Leonardo
Assim que chego, sou recepcionado por Luiz e Marcelo que estão acompanhados das esposas Lúcia e Mariane. Até tentei convencer minha mãe a vir comigo, mas dona Soraia prefere a morte que se juntar ao lado de gente inferior como ela adora falar.— Enfim, nosso convidado de honra chegou e já fui avisado de que Pedro está estacionando o carro.Olho para as pessoas presentes e percebo que homens estão armados mesmo que discretamente. Sei que tanto Luiz como Marcelo trabalham em conjunto com o famoso Pedro cobrando pela segurança das lojas da região e até mesmo de alguns moradores com uma condição melhor que ali viviam.— Estou curioso para conhecer o dono de tudo por aqui — dou um sorriso sincero ao ver a pequena clínica que mesmo de fora, parecia bem-organizada, e pelo que Luiz me contou, todos os equipamentos necessários estavam instalados no lugar.***PedroDepois de passar tudo para os garotos sobre a segurança da Viviane, sigo com Luquinha e Bigode até onde os convidados importantes estão. Eu precisava controlar ainda mais Viviane e teria que dar um jeito de fazer com que ela morasse comigo de uma vez por todas. Mesmo com dona Zélia gostando de mim, ainda assim não era suficiente para que a neta aceitasse viver ao meu lado. Ela se tornou mulher aos meus olhos, a cada dia ficava mais linda ainda e só em imaginar outro tocando num fio sequer do cabelo dela, eu fico louco de ódio.— Chefe, fizemos a ronda e tudo tá tranquilo, sem intrusos na comunidade hoje.Bigode me avisa enquanto seguimos em direção à clínica. Luiz e Marcelo, aqueles dois merdas estão rindo para um homem mais jovem vestido de terno e com visual de rico. Só em colocar os olhos já sei que se trata do tal médico filho de um famoso dono de hospital bacana em São Paulo. Naquele dia pedi que Bigode e Luquinha se vestissem de forma apresentável e escondessem as armas para não assustar as mulheres e muito menos o médico.— Pedro, enfim você chegou.Luiz é o primeiro a falar, me abraçando e chamando o homem para se aproximar de mim.— Leonardo, esse é o Pedro, o dono de tudo por aqui, e graças a ele é que podemos ter nossa clínica.***VivianeVicky e eu nos afastamos de toda aquela bagunça. Por sorte ela me avisou que estaria presente e quando Pedro fosse cortar a fita vermelha, eu estaria ao lado dele. Dentro do carro o aviso que me deu me fez ficar extremamente irritada. Nem mesmo num único dia ele pode me deixar em paz?— Hoje você veio para matar Pedro de ciúmes.Vicky me olha de cima embaixo, na mão tinha uma latinha de cerveja enquanto na outra mexia em seu celular.— Faz o favor de calar a boca ou falar baixo. Não viu os urubus aí do lado ouvindo tudo? — Aponto para o lado e mostro um dos bajuladores do Pedro.— Aí, você adora um drama, até parece que falei alguma mentira. E todo mundo aqui sabe do ciúme doentio que ele tem de você. Vicky se afasta e vai conversar com um dos garotos da segurança. Aquela não podia ver um homem que já estava querendo se esfregar.Aproveito que ela me deixou sozinha e vou até uma das amigas da minha avó. Dona Noca é uma das moradoras mais velhas em idade da Estrela Guia e Pedro tem um grande respeito por ela. Quem sabe ficando perto dela acaba não me dando problema depois. Já sei que a noite ele não vai me deixar em paz, principalmente se nada sair como espera naquela festa. Me aproximo de dona Noca que sorri ao me ver sentada em sua cadeira de balanço.— Não quis participar da festa?A música alta me faz gritar um pouco, já que ela não ouve muito bem de um lado do ouvido.— Estou velha, filha. Mas sei que Pedro vai fazer dessa noite um sucesso.Tento não demonstrar minha cara nada agradável e apenas sorrio por ter alguém para conversar. Estava bem perto do local da festa e de longe conseguia avistar o Pedro do lado daquela gente falsa.— Filha, você pode ir até a casa da Zefa chamar minha neta?— Vou sim, dona Noca. Espera aqui que retorno em um minuto.Vou andando até perto de onde Pedro está e viro um dos becos. Me assusto ao esbarrar o ombro em alguém, um celular caí e me abaixo para juntar quando dou de cara com um homem que nunca vi na comunidade me olhando de uma forma estranha.***LeonardoDepois de ser apresentado ao dono da comunidade e ouvir por alguns minutos os elogios que Luiz e Marcelo teciam aquele homem, me lembrei de que havia deixado minha carteira dentro do carro e pedi licença para ir até o veículo buscar. Naquele lugar eram tão parecidas às casas e ruas, que por sorte minha memória é boa ou acabaria me perdendo em meio aquele monte de pessoas. Sigo na rua que deixei meu carro estacionado, vendo que ele continuava intacto e sem nenhum arranhão. Destranco e pego minha carteira dentro do porta-luvas, apertando o botão do alarme e retornando para o lugar que estava.Meu celular tocou e o nome da minha mãe apareceu no visor.