Mesmo tremendo diante do olhar da loira, Sara respondeu sem hesitar:— Tenho. Quero toda verdade.— Ótimo! É exatamente o que vai ter. — Isabel recostou o quadril na mesa de Gabriel. Curtiria de camarote cada mudança na cara de santa de Sara. — Seu casamento é uma farsa. É recheado de mentiras e traições bem antes desse anel adornar seu delicado dedinho — começou com ironia, saboreando o veneno que saia em forma de palavras. — Você me chamou de vagabunda quando surtou e me atacou do nada. Mas a verdadeira vagabunda é você, que armou contra o noivado do Rodrigo e recolheu o que sobrou pra levar ao altar.— Como fiz isso? — Sara questionou vacilante.Isabel riu.— Da forma mais fácil para uma pessoa mau-caráter: Ofereceu o próprio corpo para que o irmão dele fizesse Rodrigo romper com a noiva. Manipulou um irmão contra o outro. — Sorriu maldosa ao ver Sara empalidecer. — Você não é melhor que a Karen, ao contrário, não passa de uma vagabunda de quinta, histérica...— Cale-se! — Sara gri
Perturbada por tudo que ouviu de Isabel, Sara andou sem rumo, deixando-se levar pelas ruas por horas. Parou somente quando o cansaço e a dor nas solas dos pés exigiram um descanso.Sem encontrar um lugar para sentar, encostou-se contra a parede de um estabelecimento e observou com indiferença o alucinante ir e vir das pessoas pelas ruas.Um grupo de garotas passou por ela. Conversavam com animação, remexendo as mãos para exemplificar o que diziam e riam alto. Pareciam ter por volta de dezesseis anos e, provavelmente, falavam sobre garotos, festas e planos para o dia. Viviam o presente com intensidade.Sara sentia falta disso, de viver o momento, de ser uma adolescente despreocupada, com amigas do lado e com vários sonhos para o futuro.A imagem de Laura e Isabel caminhando com ela pelas ruas de Cezário dominou sua mente. Tinham sido amigas inseparáveis, mas agora, por culpa sua, eram estranhas.Mesmo em Laura não encontrava todo o companheirismo de outrora. Ambas se esforçavam em reav
Ouvindo a conversa entre Robson e Karen, Sara sentia a consciência pesar como chumbo em seus ombros. Tinha destruído a vida de todos por puro egoísmo. Não podia chamar de amor algo que feria os demais, que afastava irmãos, que pisava nos sentimentos dos outros sem se importar com nada e nem ninguém. Esgotada, segurando o choro de culpa e vergonha, ouviu Karen em mais uma acusação contra Izaque. — Não sei como fez, mas sei que a culpa é dele. Disposta a arcar com as consequências de seus atos, saiu de seu esconderijo improvisado. Não permaneceria escondida nas sombras de seu passado, assumiria seus erros e, seja lá o que ocorresse, seguiria em frente. — Não. A culpa é minha — anunciou com a voz embargada. Aproximando-se cambaleante de Robson e Karen. — O que faz aqui? — Robson perguntou se aproximando, mas Sara o deteve, colocando as mãos a frente do corpo para que ele se mantivesse longe. — Vim em busca de um amigo, mas vejo que não vou encontrar um aqui. — Sara... — Entendi
A caminho do escritório do marido, Sara esfregava nervosamente as mãos em seu vestido novo. Era um modelo totalmente diferente das roupas costumeiras, vermelho, com decote arredondado valorizando seus seios e saia rodada, terminava pouco acima de seus joelhos.Depois de horas fazendo no salão de beleza, para ficar divina em seu aniversário de casamento, viu a vibrante peça na vitrine da loja ao lado e não resistiu ao impulso de comprar.Desejava surpreender o marido. Mas que isso. Tinha a esperança de salvar o que restava de seu casamento.Não era cega, percebia que Rodrigo estava mais calado que o normal. Desligava telefonemas quando ela se aproximava, a observava de forma estranha e, em muitos casos, parecia querer lhe dizer alguma coisa, perdendo a coragem no último instante.Era notável que escondia algo dela, talvez uma amante ou algo ainda mais terrível.Podia parecer tolice achar que um vestido faria o que quatro anos não conseguiu, mas era uma tola apaixonada. Tão tola que não
