Capítulo 0004
Daniel estava ao telefone e não a notou.

— Certo, vou fazer compras com você no fim de semana.

— Estou dirigindo agora, não posso falar ao telefone...

— Sim, sim, tudo do seu jeito.

Daniel tinha uma imagem muito rígida, falava de maneira direta e cheia de vigor. Mas, naquele momento, ele falava de maneira gentil e até sorria, o que suavizava a aura intimidadora que emanava. Ele provavelmente estava falando com uma garota de quem gostava, e como alguém que respeitava muito a lei após se aposentar, não falava ao telefone enquanto dirigia.

Beatriz sentiu como se tivesse encontrado um salvador e começou a bater freneticamente na janela do carro.

Daniel franziu a testa e abaixou o vidro.

— Hm? — Um leve tom de dúvida. — Vou desligar agora, algo surgiu. Na próxima vez, você decide o castigo.

Pareceu que ele acalmou a outra pessoa antes de finalmente desligar.

Daniel apenas olhou para ela de dentro do carro, sem abrir a porta.

— Algum problema?

— Você poderia me levar a um hotel? Não é fácil pegar um táxi aqui, e eu também não me sinto muito segura sozinha.

Neste momento, ela parecia ainda mais insegura que antes, com os cabelos bagunçados e a roupa mal vestida. Os botões errados deixavam à mostra um generoso decote.

Ela ainda não havia percebido seu erro ao se vestir, e continuava olhando para trás nervosamente.

— Eu imploro...

Beatriz estava quase chorando, e foi então que Daniel finalmente relaxou, deixando-a entrar no carro.

Depois de chegar ao hotel, Beatriz percebeu que todos os seus cartões eram de Afonso, e ela realmente não queria usá-los. Então olhou novamente para Daniel.

— Isso... Você poderia pagar para mim? Eu definitivamente vou te pagar depois.

Daniel se dirigiu à recepção.

— Três dias, se você puder pagar por três dias, seria o suficiente. Obrigada.

Beatriz estava extremamente grata.

Após Daniel pagar, Beatriz pegou seu contato para devolver o dinheiro mais tarde.

— Você gostaria de subir e sentar um pouco?

Daniel estava prestes a ir embora quando foi surpreendido pela pergunta dela. Imediatamente, ele olhou para trás com um olhar levemente desagradável.

Beatriz rapidamente entendeu que ele havia interpretado mal, pensando que ela tinha outras intenções. Ela acenou com as mãos em negação, explicando-se:

— Não é o que você está pensando... Eu só queria saber sobre o relacionamento entre Afonso e Débora. Quando se conheceram, por que se separaram...

— Eu não falo sobre as pessoas pelas costas.

Após dizer isso, Daniel foi embora.

Sua atitude fria era difícil de apreciar. Beatriz sentiu seu rosto alternar entre vermelho e branco, envergonhada pela maneira como ele a repreendeu.

Desanimada, ela subiu para o quarto do hotel, mas teve dificuldades para dormir. Sua mente estava inquieta, e imaginando se a família Silva chamaria a polícia e se, talvez, ela fosse presa no meio da noite.

Incapaz de dormir, ela começou a olhar o celular e acabou encontrando uma notícia insignificante nos trending tópicos.

[Abandonado cais prende treze fugitivos.]

Ela tremia ao clicar na notícia e ver os rostos dos sequestradores - exatamente os mesmos da embarcação em que fora mantida refém.

Esses indivíduos eram criminosos habituais, envolvidos em contrabando, sequestro, tráfico de pessoas... Sempre vagando em águas internacionais, eram difíceis de serem capturados.

Nesta ocasião, graças à colaboração entre várias forças policiais, conseguiu-se capturar todos os treze indivíduos de uma só vez.

Ela fixou seu olhar em um deles.

Ela não sabia como era o chefe dos sequestradores, mas lembrava-se de seu porte físico. Dentre os presentes, apenas um tinha estatura elevada, de cerca de um metro e oitenta, com um físico robusto.

Era ele, sem dúvida!

Ela se lembrou daquele terrível incidente e seu corpo começou a tremer .

Continuando a rolar a página, ela viu também os policiais que foram homenageados. Alguns agentes especiais, por razões de segurança, não podiam aparecer publicamente, mas os mencionados eram alguns policiais da Capital.

