Capítulo 63 – Maeve Jhosef "O amor verdadeiro não grita. Ele sussurra entre as dores, floresce no meio da ruína e permanece mesmo quando tudo o mais se vai."O dia amanheceu com um silêncio raro. O tipo de silêncio que não fere, mas embala. Que não pesa, mas acolhe.O vento dançava entre as folhas do jardim dos meus pais como uma bênção antiga, e as flores - ah, as flores... - pareciam mais vivas do que nunca. Talvez soubessem que estavam testemunhando algo que vai muito além de um simples "sim".Eu ainda me lembrava de tudo que perdemos. Ainda carregava os fantasmas. Mas, naquele dia, vesti meu vestido leve como quem veste uma nova pele. A pele da mulher que sobreviveu. Que amou e foi amada. Que caiu e levantou, mais de uma vez.Zola ajeitou meu cabelo com lágrimas nos olhos. Amanda não parava de sorrir. Minha mãe, ao me ver pronta, levou as mãos à boca e chorou como se me visse nascer de novo.E talvez visse.Quando caminhei pelo jardim, meus olhos só encontraram os dele. Isaac. M
Epílogo – Anos depoisMaeve JhosefA vida acontece nas brechas.Entre uma risada que explode no fim da tarde e o silêncio sereno de mãos entrelaçadas sob a mesa do café da manhã.A vida acontece enquanto se varre o quintal, se embala uma criança no colo e se observa o mundo girar — menos cruel do que parecia no início.Ezra — nosso filho — tem os olhos do tio que ele nunca conheceu.Olhos que carregam um oceano de histórias e um brilho curioso demais para caber num corpo tão pequeno.Ele corre pelo jardim agora, segurando o avião de madeira que Isaac mesmo esculpiu numa noite de insônia e saudade.É engraçado como a dor nos ensinou a amar com mais coragem.Como as perdas nos ensinaram a ser inteiros.talvez não sejamos capazes de superar totalmente todos os nossos traumas, mas aprendemos a conviver com a dor de forma que não interfere na nossa confiança ou no amor que sentimos um pelo outro.— Mamãe, olha! Ele voa! — ele grita, e eu rio.Porque não importa que o avião tenha caído no m
"Antes do Silêncio" — um romance que corta como a dor e cura como o amor.Em um mundo onde o luto pesa mais do que as palavras podem suportar, Maeve tenta sobreviver à ausência do homem que amou. Mas o destino, impiedoso e inesperado, a coloca frente a frente com Isaac — o irmão do seu amor perdido, o homem que carrega nos olhos segredos que queimam e silêncios que doem.Antes do Silêncio é uma história sobre perdas irreparáveis, promessas não cumpridas e um amor proibido que resiste mesmo quando tudo parece desabar. É sobre se reconstruir entre os escombros, redescobrir a vida entre cicatrizes e permitir-se amar quando o coração ainda sangra.Com uma narrativa poética, densa e visceral, Marjorye Sandalo entrega um romance intenso e inesquecível — daqueles que deixam marcas, que fazem chorar, que não se esquece ao fechar o livro.Se você acredita que até o silêncio pode contar uma história de amor, esse livro é para você. Sinopse Antes do silêncio, havia dor. Havia desejo. Havia e
Capítulo 1 “Às vezes, tenho a perturbadora sensação de estar sendo observada. Outras vezes, a estranha certeza de estar sozinha. Mas, em raros momentos… sinto que sou a própria escuridão.” — Marjorye Sandalo Maeve Jhosef O suor escorre pela minha testa enquanto dou os últimos toques no quadro. Cada pincelada parece arrancar algo de dentro de mim — como se a alma se dissolvesse junto às tintas. Dessa vez, a obra era diferente. Livre. Intensa. Uma libertação silenciosa em forma de flores e asas. — Querida, essa pintura está magnífica! — elogia minha mãe, com aquele sorriso que sempre me devolve o fôlego. — Talvez seja a mais delicada que já pintei — respondo, encarando os traços suaves nas pétalas e borboletas. Deixo os pincéis de lado e sorrio ao ver o lanche que ela trouxe. Penso, por um instante, como seria minha vida sem eles… e a resposta me assusta. — Você já tem uma coleção inteira, filha. Quando vai mostrar ao mundo? — Ela insiste com ternura. Sempre insiste. Sorrio d
