Althea tocou por alguns minutos, mas cessou, dando-o um lenço. — Isto é estranho. Como faz? — perguntou, aturdido e letárgico, pegando o lenço e enxugando seu rosto. — Para haver boas mortes, é preciso cultivar boas vidas. É nosso dever curar. Então, produzimos conhecimento. Sentimentos e pensamentos ruins podem ser nocivos e essa canção, quando aplicada em pessoas pouco treinadas, nos possibilita remover parte das mazelas emocionais e psicológicas, facilitando nosso trabalho. Elas podem voltar a ser acometidas, mas cultivando bons hábitos, isto pode ser evitado. — Entendo… por isto o alívio estranho e a lentidão. — Sim, ontem a toquei, mas não apliquei minha sinfonia, logo ela fez seu dever rasamente… O que aprendeu com os monges sobre sua sinfonia? — questionou Althea, estimulando-o a conversar. — Não mais do que sabia. Eles ajudaram com o lethwei… depois que Ranna começou a morrer, ficou ruim. Era difícil! Quando eu treinava e ela praticava, eu sempre atrapalhava todos. Precisa
Sigmund despertou. Observou que todas as velas estavam acesas e Althea estava sentada à cama, penteando-se, ela o olhou e sorriu. — Boa tarde, pequeno Sigmund. Dormiu bem? Como já sabe, vá ao banho. Separei um quíton. As ataduras não são necessárias, mas usaremos os unguentos para as regiões das cicatrizes não se tornarem suscetíveis a avarias, tudo bem? — Obrigado, senhora! — Sigmund seguiu para o banheiro. — Se precisar de ajuda com o quíton, me peça. Durante o banho, Althea entrou ao banheiro deixando um pequeno frasco de vidro ao lado da banheira. — Após secar-se, aplique-o como fiz, tudo bem? — disse, saindo. Ele o fez, exatamente como vira. Após estudar o quíton por cinco minutos conseguiu vestir-se. Saindo do banheiro, o quarto estava vazio. Ele seguiu ao grande salão, onde Althea estava sentada, bebendo água. — Ótimo! — elogiou Althea —, conseguiu vestir-se eximiamente. — Obrigado, Althea Gyi! — agradeceu, acanhado ao ser elogiado por uma tarefa tão simples. — O que d
— Ele ficará bem? — questionou Sigmund. — Sim, só partiu para casa. Como está? — Ele atou e desatou os nós tão rápido que estou aturdido — respondeu, confuso. — A senhora me ajuda com aquelas coisas para as cicatrizes? Talvez um banho ajude. — Ajudarei, vamos! Se sentir algo, me avise! Ambos caminharam para fora do grande salão. — A primeira porta à direita nos corredores é um banheiro — disse Althea. — A porta ao final dos corredores é um armário. Nele tem toalhas, roupas, roupas de cama, sandálias, velas, incensos, ataduras, insumos medicinais e estéticos, papéis, canetas-tinteiro, tintas e diversos instrumentos musicais. Deixarei unguentos no seu armário, tudo bem? — Obrigado, Althea Gyi. — Aguardarei no grande salão para a lição — disse, deixando-o. Sigmund banhou-se. No quarto, aplicou os unguentos e ao terminar foi até Althea que já recebia os sacerdotes e designava tarefas. Ele sentou-se para aguardá-la. Althea lecionou por uma hora e ao fim, voltou ao trabalho. — É p
— Criança, preciso que se acalme. — Althea aproximou-se de Sigmund. — Respire fundo. Você ficará bem! — Sorriu. Ela observou o pequeno corte em seu rosto, feito pelo bojo da taça. Tomou a base da mão de Sigmund e o abraçou, pegando-o no colo. — Concentre-se na minha voz! — sussurrou Althea, pondo a base na mesa. — Encheremos os pulmões com ar… devagar… e soltaremos o ar… Ela respirou devagar, estimulando Sigmund a realizar o mesmo. Ele deitou a cabeça em seu peito, repetindo o exercício devagar. Althea silenciou-se e quando o menino acalmou-se, ela tocou sua flauta e a canção o adormeceu. Era uma canção calma, trazia consigo passividade e tranquilidade, junto a doce esperança de dias melhores. Althea tocou durante a sesta, confortando o menino e a si mesma. Ao fim da sesta, todos começaram a assumir seus lugares. Dieter, observando a pequena desordem, aproximou-se. — Minha mãe, está tudo bem? Algum ferimento precisa de atenção? — Está tudo bem. Posso pedir sua ajuda? — pediu
