DANNA PAOLA MADERO
Senti uma dor aguda na cabeça, e a escuridão vazia me tomou. Tenho certeza que tudo não passou de um ou dois minutos, mas eu me lembro dessa parte como se fosse um filme. Recobrei a consciência não sei quanto tempo depois parecendo que dormi por dias. Abri devagar os olhos. O corpo inteiro doída. Especialmente minha cabeça e intimidade que latejavam quase no mesmo ritmo. O frio se alojou em meus ossos e os pelos se arrepiaram. Percebi nesse momento que estava nua deitada no chão e com correntes pesadas e grosseiras nos pulsos e tornozelos. Olhei em volta com o coração batendo em câmera lenta. Por quê estou nua? Que lugar é esse? Por que minha intimidade dói tanto? A cabeça dava voltas sem chegar a uma clara conclusão. O lugar era pequeno, claustrofóbico e escuro, apenas parcialmente iluminado por uma luz que vinha de fora pelas frestas da porta fechada. Ai minha Santa Guadalupe que lugar é esse?! — Papi? Miguel? — a voz saiu como um baixo miado. Não obtive resposta, ouvindo apenas minha respiração forte que parecia ecoar por todo o lugar. Senti algo quente escorrer de entre minhas coxas, parecia sair do meu próprio interior. Meu coração parou por alguns segundos a respiração falha. Minha mente gritava em negação. Tremendo, levei uma mão ao lugar, e senti pegajoso, eu não tinha ideia do que se tratava o liquido, mas algo tinha acontecia comigo, e eu tentei insistentemente afastar a ideia que gritava. — Que bom que acordou boneca. — Alguém disse. Pela voz parecia ser homem, e falava em inglês. Para minha sorte eu estudava bastante sobre a língua, me considerava fluente e entendi suas palavras ditas carregadas com um tom maquiavélico. Eu nunca antes tinha falado com uma pessoa que não fosse mexicana, minha família abominava os estrangeiros, e eu os achava estranhos e nunca chegava perto. Então, não sei dizer se todos eles tinham a voz fria e sem emoção como este. Confusa e assustada, tornei a olhar em volta, vendo dessa vez, uma sombra sentada no canto do quartinho. Meu corpo arrepiou-se totalmente. Deitada com as costas em um chão frio, engoli o choro ao perceber que minha situação ali não parecia nada favorável. —¿Donde estoy? — Perguntei amedrontada. —Pode-se dizer que no... —Ouvi os passos dele se aproximarem, curvando-se próximo a mim. — Inferno. — Sussurrou e depois assoprou fumaça do cigarro eletrônico que segurava entre os dedos finos e pálidos cheios de anéis dourados que brilharam um pouco com o feixe de luz vinda de fora. Os olhos se arregalaram de medo e o frio aumentou, chegando ao ponto de fazer-me tremer. O homem de pé com o corpo curvado sob o meu, era de estatura mediana, não pude ver mais detalhes da sua aparência por causa da pouca iluminação. O que está acontecendo? Eu fui sequestrada, óbvio. — Me deixe ir por favor. — Implorei em inglês. Talvez assim ele me entenderia e me deixaria ir embora, afinal, eu não tinha nem motivos para estar ali, nunca fiz nada a ninguém e nem devo nada a pessoa alguma. A não ser que isso fosse coisa de cartel... Ser filha de alguém perigoso tem seus pontos negativos, ele poderia ser um inimigo do meu pai e quis me sequestrar, ou para arrancar dinheiro da minha família ou para simplesmente me matar por alguma vingança... Tremi mais ainda ao constatar que se fosse isso, o homem estava certo em dizer que minha vida seria um inferno. Nunca fui torturada ou machucada na vida, eu morreria no primeiro tapa. Ele gargalhou e tornou a se afastar. — Uma vez em minhas mãos. Só sai no caixão. Agitada com suas palavras, tentei me soltar puxando as correntes dos meus pulsos e pernas. O som dos ferros pesados se chocando um no outro e no chão era medonho e alto. Percebi cedo que era completamente inútil. A outra extremidade da corrente estava presa ao piso enquanto as argolas grossas apenas machucavam a pele sensível dos pulsos quando não havia a menor chance de sair fácil. Não me restando muitas opções a não ser gritar. Gritei por socorro o mais alto que pude, e o homem ria de forma macabra. Meu peito nu subia e descia rápido como o de um animalzinho com medo de ser devorado por outro bem maior de presas afiadas. As lágrimas já rolavam soltas em meu rosto o desespero tomando conta de todo meu ser. — Socorro! Alguém me ajuda! Pelo amor de Deus. — gritei a mesma coisa por vários minutos. A garganta arranhava seca deixando minha voz rouca e baixa, precisava de água para gritar mais alto e alguém poder vir me ajudar. Meu pai ou o Miguel poderiam estar na sala ao lado e me ouvir. Contudo, no momento, ninguém apareceu para me salvar. Eu não conseguia ouvir nada além de risos, que pude perceber que não