A traição caiu sobre Yara e Tupã como o silêncio súbito que antecede uma tempestade. O que parecia ser uma aliança frágil com Avelino desmoronou como folhas secas ao vento, revelando o amargo sabor da desconfiança justificada. A dúvida havia florescido, e agora não havia mais tempo para esperar. A decisão de fugir novamente não era apenas uma escolha, mas uma necessidade crua, imposta pela traição que se revelava. A primeira luz da alvorada filtrava-se pelas árvores quando eles perceberam que estavam cercados. O som dos passos dos caçadores misturava-se ao farfalhar das folhas, uma melodia dissonante que a floresta ecoava em resposta. O tempo era escasso. — Para a árvore oca — murmurou Tupã, os olhos escuros e focados. Ele puxou Yara pelo braço, os dois se movendo com uma precisão característica de predadores que conhecem seu território como a palma da mão. A árvore, com seu tronco largo e antigo, parecia apenas mais uma entre tantas naquele mar verdejante, mas escondia um segredo.
O ar nas montanhas era fino, quase sidéreo, como se a própria respiração fosse um esforço negociado com os espíritos que habitavam aquelas alturas. O refúgio que Yara e Tupã encontraram entre os anciãos da tribo montanhesa não era apenas uma pausa na fuga, mas uma nova batalha silenciosa que travavam, desta vez dentro de si. As condições impostas pelos líderes da aldeia ecoavam no coração de ambos como tambores distantes, cada batida trazendo a promessa de uma decisão que os mudaria para sempre.— Para ficarem entre nós, precisam provar sua lealdade — dissera o ancião de escuros olhos de pedra, sua voz carregada de uma ancestralidade que ressoava nas paredes rochosas ao redor deles. — Aqui, nada é dado de graça. A confiança é sagrada.Essas palavras, que inicialmente pareceram apenas uma formalidade, agora tomavam corpo. A tribo, isolada no alto das montanhas, era uma comunidade fechada, tecida por segredos e
A noite nas montanhas parecia mais fria naquela madrugada, como se o próprio vento carregasse o peso dos segredos que agora pairavam entre Yara e Tupã. A lua, suspensa sobre os picos, iluminava o acampamento da tribo com sua luz prateada, mas o brilho suave só servia para destacar a escuridão que crescia entre o casal.Tupã, sentado perto da fogueira, observava as chamas dançarem, seus pensamentos turbulentos. Havia um silêncio profundo nele, mas por dentro sua mente fervilhava com as palavras que ecoavam desde o dia anterior. Yara, sua companheira, sua aliada, sua amada... ela havia feito um pacto em segredo.A informação chegara até ele como uma brisa envenenada. O líder da tribo, com quem haviam selado o pacto de sangue, revelara que Yara, sem consultá-lo, havia feito um acordo à parte — algo que ele não soubera, algo que agora o feria mais do que qualquer ferimento físico poderia.Yara se ap
A noite envolvia as montanhas com um silêncio denso, quebrado apenas pelo sussurro constante do vento que serpenteava por entre as árvores. Yara, inquieta, sentia o peso invisível de algo muito maior que seus próprios pensamentos. O ar ao seu redor parecia vibrar com uma energia ancestral, como se a própria floresta a chamasse para algo que não conseguia compreender plenamente, mas que pulsava dentro dela, como um eco distante.Tupã estava ao longe, ocupado em seus próprios pensamentos. Desde que a confiança entre eles havia sido abalada, o silêncio entre os dois era mais pesado que o habitual, como se as palavras, antes tão naturais, agora estivessem presas em uma teia invisível. Yara sabia que o amor permanecia, mas havia algo mais profundo acontecendo — algo que ia além de suas escolhas terrenas.Ela saiu do acampamento em silêncio,
O vento soprava com uma intensidade sombria nas montanhas, como se a própria natureza pressentisse o peso das escolhas que Yara e Tupã agora carregavam. O pacto de sangue, selado nas sombras da fogueira e diante dos olhares da tribo isolada, parecia uma âncora que os puxava para as profundezas. O que antes parecia uma aliança por sobrevivência agora revelava seu verdadeiro preço.Eles haviam sido convocados pelo líder da tribo naquela manhã, uma figura de autoridade que, até então, os havia tratado com um misto de respeito e expectativa. Mas agora, a expectativa se tornava cobrança. As promessas de proteção tinham um custo, e o peso desse custo recaía sobre seus ombros de uma maneira que não haviam previsto.— Há invasores em nosso território sagrado, — começou o ancião, sua voz firme como a rocha das montanhas. — Homens brancos, armados, que não respeitam nossas fronteiras. Sabemos que vieram atrás de vocês, mas agora estão profanando nossa terra, cavando e destruindo o que é sagrado
A escuridão da noite ainda pairava sobre as montanhas, densa e pesada, conforme Yara e Tupã se moviam silenciosamente pela floresta. O vento, frio e cortante, soprava contra seus rostos, mas a verdadeira gelidez estava no que os aguardava ao amanhecer. O acampamento dos caçadores se erguia à frente, oculto entre árvores retorcidas e sombras, como um predador aguardando sua presa.Ao lado deles, os guerreiros da tribo caminhavam em silêncio, com a destreza de quem conhece cada detalhe da floresta. O líder da missão, um homem de feições austeras chamado Irua, gesticulava com precisão, apontando o caminho para a emboscada. Tudo estava planejado: eles atacariam ao amanhecer, quando os caçadores estivessem mais vulneráveis, surpreendidos pelo sono e pela falsa sensação de segurança.Mas no cora&cce
A trilha até o forte parecia interminável, como se o tempo, estendido pela dor e pelo medo, tivesse decidido arrastar-se cruelmente para Tupã e Yara. A floresta, que um dia fora seu refúgio, agora os observava em silêncio, incapaz de ajudá-los. Presos em correntes, o peso da captura se manifestava não apenas em seus corpos exaustos, mas em suas almas, esmagadas pela nebulosidade do que estava por vir.O forte, erguido pelos homens brancos, parecia uma ferida aberta no meio da natureza, suas paredes de pedra grossa contrastando com a suavidade das árvores ao redor. Era um monumento à força brutal, um lugar onde a terra havia sido vencida pela mão cruel da civilização.Assim que chegaram, foram separados. Yara foi levada para uma cela escura e fria, onde as paredes sujas exalavam o cheiro de medo e desespero acumulado. Seus
As noites no forte eram longas, geladas e opressivas, mas Yara via-se convencida de que não estava sozinha. Mesmo nas sombras escuras da prisão, ela sentia a presença de Tupã — não fisicamente, mas como um sussurro em seu espírito. O amor que os conectava era como uma corrente invisível, que a cada batida de seus corações pulsava com esperança e resistência. No entanto, as correntes que prendiam seus corpos eram reais, e a realidade de seu cativeiro ficava mais dura a cada dia.Yara sabia que seus captores planejavam algo sombrio. Sentia o peso de suas intenções em cada pergunta maliciosa que lhe faziam, em cada olhar calculado que lançavam sobre ela e Tupã. Mas o que eles realmente queriam ainda estava envolto em mistério. Era como uma tempestade se aproximando no horizonte, cujos ventos já começavam a soprar, mas cujo poder total ainda estava por ser revelado.Um dia, enquanto Yara estava deitada na cela, esgotada e com as costas doloridas pelas torturas, a porta de ferro rangeu, ao