O que estão achando da reta final do livro, estrelas da minha vida? <3
Sara retornou ao apartamento de sua madrinha, sendo recepcionada por Jerson. Ele estava no sofá da sala, com o notebook no colo, mas levantou para ajudá-la a carregar a enorme mala até o quarto. — Seu marido te procurou — ele contou. — Pediu que telefonasse para ele e avisou que voltará mais tarde. Sara sentou na beira da cama sem dizer nada. Não telefonaria e preferia só voltar a ver o marido quando assinassem o divórcio. — Tati se preocupou por você ter saído sem comer. Exigiu que se alimente corretamente. — Estou bem — mentiu. — E não tenho fome. — “Não sinto nada”, queria acrescentar, mas se limitou a olhar para as mãos fechadas sobre as coxas. — Deveria comer mesmo sem fome, no seu estado... — Jerson se calou ao notar as lágrimas descendo velozes pela face pálida. Ficou sem ação. Não sabia o que fazer ou dizer. — Vocês irão se acertar — garantiu para animá-la. O resultado foi Sara tremer e entregar-se de vez ao choro. ~*~ Tatiana comunicou às enfermeiras que Sara ficaria
Após dois dias inteiros sofrendo e evitando falar sobre o que a deixou naquele estado, Sara sentia-se cansada e a beira da depressão. A companhia de Tatiana e Jerson a distraia, pois, ambos respeitavam seu silêncio, oferecendo mais que um teto provisório. Tatiana prometeu que quando quisesse desabafar estaria disponível. Jerson era galante e bem humorado, sempre tentando fazê-la rir e às vezes conseguia. Sara percebia que ele se esforçava ao máximo para não vê-la chorar novamente. Quando Rodrigo ligava, ou aparecia no prédio, eles atendiam com os olhos grudados em sua face, bastava um sinal e informavam que ela não queria falar. Tanta atenção e carinho deixavam Sara envergonhada. Não podia passar a vida toda se escondendo, obrigando Tatiana e Jerson a convencer Rodrigo a lhe dar mais tempo. Por isso, e por querer rever os rostinhos de suas crianças, decidiu voltar ao trabalho. Embora não se sentisse preparada para correr o risco de encontrar Rodrigo - duvidava que algum dia estaria
Sara molhou o rosto, o pescoço e os pulsos, depois, ainda se sentindo zonza, apoio as mãos na pia, fitando no espelho oval seu rosto lívido. Por pouco pensou que desmaiaria. Deveria ter se alimentado direito durante a manhã, mas o estresse tirou seu apetite. Pronta para enfrentar a ira de Tatiana, virou, dando-se conta só naquele momento que não estava sozinha no pequeno banheiro. Encostado na porta fechada, de braços cruzados, Rodrigo a observava como um leão prestes a atacar sua vítima. Desviou o olhar e forçou as pernas a seguirem em frente. — Com licença — pediu olhando para um ponto entre o queixo e o pescoço dele. — Até que me ouça, não sairemos daqui. ~*~ Os nós dos dedos esbranquiçaram, tamanha a pressão exercida em volta do volante. Apesar de Robson declarar que Sara e Rodrigo se divorciariam, o automóvel do Montenegro parado a poucos metros de onde estava, e a determinação do ex-noivo em declarar amar a esposa, deixavam claro que ele não desistiria do casamento. Pelo
Com aflição, Rodrigo passou os dedos entre os fios escuros bagunçando-os. — Entenda, você estava fora de controle. Não adiantava falar ou argumentar. As brigas, o ciúme e o alvoroço diário eram insuportáveis — desabafou. — Estava esgotado, não conseguia enxergar uma solução, então aceitei um conselho da Karen. — Aposto que era para nos separar — Sara resmungou, indignada por Rorigo aceitar qualquer ideia dada pela ex. — Karen fazia-se de amiga na frente dos outros, mas não cansava de dizer que você jamais me amaria como a amava. E eu passava como lunática quando xingava aquela cínica. — Sua atitude ofensiva e violenta não se limitava Karen e, na maioria das vezes, eram sem proposito ou justificativa. Sara ficou envergonhada com o comentário, admitindo a veracidade dele. Agora conseguia ver que exagerou na maioria dos ataques de ciúmes. — Afinal, do que se tratava aquele documento? — questionou curiosa. — Da sua internação. A confusão tomou a face de Sara, estreitando seus olhos,
