DANNA PAOLA MADERO
O ar faltou e minha mente se tornou enevoada. Levantei um pouco a cabeça para o lado a tempo de não sufocar com o próprio vômito. Queria que a imundice do meu corpo saísse toda assim. — M-meu pai... Meu pai pode dar o dinheiro que você quiser. — Consegui dizer com a voz rouca enquanto tentava limpar a boca do liquido fétido e azedo. O homem riu alto. — Eu quem dei o dinheiro que ele queria. — O que quer... — não consegui terminar a frase. O que ele insinuava era impossível. Simplesmente impossível. Eu não ia acreditar em um qualquer, e sim nos 18 anos de vida que tive ao lado do meu pai. — Ah por favor, não se assuste, é da natureza da sua família. — Não! É mentira! — balbuciei várias vezes como uma louca. — Acha que eu conseguiria tira-la dele assim tão fácil? Se ele mesmo não facilitasse o serviço? — Pensei nos muitos homens que nos protegiam, lembrei do carro que vinha sempre atrás de nós quando saíamos de casa, e dessa vez, não sei por qual motivo, eles foram dispensados. Fazia sentido meu pai ter me... Entregado... Engoli com dificuldades gemendo de dor no peito, coração e alma. — Agora você só tem a mim. A voz passou pelos meus ouvidos como um tiro. — Ninguém pode tocar nela. É meu brinquedinho particular. — disse ao abrir a porta. Por alguns instantes, fiquei cega pela luz forte que vinha de fora. Pisquei algumas vezes para tentar acostumar os olhos com a claridade. — Não! Me tira daqui! — gritei desesperada fazendo força para levantar, mas meu corpo não se movia um centímetro. Por que isso está acontecendo comigo? Sempre fui aos domingos na igreja com minha vozinha. — Já ouvi isso antes. Está se tornando chato. — Debochou. Rezei mentalmente, pedindo a minha Santa Guadalupe que isso não passasse de um sonho ruim. Mas tudo se ruiu quando a porta foi batida com força, fazendo um barulho ensurdecedor pelo quartinho e tudo voltou a ficar escuro, a ficha caiu que aquela era minha realidade, não sei por mais quanto tempo. Talvez nem amanhecesse com vida no outro dia, ou não chegasse viva até a noite, ou... Eu não tinha ideia que horas eram, que dia era aquele. Sozinha no breu, eu estava totalmente desesperada, desestabilizada e ferida. Milhares de pensamentos passavam pela minha cabeça como um maldito carrossel. Queria saber o que aconteceu com a minha família, ou o certo seria: com aquelas pessoas que eu achei ser minha família? Alguém morreu naquele acidente de carro horrível? Houve mesmo um acidente ou minha mente apenas me pregou uma peça e nunca cheguei a sair de casa? Eram muitas as perguntas sem respostas, eu me sentia sufocando. Parecia um ataque de pânico, eu nunca havia sentido aquilo antes, só ouvi dizer, o terror nu e cru sentido até nos ossos como um ácido corrosivo. Minha vida até ali tinha sido tranquila, alegre, e olhando para minha atual situação, me dei conta de que era perfeita. Passei horas chorando baixinho, sem emitir sons, as lagrimas apenas escorriam dos meus olhos, até sentir o sono perturbador me levar... Acordei algum tempo depois de sobressalto. Meus dentes batiam um no outro por causa do frio, senti que morreria de hipotermia logo, e pela primeira vez, a ideia da morte não me parecia ser algo medonho e sim um meio de saída. Mas não! Uma Madero não pode se deixar vencer assim, eu precisava ao menos tentar. Talvez eu conseguisse sair desse quartinho assim que ele abrisse a porta, ou pegar um celular e ligar para a Mónica que era única pessoa que eu não desconfiava no momento. Como faria qualquer uma dessas coisas estando no meu estado? Infelizmente, era impossível. O tempo se passava e qualquer esperança mínima que existia, era esmagada pelo silêncio profundo e pelas correntes pesadas. Passei uma eternidade ali, sozinha, passando frio, sede e fome. Algumas partes do meu corpo doíam muito como minhas costas e cabeça em parte por estarem por tempo demais encostada no chão duro e outra, acho que por causa do capotamento, porém, dadas as circunstâncias, não eram nada comparadas a dor mental. Depois de infinitas horas, alguém abriu a porta. Engoli em seco ao simples som da maçaneta sendo girada devagar, a abertura demorada me deixava na expectativa. E se fosse alguém que veio me buscar? Quase sorri ao ver a silhueta de uma mulher baixa e gordinha aparecer como uma sombra em contraste com a luz de fora. Com certeza uma mulher, teria compaixão de outra. A mesma entrou com passos leves e acendeu uma lâmpada. Minha reação foi como a de um vampiro exposto ao sol. Fechei os olhos que doíam com o ambiente claro, mas logo os abri alarmada por