Sara tentava se concentrar em Robson, ensinando as crianças a manipular as pequenas marionetes que trouxe para cada uma delas. No entanto, sua mente estava longe. Desde que acordou, Isabel e Izaque dominavam seus pensamentos, distraindo-a, girando a sua frente como fantasmas de olhos incriminadores. Tanta preocupação lhe causava uma sensação ruim no estômago, um enjoo que não cessava. Estava cansada física e mentalmente. Rodrigo teve a melhor das intenções ao lhe mostrar os álbuns, o problema foi o efeito que elas tiveram, aliados a visita do irmão de seu marido. Aproveitou quando trouxeram o almoço dos pequenos, para deixá-los com as enfermeiras e seguiu Robson até a cantina do hospital. Precisava de um chá gelado com urgência, para acalmar seus nervos e aliviar a indisposição. Sentou em um lugar que todos poderiam vê-los com clareza. Não queria mais ser motivo de falatório, já tinha problemas suficientes de seu passado, não criaria novos. —
O trajeto até sua residência pareceu demorar séculos, assim como o tempo dentro do elevador pareceu uma eternidade. Quando finalmente chegou ao seu andar, abriu a porta do apartamento com pressa e, sem fecha-la, foi de cômodo em cômodo atrás de Sara. Não a encontrou em parte alguma.Se exigindo calma, retornou a sala, cada neurônio trabalhando velozmente para descobrir em que lugar Sara estaria. Todos eles decidiram enviar imagens de Robson abraçando a sua mulher, beijando-a...— Argh! — Apoiou as mãos no encosto do sofá, apertando-o.Maldita a hora em que Robson entrou em suas vidas e se infiltrou no trabalho de Sara.Fechou os olhos com força e se obrigou a pensar com clareza. Os abriu ao concluir que se Sara passou no apartamento após sair do hospital com certeza Laura a viu.Nervoso, discou o número da casa dos Castro e foi atendido pelo mordomo. Sem paciência, ordenou que passasse o telefone para Laura.— Rodrigo, em que posso ajudar? — Laura perguntou com sua costumeira voz maci
Isabel revisava um artigo quando o telefone de sua mesa tocou. Sem desviar os olhos da tela do computador, atendeu e disse seu nome de forma automática, endereçando para a ligação somente uma parcela de sua atenção. Qualquer resquício de concentração em seu trabalho sumiu de imediato quando compreendeu a informação passada. A surpresa tomou sua face, se evidenciando em seus olhos arregalados e queixo caído. — Tem certeza? — Isabel questionou olhando para o fone como se pudesse ver a pessoa do outro lado da linha. Ao receber a confirmação, titubeou por um minuto e respirou longamente. — Pode permitir — disse com a voz estranhamente trêmula. Assim que encerrou a ligação se arrependeu. E se fosse envolvida em outro escândalo? Sua imagem permanecia arranhada e uma nova cena representaria seu fim na empresa. Ansiosa retirou o fone do gancho, levou o dedo indicador até o botão que chamava a recepção... E não conseguiu apertá-lo. Era sua chance de revidar, de fazer e dizer o que não
Mesmo tremendo diante do olhar da loira, Sara respondeu sem hesitar:— Tenho. Quero toda verdade.— Ótimo! É exatamente o que vai ter. — Isabel recostou o quadril na mesa de Gabriel. Curtiria de camarote cada mudança na cara de santa de Sara. — Seu casamento é uma farsa. É recheado de mentiras e traições bem antes desse anel adornar seu delicado dedinho — começou com ironia, saboreando o veneno que saia em forma de palavras. — Você me chamou de vagabunda quando surtou e me atacou do nada. Mas a verdadeira vagabunda é você, que armou contra o noivado do Rodrigo e recolheu o que sobrou pra levar ao altar.— Como fiz isso? — Sara questionou vacilante.Isabel riu.— Da forma mais fácil para uma pessoa mau-caráter: Ofereceu o próprio corpo para que o irmão dele fizesse Rodrigo romper com a noiva. Manipulou um irmão contra o outro. — Sorriu maldosa ao ver Sara empalidecer. — Você não é melhor que a Karen, ao contrário, não passa de uma vagabunda de quinta, histérica...— Cale-se! — Sara gri