eram só do homem de dentro do quarto, mas também vindas de fora. Afinal, tinha outras pessoas naquele lugar, mas não pareciam darem a mínima para uma garota nua e acorrentada gritando. — Boneca, poupe suas energias. Precisará delas. — Se pronunciou sarcástico quando tive que parar de gritar, estava quase sem voz. — Quem é você? O que quer de mim? — Perguntei cansada. Joguei os braços moles ao lado corpo. Estava muito fraca, e precisava de energia para me mover. — Não seja curiosa mocinha. — Riu. Solucei. Meu cérebro parecia parado. Sem ação alguma. — O que você fez comigo? — não sei se estou preparada para ouvir a resposta, mas eu precisava... Mudei minha vista para o teto escuro. Inerte no chão, ele demorou a responder, com certeza queria torturar meu psicológico fazendo pensar nas coisas horríveis que devem ter acontecido enquanto estava desacordada. E deu certo, quanto mais o silêncio crescia, mais meu peito batia forte e a ideia do que provavelmente aconteceu me matava por dentro, minha vagina doendo e um liquido viscoso escorrendo, era a prova concreta que eu não queria aceitar. O ouvi estalar a língua. — Apenas a tornei mulher. Minha mulher e de quantos mais eu quiser. O grito ficou preso na garganta e eu senti meu mundo desabar completamente. Queria morrer a pensar naquele homem nojento e outros mais me tocando. Meu sonho era casar na igreja, me guardar para meu amado, mas tudo terminava aqui e agora.DANNA PAOLA MADERO O ar faltou e minha mente se tornou enevoada. Levantei um pouco a cabeça para o lado a tempo de não sufocar com o próprio vômito. Queria que a imundice do meu corpo saísse toda assim. — M-meu pai... Meu pai pode dar o dinheiro que você quiser. — Consegui dizer com a voz rouca enquanto tentava limpar a boca do liquido fétido e azedo. O homem riu alto. — Eu quem dei o dinheiro que ele queria. — O que quer... — não consegui terminar a frase. O que ele insinuava era impossível. Simplesmente impossível. Eu não ia acreditar em um qualquer, e sim nos 18 anos de vida que tive ao lado do meu pai. — Ah por favor, não se assuste, é da natureza da sua família. — Não! É mentira! — balbuciei várias vezes como uma louca. — Acha que eu conseguiria tira-la dele assim tão fácil? Se ele mesmo não facilitasse o serviço? — Pensei nos muitos homens que me protegiam, lembrei do carro que vinha sempre atrás de nós quando saíamos de casa, e dessa vez, não sei
JOHN BACKER Eu havia acabado de conseguir um emprego como segurança em uma boate londrina: Luxury Hell. Pertencente à Paul Linse. Não sei muito sobre o cara, o que de verdade, não me importa, nunca tinha ido àquela boate, nem se quisesse, era uma das mais famosas da cidade, contendo prostitutas de luxo com direito e suíte master, bebidas e entorpecentes dos melhores. Contudo, nada disso me deixava animado a ir trabalhar naquele lugar. Mentira. Imagina viver dentro do "inferno de luxo"? Eu vou me esbaldar de sexo, modéstia à parte, sei que não preciso de dinheiro para conseguir isso de qualquer mulher, sempre me considerei expertise em conquista, nenhuma resistia a mim e ao meu charme bruto. Às vezes era difícil conseguir um emprego bom por conta de ter uma ficha criminal nada bonita de se ver, não que eu seja um criminoso, mas tenho duas ou três passagens pela polícia: uma apreensão de roubo em flagrante e uma tentativa de homicídio, e a outra nem lembro já que estava chapado
JOHN BACKER 10 da noite, e a boate começava a encher. Meu serviço consistia em ficar parado, feito um poste, vestido de terno preto, gravata e calça social, em um canto qualquer e expulsar clientes que começassem a fazer bagunça ou briga. A Luxury Hell era uma boate normal, a não ser pelo fato de não ser permitido a entrada de pessoas que não tenham uma renda mensal de menos que 2 milhões. Pista de dança cheia de gente suada e bêbada, que mesmo sendo pessoas ricas e "finas", também mereciam se divertir. Porém, o maior espetáculo era uma piscina gigantesca muito bem iluminada quase no meio do recinto, com mulheres que só vestiam uma mini calcinha se exibindo para os homens. Homens esses que entravam na piscina e comia quantas quisesse ali para todos verem. E também tinha o segundo piso, onde os milionários, e até algumas milionárias, assistiam mulheres quase nuas dando um verdadeiro show no polidance, ou iam até lá para beber e fumar. Enfim, o lugar é um enorme antro
