As sombras dançavam no chão irregular da floresta, acompanhando o movimento feroz de duas figuras no centro de uma clareira. Tupã e o Comandante Hargrove estavam frente a frente, rodeados pelo silêncio expectante de um público invisível — a floresta, que observava com seus olhos ancestrais. O confronto já durava tempo suficiente para que o suor escorresse profusamente pelo rosto de Tupã. Suas vestimentas estavam rasgadas, marcadas pelos lugares em que a lâmina de Hargrove quase o alcançara, e sua respiração era um som áspero, irregular, como ondas quebrando nas rochas. Hargrove, porém, mostrava-se inabalável. Sua postura firme e olhos de aço refletiam uma gélida confiança, que nenhum sinal de cansaço traía. Ele era precisão encarnada — cada golpe de sua espada uma mistura perfeita de técnica refinada e força brutal. — Esperava mais de você — provocou Hargrove, girando a lâmina com facilidade quase casual. — Dizem que você é um guardião, um protetor da floresta. Mas tudo que vejo é
Tupã não desferiu o golpe final. Em parte, foi o peso de um terrível pressentimento; em parte, a exaustão que dobrava seus braços; e, em parte, a clemência, que sussurrava alto em seu coração.O Comandante Hargrove jazia no chão, a espada caída ao lado. Sua mão ensanguentada pressionava o peito, enquanto sua respiração pesada carregava o som de um esforço exausto. Mesmo assim, seus olhos ainda brilhavam com aquele traço calculista, como se considerasse a derrota apenas mais um degrau em sua estratégia.Tupã o observava, imóvel. A flecha permanecia firmemente encaixada no arco, mas sua força para disparar parecia hesitar.— Você perdeu — disse ele, a voz baixa, rouca, como o eco de um trovão distante. — E, ainda assim, algo me diz que isso não acaba aqui.O sorriso que Hargrove esboçou foi gélido, desprovido de qualquer humor.— Você é esperto, selvagem. — Sua voz era um murmúrio cortante. — Mas nunca esperto o suficiente.E então Tupã ouviu.Primeiro, o som abafado de passos esmagando
O esconderijo subterrâneo estava mergulhado em um silêncio pesado, quebrado apenas pela respiração irregular de Tumbleweed. Ele se contorcia sobre um improvisado leito de palha, conforme Kaena pressionava um tecido contra a ferida em sua perna, o sangue escorrendo lentamente pelos dedos dela.— Aguente firme, garoto. — Kaena falou, a voz baixa.Tumbleweed mordia um pedaço de madeira para conter os gritos, seus olhos apertados de dor. Hei estava ao lado, segurando firme o braço do garoto para que não se debatesse.— Você é mais forte do que pensa. — A voz de Hei tinha uma calma forçada, como se estivesse tentando conter o próprio desespero.Kaena ergueu os olhos por um momento, trocando um olhar ligeiro com Hei. Eles não precisavam falar para saber que o tempo era curto e as opções, limitadas.— Fique aqui com ele — disse Kaena, levantando-se de repente. — Vou até as minas. Ainda há gente presa lá.Hei hesitou, seu olhar fixo nela. Por um momento, pareceu prestes a argumentar, mas cedeu
A manhã avançava preguiçosamente sobre as minas. O sol lutava para atravessar o céu carregado de poeira e fumaça que pairava como um véu opressor. As sombras das árvores próximas se alongavam no chão irregular, estendendo-se como garras ameaçadoras conforme Kaena deslizava silenciosamente entre os túneis e os abrigos improvisados.Seus olhos avaliavam cada centímetro do terreno, buscando tanto uma brecha para agir quanto sinais de perigo. As armadilhas deixadas pelos homens de Hargrove eram cruéis em sua simplicidade: cordas escondidas sob folhas secas, disparadores de dardos camuflados em troncos e buracos disfarçados por uma fina camada de terra. Cada passo era um risco medonho, transformando a floresta em um tabuleiro mortal.Kaena parou atrás de um tronco caído, observando a cena adiante. Três mercenários patrulhavam uma área onde um grupo de prisioneiros estava acorrentado, forçado a cavar incessantemente no solo endurecido. As expressões dos cativos variavam entre o cansaço absol