Ela viu também o rosto de Daniel.

Será que essa foi sua última missão?

Não havia detalhes sobre o cargo exato de Daniel ou sobre os casos que ele estava encarregado, deixando-a sem pistas.

Curiosa, ela clicou em links relacionados e descobriu que Daniel tinha uma origem notável.

Herdeiro do Grupo Dias!

O Grupo Dias, junto ao Grupo Silva, era um nome de peso, talvez até ultrapassando o último.

A família Dias era composta por poucos membros, incluindo uma irmã. E hoje, Daniel assumiu o controle do Grupo Dias, iniciando a gestão dos negócios de família.

Havia quem duvidasse de sua capacidade, argumentando que seus anos de serviço militar pouco contribuíam para a gestão de um conglomerado.

Beatriz sentiu sua cabeça girar com tantas informações em tão pouco tempo.

Antes, sua atenção estava toda voltada para Afonso, sem perceber o que acontecia ao seu redor.

Esse dia foi de grandes mudanças para a Capital.

E para a vida dela, também.

Ela passou a noite em claro, esperando uma visita da polícia, mas nada aconteceu. Só conseguiu dormir por um momento, mas não foi um sono tranquilo.

Em seu sonho, as mãos grandes de um homem exploravam seu corpo inteiro. Ele apertava sua cintura fina, colidindo-se contra ela com força. Beijava cada centímetro de sua pele.

— Ah!!

Ela acordou gritando, coberta de suor.

Era apenas um sonho...

Ela suspirou aliviada e pegou o celular para ver as horas, surpresa ao perceber que já era tarde.

Havia várias chamadas perdidas do asilo onde fazia trabalho voluntário.

Ela retornou à ligação imediatamente.

— Ana, o que aconteceu?

— Hoje, o Avô Fernando se recusou a comer novamente. Ele ficou te procurando o tempo todo, e mal conseguimos lidar com ele.

— E como ele está agora?

— Não comeu nada ao meio-dia. Agora está exausto e dormindo.

— Então, daqui a pouco eu passo por aí.

— Tudo bem, vou preparar o almoço novamente. Quando ele te ver, com certeza vai comer bastante.

Beatriz tomou um banho rápido e logo correu para o asilo.

Era um estabelecimento de luxo, habitado por idosos de famílias abastadas. A avó de Afonso já havia se hospedado ali, e Beatriz fazia visitas frequentes, demonstrando seu carinho e respeito.

Depois de um ano, a avó foi levada pela família para o exterior, e elas mantiveram contato apenas por vídeo. Mas Beatriz manteve o hábito de visitar semanalmente, gostando da companhia dos idosos.

Chegando lá, Ana tentava consolar Avô Fernando.

— Você está mentindo. Ela não veio de manhã e certamente não virá à tarde. Não vou comer, quero morrer de fome...

— Eu não menti... olha quem está aqui. Eu disse que ela viria, não disse?

Ao ver Beatriz, Ana agiu como se tivesse encontrado uma salvadora.

— Deixa comigo.

Ana rapidamente entregou a bandeja de comida para ela, aproveitando para sair de fininho.

— Por que não está comendo direito? — Beatriz perguntou com carinho.

— Por que você emagreceu? — Avô Fernando a olhou preocupado.

Até aquele momento, Beatriz não havia recebido uma única palavra de consolo, e não esperava que a primeira viesse de um idoso sem laços de sangue com ela.

Ela sentiu um nó na garganta, seus olhos se encheram de lágrimas, que ela não conseguiu conter.

— Alguém está te incomodando, minha Bia? Me conta, que eu dou uma lição nele.

Beatriz lutou para conter as lágrimas.

— Não é nada, só terminei com meu ex-namorado. Vai passar com o tempo.

— Você terminou? — Avô Fernando iluminou os olhos. — Isso é maravilhoso, meu neto tem uma chance agora!

Avô Fernando imediatamente pegou o celular, fazendo uma ligação enquanto Beatriz tentava, sem sucesso, impedi-lo.

Ao finalizar a ligação, avô Fernando segurou sua mão.

— Meu neto é excelente em tudo, apenas é muito reservado e guarda tudo para si. Você precisará ser paciente com o temperamento dele...

Enquanto avô Fernando falava, de repente, ficou sem fôlego.

Um infarto!
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