04. RESPONSABILIDADES

JOHN BACKER

Eu havia acabado de conseguir um emprego como segurança em uma boate londrina: Luxury Hell. Pertencente à Paul Linse. Não sei muito sobre o cara, o que de verdade, não me importa, nunca tinha ido àquela boate, nem se quisesse, era uma das mais famosas da cidade, contendo prostitutas de luxo com direito e suíte master, bebidas e entorpecentes dos melhores. Contudo, nada disso me deixava animado a ir trabalhar naquele lugar.

Mentira. Imagina viver dentro do "inferno de luxo"?

Eu vou me esbaldar de sexo, modéstia à parte, sei que não preciso de dinheiro para conseguir isso de qualquer mulher, sempre me considerei expertise em conquista, nenhuma resistia a mim e ao meu charme bruto.

Às vezes era difícil conseguir um emprego bom por conta de ter uma ficha criminal nada bonita de se ver, não que eu seja um criminoso, mas tenho duas ou três passagens pela polícia: uma apreensão de roubo em flagrante e uma tentativa de homicídio, e a outra nem lembro já que estava chapado demais para isso.

—Você sabe Mike que preciso de um emprego que pague mais. Preciso de dinheiro. — Resmunguei como criança que perdeu seu brinquedo favorito no fundo da porra de um poço sem fundo. Me joguei no sofá pequeno da sala, onde também era minha cama nos últimos 2 anos.

A mini casa que dividia com minha irmã Esme e sua mini filha Elise, possuía um quarto, um banheiro, uma sala em conjunto com a cozinha, apartamento de aproximadamente 40m², era o que cabia no meu orçamento.

Vivíamos bem em Farnham, condado de Surrey, Inglaterra, antes de nosso pai, um soldado aposentado, morrer de infarto há quase 2 anos. Só tínhamos a casa onde morávamos desde de sempre, fomos obrigados a vendê-la para pagar as despesas do velório, não tinha nenhum parente para nos ajudar.

Com o pouco dinheiro que sobrou, nos mudamos para Londres e alugamos este pequeno apartamento, comprei uma picape Toyota usada e comecei a trabalhar como motorista particular, e Esme como garçonete.

Meu salário era bom, conseguia pagar o aluguel e minha irmã comprava mantimentos e cuidava de nós dois e do nosso apartamento. Só que isso mudou quando um desgraçado tentou pega-la a força na saída do trabalho. Não gosto nem de lembrar, e ele muito menos. Por esse motivo e pelo preço caro cobrado pelas babás para cuidar da minha sobrinha, aposentei Esme de trabalhar mais cedo.

— Você vai dar um jeito. — Tomou um gole da cerveja barata que tinha na geladeira.

Agora só preciso procurar um rumo de vida que beneficie a mim e a minha família.

Puxei da mão dele e tomei o resto.

Liguei a televisão e começamos a assistir uma partida de futebol. Mas no fundo nenhum de nós dois estávamos realmente interessados.

— Vou indo nessa. — Se despediu e saiu.

Já era tarde da noite, minha irmã e Elise dormiam há tempos.

Respirei fundo, levantei e segui para o banheiro. Me livrei das roupas e entrei em baixo do chuveiro. Enquanto a água morna escorria pelo meu corpo nu, lembrei no quanto minha vida era boa até dois anos atrás.

Eu não precisava trabalhar, era um puto, só queria saber de farra e rabo de saia. Eu era um verdadeiro "play boy", a mulherada amava isso, era uma diferente a cada dia. Foi em uma dessas festas que conheci Mike, há quase 10 anos atrás, foi ele quem me deu a ideia de vir morar aqui em Londres depois que tudo que tínhamos se acabou e as coisas se complicaram por lá, não queria gastar todo nosso dinheiro e deixar minha irmã e sobrinha sem teto.

Meu pai se irritava muito com essa minha parte. Dizia que devia ser mais responsável, arranjar um emprego, casar e sossegar, blá, blá, blá. Mas ele não podia fazer nada para me mudar.

A não ser morrer.

Depois que meu velho morreu me deixando sozinho no mundo com minha irmã mais nova e um bebê sem pai. Eu tive que mudar, as circunstâncias me obrigaram a isso.

Saí do banho enrolado com a toalha na cintura. Caminhei descalço pela casa com a intensão de tomar um copo de água antes de dormir.

— Maninho?

Me virei na direção da voz sonolenta. Uma Esme descabelada e com cara de sono apareceu na porta do quarto.

Coloquei a mão no peito e fingi espanto.

— Credo!

Ela bufou e revirou os olhos.

— Conseguiu? — perguntou interessada.

Virei as costas e abri a geladeira pegando um copo de água. Bebi da maneira mais lenta impossível.

— Fala logo John.

— Sim.

Passei por ela e desliguei as luzes da cozinha a deixando com uma cara paralisada no escuro.

Ela sabia que com certeza a natureza desse emprego era duvidosa. E se sentia culpada, por diversas vezes, tentei convencê-la do contrário, mas ela não acreditava e continuava a se martirizar por isso.

O motivo é que, a mesma foi atacada por um sujeito na rua enquanto saia do trabalho, eu como de costume, estava indo busca-la quando vi aquela cena, meu sangue ferveu, bati muito no cara. O mesmo registrou um boletim de ocorrência, e ainda descobri que o safado era filho de um juiz. Cheguei a ficar preso por uns 2 meses, até o Mike pagar um advogado e conseguir me tirar da cadeia. O criminoso real já havia fugido com a ajuda do pai e minha ficha nunca pôde ser limpa por falta de provas.

Peguei uma cueca vesti e me joguei novamente no sofá, meu corpo estava tenso pelo dia agitado que tive. Só de lembrar que terei que aguentar olhar pra cara daquele loiro azedo do Paul por meses, sinto ânsia.

Fecho os olhos e me forço a dormir. Amanhã a noite seria cheia.

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