Após a confissão, Sara não teve coragem de encarar Rodrigo, tinha medo do que encontraria nas íris escuras. — Por isso quer a separação? — Rodrigo questionou deslizando as mãos pelos braços dela com suavidade. — Sim... E não é só isso... — Sara sentiu os olhos arderem e sua a voz ficou imediatamente embargada. — Antes de casarmos, comecei um tratamento para impedir uma possível gravidez... Desculpe-me... — Sentiu a garganta travar por um instante, as lágrimas descendo quentes por seu rosto enquanto expurgava seus pecados. — Você e Izaque tiveram algo depois de...? — Não! — Sara apressou-se a negar. — Foi uma noite, antes do seu término... Um erro que levou a outros... — confessou erguendo o olhar, tentando visualizá-lo em meios às lágrimas que embaçavam sua visão. — Entendo. — Sara imaginou que ele amaldiçoaria o dia que a conheceu, motivo que a fez receber com surpresa a ordem que se seguiu: — Não se preocupe com isso, esqueça o divórcio e volte comigo para nossa casa. — Depois
Tatiana moveu o olhar das costas do Montenegro para fixa-lo no rosto pálido da afilhada. — Foi impressão ou o Montenegro estava chorando? Sara saiu do banheiro esfregava as mãos nos braços, esperando aquecer-se, colocar fim a angústia que a envolvia. — Foi tudo tão confuso... — Sara, essa situação está fora de controle — Tatiana declarou, acrescentando com autoridade: — Se ama seu marido, e ele claramente te ama, não existe razão para que continuem brigados e separados. — É complicado... — murmurou angustiada. — Não quero destruir a vida dele mais do que já fiz. — Destruirá a vida dos dois se persistir em ignorar a oportunidade bem na sua frente — Tatiana alertou. — Volte para sua casa e para seu marido. Logo terão um bebê para mimar e esquecer, de vez e de forma correta, o início conturbado que tiveram. — Acha mesmo? — Claro, querida! Não importa o que ambos fizeram, é passado, no presente, entre erros e acertos vocês se amam e formarão uma família em breve. — Sorrindo, pousou
A vida costuma dar rasteiras em seres que se julgam superiores, para que aprendam a se erguer e lembrar, mesmo que só um pouco, que podem cair várias vezes se assim ela desejar. Rodrigo sofreu muitas quedas em seus vinte e sete anos de vida, mas três foram as mais cruéis e difíceis de levantar. A primeira grande rasteira ocorreu na adolescência. Tinha sido um jovem mimado, não por Sérgio Montenegro, seu pai, que passava mais tempo com Izaque, o primogênito, mas por sua mãe e pelo irmão, quando esse tinha tempo para gastar com o caçula três anos mais novo. Foi por causa do tratamento diferenciado do pai para com ele e Izaque que seu instinto de desafio iniciou. Se Izaque era bom em algo, ele se esforçava para ser melhor. A rivalidade unilateral, aliada a ânsia de agradar o pai, o motivou a namorar Karen, filha do melhor amigo de Sérgio. Decisão infantil, mas não uma “tarefa” difícil, até por costume essa tinha sido a escolha óbvia. Cresceram juntos, ela se derretia só em olha-la e,
Sara foi lançada de lado, sem a força destrutiva e dor que imaginou. Fora a sensação de pequenos espetos na pele, a queda foi suave, quase como cair em um colchão de folhas. Confusa e com o coração acelerado pelo medo, abriu os olhos e deu-se conta que foi exatamente nesse lugar que caiu, em folhas e flores azuis. Ao longe se ouvia o som alto e cortante de uma freada. Ergueu-se desajeitadamente do canteiro de miosótis da fachada e, alerta a confusão ao seu redor, afastou com as mãos a sujeira, folhas e pétalas grudadas em seu uniforme. Funcionários do hospital e alguns pedestres se amontoavam em dois lugares, um grupo cercava o veículo que quase a atropelou, outro estava em volta de algo a poucos metros de onde o carro parou. Vozes exaltadas se erguiam do segundo ponto, entre elas uma pedindo uma maca e alguém gritando que havia um ferido necessitando de socorro urgente. — Está bem Senhora Montenegro? — Natali, enfermeira da ala de cirurgia, perguntou ao aproximar-se dela. — Machu