— Podemos conversar? — April perguntou apontando para dentro do seu apartamento, Snyder cedeu passagem, vendo os dois entrarem a passos vagarosos, olhando ao redor aquele minúsculo apartamento, Dominic fechou a porta e se aproximou dos detetives.
— Então...
— Onde estava ontem à noite? Próximo as onze e meia da noite... — April perguntou em um tom baixo, quase passivo.
— Na casa do meu amigo! A cinco quadras daqui, fiquei lá até de madrugada, depois fui até a padaria que fica a três quadras daqui, depois caminhei de volta, as câmeras me mostram chagando! — Dominic respondeu cruzando os braços.
— Bem detalhado, hum? — Darío perguntou desconfiado.
— Sou escritor, escrevi livros que tinham policiais e suas perguntas! Alguma coisa aconteceu e meu nome apareceu ou eu passei perto de alguém que fez alguma coisa! — Dominic viu quando os dois se olharam.
— Dominic, temos um problema... vai ter que nos acompanhar até a delegacia para explicar melhor... — Darío viu o homem ficar ainda mais desconfiado — não fez nada de errado, mas, achamos que pode estar em perigo!
— Que tipo de perigo?
— Achamos que pode ter um lunático atrás de você! — April foi sincera — não queremos causar pânico, porém, e necessário que venha com a gente!
Dominic bufou, caminhou até seu quarto, tirou sua calça de moletom e vestiu uma calça jeans e colocou um tênis, depois, trocou seu moletom velho dos incríveis e colocou uma blusa branca e limpa, passou desodorante e pegou uma touca para cobrir seu cabelo, pegou uma jaqueta acolchoada por dentro e saiu do quarto, encontrando os policiais ainda o esperando na sala, porém, analisando sua estante onde seus livros estavam expostos.
— São seus sete livros? — Darío estava com o quarto em suas mãos.
— Sim! Quer que eu os leve?
— Não é necessário... — April respondeu — vamos?
Os três saíram após Dominic pegar seus documentos e deixar comida para o seu gato que em algum momento voltaria pela janela, o escritor foi levado até a viatura, posto no banco de trás, vendo alguns olhares acompanhando a movimentação.
— Que beleza, agora meus vizinhos acham que sou um criminoso... — Dominic murmurou — não tinha um carro mais discreto, não?
— Está em proteção policial! — Darío respondeu.
— Não é isso que aquela velha fofoqueira vai dizer... e aí? Como sabem que esse lunático está atrás de mim? Inclusive, sabiam que lunático é um termo bem pejorativo para doentes mentais? Escrevi um livro onde o assassino era esquizofrênico, tive que assistir inúmeras palestras sobre doenças e transtornos... — Dominic falava muito quando estava nervoso, principalmente quando sentia que o silêncio era incômodo.
— Pesquisa muito para fazer seus personagens? Até os assassinos? — April o encarou pelo retrovisor.
— Sim! Sempre me dedico muito aos meus livros!
— E por que fazer livros sobre crimes tão horrendos? — Dessa vez foi Darío há perguntar.
— Faz parte não só da narrativa, mas da construção dos personagens... — o escritor respondeu olhando a paisagem — sei que parece estranho, mas, no livro faz todo o sentido!
Eles pararam em frente à delegacia, Darío e April saíram primeiro, a policial abriu a porta para Dominic e o guiou até o elevador, quando ele parou novamente e abriu suas portas, os três saíram da caixa de metal.
Dominic viu como as pessoas o olhavam, quase como se o culpassem por algo, como se ele fosse um criminoso sendo preso na frente de todos, se sentiu acuado e até mesmo envergonhado por estar ali, abaixou a cabeça enquanto caminhava atrás dos policiais.
— Sente-se, por favor! — Darío apontou para uma cadeira vazia, um quadro com fotos dos crimes estava exposto, Dominic não se mostrou surpreso, já tinha visto imagens piores, até mesmo vídeos — Dominic, esse é o sargento James Chang e o capitão Daniel Harris!