Perturbada por tudo que ouviu de Isabel, Sara andou sem rumo, deixando-se levar pelas ruas por horas. Parou somente quando o cansaço e a dor nas solas dos pés exigiram um descanso.Sem encontrar um lugar para sentar, encostou-se contra a parede de um estabelecimento e observou com indiferença o alucinante ir e vir das pessoas pelas ruas.Um grupo de garotas passou por ela. Conversavam com animação, remexendo as mãos para exemplificar o que diziam e riam alto. Pareciam ter por volta de dezesseis anos e, provavelmente, falavam sobre garotos, festas e planos para o dia. Viviam o presente com intensidade.Sara sentia falta disso, de viver o momento, de ser uma adolescente despreocupada, com amigas do lado e com vários sonhos para o futuro.A imagem de Laura e Isabel caminhando com ela pelas ruas de Cezário dominou sua mente. Tinham sido amigas inseparáveis, mas agora, por culpa sua, eram estranhas.Mesmo em Laura não encontrava todo o companheirismo de outrora. Ambas se esforçavam em reav
Ouvindo a conversa entre Robson e Karen, Sara sentia a consciência pesar como chumbo em seus ombros. Tinha destruído a vida de todos por puro egoísmo. Não podia chamar de amor algo que feria os demais, que afastava irmãos, que pisava nos sentimentos dos outros sem se importar com nada e nem ninguém. Esgotada, segurando o choro de culpa e vergonha, ouviu Karen em mais uma acusação contra Izaque. — Não sei como fez, mas sei que a culpa é dele. Disposta a arcar com as consequências de seus atos, saiu de seu esconderijo improvisado. Não permaneceria escondida nas sombras de seu passado, assumiria seus erros e, seja lá o que ocorresse, seguiria em frente. — Não. A culpa é minha — anunciou com a voz embargada. Aproximando-se cambaleante de Robson e Karen. — O que faz aqui? — Robson perguntou se aproximando, mas Sara o deteve, colocando as mãos a frente do corpo para que ele se mantivesse longe. — Vim em busca de um amigo, mas vejo que não vou encontrar um aqui. — Sara... — Entendi
A caminho do escritório do marido, Sara esfregava nervosamente as mãos em seu vestido novo. Era um modelo totalmente diferente das roupas costumeiras, vermelho, com decote arredondado valorizando seus seios e saia rodada, terminava pouco acima de seus joelhos.Depois de horas fazendo no salão de beleza, para ficar divina em seu aniversário de casamento, viu a vibrante peça na vitrine da loja ao lado e não resistiu ao impulso de comprar.Desejava surpreender o marido. Mas que isso. Tinha a esperança de salvar o que restava de seu casamento.Não era cega, percebia que Rodrigo estava mais calado que o normal. Desligava telefonemas quando ela se aproximava, a observava de forma estranha e, em muitos casos, parecia querer lhe dizer alguma coisa, perdendo a coragem no último instante.Era notável que escondia algo dela, talvez uma amante ou algo ainda mais terrível.Podia parecer tolice achar que um vestido faria o que quatro anos não conseguiu, mas era uma tola apaixonada. Tão tola que não
Sara acordou sobressaltada. Confusa, olhou ao redor para se situar, sendo arrastada de imediato para um déjà-vu. "Estive presa em um pesadelo esse tempo todo?", perguntou-se ao visualizar paredes brancas, equipamentos médicos, o leito de hospital em que estava deitada. — Boa noite! Sou a enfermeira Carla Soares — disse uma mulher de sorriso gentil, cabelos e olhos castanhos, que se colocou ao lado de Sara. — Alegra-me que despertou. Como se sente? — O que aconteceu? — Você foi trazida por um senhor, que a viu desmaiar na frente do estabelecimento dele — Carla explicou. — O que está fazendo? — questionou ao ver Sara se levantar. — Tenho que sair daqui — Sara comunicou. Uma leve tontura a fez recuar, sentando no leito, e cobrir a vista com as mãos. — A senhora tem de descansar — retrucou a mulher forçando Sara a permanecer no lugar. — Não tenho nada de mais — retrucou afastando as mãos da enfermeira, e informando em seguida: — Sou médica. Garanto que estou bem. — Sim. Seus exame