3 anos e meio depois...VivianeSentada na varanda conversando com minha melhor amiga e vovó, observava o movimento àquela hora do dia na rua. Ester brincava de casinha com Duda a filha da Vitória com Lucas. 4 anos se passaram desde a volta do Pedro, minha separação, meu novo casamento com o pai dos meus filhos. Estrela Guia agora se encontrava tão diferente de 8 anos atrás. Eu agora estava com 26 anos. Casada com o amor da minha vida, dona de duas docerias na cidade e vivendo uma vida que nunca esperava viver. Tanta coisa mudou em nossa comunidade. Tanto para o bem quanto para o mau. Pedro dizia que pensava em se aposentar e passar os negócios para o Lucas. No fundo eu sabia que era apenas da boca para fora isso. Meu marido amava o que fazia e se orgulhava de tudo que construiu com o passar dos anos. Aos 40 anos, se tornou conhecido pelo pulso firme com que lidava com as coisas, os negócios não tão certos, bem ele continuava fazendo. Porém não era, mas alvo da polícia como antes. Eu
VivianeAcordo pensando no que me espera naquele dia. A noite foi longa, vovó não conseguia dormir por conta das dores de cabeça e não sei o que fazer para melhorar a saúde dela.Nasci e cresci nessa comunidade, e agradeço por ter uma casa mesmo que numa comunidade e apesar de tudo eu sou muito feliz aqui.— Viviane, meu amor, me traga um copo de água?Vovó Zélia é a única pessoa que tenho nesse mundo. Meus pais morreram a 10 anos atrás quando estava prestes a completar 8 anos. Era uma tarde de domingo onde todos comemoravam o feriado santo, a polícia invadiu a favela por conta de uma denúncia e com isso do nada os homens entraram atirando em quem viam pela frente. Depois dali, apenas nós duas vivíamos numa casa com três cômodos em uma parte privilegiada da favela por conta do meu pai que quando vivo, era amigo do antigo chefe daqui. Logo depois que Seu Chico faleceu por conta de um infarto fulminante, o filho mais velho Pedro é quem assumiu tudo. Pedro é um ex-policial federal expuls
Leonardo— Leonardo Martinez, me diz que é uma brincadeira tudo isso e você não vai se enfiar numa favela, morro ou comunidade?. O nome que você quiser escolher para um local infestado de bandidos!.Respiro novamente, tentando não responder aos berros da minha mãe. As vezes ela esquece que já sou um homem e não um moleque de 18 anos que saiu de casa para estudar medicina fora do país.— Mamãe por favor, não seja preconceituosa com o que fala de pessoas que nem a senhora não conhece. Eu vou ajudar na clínica que o secretário vai inaugurar na comunidade e será apenas duas vezes na semana. A senhora sabe bem como gosto de ajudar e não sei por que esse desespero todo.Soraia Martinez me trata como uma criança, não entende o amor que sinto em ajudar os mais necessitados sabendo que posso fazer mais do que muitos por aí. Depois de ficar um tempo trabalhando no médico sem fronteiras, eu voltei para o Brasil e recebi uma proposta para ser o diretor de uma comunidade perto da Brasilândia, e ac
Viviane—Sim vovó, não vou dormir essa noite em casa. O Lucas me ligou avisando que o Pedro pediu para reforçar a segurança da casa e não se preocupa que nada vai acontecer com a senhora. Tudo bem, amanhã assim que ele sair para o trabalho eu volto para casa, tudo bem?Me despeço da minha avó e ouço um carro estacionar na garagem, pela hora o Pedro chegando e corro para a cozinha, para aquecer o molho.Enquanto mexo nas panelas, sinto uma mão rodeando minha cintura e beijando minha nuca deixando meu corpo se arrepiando ao toque dele.Maldita reação que sempre me deixa assim, cada vez que os dedos dele tocam em qualquer parte do meu corpo traidor.Me recrimino em pensamento, por sentir o que sinto cada vez que ele acaricia minha pele.—Comida com cheiro bom — ele continua beijando minha nuca indo para o meu pescoço.—Espero que tenha resolvido tudo e consiga encontrar quem ousou entrar aqui para vender o que não é permitido.Me viro ficando de frente para ele, passando os braços em tor
