Capítulo 5

— Quando estava na faculdade, abriu uma espécie de estágio no FBI, meu internato foi todo já como uma espécie de agente estagiário, quando concluí, assumi de vez o posto! — Huang explicou — foi algo muito bom para mim!

— Se formou cedo?

— Aos quatorze! Meu QI é acima da média e assim, me formei cedo e entrei na faculdade ainda na adolescência... assim como um dos personagens que já escreveu! Em um dos seus livros! — Dominic já não sabia se aquilo era bom ou ruim.

— Qual deles?

— Raízes Negras... foi um dos primeiros, não foi?

— Sim! Nem vou perguntar se gostou, imagino que tenha odiado! — O acastanhado brincou.

— Na verdade não! Bom, não posso dizer que adorei, pois não sou o público-alvo dos seus livros, ainda mais sendo um psiquiatra lendo sobre um personagem psiquiatra! Mas, foi uma leitora divertida, só não entendi o que te levou a crer ser possível o romance entre o psiquiatra e seu paciente! — O mais velho levou a cerveja até seus lábios.

— Ah... foi uma história bonitinha, não achou?

— Não! Foi antiético e me pareceu que ele controlava o namorado! Fora todos os estereótipos em cima do psiquiatra...

— Não tem tantos assim! — Ele se defendeu.

— Antissocial, lê muitos livros, não ouve músicas atuais, somente dos anos sessenta aos oitenta, ah, e claro, uma aparência diferente e desengonçada, sem habilidades sociais e interativas! — Huang listou — acha que toda pessoa inteligente é reclusa e feia?

— Não feia, mas, estranha! — A bebida com certeza não o deixava pensar no que dizia.

— Então me acha estranho? — Os olhos negros do psiquiatra foram até os seus.

Dominic apoiou seus braços na mesa, inclinou o corpo minimamente, sustentando o olhar do outro e sorrindo antes de responder.

— Não, doutor... na verdade, eu te acho muito atraente! — Ambos sorriram — posso até te usar como inspiração para o meu próximo livro!

— E qual seria o tema?

— BDSM! Um dominador sexual que ativa seu submisso em qualquer lugar ou ocasião que queira... um bom e sedutor jogo sexual! O que acha? — Huang lubrificou os lábios antes de se inclinar na direção do mais jovem e ficar bem próximo a ele.

— Acho que já bebeu o suficiente essa noite, garoto! — Huang sorriu — deveria beber um pouco de água e ir para casa!

— Hum..., mas, será que saio daqui com o seu número? Para fins literários, eu digo... — Huang foi o primeiro a se afastar, bebendo mais um pouco da sua cerveja e encarando o outro.

— Me fala um pouco sobre seus livros, o que acha?

Dominic sorriu, sentindo uma pontada de decepção pela recusa sutil do médico. Mesmo assim, ele decidiu mudar de assunto, percebendo que a conversa poderia se tornar desconfortável se continuassem nesse tópico.

— Claro! Bom, meus livros geralmente exploram os aspectos mais sombrios da mente humana, mergulhando em temas como mistério, suspense e, é claro, romance. Gosto de criar personagens complexos e situações intrigantes, que desafiam o leitor a mergulhar fundo na trama. Além disso, tento trazer à tona questões morais e éticas, fazendo com que os leitores reflitam sobre o que é certo e errado.

Huang assentiu, demonstrando interesse genuíno pela explicação de Dominic.

— Parece fascinante! Explorar os cantos mais obscuros da mente humana pode proporcionar narrativas muito cativantes. E quando se trata de romance, a complexidade dos relacionamentos adiciona uma camada extra de profundidade à história. Você tem alguma obra em mente atualmente, ou está apenas contemplando ideias para o próximo projeto? — Dominic se perguntava como aquele homem poderia ser tão intrigante com tão pouco, afinal, era uma simples conversa, onde ele se via fascinado pelo outro.

