Capítulo 0002
Aquele era um clube que Afonso frequentava, onde ele costumava beber com os amigos.

A razão dizia para Beatriz não acreditar nas palavras do chefe dos sequestradores, que tudo era mentira. Mas seu corpo, fora de controle, queria verificar. Ela esteve ao lado de Afonso por três anos e sabia o número da sala privativa que ele frequentava. Foi diretamente para lá.

— Afonso perdeu, o que vai ser, verdade ou desafio?

— Verdade.

— Então, quem é a mulher que você mais ama no seu coração?

— Isso ainda é uma pergunta? Claro que é Débora.

Beatriz estava do lado de fora, ficando cada vez mais pálida. Suas pernas ficaram pesadas como chumbo, e suas mãos pairaram no ar, incapazes de bater na porta por um longo tempo. Depois, parece que eles começaram outra rodada do jogo. Desta vez, Débora foi quem perdeu.

— Cunhada perdeu, então, você escolhe verdade ou desafio?

— Desafio.

A voz da mulher era suave como água.

— Então beije um dos homens aqui por três minutos.

— Ah, não brinque assim.

Débora estava envergonhada.

— Se não cumprir o desafio, vai ter que beber três copos.

— Afonso...

Ela olhou para Afonso, como se pedisse ajuda.

— Então cumpra o desafio.

Depois, veio o som da euforia dos outros, indicando que eles realmente se beijaram.

Nesse momento, Beatriz deveria entrar como uma mulher furiosa, agarrar o cabelo da amante, arranhar seu rosto com suas unhas, e lhe dar um tapa forte.

Mesmo tendo que ser arrastada para fora, com suas vestes sendo retiradas para que todos vissem essa mulher sem vergonha.

Beatriz, contudo, escolheu fugir.

Temia que, ao entrar, todo o sincero esforço desses três anos se tornasse uma piada.

Mas, inesperadamente, ao virar-se, acabou por esbarrar em alguém.

— Desculpe, desculpe.

— Você veio para a festa de aniversário também? Por que não entra?

Uma voz baixa e sensual soou acima dela.

Beatriz levantou os olhos, surpresa. Aquela voz... ela jamais esqueceria. Era claramente a do líder dos sequestradores.

O que viu foi um rosto desconhecido.

Os traços eram definidos, uma fisionomia marcante. Ele vestia um sobretudo preto, e seu olhar era frio e distante. Claramente, era a primeira vez que se encontravam.

Beatriz tentou manter a calma, pensando ser impossível. Talvez fosse apenas uma semelhança vocal.

— Não, obrigada.

Nesse momento, o homem já estava girando a maçaneta, abrindo a porta.

Beatriz sentiu o pânico tomar conta, sem tempo para mais nada.

Ela quis correr, mas já era tarde demais; estava exposta aos olhares de todos.

Seus olhos se fixaram em duas pessoas se beijando apaixonadamente Débora Costa, ao perceber a chegada de alguém, talvez constrangida, tentou se afasta, mas Afonso a segurou pela cintura firmemente, intensificando o beijo. Foram três minutos, nem um segundo a mais, nem a menos.

Quando se separaram, as bochechas de Débora estavam coradas, e seu olhar era tímido.

Beatriz mal conseguia respirar, não sabia se era pelo beijo ardente que presenciou, ou porque Débora... era muito parecida com ela. Não, para ser precisa, ela que se parecia com Débora.

Beatriz então percebeu a verdade: o resgate de três anos atrás não foi um acidente. Afonso já havia notado sua semelhança com ela.

— Por que você veio?

Ao ver Beatriz, Afonso ficou sério, como se o alegre evento fosse interrompido por uma visita indesejada.

Débora também empalideceu.

— Srta. Rocha, não é como você está pensando. Eu, eu vou embora agora. — Débora disse, tentando levantar-se, mas Afonso segurou sua mão. — Afonso... talvez devêssemos explicar as coisas para a Srta. Rocha com calma. Me deixe ir.— Então vamos falar agora. — Afonso disse, levantando-se. Protegendo-a atrás de si, ele continuou: — Débora Costa sempre foi a pessoa que eu amei, mas minha família a expulsou do país. Eu estava com você porque você se parece um pouco com Débora. Mas agora que Débora voltou para mim, não preciso mais de você. Se não tem mais nada, pode ir embora. Débora é sensível, não a assuste.