VivianeÉ sempre assim com Pedro. Se eu digo “não”, ele reage daquela forma imediatamente e me trata como se fosse nada. Vou para o banheiro e faço minha higiene matinal, depois tomo um banho gelado lavando tudo que houve na noite passada, volto para o quarto e visto a primeira roupa que encontro. Como vou ficar em casa, não tem necessidade de me arrumar apenas para servir as manias do Pedro. Quando vou para a cozinha, encontro Maria terminando de arrumar a mesa, ela me olha com o olhar de desprezo de sempre. Quando Pedro não está por perto, ela me trata como os lixos que costuma lidar, mas claro que na frente do chefe ela coloca o sorriso falso e se finge de boa.— Maria, pode arrumar o nosso quarto? Quero tomar o café sozinho com minha mulher.Pedro dá ordem e claro que aquela bruxa não dá nem mesmo um suspiro. Sempre se mostrando de boazinha, mas não passa de uma cobra maldita.***LeonardoO dia da inauguração da clínica na comunidade chegou e depois de muita discussão com mamãe,
LeonardoAssim que chego, sou recepcionado por Luiz e Marcelo que estão acompanhados das esposas Lúcia e Mariane. Até tentei convencer minha mãe a vir comigo, mas dona Soraia prefere a morte que se juntar ao lado de gente inferior como ela adora falar.— Enfim, nosso convidado de honra chegou e já fui avisado de que Pedro está estacionando o carro.Olho para as pessoas presentes e percebo que homens estão armados mesmo que discretamente. Sei que tanto Luiz como Marcelo trabalham em conjunto com o famoso Pedro cobrando pela segurança das lojas da região e até mesmo de alguns moradores com uma condição melhor que ali viviam.— Estou curioso para conhecer o dono de tudo por aqui — dou um sorriso sincero ao ver a pequena clínica que mesmo de fora, parecia bem-organizada, e pelo que Luiz me contou, todos os equipamentos necessários estavam instalados no lugar.***PedroDepois de passar tudo para os garotos sobre a segurança da Viviane, sigo com Luquinha e Bigode até onde os convidados imp
VivianeChamo a neta da dona Noca, que me acompanha de volta a casa da mãe. Lucy é um pouco mais jovem que eu, estuda na escola da comunidade e sonha em se tornar médica um dia.—Vivi, o seu Pedro arrumou tudo tão bem hoje que as meninas lá da rua detrás disseram que a festa vai até a madrugada.Pego na mão dela, caminhando ao seu lado mudando o assunto para algo que eu me sinto bem em conversar. Chegamos até dona Noca e avisei que precisava retornar para onde o Pedro estava que pela voz no microfone logo a fita seria cortada e nós dois estaríamos de volta.Me despeço de vó e neta caminhando com aqueles dois idiotas atrás como se fossem uma sombra que não me deixam em paz.Me aproximo do Pedro que conversava com o governador e o secretário de saúde. As madames esposas dos dois, apenas me olhavam com reprovação. Com certeza deveriam achar que eu não passava de uma vadia que dormia com bandido para ter algum tipo de luxo.**LeonardoDepois de esbarrar na garota do olhar, mas lindo que
LeonardoDirigindo de volta para casa, depois de tudo dando certo. Mal posso esperar para começar a clinicar ali. Não é apenas as pessoas que conheci naquele pouco tempo que estive presente naquele lugar. Muitas senhoras de idade me falaram que estavam tão felizes, por enfim médicos presentes em qualquer horário. Os atendimentos seriam separados por dias, desde as crianças até mesmo as pessoas com mais idade. No caminho lembro da garota ao lado do tal Pedro, lembrando do olhar de anjo que ela tem ao ter encontrado Viviane pela primeira vez naquela pequena viela.Depois que o homem saiu, perguntei discretamente para uma das pessoas o nome da garota descobrindo que ela era namorada do chefe e fui avisado que ficasse o, mas longe que pudesse daquela mulher.Rir ao lembrar das palavras da senhorinha que respeitava um bandido como se ele fosse um deus.Entro na garagem de casa, ao descer encontro minha mãe me esperando. Ela dá um suspiro aliviada ao me ver chegar inteiro.— Até que enfim