— Mamãe, estou bem, vivo e sem nenhum ferimento. Agora preciso desligar que logo a fita será cortada e estarei de volta em casa — respondo ao ouvir as reclamações do outro lado da linha misturado com o drama que só minha mãe sabia fazer.— Tudo bem, mãe. Eu já te falei que volto assim que acabar por aqui. Conversamos melhor em casa.Ao desligar o celular, um braço esbarra em mim e o meu aparelho caí ao chão. Quando me abaixo para pegar, ao mesmo tempo uma jovem de olhos negros e rosto angelical me encara.— Desculpa senhor, estava andando com pressa e acabei derrubando seu telefone. Espero que não tenha quebrado nada — Ela me responde com um sorriso e me devolve o aparelho, se levanta ao mesmo tempo em que eu e segue no sentido contrário ao que eu estava.Vejo-a caminhar com aquele vestido minúsculo e os cabelos negros como a noite.— Tire os olhos daquela menina, Leonardo. Se duvidar, ela não deve ter nem 18 anos e você se encantando por uma garota que pode ser sua filha.Volto para o lugar onde os outros estão esperando que a comemoração se encerrasse logo e assim eu pudesse voltar para casa e acalmar o coração da minha mãe.VivianeChamo a neta da dona Noca, que me acompanha de volta a casa da mãe. Lucy é um pouco mais jovem que eu, estuda na escola da comunidade e sonha em se tornar médica um dia.—Vivi, o seu Pedro arrumou tudo tão bem hoje que as meninas lá da rua detrás disseram que a festa vai até a madrugada.Pego na mão dela, caminhando ao seu lado mudando o assunto para algo que eu me sinto bem em conversar. Chegamos até dona Noca e avisei que precisava retornar para onde o Pedro estava que pela voz no microfone logo a fita seria cortada e nós dois estaríamos de volta.Me despeço de vó e neta caminhando com aqueles dois idiotas atrás como se fossem uma sombra que não me deixam em paz.Me aproximo do Pedro que conversava com o governador e o secretário de saúde. As madames esposas dos dois, apenas me olhavam com reprovação. Com certeza deveriam achar que eu não passava de uma vadia que dormia com bandido para ter algum tipo de luxo.**LeonardoDepois de esbarrar na garota do olhar, mas lindo que
LeonardoDirigindo de volta para casa, depois de tudo dando certo. Mal posso esperar para começar a clinicar ali. Não é apenas as pessoas que conheci naquele pouco tempo que estive presente naquele lugar. Muitas senhoras de idade me falaram que estavam tão felizes, por enfim médicos presentes em qualquer horário. Os atendimentos seriam separados por dias, desde as crianças até mesmo as pessoas com mais idade. No caminho lembro da garota ao lado do tal Pedro, lembrando do olhar de anjo que ela tem ao ter encontrado Viviane pela primeira vez naquela pequena viela.Depois que o homem saiu, perguntei discretamente para uma das pessoas o nome da garota descobrindo que ela era namorada do chefe e fui avisado que ficasse o, mas longe que pudesse daquela mulher.Rir ao lembrar das palavras da senhorinha que respeitava um bandido como se ele fosse um deus.Entro na garagem de casa, ao descer encontro minha mãe me esperando. Ela dá um suspiro aliviada ao me ver chegar inteiro.— Até que enfim
VivianeAcordei cedo, vovó não estava muito bem, mas não me deixou faltar ao curso. Em breve estaria terminando o último modulo e por ter faltado por vários dias, por ter ficado na casa com Pedro, vovó me pediu que fosse e assim não me prejudicaria na reta final.Pedro viajou para o Rio de Janeiro, tinha negócios para tratar por lá e deixou a comunidade nas mãos do Lucas, já que o Bigode foi acompanhando-o.A inauguração da clínica nas redes sociais foi um sucesso e claro que os comentários positivos apenas deixaram o Pedro mais orgulhoso do que ele já era. Pelo que me contaram o diretor era atencioso e tratava todos os pacientes da mesma forma. Lembrei do encontro com ele e realmente o homem estava mais para galã do que para médico.Arrumava as minhas coisas dentro da bolsa, naquele dia foi aula apenas de doces e ao pegar meu avental para guardar, me recordei do motivo em ter ido a casa de Pedro pela primeira vez.2 Anos atrás—Minha filha, aceite essa diária e mesmo de menor não vai