Cedo, batidas na porta o despertaram. Uma mostrou-se a dona das batidas, portava sua sitar — uma cítara paquistanesa, muito similar a indiana. — Bom dia! Hora do banho para o treinamento. — Ela sorriu. Sigmund banhou-se e a acompanhou à área de treinamento. — Conversei com Samina e soube que seu estilo marcial não utiliza armas brancas, logo não tem vivência alguma com elas. — Sim. Segundo o lethwei, as armas estão no corpo. Vi Samina Gyi usando um bastão, foi fascinante… mas gosto das mãos nuas. — Compreendo. Seguimos com as mãos nuas — disse, ao chegar na floresta morta. — Combateremos… quero que use tudo de si, para eu saber por onde começar, tudo bem? Ela assumiu uma postura defensiva e Sigmund assumiu a ofensiva, usando de energia para atingi-la com mais força — muito eficiente! Uma manteve a postura. Após medir sua força mudou, evitando os ataques, não apenas esquivando, mas afastando-se para medir sua velocidade. Observou atentamente o quão rápido Sigmund se adaptaria
Sigmund acordou no quarto de Althea, ela estava prostrada no altar. Uma dor de cabeça aguda o incomodava. “Tomara que não tenha dormido muito.”, desejou, enquanto sentava. Refletiu sobre o dia anterior. Para manutenir sua sanidade evitou lembrar dos momentos em que estava “estranho”, afinal a mera lembrança da sensação espalhava arrepios por seu corpo. Buscando distrair-se, aproximou-se de Althea. Ela tinha paz no semblante, algumas lágrimas corriam por sua face. Sigmund se comoveu, mas não atrapalhou, sentou para aguardá-la. Terminando sua oração, ela surpreendeu-se com o menino ao seu lado, mas não comentou, beijou sua testa, dizendo: — Bom dia, pequeno Sigmund. Descansou bem? — Por que chora? — perguntou, enxugando suas lágrimas. — Choro pela vida. — Você está doente? — Preocupou-se. — O mundo está. Já se banhou? — Não. Estava aguardando para saber se preciso de algum cuidado. Estou dormindo há muito tempo? Machuquei-me muito? — Não. Desacordou ontem… nenhum ferimento g
Uma intensa torrencial energética vazou do menino. Anunciando que individualidade estava sob controle absoluto do corpo. Somente guerreiros muito experientes detinham tanta energia! Ele assumiu a ofensiva, embriagado pelo prazer. Althea manteve-se parada, nem sequer assumiu uma postura defensiva. — O defeito número um dos herdeiros de Algos — disse, vendo-o aproximar-se impressionantemente rápido —, cheios de si… é perigoso! Imprudência é a segunda maior causa de morte entre as crianças de Algos. Sigmund investiu o máximo de si em um soco. Althea, aplicando pouco de sua tenra e gélida energia na mão, segurou o ataque de Sigmund, desestabilizando-o com o toque. A defesa bem-sucedida custou a Sigmund alguns dedos quebrados, levando-o ao êxtase, dada a maravilhosa dor que percorreu seu corpo. — Sempre se sabotam — disse, em negativa. — Algos personifica dor e sofrimento, físico e emocional. Suas crianças são sádicas. Enquanto aprendizes, são levados a semiconsciência quando sentem
— Genocídio!? — pasmou Sigmund, sentindo uma dor lancinante espalhando-se do ponto onde o filo tocava sua mão para o resto do braço. — Sim. Matar a vida que tudo sustenta é genocídio — respondeu Aldous, nitidamente satisfeito pela dor do rapaz. — As imundas almas que lá embaixo pisam são uma parcela dos responsáveis. Sigmund engoliu seco, incapaz de tecer um comentário. — Você sofreu muito, garoto. Teve sua liberdade usurpada, vitimado por um homem controlador. Sobreviver com tamanha lucidez é louvável! — Não… me sinto… lúcido! — disse, devagar, estasiado. Aldous tirou o braço de Sigmund do contato com o sangue. — Está, acredite! — Ele riu, trêmulo. — Fui criado, primariamente, numa tentativa desesperada de sobreviver a abusos. Quando Esmond nos encontrou, estávamos levemente tomados por Loucura. Do momento em que aceitamos ajuda até acordarmos, com a lucidez reparada, são dias de um borrão que nunca preenchemos com algo. Esmond teve trabalho com nossa falta de controle constante