ouvir passos se aproximarem. Agora eu poderia ver claramente o rosto da mulher, uma senhora branca, com o rosto pálido e oval, sua expressão demonstrava apenas tranquilidade, ela não parecia o tipo que me tiraria dali, mas não custa tentar. — Me ajuda. A mesma empurrava um carrinho com várias coisas em cima, e parou ao ouvir minha voz que forcei ao máximo para que me ouvisse. — Não me aborreça pedindo isso, eu não vou ajuda-la e ponto. — Esclareceu de uma vez com a voz feminina dura. — Senhora, pelo amor de Deus... — Basta! — Gritou interrompendo minha petição. Seu rosto de tornou vermelho, e os olhos arregalados, ela parecia irritada, mas não podia ser comigo, o que fiz a ela? Será uma afronta tão grande uma garota acorrentada ao chão pedir que fosse libertada? Me calei, fraca demais para gastar minhas palavras com alguém que não parecia com vontade de ajudar. Não havia ninguém nesse lugar com um coração? Eu precisava fazer um esforço tremendo para continuar respirando, meu tórax doía com o simples ato fisiológico, mas eu precisava, desistir não era uma opção. Por hora, deixei de implorar por liberdade, permaneci quieta, talvez o próximo que entrasse eu teria um pouco mais de sorte. Eu precisava ser inteligente, usar a estratégia que fosse, para sair dali.JOHN BACKER Eu havia acabado de conseguir um emprego como segurança em uma boate londrina: Luxury Hell. Pertencente à Paul Linse. Não sei muito sobre o cara, o que de verdade, não me importa, nunca tinha ido àquela boate, nem se quisesse, era uma das mais famosas da cidade, contendo prostitutas de luxo com direito e suíte master, bebidas e entorpecentes dos melhores. Contudo, nada disso me deixava animado a ir trabalhar naquele lugar. Mentira. Imagina viver dentro do "inferno de luxo"? Eu vou me esbaldar de sexo, modéstia à parte, sei que não preciso de dinheiro para conseguir isso de qualquer mulher, sempre me considerei expertise em conquista, nenhuma resistia a mim e ao meu charme bruto. Às vezes era difícil conseguir um emprego bom por conta de ter uma ficha criminal nada bonita de se ver, não que eu seja um criminoso, mas tenho duas ou três passagens pela polícia: uma apreensão de roubo em flagrante e uma tentativa de homicídio, e a outra nem lembro já que estava chapado demai
JOHN BACKER 10 da noite e a boate começava a encher. Meu serviço consistia em ficar parado, feito um poste, vestido de terno preto, gravata e calça social, em um canto qualquer; expulsar clientes que começassem a fazer bagunça ou briga. A Luxury Hell era uma boate normal, a não ser pelo fato de não ser permitida a entrada de pessoas que não tenham uma renda mensal de menos de 2 milhões. Pista de dança cheia de gente suada e bêbada, que mesmo sendo pessoas ricas e "finas", também mereciam se divertir. Porém, o maior espetáculo era uma piscina gigantesca muito bem iluminada, quase no meio do recinto, com mulheres que só vestiam uma mini calcinha se exibindo para os homens. Homens esses que entravam na piscina e comia quantas quisessem ali para todos verem. E também tinha o segundo piso, onde os milionários, e até algumas milionárias, assistiam mulheres quase nuas dando um verdadeiro show no pole dance, ou iam até lá para beber e fumar. Enfim, o lugar é um enorme antro de perd
JOHN BACKER Ela pareceu compreender minha falta de entendimento e repetiu a pergunta no meu idioma. E porra, o sotaque dela era lindo e o inglês mais perfeito que o meu. — Conversar com você. E quem sabe até mais... — respondi deixando a frase inacabada. Ela com certeza soube do que eu estava falando e virou a cabeça para me encarar, sorri safado como um convite claro das minhas más intenções. A mexicana por sua vez tentava vestir uma máscara de frieza e calma, queria mostrar que não se sentia atraída por mim. Meu sorriso aumentou, já constatando minha vitória. Sua farsa falhou miseravelmente quando notei seus dedos finos com unhas bem cuidadas tremerem ao levar levemente o copo à boca, acompanhei com os olhos famintos cada movimento seu, o liquido sendo transferindo do copo para a boca carnuda e depois deslizando pela sua garganta... Imaginei outro tipo de líquido descendo pela garganta dela, um branco e quente... Meu corpo estava prestes a entrar em combustão tamanha a von
