Apaixonados (MORRO)
Apaixonados (MORRO)
Por: Sah Quele
Capítulo 1

Viviane

Acordo pensando no que me espera naquele dia. A noite foi longa, vovó não conseguia dormir por conta das dores de cabeça e não sei o que fazer para melhorar a saúde dela.

Nasci e cresci nessa comunidade, e agradeço por ter uma casa mesmo que numa comunidade e apesar de tudo eu sou muito feliz aqui.

— Viviane, meu amor, me traga um copo de água?

Vovó Zélia é a única pessoa que tenho nesse mundo. Meus pais morreram a 10 anos atrás quando estava prestes a completar 8 anos. Era uma tarde de domingo onde todos comemoravam o feriado santo, a polícia invadiu a favela por conta de uma denúncia e com isso do nada os homens entraram atirando em quem viam pela frente. Depois dali, apenas nós duas vivíamos numa casa com três cômodos em uma parte privilegiada da favela por conta do meu pai que quando vivo, era amigo do antigo chefe daqui. Logo depois que Seu Chico faleceu por conta de um infarto fulminante, o filho mais velho Pedro é quem assumiu tudo. Pedro é um ex-policial federal expulso da corporação, estava envolvimento com a milícia e foi expulso por se envolver em uma confusão com alguns superiores. Ele, além do dono do morro, se sente como meu dono também.

— Já estou indo buscar, vovó. A senhora já separou seu primeiro remédio da pressão?

Sigo para a cozinha enquanto assisto minha avó com dificuldade andar até uma mesinha onde guardava os remédios que são muitos.

Encho um copo de água natural e aproveito para colocar a água na chaleira para preparar o café para nós duas. Hoje não vou precisar ir para o curso, então preciso aproveitar as horas ao lado da vovó. 

Volto para o quarto e entrego o copo para ela, que com certa dificuldade engole o comprimido com o líquido.

— Vó, você pode ficar deitada mais um pouco, hoje não preciso ir para o curso e o Pedro ainda está viajando, então vou aproveitar para ficar com você.

— Filha, mas você acha certo? Se ele aparecer de surpresa ou mandar um dos garotos te vigiar?

— Vovó, ele não pode me manter presa para o resto da vida aqui nessa favela. Eu tenho que estudar e ele sabe disso, pouco me importa o que ele pensa ou deixa de pensar.

Volto para a cozinha virando as costas para ela. Sempre é a mesma defesa como se minha avó não enxergasse o que eu consigo sempre que me encontro com ele. Pedro colocou os olhos em mim quando eu estava com 16 anos, na época ele era um homem feito de 30 anos e já havia assumido o lugar do pai aqui na favela. Sempre bem-vestido e conquistador, foi a mim que ele escolheu para ser uma das suas inúmeras mulheres, e é apenas para manter minha avó viva que continuo concordando em aturar o que tenho com ele.

Pego meu celular que esqueci na mesa da cozinha e dou uma olhada em uma das minhas redes sociais até que leio sobre a notícia do tiroteio da noite passada. 

— Com certeza o Pedro vai chegar nervoso como sempre por saber que os tontos que ele acha que são competentes deixaram os homens entrarem aqui e fazer toda essa bagunça.

A notificação de mensagem chega e reviro os olhos ao ler quem enviou.

“Estou voltando hoje pra casa, espero você a noite e uma das meninas pode cuidar da vó enquanto nos encontramos. Não esqueça que quero você bem cheirosa ao meu lado hoje. Estou irritado pelo que houve e só você pode me acalmar”

— Saco! Meu Deus, me ajuda a me livrar disso em breve, não sei até quando vou conseguir suportar.

A água ferve e me apresso a preparar o café da manhã, vou aproveitar e limpo a casa agora cedo, deixando para ir ao salão da Vicky depois do almoço, assim faço o que preciso fazer.

Depois de coar o café, preparo um sanduiche para nós duas e coloco na bandeja, volto para o quarto e encontro vovó assistindo a missa. Todos os dias ela não perde uma missa do Padre João, sempre pedindo para que Deus continue iluminando os meus caminhos.

***

Depois de organizar a casa, avisei a vovó que iria até o salão e pedi para que uma das meninas fizesse companhia para ela, Pedro já deixou recado, então fui tranquila sabendo que ela estaria em boas mãos. De lá iria direto para a casa dele e com certeza teria que preparar o jantar. Ao menos o curso de culinária que faço e que amo serve para esses momentos.

O salão da Vicky fica na entrada da comunidade, é o melhor da região e minha amiga atende até mesmo algumas ricas que moram no Jardim América que pagam de boas mulheres na mídia, mas por trás, só quem convive ali sabe do que os maridos e amantes são capazes.

— Já estava te esperando, seu homem me mandou mensagem cedo contando que queria você bem linda essa noite. Pelo tom de voz ele vem nervoso por conta do que houve aqui ontem.

Vicky me abraça assim que chego e sou alvo de olhares por parte de algumas que me toleram ali. Por elas eu teria sido expulsa há tempos, mas como minha amiga disse, “meu homem” manda ali e enquanto eu estiver servindo para ele, preciso ser tratada bem.

— Me fala que você é quem vai me atender? Ele me mandou mensagem com aquele tom que você já conhece e saindo daqui vou direto pra casa dele.

— Garota, não sei por que não aceita logo morar com o Pedro. Você já está com ele há 2 anos e fica se fazendo de difícil, tá esperando que ele te dê um anel de brilhante?

Dou risada ao ouvir aquilo. Pedro pode ser tudo, menos o tipo de homem que pediria alguém em casamento. Apenas eu conheço o verdadeiramente e sou eu que tenho que suportar todas as birras e surtos quando nada saí do jeito que ele quer.

— Deixa de conversar demais e vamos, você precisa me deixar linda porque senão seu querido chefe surta se não me encontrar como quer.

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