A manhã ensolarada iluminava o quarto do hospital ligeiramente bagunçado, enquanto um raio de sol que transpassa a janela toca o rosto de Damiano delicadamente, iluminando a mecha de cabelo castanho caída em seu rosto, quase tocando sua boca.Seus lábios estavam pressionados e sua sobrancelha se franzia em uma expressão quase irritada. Mas apesar de parecer ter raiva de alguma coisa ou alguém, ele só estava preocupado.Ele arrumava os pertences de Victoria de volta para a mala, organizando da melhor forma que podia, já que não tinha muita habilidade quando se tratava de arrumar itens pessoais.Vendo sua dificuldade para terminar de ajeitar a mala surpreendentemente cheia, a ruiva sorriu de canto, se aproximando e pegando algumas peças de roupa para dobrar.— Pode deixar, eu consigo. — Ele impediu sua mão de alcançar a blusa branca que estava à sua esquerda.— Você não me deixa fazer nada. — Ela rebateu.— Você precisa repousar, Victoria. Não são ordens minhas. — Ele disse, sorrindo le
Ele escutou as palavras da ruiva, pensativo.Não sabia o que dizer, ou o que poderia dizer sem magoá-la. Estava farto de ver seu rosto decepcionado encará-lo com os olhos sem vida.Sua vontade, caso pudesse expor de maneira sincera, seria dizer que se pudesse, enviaria ela para o mais longe de toda essa confusão, a livrando de qualquer tipo de mal que pudesse atingi-la ao longo do tempo.Ele conhecia sua família, seus aliados, e sabia exatamente o que iria acontecer caso não intervisse na situação. Não tinha mais medo de arcar com as consequências de suas ações por causa de seu pai, mas tinha medo de não conseguir sobreviver tentando protegê-la.Isso, de fato, o assombrava diariamente.— Acho que você pode fazer o que quiser, desde que não a prejudique. — Ele respondeu, cessando seu longo silêncio torturante.— Mais prejudicada do que já estou, Damiano? — Ela alterou seu tom de voz, mostrando a irritação que a invadiu. — Não sejamos inocentes, você sabe tanto quanto eu que o meu desti
O dia quente se tornou cada vez mais insuportável graças ao tédio infinito que se instalou no quarto ridiculamente abafado. O ar condicionado não foi o suficiente, já que era apenas um para um quarto enorme. Logicamente quem o construiu falhou em se preocupar com os dias de extremo calor, se apegando a antiga ideia de que a Inglaterra só tem dias frios.Victoria estava vestida com roupas curtas e quase transparentes, tentando ignorar o fato de estar suando como um porco, como disse com suas próprias palavras. Irritada, pensou que de nada adiantou Damiano instaurar suas proibições, já que privá-la do mundo exterior não estava sendo uma experiência nada agradável.Por fim, após muitas reclamações e discussões, Victoria venceu.Ela pôde finalmente aproveitar da bela piscina, que por sorte, estava vazia, já que estava anoitecendo.O jatinho só chegaria próximo da madrugada, para que eles saíssem sem levantar suspeitas de qualquer inimigo à espreita. Então, eles teriam a noite inteira para
A água da piscina estava quase morna devido ao calor exorbitante que aqueceu Londres durante o dia. O céu estava lotando de estrelas que coroavam a bela noite na qual Damiano e Victoria passaram juntos, após ficarem horas na piscina, brincando como duas crianças sem preocupações futuras.Vez ou outra apareciam algumas pessoas, ainda que poucas, que se juntavam a eles para aproveitar e se refrescar do calor intenso, que permaneceu mesmo durante a noite. Victoria estava irredutível, não queria sair de dentro da água de jeito nenhum. Damiano perdeu as contas de quantas vezes teria pedido para que eles fossem até o restaurante jantar, já que ele estava faminto. Ela o ignorou em todas às vezes, não se importando com as vontades do mais velho.Estava focada em se preocupar só com si mesma dali em diante, já que sentiu nos últimos dias que havia negligenciado sua saúde mental lentamente.Por fim, para a felicidade de Damiano, ela aceitou que fossem jantar. Precisavam subir até o quarto para
