Capítulo 3: Inimigos por Todos os Lados

O sol nascente despontava no horizonte, tingindo de dourado as copas das árvores, mas a luz que quebrava a escuridão não trazia consolo. Pelo contrário, o amanhecer revelava o início de um novo desafio, e Yara e Tupã sabiam que a perseguição havia apenas começado.

As marcas no solo eram inconfundíveis. Tupã, agachado junto a uma trilha de folhas amassadas, examinava os rastros com olhos atentos. Havia pegadas largas, impressas profundamente na terra úmida, pesadas como as intenções daqueles que as deixaram. Ele passou os dedos pelos sulcos no chão e estreitou os olhos.

— Não são guerreiros comuns — murmurou Tupã, a voz grave cortando o silêncio da floresta. — São homens brancos, caçadores de recompensas. A paga deles é o peso de nossas cabeças.

Yara se aproximou, os olhos afiados como lâminas, perscrutando a trilha invisível que apenas Tupã parecia ver com clareza. Sentiu o coração acelerar, mas não de medo — de uma raiva silenciosa. Sabia o que os caçadores queriam. Para eles, a vida humana era apenas uma moeda, e tanto ela quanto Tupã valiam o suficiente para atrair qualquer um que não tivesse um pingo de honra.

— Vivos ou mortos — sussurrou Yara, quase para si mesma, conforme uma sombra de preocupação atravessava seus olhos.

Ela sabia que os homens brancos, com seus rifles e armadilhas, não hesitariam em derramar sangue, assim como sabia que a floresta, por mais que os protegesse, não seria capaz de afastar para sempre aqueles que se aproximavam com suas botas pesadas e intenções cruéis.

Mas não eram apenas os caçadores de recompensas que representavam uma ameaça naquele dia. Havia algo mais, uma presença invisível que o vento trazia como um presságio sombrio. Tupã franziu a testa, o corpo inteiro tenso, como um animal que pressente o predador antes mesmo de vê-lo.

— Não são apenas os homens brancos que nos caçam — disse ele, com a voz carregada de amargura. — Meu povo... Os Guerreiros da Lua Negra. Estão perto.

Yara virou-se para ele, surpresa. Tupã raramente falava de sua tribo, mas as palavras "Lua Negra" eram como uma lança no ar. A tribo de Tupã não o perdoara por um erro que ele não cometera, e agora, ao que tudo indicava, tinham enviado seus melhores guerreiros para caçá-lo. Não por justiça, mas por vingança. Uma dívida de sangue jamais perdoada.

— Vieram atrás de ti — disse Yara, lendo nos olhos dele a verdade que ele tentava esconder. — Por algo que nunca fizeste.

Tupã se levantou lentamente, os músculos rígidos, a expressão impenetrável. O peso de seu passado parecia esmagar seus ombros, mas ele não deixaria que isso o impedisse de seguir em frente.

— Para eles, o que importa é o que acreditam — respondeu Tupã, com uma tristeza silenciosa. — O sangue que não derramei agora me condena. Mas é nosso sangue que eles querem agora.

Yara sentiu a raiva subir-lhe à garganta. Não era justo que Tupã fosse caçado como uma fera por crimes que nunca cometeu. Mas a justiça, ela sabia, não vivia naquela floresta. Só sobrevivência.


Enquanto seguiam mais adiante, o cheiro de perigo se intensificava. Os sons da floresta, que antes traziam tranquilidade, agora pareciam esconder armadilhas em cada suspiro do vento. Um estalo de galho à distância. O farfalhar de folhas que não deveriam estar se movendo.

Tupã parou abruptamente e puxou Yara para trás de uma árvore. Seu olhar, mais afiado que qualquer flecha, examinava o ambiente ao redor. Foi então que ele os viu: sombras se movendo rapidamente entre as árvores, os caçadores de recompensas.

— Eles nos cercam — disse Tupã, o tom baixo, mas carregado de urgência. — Estão nos caçando como animais.

Yara apertou a adaga em sua mão. Não era uma luta justa. Eles tinham armas de fogo, e ela e Tupã, apenas suas lâminas e arcos. Mas sabiam usar o conhecimento da floresta como vantagem. Tupã apontou para uma trilha de pedras mais adiante, escondida entre arbustos.

— Se chegarmos lá, podemos despistá-los. A névoa é densa e a floresta mais profunda, eles não poderão nos seguir sem se perderem.

Eles correram, silenciosos como sombras. Cada passo calculado, cada respiração controlada. Mas os caçadores não estavam longe. O som de vozes ásperas e risos cruéis ecoava pelas árvores. Eram homens que conheciam o valor da caça humana e sabiam que cada passo os levava mais perto da recompensa.

Foi então que, de repente, um grito ecoou pela floresta. Um dos caçadores foi pego em uma armadilha natural — uma queda brusca de um despenhadeiro oculto. Mas isso apenas os enfureceu. Tiros foram disparados, rompendo o silêncio da floresta.

— Agora! — gritou Tupã, puxando Yara enquanto o barulho das balas zunia por entre os galhos.

Correram o mais rápido que puderam, mas o som dos caçadores atrás deles parecia inescapável. Até que, subitamente, o silêncio caiu sobre a floresta.

Tupã parou, seus instintos aguçados sentindo o perigo que a quietude trazia. Não era o fim da perseguição. Era a calmaria antes da tempestade.

E então, surgiram. Os Guerreiros da Lua Negra, surgindo das sombras como espectros vingativos. Suas peles pintadas com símbolos de guerra e os olhos fixos em Tupã, como se o destino os trouxesse ali apenas para completar o ciclo de sangue e traição.

Yara se colocou ao lado de Tupã, os dois agora cercados. Caçadores de recompensas e guerreiros tribais, todos em busca de seus pescoços.

— Até onde estamos dispostos a ir, Yara? — perguntou Tupã, sem desviar o olhar dos guerreiros à sua frente.

Ela, com a adaga firme em mãos, respondeu com uma intensidade nos olhos que falava mais do que palavras.

— Até onde for preciso.

E naquele momento, conforme o círculo de inimigos se fechava ao redor deles, Yara e Tupã compreenderam o verdadeiro significado de estarem juntos. Não era apenas uma união de corpos, mas uma fusão de almas, dispostas a lutar contra o destino que lhes fora imposto. Ali, nas entranhas da floresta, com inimigos por todos os lados, decidiram que não se renderiam. Não sem lutar.

A selva, testemunha de suas promessas e medos, aguardava o que viria a seguir.

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