PedroDepois de finalizar o encontro com um empresário importante do Rio, volto para o hotel em que sempre fico hospedado. Ao entrar encontro Jéssica nua escolhendo um dos vestidos que comprou em um dia na cidade maravilhosa. Ela era sobrinha da Maria, sabia que não se bicava com Viviane, mas ela foi a escolhida para me fazer companhia naquela viagem.—Aí amor, pensei que iria demorar mais um pouco. Olha pra mim ainda nem escolhi o vestido para nosso jantar.Jéssica se aproxima de mim, esfregando seu corpo no meu, deslizando sua mão até meu membro que endurece ao toque dos dedos dela sob o tecido do jeans.—Eu tomo banho e em 20 minutos, saímos que não é bom deixar os anfitriões nos esperando.Seguro seu cabelo com força, beijando seus lábios com uma certa brutalidade e Jéssica, continua massageando meu pau até que me afasto dela, despindo minha roupa e entrando no banheiro.Antes de subir, falei com um dos garotos e já estava sabendo que Viviane se encontrava em casa, junto com dona
LeonardoUma semana se passou desde que comecei a clinicar na comunidade e em poucos dias, conheci tantas pessoas e histórias que em anos de profissão nunca tinha sequer imaginado. Muitas mulheres com filhos que se perderam para as drogas e o crime. Me impressionou descobrir que Pedro apesar de ser um bandido, era alguém que cuidava dos moradores com mãos de ferro. Depois que assumiu de vez a comunidade, fez mudanças tentando pacificar o lugar, feito que conseguiu com ajuda de pessoas importantes. Como já tinham me dito era proibido bocas de fumo, Pedro tinha grande amizade com pessoas da política e com isso conseguia verbas para que os mais novos pudessem ter um bom futuro. Era irônico ao menos para uma pessoa como eu, que cresceu ouvindo sobre o mundo do crime, saber que o dono do morro em que eu atendia não aceitava drogas e vivia do tráfico de armas e mercadorias ilegais vindo de fora.Esperava a próxima paciente, até que Lucia entrou me avisando que a senhora que atenderia naquel
VivianeVi a hora no relógio e passava das nove da noite e nada do Pedro chegar. O jantar esfriou na mesa e pelo jeito a minha receita daquele dia acabaria indo para outras pessoas. Cansada de esperar, sem contar o calor infernal que fazia, decidi tomar outro banho e ir dormir, já que pelo que notei ele deveria chegar de madrugada. Vovó estava na casa da dona Florentina e as duas iriam até o bingo que ficava pertinho da casa da amiga dela.Tirei minha roupa, deixando no cesto de roupa, aproveitei para trazer algumas peças de casa, assim não teria que voltar até lá para buscar nada.Abri o box de vidro, entrei regulando a temperatura no gelado, assim eu me refrescaria melhor. Enquanto tirava o xampu do cabelo, ouvi sons vindo do quarto e Pedro deveria ter retornado. Pouco depois sinto ele me abraçando por trás, fazendo carinho em meus seios e um sorriso veio ao meu rosto. Nem eu mesma entendia minha relação com aquele homem, que, ao mesmo tempo que era bom, tinha outro lado que eu prec
PedroViviane ainda estava dormindo, e minha vontade era retornar para nossa cama, permanecer lá o dia todo, esquecendo os problemas que teria que enfrentar. Sempre que volto de uma viagem, surge uma nova dor de cabeça para resolver, e hoje não seria diferente. Bigode me enviou uma mensagem cedo, relatando o barraco que Jéssica fez ao retornar. Pedi a ele que resolvesse para mim, já que tinha preocupações mais importantes em mente. Deitei ao lado dela na cama, afastei o cabelo de suas costas nuas e depositei um beijo em sua nuca. Viviane sorriu ao sentir meus lábios em sua pele. Decidi deixá-la descansar após a noite que tivemos e administrar as questões de casa para não ficar longe dela por muito tempo. Levantei-me da cama, saí cuidadosamente do quarto e fui para a cozinha, onde encontrei Maria organizando as coisas para o café.— Bom dia, Pedro. Já preparei seu café e vou arrumar seu quarto agora mesmo.Ela disse enquanto se dirigia ao meu quarto.— Não arruma nada agora, pois a Viv
VivianeDepois da discussão com Maria, tomei meu café e decidi passar o dia no salão com a Vitória. Nada melhor do que umas horas se embelezando para esquecer os problemas. Dizia a mim mesma que não era ciúmes ou pra impressionar o Pedro, eu queria ficar bonita por mim.Cheguei em casa depois da hora que eu sabia que a bruxa da Maria não estaria, mas assim teria tempo suficiente para descansar antes de tentar uma nova receita. Me sentia bem quando cozinhava e assim esquecia um poucos os meus problemas. Sabia que durante os dias que ficaria com Pedro não poderia ir ao curso então era melhor continuar praticando na casa dele.Passei pelo corredor que dava para o quarto dele, a casa estava silenciosa e só os seguranças que estavam do lado de fora na entrada. Entrei no quarto largando minha bolsa em cima do sofá me assustando ao encontrar Pedro deitado na cama com as mãos por trás da cabeça e provavelmente esperando por mim.—Já chegou em casa?Pergunto- me aproximando dele, dando um beij