Sara acordou sobressaltada. Confusa, olhou ao redor para se situar, sendo arrastada de imediato para um déjà-vu. "Estive presa em um pesadelo esse tempo todo?", perguntou-se ao visualizar paredes brancas, equipamentos médicos, o leito de hospital em que estava deitada. — Boa noite! Sou a enfermeira Carla Soares — disse uma mulher de sorriso gentil, cabelos e olhos castanhos, que se colocou ao lado de Sara. — Alegra-me que despertou. Como se sente? — O que aconteceu? — Você foi trazida por um senhor, que a viu desmaiar na frente do estabelecimento dele — Carla explicou. — O que está fazendo? — questionou ao ver Sara se levantar. — Tenho que sair daqui — Sara comunicou. Uma leve tontura a fez recuar, sentando no leito, e cobrir a vista com as mãos. — A senhora tem de descansar — retrucou a mulher forçando Sara a permanecer no lugar. — Não tenho nada de mais — retrucou afastando as mãos da enfermeira, e informando em seguida: — Sou médica. Garanto que estou bem. — Sim. Seus exame
— Rodrigo não dá à devida atenção a noiva. Acho até que não a ama como insisti em declarar, isso quando declara — Izaque comentou dando de ombros. — Será fácil engana-la, fazer ela trair o meu irmãozinho. — Como pode ter tanta certeza? — Sara questionou esvaziando seu copo com um longo gole e, imediatamente, pedindo outro. — Se Rodrigo estivesse comigo, jamais o trairia. — Talvez. — Izaque cobriu o novo copo dela com a mão. — Já bebeu demais. — Deixe-me em paz — esbravejou puxando o copo e entornando seu conteúdo de uma só vez. — Responda logo a minha pergunta. — Não seria a primeira vez — ele retrucou. Izaque riu da surpresa na face de Sara. — Rodrigo não sabe, mas, enquanto ele parecia uma mocinha resguardando sua virtude para a noiva, ela teve um caso de alguns meses com um colega do colégio. Além disso — colocou a mão sobre a coxa dela e sorriu sedutor —, sei ser convincente. Sara desferiu um tapa na mão dele, obrigando-o a afasta-la. — Sem gracinhas! Ainda não concordei. —
E Sara não pensou. Largou o trabalho sem dizer a ninguém aonde iria, sem nem sequer se importar com as consequências, e correu ao encontro de Rodrigo. Durante os minutos que demorou até encontrá-lo, sentado em uma cadeira junto ao balcão de atendimento, com um copo ainda cheio a sua frente, evitou pensar no motivo para Rodrigo estar naquele local. Embora, no fundo de sua mente, uma resposta perigosa ecoasse em sua mente. Um alerta que aumentou ao notar ele olhando fixamente para a aliança de compromisso que, no lugar de adornar seu dedo, repousada na bancada. — Rodrigo! — Sara o chamou ao se aproximar, tocando de leve o ombro dele para que notasse sua presença. Ele ergueu o olhar em sua direção. Não pareceu surpreso em vê-la, nem ao menos parecia enxerga-la. Os segundos de silêncio, com ele fitando-a com tristeza, como se visse através dela, foram opressores. Sara abriu os lábios para quebrar a tensão que os envolvia, mas, de repente, para seu espanto, Rodrigo levantou, segurou se
Deveria ter corrido para longe dos Montenegro, mas foi dominada por um amor insano, sem limite, que afastou sua razão e a arrastou para uma relação cheia de incertezas, desconfianças e segredos.Foi egoísta e insensata, uma pessoa que a cada dia se afundava nas próprias mentiras, que inventava novas quando convinha, um efeito dominó sem fim para impedir que a verdade viesse à tona.Levou todos a pensar que o marido não queria que trabalhasse, quando, na verdade, desistiu do cargo por medo que sua madrinha percebesse, e contasse a Rodrigo, que tomava remédios para não engravidar. Embora Tatiana nunca passasse mais de um segundo perto de Rodrigo. Não pensou com clareza, achou melhor se afastar para garantir que não seria descoberta. Evitava o hospital e, automaticamente, Tatiana.Ficar em casa, no entanto, se mostrou uma péssima ideia. Tinha tempo de imaginar que outras mulheres, que cruzassem com o olhar de Rodrigo, o desejavam e seriam capazes de trapacear para consegui-lo, como ela t