazia o estilo “caladão sexy” e quase não falava com ela. Quando se encontravam era educado, mas não era o suficiente para engatar uma conversa.

Não entendia, mas mesmo de longe quando o olhava, ou se esbarravam, sentia seu estômago se revirar, mas aquilo não poderia ser nada, não significava nada, certo? Talvez o estilo de menino mau a deixasse intrigada.

Quando Erol terminou a escola, ela nunca mais o viu, pois o garoto havia se mudado para a cidade vizinha e quase não vinha para casa, e quando ia, ela não o encontrava. Às vezes espionava as redes sociais dele e o desgraçado ficava cada vez mais lindo, sexy e um grande gostoso. Contudo, pelo que Alev dizia em algumas conversas sobre o irmão mais novo, Erol não gostava de se meter com mulheres, era fã da vida livre.

Claro que ela também apreciava a vida sem compromisso. Quando mais nova, se envolveu com alguns rapazes, porém nada sério. Alev havia feito a mesma coisa antes de firmarem compromisso.

Tirando toda essa confusão amorosa, ela não poderia reclamar da sua vida profissional. Estava no ápice de sua carreira, fez faculdade de gastronomia em uma das melhores universidades do mundo e sempre foi o orgulho dos pais, então não tinha do que reclamar.

Após um banho relaxante, Nora foi se arrastando para sua cama, fez um coque no cabelo comprido e castanho escuro, foi até a cama e se jogou nela, ouviu o breve miado de Loki ao seu lado, e o gatinho amolar suas unhas no lençol deitando em seguida e, então, fechou os olhos e apagou.

|...|

Se você se atrasar para o casamento do seu irmão eu juro que vou até aí e dou uns t***s nessa bunda, não me interessa a idade que tenha, sabe que eu faço, Erol!

Ele leu a mensagem da mãe e balançou a cabeça.

Allah! Sabia que Ayla faria realmente isso, pior de tudo era ver sua mãe tão irritada.

Seus pensamentos foram interrompidos por um breve pigarro suave. Ele olhou para frente e seus olhos se encontraram com os da mulher.

— Muito obrigada pela ajuda, senhor — a moça lhe disse estendendo uma nota de dinheiro na mão.

— Não precisa — Ele sorriu e piscou, guardou o celular no bolso, e guardou os seus equipamentos na mala do carro.

Erol estava na estrada quando percebeu o sinal do pisca alerta de um carro e viu a mulher desesperada tentando trocar o pneu. Rapidamente, ele parou o carro no acostamento atrás do dela e deixou os faróis ligados no máximo para iluminar bastante. Assim que desceu do carro reparou que a moça precisava muito de ajuda, e a expressão de alívio no rosto dela quando o viu foi notável.

— Tem certeza de que não quer uma recompensa? — A mulher chegou perto dele, prontamente Erol captou a mensagem cheia de malícia.

Naquela hora a estrada era totalmente deserta, de meia em meia hora passava um carro por ali, fazer uma rapidinha não era complicado. Seus olhos automaticamente passearam por todo o corpo feminino, era delicioso e cheio de curvas e ele estava sem sexo por algum tempo. O corpo dele implorava por aquilo ali e agora, só que havia um problema, ele estava cheio de pressa no momento e queria chegar o quanto antes em sua cidade natal.

Por uma infelicidade do destino para ele, naquele exato momento, sexo estava fora de cogitação, pelo menos até aquela tensão e pressão toda da sua família sumir.

— Obrigado querida, mas não precisa mesmo. — O Demir mais novo fechou a mala do carro e sorriu.

— Você é casado, já entendi tudo. — A mulher soltou um suspiro de lamúria. — Não tenho sorte mesmo.

Erol arregalou os olhos e soltou uma risadinha. Aquilo era pior do que xingá-lo. Deus, não, ele não se via casado e achava que nunca iria colocar um anel no dedo um dia. Estava muito bem assim, sem cobranças, sem filhos, sem uma esposa, perguntando onde tinha passado o dia inteiro, e sem sexo com uma mulher só.

Sem ninguém para lhe encher o saco.

Amava ser livre.

Casamento era uma coisa complicada e só lhe daria dor de cabeça.

Apesar de ter presenciado seus pais juntos e saber que ali havia muito amor entre os dois — tirando as brigas —, sabia que eles superavam qualquer coisa naquele amor que acreditavam.

— Não, não sou — Respondeu. — Mas eu realmente preciso ir. — Conclui, indo até a porta do carro e a mulher sorriu, anotando no papel alguma coisa.

— Aqui — Estendeu o papel. —, se precisar de alguma coisa, me ligue bonitão, vai ser um prazer vê-lo novamente. — Ela sorriu maliciosa, colocando o papel na jaqueta dele, sem vergonha.

Erol devolveu com um sorriso simpático e entrou no carro, com certeza ele não iria ligar, aquele era o tipo de mulher pegajosa do qual ele corria há muito tempo e não estava nem um pouco a fim de uma encrenca como essa.

