Remexia sua bebida com um canudo enquanto, ao seu lado, um homem trajando calça jeans e camisa polo vermelha narrava qualquer coisa que Sara nem sequer fazia questão de ouvir. Seus pensamentos estavam à milhas de distância daquele bar. Foi despertada de seus devaneios pelo estalar de longos dedos em frente aos seus olhos.— Quando vai parar de sonhar com o impossível?Sara encarou os olhos escuros com apatia e não respondeu. Não era necessário.— Ele se casa em duas semanas — Izaque rosnou entredentes. — Já passou da hora de desistir.Sara o entendia. Assim como ela, ele se apaixonou pela pessoa errada. Bebeu todo o conteúdo de seu copo e com um gesto para o garçom pediu outro.— O que tem de acontecer para que desista dele? — Com carinho ele pegou sua mão e a acariciou ao completar apaixonado. — E perceber o quanto te quero.Rápida removeu a mão.— Não te amo Izaque. — Voltou à atenção para o líquido âmbar em seu copo. — Não consigo amar ninguém além dele.— Você não se deu uma chanc
— Vá embora antes que Sara retorne — Rodrigo ordenou após ouvir o som alto e forte da porta batendo. — O apartamento ainda tem um escritório? Poderíamos conversar melhor lá? — Quase não uso o cômodo depois do acidente da Sara — informou, antes de completar entredentes: — E não pretendo alongar essa conversa. — Sara parece bem, embora um pouco tensa — Izaque comentou, sentando sem cerimônia no sofá. — Ficará melhor depois que você sumir. — Qual é o problema, Rodrigo? — Questionou pegando um dos álbuns de sobre a mesa de centro. — Está com medo do quê? Ainda de pé, se controlando para não agarrar Izaque e o expulsar, observou o irmão folhear tranquilamente o álbum com fotos da adolescência de Sara. Sabia que Izaque divertia-se com a situação. — Não tenho medo de nada — retrucou. — Só não quero perturbá-la. — É exatamente isso que vim evitar — Izaque pronunciou e, deixando o álbum de lado, completou encarando o mais novo: — Karen me procurou. — Se desejam a minha aprovação, a te
Tendo se livrado da vista inconveniente do irmão, Rodrigo soltou a cintura de Sara, cruzou os braços em frente ao corpo e perguntou com o olhar inquisidor.— O que lembrou sobre o Izaque?Acuada, Sara temeu a reação de Rodrigo se contasse. E de que adiantaria? Era um pedaço mínimo de algo maior que nem tinha certeza se aconteceu ou não. Deveria arriscar a tranquilidade de seu casamento?— O que diabos lembrou Sara? — Rodrigo bradou após alguns segundos de hesitação dela.— Não grite comigo — Sara explodiu diante do tratamento. — Não sou uma criminosa para ser interrogada. E, minutos atrás, você disse que poderia te dizer as coisas ou não, que a escolha seria minha.— Falei isso sobre o que a fez ter medo no dia do nosso casamento. Izaque esteve envolvido nisso?“Talvez”, era a resposta que bailou na ponta de sua língua, mas a conteve. Não podia dizer algo sem saber tudo. Se é que teria coragem de contar quando soubesse.— O que acha que lembrei que o faz ficar todo nervosinho?— Não i
Sara tentava se concentrar em Robson, ensinando as crianças a manipular as pequenas marionetes que trouxe para cada uma delas. No entanto, sua mente estava longe. Desde que acordou, Isabel e Izaque dominavam seus pensamentos, distraindo-a, girando a sua frente como fantasmas de olhos incriminadores. Tanta preocupação lhe causava uma sensação ruim no estômago, um enjoo que não cessava. Estava cansada física e mentalmente. Rodrigo teve a melhor das intenções ao lhe mostrar os álbuns, o problema foi o efeito que elas tiveram, aliados a visita do irmão de seu marido. Aproveitou quando trouxeram o almoço dos pequenos, para deixá-los com as enfermeiras e seguiu Robson até a cantina do hospital. Precisava de um chá gelado com urgência, para acalmar seus nervos e aliviar a indisposição. Sentou em um lugar que todos poderiam vê-los com clareza. Não queria mais ser motivo de falatório, já tinha problemas suficientes de seu passado, não criaria novos. —
