Capítulo 61 Maeve Jhosef “Antes do sim, há o silêncio que antecede a coragem.”Eu não respondi naquele momento.Não com palavras.Mas com o peso do olhar que repousou no dele, dizendo: “Talvez... sim.”Ou talvez fosse só o medo dizendo que eu ainda não sabia como amar alguém depois da morte.Mas a vida — a nova vida — não esperava nossas hesitações.Era madrugada quando me sentei no chão do quarto, com a agenda de anotações aberta no colo e o coração descompassado.Não era um casamento qualquer.Era o início de uma história que ninguém imaginou que existiria.Eu e Isaac...E o filho que vinha como um novo elo entre dois mundos partidos.**Contei primeiro para os meus pais.A notícia da gravidez já havia os transformado em guardiões discretos de mim.Mas quando pronunciei a palavra casamento, algo brilhou nos olhos deles — como se, enfim, vissem futuro onde antes só havia ruína.— Vocês vão se casar? — minha mãe, Helena, repetiu, como se quisesse ter certeza de que ouviu corretament
Capítulo 62 Isaac Aubinngétorix “Alguns amores não fazem barulho. Eles apenas acontecem — como a respiração, como o tempo, como um milagre que ninguém ousa nomear.”Dois meses se passaram.Rápidos, intensos e suaves ao mesmo tempo.Como se a vida, cansada de tanto nos testar, estivesse finalmente nos concedendo trégua.Maeve agora caminhava com as mãos quase sempre sobre a barriga — um gesto instintivo, como se estivesse sempre protegendo o mundo inteiro.E talvez estivesse.Ali, dentro dela, pulsava uma nova vida.Nosso filho.Nosso começo.Havia um tipo de poesia em vê-la assim, todos os dias um pouco mais redonda, mais delicada, mais forte.Como se estivesse se transformando diante dos meus olhos, e ao mesmo tempo permanecesse ela mesma: selvagem, silenciosa, intensa.**Decidimos nos casar no jardim dos pais dela.Nada grandioso.Sem listas de convidados intermináveis.Sem fotógrafos escondidos atrás de árvores.Apenas flores.Apenas o essencial.Apenas o que éramos: um casal qu
Capítulo 63 – Maeve Jhosef "O amor verdadeiro não grita. Ele sussurra entre as dores, floresce no meio da ruína e permanece mesmo quando tudo o mais se vai."O dia amanheceu com um silêncio raro. O tipo de silêncio que não fere, mas embala. Que não pesa, mas acolhe.O vento dançava entre as folhas do jardim dos meus pais como uma bênção antiga, e as flores - ah, as flores... - pareciam mais vivas do que nunca. Talvez soubessem que estavam testemunhando algo que vai muito além de um simples "sim".Eu ainda me lembrava de tudo que perdemos. Ainda carregava os fantasmas. Mas, naquele dia, vesti meu vestido leve como quem veste uma nova pele. A pele da mulher que sobreviveu. Que amou e foi amada. Que caiu e levantou, mais de uma vez.Zola ajeitou meu cabelo com lágrimas nos olhos. Amanda não parava de sorrir. Minha mãe, ao me ver pronta, levou as mãos à boca e chorou como se me visse nascer de novo.E talvez visse.Quando caminhei pelo jardim, meus olhos só encontraram os dele. Isaac. M
Epílogo – Anos depoisMaeve JhosefA vida acontece nas brechas.Entre uma risada que explode no fim da tarde e o silêncio sereno de mãos entrelaçadas sob a mesa do café da manhã.A vida acontece enquanto se varre o quintal, se embala uma criança no colo e se observa o mundo girar — menos cruel do que parecia no início.Ezra — nosso filho — tem os olhos do tio que ele nunca conheceu.Olhos que carregam um oceano de histórias e um brilho curioso demais para caber num corpo tão pequeno.Ele corre pelo jardim agora, segurando o avião de madeira que Isaac mesmo esculpiu numa noite de insônia e saudade.É engraçado como a dor nos ensinou a amar com mais coragem.Como as perdas nos ensinaram a ser inteiros.talvez não sejamos capazes de superar totalmente todos os nossos traumas, mas aprendemos a conviver com a dor de forma que não interfere na nossa confiança ou no amor que sentimos um pelo outro.— Mamãe, olha! Ele voa! — ele grita, e eu rio.Porque não importa que o avião tenha caído no m