DANNA PAOLA MADERO Passei muitos dias naquele lugar. Nua e acorrentada ao chão. A novidade era que aquela velha m*****a trouxe pelo menos um colchão para que o desconforto e o frio fossem menores. Ingênua, ainda pensei que sentisse um pouco de compaixão por mim, mas ela o fez apenas por que o chefe dela precisava de um lugar mais confortável para satisfazer seus desejos masculinos. Eu era usada todas as noites pelo mesmo homem. E quando ele me tocava, um pedacinho de mim morria. Todas as vezes que a porta era aberta e Paul passava por ela, minha esperança de ser resgatada também morria. E tudo o que eu queria era morrer de vez, o sofrimento não tinha fim, pelo contrário, se renovava a cada dia. Meu corpo estava imundo, havia mudado para algo quase irreconhecível, alguns ossos mais a mostra por debaixo da pele fina e pálida denunciavam a magreza. A comida era escassa, recebia apenas uma refeição por dia e um litro de água. Ele havia destruído tudo de bom que havia em mim, minh
DANNA PAOLA MADERO Primeiro fui arrastada à um banheiro decente, ela me deixou lá para banhar o quanto quisesse. Claro que aproveitei para tomar uns bons goles de água da torneira. Já que estava sem roupas mesmo só precisei ligar a ducha com a água morna. Lavei os cabelos com uns xampus. Me banhei como há tempos não fazia. Foi revigorante. — Ei já está bom. — Olívia berrou da porta do banheiro. Suspirei cansada. — "Déjame em paz". (Me deixa em paz) — Murmurei. A porta foi aberta bruscamente e a mulher me olhou séria e jogou uma toalha branca em mim. — Cala a porra da boca sua ridícula e cobre logo essa "ossada" aí. — Ralhou. Tentei fingir que não ouvi o que ela disse. Mas, doeu saber que meu corpo realmente estava "ridículo". Cheguei no fundo do poço. Segurei a toalha e me enrolei rapidamente. A mulher se virou e fez um gesto com a mão para que a seguisse. Fui atrás como um cão obediente. Caminhamos pelo corredor que eu conhecia um pouco, pelo trajeto diário até ou
DANNA PAOLA MADERO Não respondi. Continuei imóvel e calada. Baixei a cabeça para não o olhar. O cheiro bom da comida embaralhou meus pensamentos. Deus! Estou faminta! Ouvi seus passos pelo quarto, se aproximando. —Vamos lá. Anime-se bonequinha linda. — Passou a mão pelos meus cabelos, afagando. Esse tipo de "carinho" me enojava e fazia meu corpo tremer de medo do que viria a seguir. — Olha o que trouxe para você. Não me movi. Sabia que seu jogo ia começar. — MANDEI OLHAR CARALHO! — Gritou sem paciência, e seu carinho em meu cabelo se tornou forte, me obrigando a obedecer. — Foi difícil? Fiquei calada. Apenas o encarando e demostrando toda minha raiva somente pelo olhar. Olhei para a bandeja. O copo de água parecia tão gelado e bom... — Que olhinhos famintos. — Zombou com um sorriso largo no rosto. — Mas... — prolongou a palavra enquanto ainda segurava meu cabelo e depositava a bandeja na cama para poder abrir a calça, liberando seu pênis ereto. Minha vista
DANNA PAOLA MADERO Não tenho muita noção do tempo nesse lugar. Mas pelo que Olívia me disse, já faz pouco mais de 6 meses que estou aqui. Não sei onde estou, mas desconfio que não seja o México. As pessoas falam inglês, porém, não dá para saber exatamente em qual país, pois o inglês é universal, vários países o falam. Exatos meio ano sem saber o que é ver a luz do sol. Sem sentir seu toque quente na pele. O vento. O canto de pássaros. Nada. Me faz pensar que devia ter dado mais valor ao meu lar. Ter aproveitado mais. Se nada disso tivesse acontecido comigo, não teria percebido a importância de tais pequenos detalhes. Não que eu esteja agradecida por essa merda ter acontecido. Todo esse tempo já se passou e meu pai não apareceu para me salvar como salvou meu irmão. Ele deve ter me esquecido. Preciso sair dessa sozinha. — Danna querida, nos dê uma licença rápida. Precisamos tratar de negócios agora. — Paul toca minha cintura para me fazer sair do transe. Conco
DANNA PAOLA MADERO — Esperta você. Tive que aprender. Sabia bem que ele só estava sendo legal comigo para tranzar. Dei de ombros e não disse nada. Sentia seus olhos queimando meu corpo inteiro sob a intensidade de seu olhar penetrante. — Meu nome é John. John... Nome diferente dos garotos da minha escola mexicana. Parecia um nome de pessoas comuns do Estados Unidos ou Canadá. — Você é um milionário idiota que o Paul trouxe? Ele ficou em silêncio por alguns segundos. — Bilionário. — Corrigiu. Será um teste do Paul? Será que ele sabe desse cara aqui? — Eu tenho muito dinheiro... — Eu não ligo para dinheiro senhor. — Interrompi séria. Me virei para sair, mas ele segurou meu braço sem aplicar força dessa vez. Olhei a mão dele com uma tatuagem de algo que se parecia com um pássaro. — Eu também não ligo. Por isso não tenho onde cair morto. O olhei confusa e com uma imensa vontade de perguntar onde estávamos. Mas pareceria suspeito. Que tipo de pessoa