O trajeto até sua residência pareceu demorar séculos, assim como o tempo dentro do elevador pareceu uma eternidade. Quando finalmente chegou ao seu andar, abriu a porta do apartamento com pressa e, sem fecha-la, foi de cômodo em cômodo atrás de Sara. Não a encontrou em parte alguma.Se exigindo calma, retornou a sala, cada neurônio trabalhando velozmente para descobrir em que lugar Sara estaria. Todos eles decidiram enviar imagens de Robson abraçando a sua mulher, beijando-a...— Argh! — Apoiou as mãos no encosto do sofá, apertando-o.Maldita a hora em que Robson entrou em suas vidas e se infiltrou no trabalho de Sara.Fechou os olhos com força e se obrigou a pensar com clareza. Os abriu ao concluir que se Sara passou no apartamento após sair do hospital com certeza Laura a viu.Nervoso, discou o número da casa dos Castro e foi atendido pelo mordomo. Sem paciência, ordenou que passasse o telefone para Laura.— Rodrigo, em que posso ajudar? — Laura perguntou com sua costumeira voz maci
Isabel revisava um artigo quando o telefone de sua mesa tocou. Sem desviar os olhos da tela do computador, atendeu e disse seu nome de forma automática, endereçando para a ligação somente uma parcela de sua atenção. Qualquer resquício de concentração em seu trabalho sumiu de imediato quando compreendeu a informação passada. A surpresa tomou sua face, se evidenciando em seus olhos arregalados e queixo caído. — Tem certeza? — Isabel questionou olhando para o fone como se pudesse ver a pessoa do outro lado da linha. Ao receber a confirmação, titubeou por um minuto e respirou longamente. — Pode permitir — disse com a voz estranhamente trêmula. Assim que encerrou a ligação se arrependeu. E se fosse envolvida em outro escândalo? Sua imagem permanecia arranhada e uma nova cena representaria seu fim na empresa. Ansiosa retirou o fone do gancho, levou o dedo indicador até o botão que chamava a recepção... E não conseguiu apertá-lo. Era sua chance de revidar, de fazer e dizer o que não
Mesmo tremendo diante do olhar da loira, Sara respondeu sem hesitar:— Tenho. Quero toda verdade.— Ótimo! É exatamente o que vai ter. — Isabel recostou o quadril na mesa de Gabriel. Curtiria de camarote cada mudança na cara de santa de Sara. — Seu casamento é uma farsa. É recheado de mentiras e traições bem antes desse anel adornar seu delicado dedinho — começou com ironia, saboreando o veneno que saia em forma de palavras. — Você me chamou de vagabunda quando surtou e me atacou do nada. Mas a verdadeira vagabunda é você, que armou contra o noivado do Rodrigo e recolheu o que sobrou pra levar ao altar.— Como fiz isso? — Sara questionou vacilante.Isabel riu.— Da forma mais fácil para uma pessoa mau-caráter: Ofereceu o próprio corpo para que o irmão dele fizesse Rodrigo romper com a noiva. Manipulou um irmão contra o outro. — Sorriu maldosa ao ver Sara empalidecer. — Você não é melhor que a Karen, ao contrário, não passa de uma vagabunda de quinta, histérica...— Cale-se! — Sara gri
Perturbada por tudo que ouviu de Isabel, Sara andou sem rumo, deixando-se levar pelas ruas por horas. Parou somente quando o cansaço e a dor nas solas dos pés exigiram um descanso.Sem encontrar um lugar para sentar, encostou-se contra a parede de um estabelecimento e observou com indiferença o alucinante ir e vir das pessoas pelas ruas.Um grupo de garotas passou por ela. Conversavam com animação, remexendo as mãos para exemplificar o que diziam e riam alto. Pareciam ter por volta de dezesseis anos e, provavelmente, falavam sobre garotos, festas e planos para o dia. Viviam o presente com intensidade.Sara sentia falta disso, de viver o momento, de ser uma adolescente despreocupada, com amigas do lado e com vários sonhos para o futuro.A imagem de Laura e Isabel caminhando com ela pelas ruas de Cezário dominou sua mente. Tinham sido amigas inseparáveis, mas agora, por culpa sua, eram estranhas.Mesmo em Laura não encontrava todo o companheirismo de outrora. Ambas se esforçavam em reav