"Antes do Silêncio" — um romance que corta como a dor e cura como o amor.Em um mundo onde o luto pesa mais do que as palavras podem suportar, Maeve tenta sobreviver à ausência do homem que amou. Mas o destino, impiedoso e inesperado, a coloca frente a frente com Isaac — o irmão do seu amor perdido, o homem que carrega nos olhos segredos que queimam e silêncios que doem.Antes do Silêncio é uma história sobre perdas irreparáveis, promessas não cumpridas e um amor proibido que resiste mesmo quando tudo parece desabar. É sobre se reconstruir entre os escombros, redescobrir a vida entre cicatrizes e permitir-se amar quando o coração ainda sangra.Com uma narrativa poética, densa e visceral, Marjorye Sandalo entrega um romance intenso e inesquecível — daqueles que deixam marcas, que fazem chorar, que não se esquece ao fechar o livro.Se você acredita que até o silêncio pode contar uma história de amor, esse livro é para você. Sinopse Antes do silêncio, havia dor. Havia desejo. Havia e
Capítulo 1 “Às vezes, tenho a perturbadora sensação de estar sendo observada. Outras vezes, a estranha certeza de estar sozinha. Mas, em raros momentos… sinto que sou a própria escuridão.” — Marjorye Sandalo Maeve Jhosef O suor escorre pela minha testa enquanto dou os últimos toques no quadro. Cada pincelada parece arrancar algo de dentro de mim — como se a alma se dissolvesse junto às tintas. Dessa vez, a obra era diferente. Livre. Intensa. Uma libertação silenciosa em forma de flores e asas. — Querida, essa pintura está magnífica! — elogia minha mãe, com aquele sorriso que sempre me devolve o fôlego. — Talvez seja a mais delicada que já pintei — respondo, encarando os traços suaves nas pétalas e borboletas. Deixo os pincéis de lado e sorrio ao ver o lanche que ela trouxe. Penso, por um instante, como seria minha vida sem eles… e a resposta me assusta. — Você já tem uma coleção inteira, filha. Quando vai mostrar ao mundo? — Ela insiste com ternura. Sempre insiste. Sorrio d
Capítulo 2 A noite não é uma criança mimada sem sono; a noite é um lembrete de que mais um dia se findou sem a alegria de antes. Assim é o luto. — Marjorye Sandalo Maeve Jhosef Dois dias arrastaram-se sob o peso do silêncio, como se o tempo tivesse perdido a pressa de passar. E agora, novamente, era 04 de março — o dia em que a primavera floresce em cores intensas, como se o universo insistisse em contrapor-se à morte com sua explosão de vida. As borboletas dançavam no jardim como em todos os anos. E, como em todos os anos, uma lágrima solitária escorreu pela minha face assim que o sol tocou o horizonte. — Se um dia eu me casar, quero que seja na primavera, ao ar livre, para que possa ver as borboletas rodopiarem pelo ar enquanto eu digo um belo “sim” para a pessoa que será o amor da minha vida... — seu sorriso era uma aurora dentro de mim. Num impulso, deixei o coração falar. — Então case-se comigo... Vamos fazer como em A Princesa e o Sapo: nos casar no jardim da fazenda. Te
Capítulo 3 O desconhecido pode ser ainda mais assustador do que aquilo que mostra sua verdadeira face desde o início. — Marjorye Sandalo Maeve Jhosef A vida nunca foi um banquete gentil — e, mesmo quando se senta à mesa, nem sempre a fome é de comida. Ainda assim, surpreendi-me com o quão agradável foi reencontrar pessoas, ouvir vozes que um dia preencheram os corredores da juventude e, por instantes breves, fingir que o tempo não nos devorou. O que me surpreendeu mais, no entanto, foi ver o quanto todos haviam seguido em frente. Sorrisos leves, planos sólidos, amores novos e feridas que já não sangravam. Eu, entre eles, era a peça que ainda rangia — a estátua de sal tentando acompanhar o fluxo do mundo. Havia expectativa em seus olhos, embora ninguém ousasse dizê-lo em voz alta. Esperavam que eu amasse de novo. Que algum alguém me puxasse para fora do lodo onde me escondi por anos. Mas o fundo do poço tem camadas, e, ao que me parece, já escalei algumas delas: voltei a pintar,