02. INÍCIO DO INFERNO

DANNA PAOLA MADERO

Senti uma dor aguda na cabeça, e a escuridão vazia me tomou.

Tenho certeza que tudo não passou de um ou dois minutos, mas eu me lembro dessa parte como se fosse um filme.

Recobrei a consciência não sei quanto tempo depois parecendo que dormi por dias.

Abri devagar os olhos.

O corpo inteiro doída. Especialmente minha cabeça e intimidade que latejavam quase no mesmo ritmo.

O frio se alojou em meus ossos e os pelos se arrepiaram. Percebi nesse momento que estava nua deitada no chão e com correntes pesadas e grosseiras nos pulsos e tornozelos.

Olhei em volta com o coração batendo em câmera lenta.

Por quê estou nua? Que lugar é esse? Por que minha intimidade dói tanto?

A cabeça dava voltas sem chegar a uma clara conclusão.

O lugar era pequeno, claustrofóbico e escuro, apenas parcialmente iluminado por uma luz que vinha de fora pelas frestas da porta fechada.

Ai minha Santa Guadalupe que lugar é esse?!

— Papi? Miguel? — a voz saiu como um baixo miado.

Não obtive resposta, ouvindo apenas minha respiração forte que parecia ecoar por todo o lugar.

Senti algo quente escorrer de entre minhas coxas, parecia sair do meu próprio interior. Meu coração parou por alguns segundos a respiração falha.

Minha mente gritava em negação.

Tremendo, levei uma mão ao lugar, e senti pegajoso, eu não tinha ideia do que se tratava o liquido, mas algo tinha acontecia comigo, e eu tentei insistentemente afastar a ideia que gritava.

— Que bom que acordou boneca. — Alguém disse.

Pela voz parecia ser homem, e falava em inglês. Para minha sorte eu estudava bastante sobre a língua, me considerava fluente e entendi suas palavras ditas carregadas com um tom maquiavélico.

Eu nunca antes tinha falado com uma pessoa que não fosse mexicana, minha família abominava os estrangeiros, e eu os achava estranhos e nunca chegava perto. Então, não sei dizer se todos eles tinham a voz fria e sem emoção como este.

Confusa e assustada, tornei a olhar em volta, vendo dessa vez, uma sombra sentada no canto do quartinho.

Meu corpo arrepiou-se totalmente.

Deitada com as costas em um chão frio, engoli o choro ao perceber que minha situação ali não parecia nada favorável.

—¿Donde estoy? — Perguntei amedrontada.

—Pode-se dizer que no... —Ouvi os passos dele se aproximarem, curvando-se próximo a mim. — Inferno. — Sussurrou e depois assoprou fumaça do cigarro eletrônico que segurava entre os dedos finos e pálidos cheios de anéis dourados que brilharam um pouco com o feixe de luz vinda de fora.

Os olhos se arregalaram de medo e o frio aumentou, chegando ao ponto de fazer-me tremer.

O homem de pé com o corpo curvado sob o meu, era de estatura mediana, não pude ver mais detalhes da sua aparência por causa da pouca iluminação.

O que está acontecendo? Eu fui sequestrada, óbvio.

— Me deixe ir por favor. — Implorei em inglês.

Talvez assim ele me entenderia e me deixaria ir embora, afinal, eu não tinha nem motivos para estar ali, nunca fiz nada a ninguém e nem devo nada a pessoa alguma.

A não ser que isso fosse coisa de cartel...

Ser filha de alguém perigoso tem seus pontos negativos, ele poderia ser um inimigo do meu pai e quis me sequestrar, ou para arrancar dinheiro da minha família ou para simplesmente me matar por alguma vingança...

Tremi mais ainda ao constatar que se fosse isso, o homem estava certo em dizer que minha vida seria um inferno. Nunca fui torturada ou machucada na vida, eu morreria no primeiro tapa.

Ele gargalhou e tornou a se afastar.

— Uma vez em minhas mãos. Só sai no caixão.

Agitada com suas palavras, tentei me soltar puxando as correntes dos meus pulsos e pernas. O som dos ferros pesados se chocando um no outro e no chão era medonho e alto.

Percebi cedo que era completamente inútil. A outra extremidade da corrente estava presa ao piso enquanto as argolas grossas apenas machucavam a pele sensível dos pulsos quando não havia a menor chance de sair fácil.

Não me restando muitas opções a não ser gritar.

Gritei por socorro o mais alto que pude, e o homem ria de forma macabra. Meu peito nu subia e descia rápido como o de um animalzinho com medo de ser devorado por outro bem maior de presas afiadas.

As lágrimas já rolavam soltas em meu rosto o desespero tomando conta de todo meu ser.

— Socorro! Alguém me ajuda! Pelo amor de Deus. — gritei a mesma coisa por vários minutos.

A garganta arranhava seca deixando minha voz rouca e baixa, precisava de água para gritar mais alto e alguém poder vir me ajudar. Meu pai ou o Miguel poderiam estar na sala ao lado e me ouvir.

Contudo, no momento, ninguém apareceu para me salvar. Eu não conseguia ouvir nada além de risos, que pude perceber que não eram só do homem de dentro do quarto, mas também vindas de fora.

Afinal, tinha outras pessoas naquele lugar, mas não pareciam darem a mínima para uma garota nua e acorrentada gritando.

— Boneca, poupe suas energias. Precisará delas. — Se pronunciou sarcástico quando tive que parar de gritar, estava quase sem voz.

— Quem é você? O que quer de mim? — Perguntei cansada.

Joguei os braços moles ao lado corpo. Estava muito fraca, e precisava de energia para me mover.

— Não seja curiosa mocinha. — Riu.

Solucei.

Meu cérebro parecia parado. Sem ação alguma.

— O que você fez comigo? — não sei se estou preparada para ouvir a resposta, mas eu precisava...

Mudei minha vista para o teto escuro. Inerte no chão, ele demorou a responder, com certeza queria torturar meu psicológico fazendo pensar nas coisas horríveis que devem ter acontecido enquanto estava desacordada.

E deu certo, quanto mais o silêncio crescia, mais meu peito batia forte e a ideia do que provavelmente aconteceu me matava por dentro, minha vagina doendo e um liquido viscoso escorrendo, era a prova concreta que eu não queria aceitar.

O ouvi estalar a língua.

— Apenas a tornei mulher. Minha mulher e de quantos mais eu quiser.

O grito ficou preso na garganta e eu senti meu mundo desabar completamente. Queria morrer a pensar naquele homem nojento e outros mais me tocando.

Meu sonho era casar na igreja, me guardar para meu amado, mas tudo terminava aqui e agora.

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