Ele a via como um ser quase divino, celestial. Sentia-se como um demônio prestes a corromper um lindo anjo indefeso, que estaria a mercê de todas as coisas perversas que ele conseguiria fazer assim que colocasse as mãos em sua estrutura.Ele temia quebrá-la ainda mais, a deixando tão danificada quanto ele ao torná-la completamente exposta aos seus desejos sórdidos. Mas o que ele não percebia, era a maneira como ela o via.Diferente de sua própria percepção sobre si, Victoria conseguia enxergar o homem extremamente cuidadoso, gentil e sensível que ele tanto tentava esconder.Que ele foi ensinado a ocultar nas profundezas do seu próprio ser.Não entendia porque era tão difícil se enxergar com os mesmos olhos que podem ver tanta beleza em outro ser.Por trás de toda a violência, tristeza e raiva que exibia na primeira camada do seu ser, Damiano ainda tinha todo um oceano em si para explorar e se afundar. Só assim conheceria coisas que nunca pôde ver em si próprio, pois não teve permissão
Eles não tiveram tempo para se preparar e entender o que poderia acontecer, tanto Damiano quanto Victoria, arrumavam suas malas com pressa, tentando não esquecer de nada que fosse importante antes de o carro chegar para os levarem até o ponto de partida onde o jatinho espera.Ela estava confusa e assustada, assim como Damiano, que se via em um mar de preocupações novamente. A sensação assustadora era difícil de ser digerida por ambos.A rotina que levavam era como uma montanha-russa, e a noite que vivenciavam era maior prova disso. Há algumas horas se divertiam na piscina, agindo como se não houvesse preocupações maiores. Já um tempo depois, se viram juntos, compartilhando o mesmo espaço com seus corpos despidos, quase completamente entregues ao jogo da paixão que se viam sucumbindo cada dia mais. E em um piscar de olhos, estavam sendo obrigados a voltar para o ninho de cobras de onde haviam saído; de onde Damiano fazia parte, como Victoria custava a se recordar, pois era doloroso ass
As bagagens acumuladas no saguão cobriam a frente do corpo de Victoria, sentado em uma pequena poltrona atrás do grande volume de malas que não possibilitava a vista de seu rosto coberto de ansiedade e preocupação.Ela roía suas unhas, completamente nervosa, enquanto aguardava Damiano receber o carro que os levaria até o jatinho. Se arrumaram às pressas, como se algo urgente estivesse acontecendo e ela não soubesse, restando que ficasse sozinha com suas próprias angústias, sem ao menos entender se corria algum perigo ou se havia algum risco no retorno que fariam para a Itália antes de chegarem até a Sicília.Havia uma movimentação incomum no hotel, que não condizia com o horário tardio, onde tudo deveria ser mais tranquilo e reservado. Isso a deixou ainda mais nervosa, pois levantava suspeitas sobre ser algum tipo de emboscada planejada por Valentim.Era tudo muito abstrato, o que tornava confuso tirar algum tipo de conclusão sobre qualquer situação que estivessem envolvidos. No entan
O silêncio era irritantemente chato e incômodo. Damiano não disse uma palavra sequer desde que se sentou na poltrona em frente a Victoria. Permaneceu imóvel, com uma expressão enigmática em seu rosto que parecia neutro, ao mesmo que seus olhos escuros indicavam que algo não estava certo.Ambos trocavam olhares vazios, sem qualquer indício do sentimento apaixonado e intenso que pareciam exibir no quarto de hotel que compartilhavam.A ruiva estava furiosa. Completamente cansada de não saber o que acontecia durante todo momento, se sentia no escuro sobre todas as ações impensadas de Damiano, que insistia em tentar livrá-la de qualquer perigo inesperado, mas não enxergava o quanto causava nela um mal-estar.— Você vai simplesmente agir como se nada estivesse acontecendo? — Ela usou um tom um pouco mais alto do que estava acostumada, pegando o mais velho de surpresa.— O que você quer, Victoria? — Ele bufou, parecendo mais irritado do que jamais esteve um dia.— Quero que você pare de agir