James era alto, magro e com um olhar desconfiado, Daniel era mais velho, deveria ter mais de sessenta anos, que olhava com uma feição séria na direção do escritor.
— Senhor Snyder, obrigado por ter vindo! — Daniel o cumprimentou com um aperto de mão — espero que possa nos ajudar!
— Claro! — Dominic ainda estava desconfortável com todos aqueles olhares em sua direção.
— Senhor Snyder, no dia três uma mulher foi assassinada com um tiro na nuca, ela foi morta e encontrada em seu quarto, foi posta de joelhos e com as mãos juntas! No dia doze, um homem foi torturado por eletrochoque em um armazém dentro de uma banheira com água, morreu de parada cardíaca! — Aaron apontou para as fotos — na noite de ontem, um casal foi brutalmente assassinato, esfaqueados no quarto de um deles e abandonados lá, nas três cenas, páginas dos seus livros foram encontradas! — Dominic entendeu onde estavam querendo chegar — você recebeu alguma mensagem, e-mail ou algum fã foi até você?
— Tudo isso que você falou e mais um pouco... — Dominic respondeu — tenho fã clubes, recebo mensagens de todos os tipos, boas e ruins, além de escrever sobre crimes, escrevo romances gays e transgêneros! Sabe quantas mensagens de ódio já recebi?
— Alguma mensagem que te pareça estranha? — April perguntou.
— Várias! Vocês têm que ser mais específicos no que querem de mim, se quiserem, podem ter acesso ao meu notebook, mas, precisarei dele em pouco tempo, é meu objeto de trabalho! — Dominic respondeu encarando as cenas — sabe quantas facadas o casal recebeu?
— Inconclusivo! Consegui contabilizar oitenta e duas em cada! — A voz de outro homem chamou a atenção de Dominic — sou Hayden Malik, médico legista... soube que estava aqui e acho que pode nos ajudar, especifica o número de facadas em seu livro?
— Cento e dezesseis na mulher e cento e trinta no amante! — Dominic explicou — algumas no mesmo lugar e por isso, no final, se contabiliza oitenta e duas em cada!
— Amante? — Darío perguntou ao escritor, apenas para saber como exatidão até onde Dominic tinha ou não informações — acha que os dois eram amantes?
— Eram! — Outro policial se aproximou — porém, o marido estava trabalhando no horário das mortes, a esposa estava tendo um caso a cinco meses!
— Turner, esse é Dominic Snyder, autor dos livros que inspiraram os assassinatos! — Daniel apresentou e o tal Turner o encarou com olhos acusadores.
— Olha, sou o escritor, mas, não sou o culpado por causa disso! — Dominic se defendeu — até onde eu entendi, não estou preso, não tenho nada contra mim e nem motivo para vocês estarem me olhando desse jeito e nem me tratando desse jeito!
— Não? Seus livros são quase um manual do que fazer! — O tal Turner falou — como invadir, como esfaquear, até o número de facadas!
— Sim! Inspirados em documentários policiais disponíveis na N*****x! — Dominic respondeu — a mulher morta com um tiro? Um policial descreveu todo o cenário, o ex-namorado invadiu seu apartamento pela escada de incêndio, acabando em seu quarto, a fez ficar de joelhos e com as mãos juntas já que ele queria que ela pedisse perdão, depois que terminou, deu um tiro em sua nuca! O cara torturado? Os policiais falaram como ele e mais cinco pessoas foram mantidas por três dias sofrendo muitas torturas, o casal só foi casos que juntei em um só e coloquei um motivo! — esbravejou — e aí? Esse idiota está atrás de mim ou posso ir embora?