JOHN BACKER Ela pareceu entender repetindo a pergunta no meu idioma. E porra, o sotaque dela era lindo e o inglês mais perfeito que o meu. — Conversar com você. E quem sabe até mais... — respondi deixando a frase inacabada. Ela com certeza soube do que eu estava falando e virou a cabeça para me encarar, sorri safado como um convite claro das más minhas intenções. A mexicana por sua vez tentava vestir uma máscara de frieza e calma, queria mostrar que não se sentia atraída por mim, sorri de lado travesso, já constatando minha vitória. Sua farsa falhou miseravelmente quando notei seus dedos finos com unhas bem cuidadas tremerem ao levar levemente o copo à boca, acompanhei com os olhos famintos cada movimento seu, o liquido sendo transferindo do copo para a boca carnuda e depois deslizando pela sua garganta... Imaginei outro tipo de liquido descendo pela garganta dela, um branco e quente... Meu corpo estava prestes a entrar em combustão tamanha a vontade selvagem de rasgar
DANNA PAOLA MADERO Passei muitos dias naquele lugar. Nua e acorrentada ao chão. A novidade era que aquela velha m*****a trouxe pelo menos um colchão para que o desconforto e o frio fossem menores. Ingênua, ainda pensei que sentisse um pouco de compaixão por mim, mas ela o fez apenas por que o chefe dela precisava de um lugar mais confortável para satisfazer seus desejos masculinos. Eu era usada todas as noites pelo mesmo homem. E quando ele me tocava, um pedacinho de mim morria. Todas as vezes que a porta era aberta e Paul passava por ela, minha esperança de ser resgatada também morria. E tudo o que eu queria era morrer de vez, o sofrimento não tinha fim, pelo contrário, se renovava a cada dia. Meu corpo estava imundo, havia mudado para algo quase irreconhecível, alguns ossos mais a mostra por debaixo da pele fina e pálida denunciavam a magreza. A comida era escassa, recebia apenas uma refeição por dia e um litro de água. Ele havia destruído tudo de bom que havia em mim, minh
DANNA PAOLA MADERO Primeiro fui arrastada à um banheiro decente, ela me deixou lá para banhar o quanto quisesse. Claro que aproveitei para tomar uns bons goles de água da torneira. Já que estava sem roupas mesmo só precisei ligar a ducha com a água morna. Lavei os cabelos com uns xampus. Me banhei como há tempos não fazia. Foi revigorante. — Ei já está bom. — Olívia berrou da porta do banheiro. Suspirei cansada. — "Déjame em paz". (Me deixa em paz) — Murmurei. A porta foi aberta bruscamente e a mulher me olhou séria e jogou uma toalha branca em mim. — Cala a porra da boca sua ridícula e cobre logo essa "ossada" aí. — Ralhou. Tentei fingir que não ouvi o que ela disse. Mas, doeu saber que meu corpo realmente estava "ridículo". Cheguei no fundo do poço. Segurei a toalha e me enrolei rapidamente. A mulher se virou e fez um gesto com a mão para que a seguisse. Fui atrás como um cão obediente. Caminhamos pelo corredor que eu conhecia um pouco, pelo trajeto diário até ou
DANNA PAOLA MADERO Não respondi. Continuei imóvel e calada. Baixei a cabeça para não o olhar. O cheiro bom da comida embaralhou meus pensamentos. Deus! Estou faminta! Ouvi seus passos pelo quarto, se aproximando. —Vamos lá. Anime-se bonequinha linda. — Passou a mão pelos meus cabelos, afagando. Esse tipo de "carinho" me enojava e fazia meu corpo tremer de medo do que viria a seguir. — Olha o que trouxe para você. Não me movi. Sabia que seu jogo ia começar. — MANDEI OLHAR CARALHO! — Gritou sem paciência, e seu carinho em meu cabelo se tornou forte, me obrigando a obedecer. — Foi difícil? Fiquei calada. Apenas o encarando e demostrando toda minha raiva somente pelo olhar. Olhei para a bandeja. O copo de água parecia tão gelado e bom... — Que olhinhos famintos. — Zombou com um sorriso largo no rosto. — Mas... — prolongou a palavra enquanto ainda segurava meu cabelo e depositava a bandeja na cama para poder abrir a calça, liberando seu pênis ereto. Minha vista
DANNA PAOLA MADERO Não tenho muita noção do tempo nesse lugar. Mas pelo que Olívia me disse, já faz pouco mais de 6 meses que estou aqui. Não sei onde estou, mas desconfio que não seja o México. As pessoas falam inglês, porém, não dá para saber exatamente em qual país, pois o inglês é universal, vários países o falam. Exatos meio ano sem saber o que é ver a luz do sol. Sem sentir seu toque quente na pele. O vento. O canto de pássaros. Nada. Me faz pensar que devia ter dado mais valor ao meu lar. Ter aproveitado mais. Se nada disso tivesse acontecido comigo, não teria percebido a importância de tais pequenos detalhes. Não que eu esteja agradecida por essa merda ter acontecido. Todo esse tempo já se passou e meu pai não apareceu para me salvar como salvou meu irmão. Ele deve ter me esquecido. Preciso sair dessa sozinha. — Danna querida, nos dê uma licença rápida. Precisamos tratar de negócios agora. — Paul toca minha cintura para me fazer sair do transe. Conco