Ele era o tipo de homem que chamava atenção das mulheres, mantinha o cabelo castanho até um pouco acima do ombro, os olhos dele eram escuros e calorosos, sua presença era forte e sensual, e tinha um sorriso de tirar o fôlego de qualquer mulher. Seu porte físico era bem trabalhado, fruto de treinos intensivos na academia, mas sem exagero. Tinha somente os músculos bastante definidos e proporcionais ao seu corpo. E seu olhar era como de um leão perigoso, intenso e brilhante.

Deu a partida no carro e buzinou para a loira, ligou o rádio na estação de rock e dirigiu ao som do Iron Maiden. Quem diria que seu irmão mais velho iria se casar amanhã, depois de tantas brigas os pais conseguiram o convencer daquela loucura. Quando contaram para ele a origem daquela maluquice, Erol não fez nada, apenas riu, achando que poderia ser algum tipo de brincadeira, mas não era. Conhecia Eleonor desde pequeno, conforme ela foi crescendo se tornou uma jovem muito bonita e chamava atenção por aqueles olhos escuros e doces, sempre foi muito simpática com ele.

Allah!

Ele acabou desenvolvendo uma atração bastante pequena por ela, e passou a evitar de tudo que é jeito. Não por maldade, mas apenas pelo pequeno comichão que ela lhe dava na barriga, aquilo o deixava bastante encabulado por que até hoje Nora foi a única que fez isso.

Vamos colocar a culpa sobre o fato de que ela era realmente muito linda, e talvez a culpa era daqueles hormônios adolescentes cheios de combustão que não podiam ver um par de peitos, sem falar na maravilhosa bunda que ela tinha. Agora, era diferente, ele sabia bem controlar o seu corpo e aquele pequeno desvio que sentia pela doce “ futura cunhada” iria passar, e por essa razão com certeza ele não sentia mais aquele arrepio.

Aos 30 anos, Erol Demir era um cara bastante reservado, havia feito administração na faculdade — além de ser dono de uma concessionária. Entretanto ele não gostava de ostentar, tinha o seu bar na cidade vizinha e trabalhava como barman em algumas festas e estava ótima a sua rotina. Passava na concessionária algumas vezes para saber se estava tudo na ordem e por sorte sim, já que deixou tudo nas mãos de pessoas de sua confiança.

Erol pisou fundo no acelerador, apreciando a adrenalina. Em pouco tempo, pôde ver as luzes da cidade e sorriu. Havia chegado ao seu destino depois de uma viagem cansativa de algumas horas.

Ele manobrou com o carro e seguiu estrada até um dos bairros nobres com mansões, assim que se aproximou da mansão da família, parou o carro em frente aos portes olhando os seguranças, abriu as janelas do carro e deu um aceno para eles, que logo abriram o portão para ele passar.

Virou o carro sobre o grande chafariz, em frente a porta principal da mansão e parou o veículo, saindo em seguida, travando a porta. Estranhou o fato de que não havia ninguém ali para recebê-lo, principalmente sua mãe. Ele entrou em casa e ouviu a voz gutural do seu pai vindo do escritório.

Alguma merda aconteceu.

— Ache-o e o traga imediatamente para casa! — Zeki exclamou furioso.

Erol foi caminhando até o escritório do pai, e parou na porta quando viu Ayla chorando com as mãos na cabeça.

— Quem morreu? — a voz rouca dele despertou o olhar dos pais, que se assustaram com sua presença.

— Erol, me desculpe filho por não recebê-lo, mas não é questão de quem morreu e sim quem vai morrer se não aparecer aqui até amanhã de manhã.

— Não estou entendendo pai — disse pedindo a Allah e a tudo que é santo para que seus instintos estivessem errados e o irmão não desse um de maluco como ele justo agora nessa altura do campeonato.

Sua mãe tentou abrir a boca, porém só foi até o filho e lhe deu um grande abraço. Um abraço apertado.

Então, Zeki disse:

— Seu irmão fugiu.

Ele congelou, não acreditando em tamanha burrice do seu irmão. Ayla se afastou do filho, ainda desolada.

Ah merda, Alev o que você está fazendo? Pensou, indignado.

— Tem certeza pai, eu falei com ele pela manhã antes de vir para cá. — Tentou tranquilizar.

— Tenho! — Exclama o patriarca. — Viram Alev sair de manhã e parece que ele estava com uma mala.

— E não impediram sua saída?

— Os seguranças alegaram que ele estava indo ao seu apartamento. — Ayla se pronunciou. — Estava nervoso e queria conversar um pouco.

— Certo, vamos nos acalmar. — Tentou tranquilizar os pais. — Tenho certeza que ele irá aparecer aqui amanhã, vou tentar ligar para o celular dele, quem sabe não atenda.

Zeki respirou fundo, se aproximando. Seu olhar era sério.

— Torça para que sim filho, se ele não aparecer em até 24h, será você quem vai assumir o lugar dele naquele altar. — Ele disse, dando uma batida em suas costas, rindo em seguida da expressão espantada de Erol. Parecia que ele tinha recebido um soco.

Pelos céus, esperava que o seu pai estivesse brincando!

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