Até a Última Batida do seu Coração
Até a Última Batida do seu Coração
Por: Maya Green
01. DIA DE FORMATURA!

"Dedico esse livro para aqueles que tiveram um amor que é como uma flor nascendo em meio aos espinhos."

DANNA PAOLA MADERO

18 anos, é a idade dos sonhos de todos os jovens cheios de energia e coisas a realizar, e também era o meu caso.

Meu aniversário havia sido comemorado pela minha família e amigos com uma grande festa há mais ou menos dois meses, foi a primeira vez que meu pai deixou que eu tomasse alguma bebida com álcool, confesso que depois do segundo copinho de tequila, eu já estava zonza e sorridente, mas que se dane, eu estava feliz!

Aquele era o dia da minha formatura no ensino médio. Eu estava eufórica, em fevereiro do próximo ano, meu pai me mandaria para cursar administração em Harvard, nos Estados Unidos. Por isso meu inglês era impecável, mal via a hora de poder sair da minha cidade em que nasci, cresci e nunca tinha botado os pés para fora.

Meu pai era maravilhoso comigo, arrisco dizer que o melhor do mundo, mesmo sendo um narcotraficante, o El Rey del tráfego, se gaba em dizer que é o maior de todo o México. Soube que ele e meu irmão são procurados pela Interpol, porém nada disso me assusta ou causa estranheza, cresci nesse meio, desde que me entendo por gente, sempre soube que toda minha família era assim, minha arvore genealógica era inteira de traficantes, El Chapo por exemplo, é primo do meu avô.

Eu nunca me envolvi com nada ilícito, nunca peguei uma arma ou cheguei perto de drogas, eles faziam seus “serviços” fora das minhas vistas, jamais terei parte nesse meio. Meu pai, ainda bem, nos deu a opção de seguir ou não com sua “profissão”.

Juan Madero sempre teve cuidado para que nenhum de nós dois presenciássemos coisas ruins. Os “soldados” dele não entravam em casa, apenas alguns ficavam no jardim da mansão ou do lado de fora do muro fazendo a nossa segurança, com as armas sempre escondidas.

Minha mãe fugiu de casa quando teve a oportunidade, eu tinha por volta dos 10 anos, meu pai, o poderoso "Rei do Crime", a maltratava de todos os jeitos, às vezes a noite, ouvia seus gritos de dor, mas pela manhã ela já tinha escondido tudo com maquiagem, víamos apenas suas roupas longas e olhos inchados. Fico feliz por ela ter se livrado dessa vida. Eu a amava demais para vê-la sofrer. Mas pelo que parece ela não me amava tanto, foi embora e me deixou.

Apesar de tudo, eu levantava todos os dias decidida a ser feliz, uma Madero jamais se deixa abater, tínhamos o sangue forte.

Minha infância foi a melhor possível. Mesmo que meu pai não fosse amoroso com a esposa, ele era meu herói, incrível comigo e meu irmão mais velho.

Tive poucas colegas na escola e apenas uma melhor amiga que sempre esteve comigo do jardim até o ensino médio, esta era Mónica Garcia. Com ela eu saia escondida para festinhas dos meninos da escola ao encontro de namorados que não duravam uma semana. Eu a amava muito, e meu pai sabia, quase o enlouqueci para que também fosse mandada junto comigo para Harvard, ele para ter paz, concordou em pagar os estudos da Mónica que era de uma família tão humilde.

No baile de formatura, eu iria dançar com Lorenzo Perez, um rapaz muito bonito da equipe de natação da escola. Já minha amiga, levaria seu atual namorado que era mais velho e já tinha terminado o ensino médio, todas as meninas ficaram com inveja dela.

Na escola, ou em qualquer outro lugar eu sempre estava rodeada de seguranças, entendia que era uma forma de "proteção" do meu pai para comigo, ele tinha muitos inimigos, com certeza não queria me perder para eles. Ainda me lembro de suas palavras quando lhe perguntei sobre isso: " Todos, inclusive meus inimigos, sabem, que o ponto fraco de um homem é a família."