Ele fez uma pausa e, com um tom frio, acrescentou:— Se não tem mais nada, pode ir embora. Débora é sensível, não a assuste.

Débora se soltou de Afonso, aproximando-se de Beatriz, segurando suas mãos com ansiedade.

— Srta. Rocha, eu lhe peço perdão. Mas eu não posso viver sem Afonso sem ele, eu não sobreviveria. A culpa é toda minha. Você pode me bater, me xingar, eu até me ajoelho se for necessário. Só peço que você nos deixe ficar juntos. Eu posso ser sua empregada, se quiser.

Ao ouvir isso, Beatriz sentiu um enjoo terrível.

Ela pensou que nem mesmo estar com um sequestrador poderia ser tão repugnante.

Com força, empurrou Débora, que gritou ao cair no chão.

Beatriz hesitou, sabendo que sua força não era suficiente para fazer um adulto cair assim.

Débora claramente estava fingindo.

Mas Afonso, com um olhar de preocupação, a abraçou, encarando Beatriz furiosamente.

— Você tomou o lugar dela. Nunca prometi nada enquanto estivemos juntos. Durante esses três anos, nunca faltei com o pagamento, sempre acima do mercado. Não seja gananciosa.

— A cima do mercado? Afonso, o que você acha que eu sou? Uma mercadoria?

— Não é? Não esqueça, foi você quem veio até mim, se oferecendo.

Ao dizer isso, os outros começaram a rir, e alguns homens olhavam para ela com olhares nojentos e desdenhosos.

O rosto de Beatriz ficou pálido como papel. Afonso, para defender seu primeiro amor, expôs algo tão íntimo.— Volte para casa, pegue suas coisas e saia da mansão.

Beatriz mordeu os lábios, querendo dizer algo mais, mas não conseguiu pronunciar uma única palavra Os olhares de escárnio e desprezo à sua volta a esmagavam. Sentindo falta de ar, ela virou-se, tropeçando, e saiu de forma desajeitada.

Ainda ouviu vozes atrás dela.

— Daniel, foi você que trouxe essa pessoa?

— Eu não a conheço, encontrei-a na porta e pensei que fosse uma convidada sua.

— Você chegou atrasado, vai ter que pagar três doses de castigo.

— Vim de carro, não posso beber.

Beatriz saiu do clube, e lá fora começou a chover forte Ela ficou completamente encharcada, tremendo de frio, sem conseguir discernir se o frio vinha de seu corpo ou de seu coração. Ela não sabia quanto tempo havia caminhado na escuridão, até que, de repente, ouviu um assobio atrás de si.

Ao olhar para trás, viu um delinquente loiro Ela acelerou seus passos, mas ele continuou perseguindo-a implacavelmente.

— Estou falando com você, está surda? Não me ouve?

O homem estava claramente embriagado e falava de modo agressivo.

— Se você continuar andando, vou te arrastar para o mato.

O medo tomou conta de Beatriz. Instintivamente, ela pegou o celular e ligou para Afonso. Nos momentos de maior perigo, ela sempre pensava nele primeiro. Demorou uma eternidade para ele atender.

— Afonso... tem um delinquente me seguindo, o que eu faço? Estou com muito medo...

— Se tem um problema, chame a polícia. Por que está me ligando?

Havia muito barulho do outro lado da linha, provavelmente estavam cantando parabéns.

— Afonso, vem cá, vamos comer o primeiro pedaço de bolo juntos!

— Ok, estou indo agora.

Sua voz mudou imediatamente, tornando-se muito gentil.

No segundo seguinte, a ligação foi encerrada.

Beatriz ficou paralisada, esquecendo-se completamente do perseguidor atrás dela.

O homem se aproximou ainda mais.

Quando ela voltou a si, já era tarde demais. Desesperada, estava prestes a pegar um tijolo no chão para se defender, quando um carro acelerou e parou ao lado dela, espirrando água no delinquente. A porta do carro se abriu, e um homem desceu com um guarda-chuva, aproximando-se dela.

— Ainda não tive a chance de me apresentar, Daniel Dias.
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