— Senhor Snyder, sinto muito por tudo isso! Sou Aaron Huang, psiquiatra do FBI! Estou investigando esses crimes! — O psiquiatra estendeu a mão para o escritor que a segurou brevemente, ele era quase da altura de Dominic, seu rosto trazia certa tranquilidade — por favor, quero ajudar a descobrir se o seu livro foi só uma espécie de gatilho ou fonte de inspiração, ou se você é o verdadeiro alvo!— Como? — Dominic perguntou.— É reconhecido em seu meio, tem fã clubes e muitos fãs... deve receber muitas mensagens, mas, alguma que o fez ficar com medo, digo, não de ódio ou crítica, mas, alguma declaração romântica assustadora? Algum fã que pareça saber tudo que você gosta ou faz, como se estivesse o stalkeando? — Aaron especificou.— Duas! Uma menina de dezesseis anos e um cara estranho... eu não liguei muito para o que ela falou, só dei um jeito de não alimentar toda a obsessão dela..., mas, o cara me deixou assustado, passei quase um mês na casa dos meus pais por causa disso, ele sabia a
— Posso te pagar uma bebida? Digo, deveríamos beber alguma coisa enquanto me dá dicas de como melhorar minha escrita... — ele com certeza estava flertando e o outro notou, sorrindo pequeno pela situação.— Não acho que pagar uma bebida para mim seja a melhor forma de obter dicas para o seu livro, só estude mais um pouco, garoto... — Hayden era evasivo, o que atiçava Dominic ainda mais.— Prefiro te ouvir explicar! Me parece mais interessante, hum? Nem uma cerveja? — Ele insistiu, Hayden pareceu ponderar, mas, concordou — duas cervejas!O barman os serviu e ambos começaram a beber, o médico analisou o garoto antes de voltar a conversar.— O que te levou a escrever?— Sempre gostei! Desde cedo meus pais me apoiaram sobre tudo isso e então eu comecei a escrever na adolescência, ganhei um concurso da escola, depois do bairro e escrevi meu primeiro livro aos dezoito anos! Publiquei e demorou um pouco para ter alguma visibilidade, mas, aos poucos, fui ganhando notoriedade e quando assinei c
— Quando estava na faculdade, abriu uma espécie de estágio no FBI, meu internato foi todo já como uma espécie de agente estagiário, quando concluí, assumi de vez o posto! — Huang explicou — foi algo muito bom para mim!— Se formou cedo?— Aos quatorze! Meu QI é acima da média e assim, me formei cedo e entrei na faculdade ainda na adolescência... assim como um dos personagens que já escreveu! Em um dos seus livros! — Dominic já não sabia se aquilo era bom ou ruim.— Qual deles?— Raízes Negras... foi um dos primeiros, não foi?— Sim! Nem vou perguntar se gostou, imagino que tenha odiado! — O acastanhado brincou.— Na verdade não! Bom, não posso dizer que adorei, pois não sou o público-alvo dos seus livros, ainda mais sendo um psiquiatra lendo sobre um personagem psiquiatra! Mas, foi uma leitora divertida, só não entendi o que te levou a crer ser possível o romance entre o psiquiatra e seu paciente! — O mais velho levou a cerveja até seus lábios.— Ah... foi uma história bonitinha, não
"A lua cheia iluminava a floresta com uma luz pálida e fria. As árvores balançavam suavemente ao ritmo do vento, criando sombras inquietantes no chão. A tranquilidade da noite era perturbada apenas pelo som das sirenes e das vozes baixas dos policiais que se movimentavam pelo local.O detetive Ramirez, um homem de meia-idade com um olhar cansado, caminhava em direção à fita amarela que delimitava a cena do crime. Ele havia recebido a ligação pouco depois da meia-noite e, apesar do cansaço acumulado, sabia que precisava estar ali. Ao se aproximar, viu o jovem policial Novak, que parecia estar lutando para manter a compostura.— O que temos aqui, Novak? — Perguntou Ramirez, sua voz grave cortando o silêncio da noite.— Um casal que passeava com o cachorro encontrou o corpo, senhor — respondeu Novak, tentando esconder o tremor na voz. — Está ali, entre as folhas...Ramirez franziu a testa e seguiu o olhar do novato. Ele se aproximou do local indicado, iluminado apenas pelas lanternas dos