Capítulo 2 A noite não é uma criança mimada sem sono; a noite é um lembrete de que mais um dia se findou sem a alegria de antes. Assim é o luto. — Marjorye Sandalo Maeve Jhosef Dois dias arrastaram-se sob o peso do silêncio, como se o tempo tivesse perdido a pressa de passar. E agora, novamente, era 04 de março — o dia em que a primavera floresce em cores intensas, como se o universo insistisse em contrapor-se à morte com sua explosão de vida. As borboletas dançavam no jardim como em todos os anos. E, como em todos os anos, uma lágrima solitária escorreu pela minha face assim que o sol tocou o horizonte. — Se um dia eu me casar, quero que seja na primavera, ao ar livre, para que possa ver as borboletas rodopiarem pelo ar enquanto eu digo um belo “sim” para a pessoa que será o amor da minha vida... — seu sorriso era uma aurora dentro de mim. Num impulso, deixei o coração falar. — Então case-se comigo... Vamos fazer como em A Princesa e o Sapo: nos casar no jardim da fazenda. Te
Capítulo 3 O desconhecido pode ser ainda mais assustador do que aquilo que mostra sua verdadeira face desde o início. — Marjorye Sandalo Maeve Jhosef A vida nunca foi um banquete gentil — e, mesmo quando se senta à mesa, nem sempre a fome é de comida. Ainda assim, surpreendi-me com o quão agradável foi reencontrar pessoas, ouvir vozes que um dia preencheram os corredores da juventude e, por instantes breves, fingir que o tempo não nos devorou. O que me surpreendeu mais, no entanto, foi ver o quanto todos haviam seguido em frente. Sorrisos leves, planos sólidos, amores novos e feridas que já não sangravam. Eu, entre eles, era a peça que ainda rangia — a estátua de sal tentando acompanhar o fluxo do mundo. Havia expectativa em seus olhos, embora ninguém ousasse dizê-lo em voz alta. Esperavam que eu amasse de novo. Que algum alguém me puxasse para fora do lodo onde me escondi por anos. Mas o fundo do poço tem camadas, e, ao que me parece, já escalei algumas delas: voltei a pintar,
Capítulo 4A faca te faz sangrar muito mais quando é retirada do local da perfuração do que quando está cravada.— Marjorye SandaloMaeve JhosefAlgumas lembranças dormem dentro de nós como serpentes em torpor — e há dias em que tudo o que podemos fazer é rezar para que não despertem. Mas, quando a tristeza bate à porta, não há como impedir que elas se arrastem de volta, sibilando memórias que queimam como ácido.Naquele silêncio antes da partida, respirei fundo e pedi que ela não me deixasse. Minha amiga. Minha irmã de alma. Zola me olhou como quem entende as palavras que não se dizem.— Nem passou pela minha cabeça te deixar — respondeu, e sua voz era firme como quem segura a mão de alguém à beira do abismo.Era hora de voltar para Washington, D.C. Ainda que meu coração quisesse permanecer enterrado na distância.Avisei que minha estadia seria breve. Preferia continuar trabalhando na filial de Seattle. Esperava resistência, um argumento emocionado de minha mãe, talvez um olhar aflit
Capítulo 5 “Às vezes, os monstros mais temidos não vivem sob a cama, mas dentro do coração que tenta sobreviver ao abandono.” — Marjorye Sandalo Maeve Jhosef Por um segundo, a realidade pareceu tremer sob meus pés como placas tectônicas prestes a colidir. O mundo desacelerou, como se o tempo me quisesse torturar com a lentidão do reconhecimento. Aquele rosto diante de mim… era ele. Ou, pior, era a lembrança viva dele com todas as marcas do tempo que não tive a chance de acompanhar. Mas não, não era. Não podia ser. Era apenas o irmão. O mesmo que havia nos negado. O mesmo que virou as costas quando mais precisávamos. — Está tudo bem com você? — ele pergunta, ajoelhado ao meu lado, enquanto examina meu tornozelo torcido com uma delicadeza que não combina com o rancor que guardei. Eu quero gritar. Quero mandá-lo embora. Quero dizer que sua presença é como um veneno, lento, silencioso, mas fatal. — Estou bem — minto, tentando puxar minha perna com o mínimo de dignidade possível. E