Meu irmão, Miguel, já foi sequestrado, mas resgatado depois de dois dias de guerra com o cartel rival, veio sem um pedaço da orelha esquerda e o corpo cheio de hematomas coloridos.

Desci as escadas de mármore branco, segurando o corrimão banhado a ouro, Juan é bem exibido.

— Tengo la hija mas bella del mundo. (Tenho a filha mais linda do mundo).

Sorri para ele que me esperava vestido de smoking cor vinho escuro. Estava lindo, um verdadeiro rei.

Meu vestido era azul marinho, longo e de apenas uma manga, continha algumas pedrarias no busto e a saia lisa com uma fenda comportada, nada muito chamativo. Saltos agulha de 15cm preto. Eu os adoro por me deixarem um pouco mais alta que um anão de jardim.

Estava ansiosa para encontrar Mónica para vê-la usando um vestido igual ao meu só que na cor vermelho. Gostávamos de combinar as roupas, mochilas, cadernos, etc.

— Tù no está mal tampoco, papi. (você não está tão ruim papai) — Respondi com um sorriso.

Ele riu.

— Vamos luego mocosa. (Vamos logo pirralha)

Revirei os olhos, Miguel passou quase correndo por mim. Nem é tão grande a diferença de idade, apenas 1 ano. Mas sou chamada assim por ele.

Terminei de descer as escadas, segurei na mão que meu pai estendeu.

— No importa este vagabundo. (não se importe com esse vagabundo)

—Papi! (papai) — o repreendi.

—No hables así de mí puto. (não fale assim de mim) — Miguel se defendeu.

Eles se xingam bastante.

—Vamos luego niños. (vamos logo crianças) — Bufei irritada com a conversinha deles, me sentia ansiosa para estar na formatura.

— Tú eres la mocosa acá, no nosotros. (você é a pirralha, e não nós) — Meu irmão provocou.

Ri sem animação.

Caminhamos para fora, Culiacán cidade capital de Sinaloa, estava mais fria que o normal, por isso usamos casacos grossos por cima da roupa, mesmo que fossemos de carros.

Na saída da mansão onde nasci e fui criada, Carlo, nosso motorista há anos, nos esperava. Abriu a porta para nós, entramos e nos aconchegamos.

—No puedo demorar. Tengo un compromiso. (não posso demorar. Tenho um compromisso) — Miguel disse.

Eu e meu pai nos olhamos cúmplices.

— Finalmente. — Rimos, ele ficou sério.

—Me he follado a más chicas de las crees. (Já fodi mais mulheres que pensam) — Sorriu travesso.

Meu rosto se tornou vermelho com a menção da palavra de baixo calão que meu irmão usou.

Apesar das namoradinhas que eu dava por aí, eu nunca permiti que passassem de beijos calorosos, meu sonho era casar virgem como minha vozinha

—Todo bien semental. Nadie quiere saberlo. (Tudo bem idiota. Não queremos saber) — O pai o cortou.

A casa era um pouco distante da cidade, por esse motivo, optamos por sair uma hora mais cedo. Ainda era dia, a conversa dentro do veículo rolava solta, muitas piadas e risos altos, eu era a mais animada. Naquele dia, não olhei para as árvores correndo do lado de fora da janela como gostava de fazer a caminho da escola todos os dias, apenas me atentei ao que se passava dentro, ao calor da família e do amor.

— Sabes lo que le dijeron los mexicanos a los... (Sabe o que disse o mexicano ao...) — Miguel começava a contar uma piada, que segundo ele seria mais engraçada que a minha.

Porém, nunca saberei se era mesmo, pois essa foi a última coisa que ouvi antes do carro capotar furiosamente pela estrada. Vi todos ficarem de cabeça para baixo com os braços e cabeças balançando de um lado para o outro conforme o automóvel rolava no asfalto úmido.

Fechei os olhos para não ver mais nada. Era inacreditável morrer no dia da própria formatura!

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >
capítulo anteriorpróximo capítulo

Capítulos relacionados

Último capítulo