Capítulo 5

Leonardo

Assim que chego, sou recepcionado por Luiz e Marcelo que estão acompanhados das esposas Lúcia e Mariane. Até tentei convencer minha mãe a vir comigo, mas dona Soraia prefere a morte que se juntar ao lado de gente inferior como ela adora falar.

— Enfim, nosso convidado de honra chegou e já fui avisado de que Pedro está estacionando o carro.

Olho para as pessoas presentes e percebo que homens estão armados mesmo que discretamente. Sei que tanto Luiz como Marcelo trabalham em conjunto com o famoso Pedro cobrando pela segurança das lojas da região e até mesmo de alguns moradores com uma condição melhor que ali viviam.

— Estou curioso para conhecer o dono de tudo por aqui — dou um sorriso sincero ao ver a pequena clínica que mesmo de fora, parecia bem-organizada, e pelo que Luiz me contou, todos os equipamentos necessários estavam instalados no lugar.

***

Pedro

Depois de passar tudo para os garotos sobre a segurança da Viviane, sigo com Luquinha e Bigode até onde os convidados importantes estão. Eu precisava controlar ainda mais Viviane e teria que dar um jeito de fazer com que ela morasse comigo de uma vez por todas. Mesmo com dona Zélia gostando de mim, ainda assim não era suficiente para que a neta aceitasse viver ao meu lado. Ela se tornou mulher aos meus olhos, a cada dia ficava mais linda ainda e só em imaginar outro tocando num fio sequer do cabelo dela, eu fico louco de ódio.

— Chefe, fizemos a ronda e tudo tá tranquilo, sem intrusos na comunidade hoje.

Bigode me avisa enquanto seguimos em direção à clínica. Luiz e Marcelo, aqueles dois merdas estão rindo para um homem mais jovem vestido de terno e com visual de rico. Só em colocar os olhos já sei que se trata do tal médico filho de um famoso dono de hospital bacana em São Paulo. Naquele dia pedi que Bigode e Luquinha se vestissem de forma apresentável e escondessem as armas para não assustar as mulheres e muito menos o médico.

— Pedro, enfim você chegou.

Luiz é o primeiro a falar, me abraçando e chamando o homem para se aproximar de mim.

— Leonardo, esse é o Pedro, o dono de tudo por aqui, e graças a ele é que podemos ter nossa clínica.

***

Viviane

Vicky e eu nos afastamos de toda aquela bagunça. Por sorte ela me avisou que estaria presente e quando Pedro fosse cortar a fita vermelha, eu estaria ao lado dele. Dentro do carro o aviso que me deu me fez ficar extremamente irritada. Nem mesmo num único dia ele pode me deixar em paz?

— Hoje você veio para matar Pedro de ciúmes.

Vicky me olha de cima embaixo, na mão tinha uma latinha de cerveja enquanto na outra mexia em seu celular.

— Faz o favor de calar a boca ou falar baixo. Não viu os urubus aí do lado ouvindo tudo? — Aponto para o lado e mostro um dos bajuladores do Pedro.

— Aí, você adora um drama, até parece que falei alguma mentira. E todo mundo aqui sabe do ciúme doentio que ele tem de você. 

Vicky se afasta e vai conversar com um dos garotos da segurança. Aquela não podia ver um homem que já estava querendo se esfregar.

Aproveito que ela me deixou sozinha e vou até uma das amigas da minha avó. Dona Noca é uma das moradoras mais velhas em idade da Estrela Guia e Pedro tem um grande respeito por ela. Quem sabe ficando perto dela acaba não me dando problema depois. Já sei que a noite ele não vai me deixar em paz, principalmente se nada sair como espera naquela festa. Me aproximo de dona Noca que sorri ao me ver sentada em sua cadeira de balanço.

— Não quis participar da festa?

A música alta me faz gritar um pouco, já que ela não ouve muito bem de um lado do ouvido.

— Estou velha, filha. Mas sei que Pedro vai fazer dessa noite um sucesso.

Tento não demonstrar minha cara nada agradável e apenas sorrio por ter alguém para conversar. Estava bem perto do local da festa e de longe conseguia avistar o Pedro do lado daquela gente falsa.

— Filha, você pode ir até a casa da Zefa chamar minha neta?

— Vou sim, dona Noca. Espera aqui que retorno em um minuto.

Vou andando até perto de onde Pedro está e viro um dos becos. Me assusto ao esbarrar o ombro em alguém, um celular caí e me abaixo para juntar quando dou de cara com um homem que nunca vi na comunidade me olhando de uma forma estranha.

***

Leonardo

Depois de ser apresentado ao dono da comunidade e ouvir por alguns minutos os elogios que Luiz e Marcelo teciam aquele homem, me lembrei de que havia deixado minha carteira dentro do carro e pedi licença para ir até o veículo buscar. Naquele lugar eram tão parecidas às casas e ruas, que por sorte minha memória é boa ou acabaria me perdendo em meio aquele monte de pessoas. Sigo na rua que deixei meu carro estacionado, vendo que ele continuava intacto e sem nenhum arranhão. Destranco e pego minha carteira dentro do porta-luvas, apertando o botão do alarme e retornando para o lugar que estava.

Meu celular tocou e o nome da minha mãe apareceu no visor.

— Mamãe, estou bem, vivo e sem nenhum ferimento. Agora preciso desligar que logo a fita será cortada e estarei de volta em casa — respondo ao ouvir as reclamações do outro lado da linha misturado com o drama que só minha mãe sabia fazer.

— Tudo bem, mãe. Eu já te falei que volto assim que acabar por aqui. Conversamos melhor em casa.

Ao desligar o celular, um braço esbarra em mim e o meu aparelho caí ao chão. Quando me abaixo para pegar, ao mesmo tempo uma jovem de olhos negros e rosto angelical me encara.

— Desculpa senhor, estava andando com pressa e acabei derrubando seu telefone. Espero que não tenha quebrado nada — Ela me responde com um sorriso e me devolve o aparelho, se levanta ao mesmo tempo em que eu e segue no sentido contrário ao que eu estava.

Vejo-a caminhar com aquele vestido minúsculo e os cabelos negros como a noite.

— Tire os olhos daquela menina, Leonardo. Se duvidar, ela não deve ter nem 18 anos e você se encantando por uma garota que pode ser sua filha.

Volto para o lugar onde os outros estão esperando que a comemoração se encerrasse logo e assim eu pudesse voltar para casa e acalmar o coração da minha mãe.

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