— Quero o divórcio — Sara soltou, olhando para um ponto qualquer da sala por não conseguir olhar para Rodrigo, e por medo de deixar o amor tomar conta de sua razão novamente.Também por causa disso, hesitou por alguns instantes ao ouvir a voz dele, no fim decidindo que não iria e nem queria se esconder.Tatiana olhava de um para o outro sem saber o que fazer, sem entender ao certo o que acontecia entre eles. Rodrigo parecia claramente perplexo com o pedido.— O quê?!— Cometi um erro ao aceitar me casar com você.Rodrigo trincou os dentes diante da justificativa absurda.— Seja lá o que Isabel te contou, podemos resolver — propôs, imaginando que esse fosse o motivo por trás da ideia do inesperado pedido.— Ela não tem nada a ver com a minha decisão — Sara disse, ainda sem olhar na cara dele.— Quer que eu acredite que, do nada, decidiu que se arrepende do nosso casamento? — Rodrigo elevou a voz, zangado com o fato de Sara nem sequer encara-lo após cuspir aquela decisão precipitada. —
Mesmo após despertar com batidas na porta, Sara não levantou. Fitando o teto branco do quarto, ouviu sua madrinha, do outro lado da porta, informar que o café da manhã estava pronto e que Jerson, seu marido, estaria no apartamento.— Deixei uma muda de roupa no banheiro, toalha e escova de dente nova para que use. — Após alguns instantes em silêncio, Sara imaginou que Tatiana partiu, porém, logo a ouviu perguntar com receio: — Querida, ainda quer que busque suas coisas?Apertou os lábios, analisando a resposta.Após uma noite insone, se deu conta que durante anos deixou as decisões difíceis nas mãos de outras pessoas: Sua mãe, Robson, Izaque, Rodrigo e agora Tatiana.Nunca assumiu seus erros, preferindo apontar os dos outros, se desviando de suas responsabilidades e forçando situações quando não conseguia o que desejava.Por tempo demais repetiu o padrão de sua mãe, culpar o exterior em vez de olhar para dentro de si. Algo que na juventude prometeu não fazer.— Não precisa — respondeu
Desceu do táxi e fitou o prédio como se o visse pela primeira vez. De fato, era a primeira vez como ex-noiva e ex-secretária de um dos sócios. Passou pela segurança sem grandes dificuldades, ainda possuía o prestígio de seus status anteriores. Não que isso servisse de algum consolo. Somente reaver Rodrigo devolveria sua antiga vida e felicidade. Ao chegar no andar da diretoria, não esperou a nova secretária de Rodrigo anuncia-la, sequer dedicou uma segunda olhada para a criatura, simplesmente entrou a passos rápidos na sala dele. E encontrou o lugar vazio. — Senhora... — Onde está o Rodrigo? — Karen questionou interrompendo a nova secretária. — Ainda não chegou. — A mulher respondeu. Indicando a antessala pediu: — Acompanhe-me... — Esperarei aqui — informou. Sentou em frente à mesa do Montenegro e lançou a sua substituta um olhar petulante. Só sairia dali depois de falar com Rodrigo. ~*~ Desviando de duas senhoras saindo do restaurante, Isabel percorreu com seus límpidos ol
Cansado e decepcionado por não encontrar Sara como planejou ao sair de casa, Rodrigo entrou em seu escritório e analisou friamente a ex-noiva. Seguindo a sugestão do casal de amigos, procurou Sara na casa de Tatiana, determinado a fazê-la escuta-lo, porém, não a encontrou. Com humor desnecessário, Jerson, o marido de Tatiana, disse para ficar feliz por Sara sair para passear, que caminhadas fariam bem a saúde dela e ajudavam a pensar. Gostaria de ter tamanha certeza que uma caminhada colocaria na cabeça de Sara que deviam ficar juntos. Pensou em ir ao hospital, mas Jerson garantiu que Sara não estaria lá, que pediu o dia de folga. Saia do apartamento da médica quando recebeu um telefonema da empresa, informado que Karen se apossou de seu escritório. Entre retornar para o apartamento e amargurar a solidão que se instalou, ou confrontar e expulsar Karen de sua sala, decidiu-se pela segunda opção. — Não passe nenhuma ligação e nem deixe ninguém entrar na minha sala — pediu para Mirn
