Capítulo 2

Nora Bellini

Ao final da tarde, mamãe decidiu ir ao salão que estava marcado, eu e Mica aproveitamos para apagar todos os incensos e abrimos as janelas para o cheiro sair um pouco.

Olhei para a hora, fui ao banheiro tomar um longo banho na banheira com rosas e outros perfumes corporais.

— Está na hora de sair daí! — Mica entrou no banheiro. — Você vai me explicar o que houve, enquanto faço sua maquiagem e cabelo.

Solto um suspiro e saio da banheira, me enrolo no roupão, agradeço por minha depilação está em dia, no entanto isso não significava nada, já que com certeza eu e meu futuro marido não iremos chegar aos finalmente, mas estar depilada nunca é demais.

Me sento na cadeira de frente ao espelho no meu quarto e Michaela começa a secar meu cabelo. Quando os fios castanhos escuros estão secos, ela se prepara para fazer minha maquiagem — já que minha amiga é a melhor maquiadora da cidade. Enquanto eu fazia meu curso de gastronomia, Mica se formou em estética e fez um curso profissional de maquiagem.

Aproveito a chance que estou um pouco mais tranquila e conto sobre Erol.

— Uau! Esse casamento é importante mesmo, teremos a presença de Erol Demir. — Minha amiga comenta com entusiasmo. — Sempre dou uma fuxicada no I*******m dele, como é possível esse homem ter ficado tão gostoso desse jeito?

Sem que eu percebesse, acabo balançando a cabeça concordando. Olho para Michaela e sua expressão é engraçada, como se tivesse me pegado no pulo.

— Ele é muito bonito. — Tento me explicar.

— Ah para vai, Nora, esqueceu que na adolescência você ficava babando nele?! — Ela pausa e faz uma careta pensativa. — Você e todas as meninas do bairro.

— Isso faz muito tempo. — Coro. — Mas bem, não sou cega.

— Nenhuma de nós é, minha amiga, e se prepare, que as solteiras vão cair em cima dele, você é uma sortuda, tem um cunhado gostoso e o irmão também não é de se jogar fora.

— Não me sinto sortuda.

Começo a fazer algumas caretas.

— Fique quieta! — Ralha ela, tentando passar o corretivo — vou acabar borrando tudo.

— É isso que quero gatinha. — Respondi sendo sarcástica. — Talvez se você fizer um estrago no meu rosto, terá que fazer novamente, e assim Alev poderia se cansar de esperar no altar.

A loira pausa o que está fazendo e me encara levantando uma sobrancelha.

— Acho que nessa altura do campeonato não terá mais escapatória, Nora, tem certeza de que não sente nada por Alev? — Questiona, enquanto continua a obra de arte no meu rosto.

— Você sabe mais do que ninguém o quanto tentamos. — Suspiro. — Nem para cama conseguimos ir, não tem química nenhuma. — observo o espanto em seu rosto.

— Jura? Eu achei que vocês estavam transando mês passado quando disse que ele passou a noite aqui.

Nego com a cabeça.

— Tentamos, mas como disse não tem paixão, ele beija bem, mas não tem vontade de ambos os lados.

— Que Droga Eleonor! — Exclama colocando as mãos na testa. — Acho que a única coisa que você pode fazer é dizer não no altar.

Faço uma careta, ora essa, era óbvio que havia pensando nessa hipótese, dizer não no altar seria um alívio enorme para mim, mas eu realmente não sei qual seria a reação de Alev e fora a humilhação pública na frente de todos. Tenho um grande carinho pela família dele e todos os convidados presentes, me coloco no lugar dele e nem mesmo assim saberia o que sentir se caso acontecesse isso.

Tivemos o tempo para dizer não um ao outro e não seria no altar que isso iria acontecer, preferia dizer não antes do que chegar na frente de todos e falar não.

— Eu pensei por um segundo em fazer isso, mas eu não quero que ele passe por isso, não gostaria que fizesse isso comigo, mesmo se eu e meu parceiro não nos amássemos, como é o caso.

Mica concorda e continua a maquiagem.

— Sinceramente eu sempre achei que era doideira da família dos dois, parece aqueles casos do século passado, quando colocavam as filhas para casarem com o marido que os pais escolheram.

Solto uma risadinha enquanto minha amiga faz o delineado.

— Você sabe do acordo e como realmente nossas famílias são do século passado e tradicional demais. Acho que meu pai pensa que sou virgem até hoje. — Solto uma risada com Mica. — Mesmo assim eu os amo. Com loucura ou não, faço isso por eles.

— Não duvido disso um segundo sequer. — A voz dela soou gentil. — De qualquer forma você será a noiva mais linda desse mundo, já é a mulher mais linda da cidade.

— Não fui eu que ganhei o concurso de Miss. — Provoco.

— Porque não quis competir! — Responde — E assunto encerrado — Micaela dá a língua de uma forma infantil e continua o seu trabalho.

Quando a maquiagem fica pronta, fomos para o meu cabelo, deixei tudo nas mãos dela, só não queria nada extravagante, eu gosto das coisas simples. Depois de algum tempo estou com o cabelo pronto, estava de um jeito natural meio solto com uma trança embutida, era elegante e eu gosto do resultado. Mica me ajuda a colocar o vestido de noiva, era de alcinha simples e bonito, com um corpete que acentua bem minha curva, pelo menos era o vestido dos meus sonhos.

— A lua de mel de vocês será onde? — Pergunta, enquanto arruma as coisas na mala.

Me perfumo nos pontos sensíveis, passo bastante no pescoço.

— Bem, eu não sei, não falamos sobre isso e creio que vamos morar por aqui enquanto a casa não fica pronta. — Ouço o miado de Loki e o vejo subir na minha cama. — Meu apartamento é pequeno mas acho que para nós dois é tranquilo.