Mais um corpo!— Emily Keefe! A habilitação estava na bolsa... — Turner mostrou a habilitação — parece que ela foi estuprada...— Não tem como dizer, mas, parece que a pessoa quis que aparentasse isso! Ela foi posta nessa posição e não foi morta aqui! Não tem sangue, não tem nem mesmo uma bagunça aqui... — Hayden suspirou — já acharam a página?— Já! — Darío pegou a página rasgada e começou a ler — a chamada foi feita de um telefone público, os polícias encaravam aquele corpo um tanto sem resposta. Estavam atrás dela a horas e de repente, teriam que dizer aos pais que a doce filhinha única estava morta... — começou a ler — mais uma que faz parte dos livros de um adolescente grande!— Ele não tem culpa se um louco está usando seus livros... — April suspirou — vamos achar logo esse assassino!— E vamos trazer o Dominic! — A voz de Daniel surpreendeu a todos — parece que ele tinha contato com Emily, ela era fã dele!— Acha que ele a matou? — Darío pareceu surpreso.—Todas as vítimas o tin
— Senhor Snyder, conhece esse homem? — Ele estendeu uma foto de um homem claramente morto.— Sim... é o meu ex! — Dominic sentiu uma sensação estranha, sentiu também seu corpo esfriar de repente, seus olhos se focaram na imagem de Alexander morto.— Senhor Snyder? — A voz de Darío era distante, Dominic sentiu seu coração parecer bater mais lento, sua cabeça rodava e tudo parecia demais.Uma pressão absurda foi sentida em sua cabeça e seu ar parecia dificultado.— Dominic! — Ele sentiu quando seu corpo foi amparado por Hayden, sua visão era turva e seu corpo estava muito fraco, ele sentiu quando foi abaixado por Hayden — Aaron...Os dois médicos conversavam alguma coisa, Dominic sentiu seu queixo ser segurado e sua boca foi aberta, ele sentiu o gosto do sal em sua língua e logo depois, uma garrafinha de água foi levada com cuidado até seus lábios.— Beba com cuidado... — a voz de Hayden o tranquilizou.Dominic fez o que foi pedido, sen
Simon era o melhor amigo de Dominic, o professor de literatura conheceu escritor ainda na adolescência e naquele momento ele abraçou o amigo com certa força, apenas por saber que ele precisava.Seu longo cabelo sedoso e brilhoso estava amarrado em um rabo de cavalo, seus olhos focaram na caixinha de transporte que tinha o pequeno animal adormecido.— Obrigado por me deixar ficar... é só por uns dois dias! — Dominic se apressou em falar.Simon suspirou, voltando a abraçar o melhor amigo, demorando a se afastar dessa vez e um sorriso doce cresceu nos lábios carnudos e cheios do outro.— Você vai ficar aqui durante o mês! — Simon afirmou — não vou te deixar sozinho de jeito nenhum! Liam já sabe e concordou com isso, nós já arrumamos o quarto de hospedes e não vamos aceitar um não como resposta!Dominic caminhou a
“A noite estava fria e silenciosa, quando Lucas entrou na sala mal iluminada, com o coração acelerado e um pressentimento sombrio. Maria estava de costas para ele, alheia ao perigo iminente.— Por que está aqui? — Ela perguntou sem se virar, sua voz tingida de desconfiança.— Apenas queria falar — respondeu Lucas, a mão tremendo enquanto segurava firmemente o cabo da faca oculta em seu casaco.Antes que Maria pudesse reagir, ele avançou rapidamente, cravando a lâmina em suas costas. Ela ofegou, um som engasgado que logo se perdeu na escuridão. Seus olhos arregalados, repletos de surpresa e dor, encontraram os de Lucas por um breve momento antes de ela cair no chão, sua vida esvaindo-se rapidamente.Lucas recuou, observando em choque enquanto o sangue se espalhava lentamente ao redor do corpo imóvel de Maria. O silêncio da sala foi quebrado apenas pelo som de sua respiração pesada, misturada com o sussurro do vento que entrava pela janela entreaberta."⚜️— Esse é bem estranho... — Hayd