Sara retornou ao apartamento de sua madrinha, sendo recepcionada por Jerson. Ele estava no sofá da sala, com o notebook no colo, mas levantou para ajudá-la a carregar a enorme mala até o quarto. — Seu marido te procurou — ele contou. — Pediu que telefonasse para ele e avisou que voltará mais tarde. Sara sentou na beira da cama sem dizer nada. Não telefonaria e preferia só voltar a ver o marido quando assinassem o divórcio. — Tati se preocupou por você ter saído sem comer. Exigiu que se alimente corretamente. — Estou bem — mentiu. — E não tenho fome. — “Não sinto nada”, queria acrescentar, mas se limitou a olhar para as mãos fechadas sobre as coxas. — Deveria comer mesmo sem fome, no seu estado... — Jerson se calou ao notar as lágrimas descendo velozes pela face pálida. Ficou sem ação. Não sabia o que fazer ou dizer. — Vocês irão se acertar — garantiu para animá-la. O resultado foi Sara tremer e entregar-se de vez ao choro. ~*~ Tatiana comunicou às enfermeiras que Sara ficaria
Após dois dias inteiros sofrendo e evitando falar sobre o que a deixou naquele estado, Sara sentia-se cansada e a beira da depressão. A companhia de Tatiana e Jerson a distraia, pois, ambos respeitavam seu silêncio, oferecendo mais que um teto provisório. Tatiana prometeu que quando quisesse desabafar estaria disponível. Jerson era galante e bem humorado, sempre tentando fazê-la rir e às vezes conseguia. Sara percebia que ele se esforçava ao máximo para não vê-la chorar novamente. Quando Rodrigo ligava, ou aparecia no prédio, eles atendiam com os olhos grudados em sua face, bastava um sinal e informavam que ela não queria falar. Tanta atenção e carinho deixavam Sara envergonhada. Não podia passar a vida toda se escondendo, obrigando Tatiana e Jerson a convencer Rodrigo a lhe dar mais tempo. Por isso, e por querer rever os rostinhos de suas crianças, decidiu voltar ao trabalho. Embora não se sentisse preparada para correr o risco de encontrar Rodrigo - duvidava que algum dia estaria
Sara molhou o rosto, o pescoço e os pulsos, depois, ainda se sentindo zonza, apoio as mãos na pia, fitando no espelho oval seu rosto lívido. Por pouco pensou que desmaiaria. Deveria ter se alimentado direito durante a manhã, mas o estresse tirou seu apetite. Pronta para enfrentar a ira de Tatiana, virou, dando-se conta só naquele momento que não estava sozinha no pequeno banheiro. Encostado na porta fechada, de braços cruzados, Rodrigo a observava como um leão prestes a atacar sua vítima. Desviou o olhar e forçou as pernas a seguirem em frente. — Com licença — pediu olhando para um ponto entre o queixo e o pescoço dele. — Até que me ouça, não sairemos daqui. ~*~ Os nós dos dedos esbranquiçaram, tamanha a pressão exercida em volta do volante. Apesar de Robson declarar que Sara e Rodrigo se divorciariam, o automóvel do Montenegro parado a poucos metros de onde estava, e a determinação do ex-noivo em declarar amar a esposa, deixavam claro que ele não desistiria do casamento. Pelo
Com aflição, Rodrigo passou os dedos entre os fios escuros bagunçando-os. — Entenda, você estava fora de controle. Não adiantava falar ou argumentar. As brigas, o ciúme e o alvoroço diário eram insuportáveis — desabafou. — Estava esgotado, não conseguia enxergar uma solução, então aceitei um conselho da Karen. — Aposto que era para nos separar — Sara resmungou, indignada por Rorigo aceitar qualquer ideia dada pela ex. — Karen fazia-se de amiga na frente dos outros, mas não cansava de dizer que você jamais me amaria como a amava. E eu passava como lunática quando xingava aquela cínica. — Sua atitude ofensiva e violenta não se limitava Karen e, na maioria das vezes, eram sem proposito ou justificativa. Sara ficou envergonhada com o comentário, admitindo a veracidade dele. Agora conseguia ver que exagerou na maioria dos ataques de ciúmes. — Afinal, do que se tratava aquele documento? — questionou curiosa. — Da sua internação. A confusão tomou a face de Sara, estreitando seus olhos,