— Mudando de assunto, conseguiu fazer o buffet?

— Com muito custo, deixei com o meu pessoal, David vai cuidar de tudo para mim, espero que ocorra tudo bem, fiz tudo às pressas.

Eu e Mica paramos a conversa quando ouvimos um barulho no corredor.

— Vou me trocar, já volto. — Ela pega seu vestido e entra no banheiro.

— Oh meu Deus do céu! Você está tão linda! — Ouço a exclamação emocionada de minha mãe. Seus olhos estão cheios de lágrimas. — É a noiva mais linda do mundo.

— Com certeza, tia, se Alev não se apaixonar agora tenho certeza que ele não é homem o suficiente! — Grita Michaela do banheiro.

Balanço a cabeça e dou uma risada.

— Por Deus nem brinque com isso, minha querida. — Repreende mamãe.

— Deixa eu dar uma olhada na senhora. — Digo para minha mãe e a observo, ela faz uma voltinha para mim e assobio. — Esplêndida como sempre senhora Bellini.

— Que nada querida, vou pegar os seus sapatos. — Minha mãe sorri

Borrifo um pouco mais de perfume em mim, sinto todo o aroma delicioso pelo quarto e só então guardo o frasco. Mamãe volta trazendo um par de sapatos para mim. Ainda bem que não são tão altos, não que eu goste, amo saltos, mas como eu ficaria um bom tempo de sapatos iria ficar desconfortável e o vestido cobriria tudo.

Coloco os sapatos e Mica sai de dentro do banheiro arrumada, ouvimos a batida na porta principal, minha mãe vai atender e quando volta meu pai está com ela. O homem para completamente como se tivesse acabado de levar um choque, os olhos de Bernard se enchem de lágrimas no momento que observa meu rosto, um sorriso largo se espalha, é tão contagiante que não tenho como eu não sorrir junto.

— Meu Deus, você é a mulher mais linda desse mundo! — Ele chega perto de mim e me dá um beijo na testa sem segurar sua emoção.

— Ora, papai, não faça isso. — Sorrio, faço um carinho no seu rosto sentindo a barba espetar meus dedos suavemente. — Você está lindo também.

— Não acha? Estou parecendo o James Bond. — Brinca fazendo uma pose arrancando gargalhadas de nós três. — Muito bem, vim aqui apressá-las, estamos muito atrasados e os Demi’r, como sabe, não são fãs de atrasos. — Ele disse.

Concordo pegando meu buquê e saímos do meu quarto. Para eu descer as escadas do meu apartamento, tive que ter ajuda da minha mãe, Micaela e meu pai, não pudemos deixar de notar os vizinhos saindo na porta para me olhar vestida de noiva, eu tenho a ligeira impressão de que quando eu passar pela cidade até a igreja quem não tivesse sido convidado estaria lá fora esperando eu passar.

Ao chegar perto do carro do meu pai, entrei mais rápido do que eu consegui, realmente estava certa na minha tese, todo mundo estava na rua, olhando para mim, sorrindo e comentando, isso me deixa ainda mais nervosa.

Mica e minha mãe também entram no carro comigo, meu pai da partida em seguida, cada vez que me aproximo da igreja tenho vontade de abrir a porta do carro e me jogar, parecia que estava indo para um enterro e não para o meu casamento. Tento disfarçar com um sorriso, mas não consigo tanto. Depois de um tempo meu pai estaciona o carro na frente da igreja, vejo as portas principais sendo fechadas. Michaela e mamãe saem primeiro e em seguida foi a vez do papai.

Permaneço por ali por mais um tempinho e aproveito para fazer uma breve oração. Meu coração está disparado, o leve desconforto no meu estômago volta. M*****a gastrite nervosa. Coloco as mãos na barriga, respiro fundo, meu pai abre a porta do carro todo sorridente e me estende as mãos.

Naquele momento paro de pensar em mim, olho para o homem mais velho, ele me amava mais do que tudo no mundo, tenho certeza que não me entregaria a outro homem que não fosse digno. Pego nas mãos dele e saio do carro.

Ignoro algumas pessoas curiosas que estão paradas na praça em frente à igreja e subo as escadas junto com meu pai parando em frente a porta, fecho os olhos e rezo para que tudo dê certo, depois que disser o temível sim, não tenho mais volta.

— Fique calma e tente sorrir. — Bernard segura firme em minhas mãos, me encorajando. — Vai ficar tudo bem, eu não a entregaria a um homem que não a merecesse.

— Eu sei disso papai! — Sorrio abrindo os olhos. — Sabe que eu te amo, certo?

— Claro que sim! E, mesmo a ponto de querer sair correndo, você ainda está aqui. — Ele sorri. — Obrigado, filha! — A música da marcha nupcial começa a tocar. — Está na hora do show! — Disse por fim.

As portas da igreja foram abertas.

Encaro a multidão de pessoas e todos os rostos pareciam surpresos demais, então quando olho para o altar a fim de encarar meu futuro marido, a minha expressão é de puro choque, meu coração dispara feito um louco, minhas mãos começam a soar e a tremer, minha boca só não foi ao chão porque parecia que meu coração estava paralisado. Eu tenho a impressão de que posso desmaiar a qualquer momento.

Minha santa mãe!

— Pai? — Minha voz não passa de um sussurro.

— Siga o fluxo, querida, vamos até o final agora. — Ele sussurra de volta parecendo tão surpreso quanto eu. — O show tem que continuar.

Quem estava parado ali no altar não era Alev como eu esperava. Quem estava lá esperando por mim era ninguém mais e ninguém menos do que Erol Demir.

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