— Já tenho um em andamento... um romance que não sei o final! — Dominic suspirou.

— Como começa um livro sem saber o final?

— É mais emocionante assim! Eles são um bom casal, mas, ainda não sei qual será o destino deles... quando crio um personagem, deixo que ele monte sua trajetória, sendo assim, ele quem decide seu desfecho! — Dominic explicou pedindo mais duas cervejas — me deixe pagar essa, hum?

— Não se preocupe com isso, garoto..., mas, sua mente me parece fascinante, porém, barulhenta!

— Análise profissional ou palpite? — Mais duas cervejas foram servidas.

— Bom, um pouco dos dois..., mas, pessoas muito criativas relatam constantemente sobre a mente sempre estar trabalhando!

— É verdade! Às vezes sinto dor de cabeça por conta de tudo que penso..., mas, as vezes ela para e demora a voltar! — Dominic já se embolava um pouco nas palavras — estou tonto!

— É perceptível! Me diga seu endereço, vou te deixar em casa... — Huang se ofereceu.

— Tem um assassino usando meus livros para matar pessoas e você quer que eu passe meu endereço a você? Um completo estranho... — Dominic apertou os olhos, fingindo desconfiar do psiquiatra.

— Não pediu o meu número? — Aaron perguntou.

— Você recusou!

— Recusei? Não me lembro disso! — Aaron respondeu bebendo mais de sua cerveja — seu endereço, menino! Vou te deixar em segurança...

— Primeiro, o seu número, doutor! — Dominic estendeu seu telefone já com o teclado aberto, Huang colocou o seu número e estendeu de volta — Doutor Huang... — falou enquanto digitava, vendo o psiquiatra rir — soa muito bem, por isso decidiu ser médico?

— Não... sempre gostei de ajudar pessoas e medicina era o caminho mais óbvio, depois a psiquiatria! — Huang chamou o garçom e pediu para encerrar as duas contas.

— Deixa que eu pago a minha! É justo...

— Da próxima, você paga! — Aaron brincou.

— E vai ter próxima? — Dominic terminou sua cerveja enquanto olhava o mais velho.

— Para alguém tão jovem, consome muito álcool, não acha? — Ele perguntou ao ver a conta.

— Não sou tão mais novo que você! — O escritor protestou — tenho vinte quatro!

— Tenho trinta e quatro! — O psiquiatra disse entregando o cartão ao garçom para que a conta fosse paga — seu endereço?

— Está tentando saber onde eu moro?

— Garoto, ou te levo em casa, ou te levo para a minha casa! Na rua você não vai ficar! — Huang ficou de pé, encarando o escritor que fez o mesmo, porém, pareceu estar incapacitado de permanecer de pé — já entendi, para a minha casa, então!

Aaron pegou seu cartão de volta e apoiando Dominic saiu do bar, chamou um táxi e passou seu endereço, já pensando em como cuidaria daquele garoto sem que ele se sentisse violado...

Dentro do carro, Dominic estava praticamente apagado, com sua cabeça encostada no ombro do mais velho e dormindo.

O Huang olhou aquela cena e se sentiu um tanto encantado pela forma que o mais novo parecia sereno, aproximando um pouco dos fios castanhos e sentindo um cheiro de cereja que deveria ser do shampoo que o outro usava.

O caminho todo foi silencioso e tranquilo, quando chegaram, Aaron tirou Dominic do carro com certa dificuldade, tentando acordar o garoto que apenas dava passos escorados no corpo do mais velho.

Huang o levou até o quarto de hóspedes com muita dificuldade, o deitou na cama, tirou seus sapatos e o cobriu, ligou o ar-condicionado e o observou dormir por poucos minutos, apenas contemplando sua beleza, deixou o abajur mais distante e ligado, colou o celular e carteira do Snyder na mesinha de cabeceira, se levantou e caminhou até a porta, olhando-o mais uma vez.

— Boa noite, garoto!

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