Callahan ajustou o chapéu de abas largas conforme deixava a tenda espaçosa. Seus movimentos eram descontraídos, mas suas palavras carregavam uma gravidade que ecoava no ar.— Não gosto de me repetir, senhor Donaldo, mas há algo nessa floresta — disse ele, parando na entrada e virando-se levemente. Seus olhos brilhavam sob a luz difusa do amanhecer. — Algo que não pode ser explicado apenas com truques.Donaldo, recostado em sua cadeira de madeira entalhada, ergueu uma sobrancelha. Sua expressão era de desprezo calculado, mas seus dedos tamborilavam contra o braço da cadeira.— Um conselho, então: não subestime o que não entende. — Com isso, Callahan se virou e saiu, seus passos firmes sendo engolidos pela terra macia.Donaldo permaneceu em silêncio, o eco das palavras do comerciante se infiltrando em sua mente como uma brisa gélida. Ele odiava admitir, mas havia algo naquela floresta que o fazia hesitar. Ele, o grande conquistador, sentia-se inquieto em um lugar que deveria ser apenas
A floresta ainda dormia sob o manto da madrugada. A névoa rasteira dançava sobre o solo úmido, enquanto as folhas, orvalhadas pelo frescor da noite, sussurravam segredos ancestrais ao vento. Lá, no coração desse silêncio antigo, duas sombras se moviam com a suavidade de predadores. Yara, de olhos afiados como a lâmina da sua adaga, conduzia seus passos firmes sobre as raízes da terra que tanto conhecia. Ao seu lado, Tupã, o caçador cuja respiração compassada seguia o ritmo da floresta, mantinha os sentidos em alerta, pronto para proteger a mulher que amava. Juntos, formavam um só espírito, mas agora eram também um casal foragido.A alvorada não tardaria a banhar os céus de laranja e ouro, mas aquela manhã não seria como as outras. Desta vez, a luz do sol traria consigo caçadores — não de presas, mas de almas humanas.Yara olhou de relance para Tupã, os olhos expressando a certeza e a preocupação que tentava esconder. Ele não precisava de palavras para entender. Um simples olhar bastav
A noite desceu sobre a floresta como um manto de veludo negro, ocultando os segredos e os medos que cresciam sob as copas altas das árvores. O vento murmurava canções antigas, que só aqueles de coração selvagem podiam compreender. Yara e Tupã caminhavam entre essas sombras, suas respirações sincronizadas com o pulsar da floresta viva, sentindo em cada passo o peso da perseguição que os rondava, como lobos famintos à espreita.A escuridão era um refúgio e um perigo. Ali, onde os raios da lua mal atravessavam o denso dossel de folhas, o casal sabia que a floresta poderia ser sua aliada ou sua ruína. As árvores, testemunhas silenciosas de séculos de histórias, pareciam abrigar segredos, oferecendo-lhes proteção, mas também alertando sobre o que viria.Tupã, com seus sentidos afiados, par
O sol nascente despontava no horizonte, tingindo de dourado as copas das árvores, mas a luz que quebrava a escuridão não trazia consolo. Pelo contrário, o amanhecer revelava o início de um novo desafio, e Yara e Tupã sabiam que a perseguição havia apenas começado.As marcas no solo eram inconfundíveis. Tupã, agachado junto a uma trilha de folhas amassadas, examinava os rastros com olhos atentos. Havia pegadas largas, impressas profundamente na terra úmida, pesadas como as intenções daqueles que as deixaram. Ele passou os dedos pelos sulcos no chão e estreitou os olhos.— Não são guerreiros comuns — murmurou Tupã, a voz grave cortando o silêncio da floresta. — São homens brancos, caçadores de recompensas. A paga deles é o peso de nossas cabeças.Yara se a